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O PREÇO A SE PAGAR - CAPITULO 06




 Cena 01/Pedreira abandonada/Ext/Tarde

Rufino e Jofre.

Jofre - É isso mesmo que eu entendi. O senhor quer que eu mate a Rebeca?

Rufino - Não será preciso matá-la. Só preciso que ela não chegue perto do Pedro. Que ela não chegue pra ordenação do meu filho. (T) Agora, se pra isso ela preecisar morrer.... vai ser uma morte completamente justificável, pois nada, nem ninguém, vai atrapalhar esse momento da consagração do meu Pedro! (pra si) O padre de Jandaia.

Jofre - (receoso) Mas nunca fiz nada desse tipo, seu Rufino...

Rufino - Você será um instrumento nas mãos de Deus, Jofre. Ele vai te usar, contar com você, pra livrar meu filho Pedro dessa pecadora, que está pronta pra tenta-lo, pra fazê-lo desistir de assumir seu missão de ser padre. O destino que Deus reservou pra ele.

Jofre - (titubeia) Não sei, seu Rufino...

Rufino coloca as mãos no ombro de Jofre e olha diretamente pra ele.

Rufino - Não se preocupa que Deus está do nosso lado. Deus vai estar contigo nessa missão tão sagrada que está te proporcionando, Jofre!

Jofre - É muito arriscado, tenho família. Não posso ser preso!

Rufino - E só fazer tudo o que vou te falar, que vai dar certo.

Jofre pensa mais um pouco. Até que concorda.

Jofre - Tudo bem... O que o senhor quer que eu faça?

Rufino - Corte os freios do carro dela. Mas seja cuidadoso. Temos que fazer com que pareça que foi acidente...

Rufino continua falando, seguido por Jofre. Conversa sem áudio.


Cena 02/Seminário/Quarto Januário/Banheiro/Int/Noite

Januário está se barbeando, quando acaba se cortando. O sangue escorre pela pia. Januário fica observando a trajetória do sangue.

Januário- Isso não é um bom sinal... Algo vai acontecer. É um aviso... (T) Só não permita que o sangue de ninguém seja derramado, Senhor!


Cena 03/Casa Rufino/Escritório/Int/Noite

Rufino está sentado, pensativo. Narcisa bate à porta.

Rufino - Entra.

Narcisa - (entrando) Posso servir o jantar?

Rufino - Não estou com fome... (t) A pecadora já foi alimentada?

Narcisa - Dona Eva.../

Rufino - (tom) Não pronuncie esse nome!

Narcisa abaixa sua cabeça.

Rufino - (continua) É o nome da pecadora, que fez Adão pecar e ser expulsa do paraíso. Assim como me fez pecar e me impedir de ser padre, como eu tanto queria.

Narcisa - Desculpe, seu Rufino. Saiu sem querer.

Rufino - Alimentou-a ou não?

Narcisa - Estava esperando o senhor chegar.

Rufino - Faça o prato dela, que eu levo.

Narcisa - Sim, senhor.

Narcisa saí.



Cena 04/Casa Rufino/Sala/Int/Noite

Narcisa se benze.

Narcisa - Quanto sofrimento meu Deus... Mas sei que tudo isso um dia vai ter fim. Deus não vai permitir que o mal dure pra sempre!

Narcisa caminha pra cozinha.


Cena 05/Casa Rufino/Escritório/Int/Noite

Rufino se serve de uma dose de cálice de vinho do porto e volta a se sentar.

Rufino - Você vai se arrepender por ter me afrontado, sua pecadora. E pode ir se preparando pra arder no inferno, ferver em um caldeirão, sentir cheio de enxofre pro resto da sua vida, pois é pra lá que você vai. É lá o seu lugar!

Rufino dá uma golada e consome o vinho. Coloca a taça em cima da mesa.


Cena 06/Seminário/Cela Pedro/Int/Noite

Pedro está na janela, observando a lua.

Pedro – Amanhã! Amanhã me torne padre e uma nova página na minha vida começará a ser escrita. Queria tanto que você estivesse presente aqui, mãe. (T) Não conheci a senhora, que morreu no meu parto. Morreu pra que eu nascesse, como fala meu pai. Mas sei que vai estar comigo nesse momento tão importante na minha vida.


Cena 07/Casa Rufino/Oratório/Int/Noite

Rufino caminha vai até o enorme oratório. Acende uma nova vela e se benze. A foto de Pedro, vestido como seminarista, está do lado da imagem de um santo. Rufino pega a foto.

Rufino - Tenho muito orgulho de você, meu filho. Um padre... Era tudo o que eu queria ser!






Cena 08/Casa Rufino/Sótão/Int/Noite

Eva está sentada na cama, com uma foto de Pedro nas mão, ainda criança. Fica observando, admirando.

Eva - Tão pertos e tão longes. Mas meu coração e meu amor está com você, meu filho!

Eva beija a foto. Ao escutar os passos de Rufino, esconde a fotografia debaixo do travesseiro. Rufino abre a porta e entra, trazendo uma bandeja com o jantar.

Rufino - Pecadora também se alimenta.

Rufino caminha em direção a Eva.

Rufino - Não vai falar nada, nem ao mesmo agradecer?

Eva - Tá aqui minha gratidão...

Eva cospe na cara de Rufino. Momento. Rufino pega um pano e limpa o cuspe.

Eva - Não tenho que te agradecer por nada, Rufino. A única coisa boa de tudo o que aconteceu entre nós dois, foi o Pedro.

Rufino levanta mão. Corte para um canto isolado do quarto. Som de uma bofetada. A Cam foca em Eva caindo no chão, com a mão no rosto.. Eva encara Rufino sem medo.

Eva - Pode bater. Não sinto mais nada. Não tenho mais dor, nem lágrimas pra chorar, Rufino. Você já me maltratou tanto, já me castigou tanto, que nada mais que você faça comigo, vai me provocar dor nenhuma.

Rufino - Não fala o nome do meu filho, pecadora!

Eva - Nada que você faça, vai fazer com que o Pedro deixe de ser meu filho também. Um filho, que mesmo não tendo tido a oportunidade de ter sido a mãe que eu queria ter sido pra ele, eu amo muito.

Rufino - O Pedro vai ficar livre do pecado que cometemos. Agora que vai ser padre, será purificado do pecado original. Ser o padre que eu queria ser.

Eva - Você projetou no Pedro seu sonho de ser padre.

Rufino - Sonho frustrado por sua culpa.

Eva - Está obrigando meu filho a realizar seu sonho, Rufino. Você já parou pra pensar nisso? Pensar que o Pedro só está se tornando padre, porque você projetou isso nele?

Rufino - Desde pequeno me imaginava padre, realizando missas, batizados, extrema unção... Um servo direto de Deus na Terra.

Eva - Acha que me castigando, como vem fazendo durante todos esses anos, vai conseguir apagar o que aconteceu?

Rufino - Estou te purificando. É através da dor, que isso acontece.

Eva - Você me culpa de ter estragado seu sonho de infância, mas eu não te forcei a nada. Você quis ir pra cama comigo, Rufino. Lembro até hoje dos seus olhos de desejo, seu corpo suando frio quando eu me aproximava de você. Você me queria, me desejava meu corpo.../

Rufino - (grita) Você me corrompeu, sua cobra imunda. Eu era jovem, puro, inocente, preste a entrar no seminário. Por sua culpa não pude, quando me confessei pro padre e contei o que tinha acontecido. (T) Não me senti digno de ser o servo de Deus, depois do pecado da luxuria que cometi com você, prostituta!

Eva - Esse é seu maior castigo, Rufino. Não poder realizar seu grande sonho. Pena que você esteja forçando meu filho pra cumprir o que você não conseguiu realizar na sua vida.

Rufino - Quem vai estar sendo ordenado padre não vai ser o Pedro, mas sim eu. Como deveria ter sido no passado e só não aconteceu por sua culpa!

Eva - Louco... É isso que você é: um louco, que devia estar internado em um hospício, sanatorio. (T) Uma pessoa como você nunca vai ter lugar no céu. Deus não vai aceitar receber uma pessoa tão ruim e cruel como você, Rufino. Seu lugar é no inferno, ardendo no caldeirão fervente.

Rufino fica furioso com o que escuta e segura o rosto de Eva com força, com fúria.

Rufino - Nunca mais repita isso, tá me ouvindo. Nunca mais!

Eva - A verdade dói, não é?

Rufino - Não me custa nada te matar, acabar com sua vida e ficar livre de você, que não vai fazer falta pra ninguém. Pedro acha que você está morta mesmo, que morreu no parto.

Eva - Pouco me importa o que você faça com isso. Mas pense no seu filho, Rufino. É só isso que te peço.

Eva fica de joelhos na frente de Rufino.

Eva - (continua) Pense no que está fazendo com ele. Obrigando o pobre menino a seguir um caminho que era o caminho que você queria ter seguido no passado. Ninguém merece e pode cumprir o destino de uma outra pessoa. Por isso te peço, ajoelhada aos seus pés, pra que de um fim nisso.

Rufino - O Pedro ainda vai me agradecer pelo que fiz por ele. Tê-lo purificado, por ter nascido filho de uma puta! (T) E agora deixa eu ir, não tenho mais tempo pra perder com você. Ainda hoje viajo, pra amanhã bem cedo acompanhar a ordenação do Pedro.

Rufino faz o sinal da cruz na testa de Eva.

Rufino - Reze dez Pai Nossos e dez Ave Marias, como penitencia por tudo o que acabou de me dizer, se redimindo um pouco com Deus, que deve estar lhe preparando um belo castigo.

Rufino vai embora, trancando a porta. Eva começa a chorar. Ela joga a bandeja com comida longe.

Eva - Só queria que você soubesse de tudo, meu filho. Que tudo isso tivesse fim e você pudesse seguir seu destino...

Eva escuta a chave na fechadura e logo a porta se abrindo.

Eva - O que mais você quer, Rufino?

Narcisa entra.

Narcisa - Sou eu.

Eva - (feliz) Narcisa!

Narcisa - Vim ver como você está...

Eva corre e abraça Narcisa. E entre choro, fala:

Eva - Aquele homem é um monstro, Narcisa. O demônio em pessoa.

Narcisa - Eu só peço a Deus, todas as noites, em minhas orações, que tudo isso termine.

Eva - Só não fujo daqui, com medo de que ele cumpra a promessa que fez: matar o Pedro. Acabar com a vida do meu filho!

Narcisa - Ele não seria capaz de fazer isso. Tem uma devoção enorme pelo filho.

Eva - Louco como ele é, não duvido de nada. E não quero pagar pra ver.

Eva abraça mais forte Narcisa, encontra aconchego na fiel amiga.

Narcisa - Pode contar comigo pro que a senhora precisar.

Eva - Eu sei, minha amiga. Se não fosse você, acho que já teria sucumbindo a tudo isso...



Cena 09/Casa Moisés/Frente/Ext/Noite

Jofre aparece. Observa o carro de Rebeca, estacionado na porta. Na sua mão, usando uma luva, vemos um alicate.

Jofre - Que Deus me perdoe!

Jofre respira fundo, observa se tem alguém por perto, toma coragem e caminha até o carro.


Cena 10/Praia/Ext/Noite

Festa de Iemanjá.

Homens tocam os tambores, as mulheres reunidas com suas obrigações, cantam canções da entidade. Marinho participa. Momento.


Cena 11/Casa Moisés/Int/Noite

Rebeca acaba de abraçar Moisés e Betânia.

Betânia - Tomara que dê tudo certo, minha irmã.

Rebeca - Já entreguei nas mãos de Deus.

Moisés - Melhor coisa que fez. Ele é o único que sabe e decide o que é melhor pra vocês dois.

Betânia - Ficarem juntos. Isso é o que tem que acontecer, tio. Os dois se amam e formam um belo casal.

Rebeca - Deixa eu ir, se não fica muito tarde.

Rebeca pega sua mala e abre a porta.


Cena 12/Casa Moisés/Frente/Ext/Noite

Rebeca caminha até seu carro. Moisés e Betânia ficam na porta.

Moisés - Vai com Deus, minha sobrinha. Chegando lá, você liga.

Betânia - Dá um beijo no Pedro por mim. No meu cunhadinho... (risos)

Rebeca ri, coloca sua mala no carro e entra. Dá um adeus e parte. Moisés tem uma sensação estranha.

Betânia - Que foi, tio? Tudo bem?

Moisés - Não sei... uma sensação estranha. Um aperto no peito.

Betânia - Não vai me querer enfartar agora não. A médica da família acabou de viajar...

Betânia entra. Moisés observa o carro de Rebeca se afastando. Um vento sofri sopra... Moisés tem uma sensação estranha.

Moisés – Seja o que Deus quiser!







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