CENA 01. MANSÃO DE MARISOL.
PORÃO. MANHÃ
Continuação da
última cena do capítulo anterior.
Léo passa o
cano do revólver pelo rosto de Romina, que se encolhe de medo. Ele ri,
satisfeito com a reação dela.
ROMINA - (Suplicante) Léo, por
favor, não precisa fazer isso.
LÉO - (Sussurrando) Preciso,
sim. Isso é sobre controle. Eu controlo o destino de vocês agora.
Ele se afasta
e começa a falar mais alto, sua voz ecoando nas paredes do porão.
LÉO - (Com intensidade
crescente) Vocês acham que podem escapar de mim? Acham que podem fazer o que
quiserem sem consequências? Hoje, tudo muda.
MARISOL - (Desesperada) Por favor,
Léo, não faça isso!
LÉO - (Olhando para o revólver)
Vocês vão aprender o que é dor. A verdadeira dor.
Ele se
aproxima de Marisol com a arma. Romina, lutando contra o desespero, tenta
atrair sua atenção.
ROMINA - (Gritando) Léo, pare! Isso
não vai resolver nada!
LÉO - (Sorrindo friamente)
Resolver? Eu não quero resolver nada. Eu quero que vocês sofram.
CENA 02. HOTEL. QUARTO DE
JULIANO. MANHÃ
Inara está
deitada na cama, ainda envolta no calor da noite passada. Ela abre os olhos
lentamente, um sorriso sonolento nos lábios enquanto estica a mão para o lado,
procurando por Juliano.
INARA - (Com voz suave, ainda
adormecida) Juliano...?
Ela se vira,
mas a cama ao lado está vazia. O sorriso desaparece de seu rosto. Inara se
senta rapidamente, o lençol deslizando por seu corpo nu. Ela olha ao redor,
confusa e preocupada.
INARA - (Já completamente
desperta) Juliano?
Seus olhos
captam algo na escrivaninha: um pedaço de papel dobrado. Com o coração
acelerado, ela se levanta, enrolando-se apressadamente no lençol e caminha até
a escrivaninha. Com mãos trêmulas, ela pega o bilhete e começa a ler.
JULIANO (Bilhete)
Inara,
Eu sinto muito. O que aconteceu entre nós foi um
momento de fraqueza e um grande erro. Eu preciso resolver algumas coisas. Por
favor, me perdoe.
Juliano
Inara solta o
bilhete, sentindo uma onda avassaladora de dor e traição. Lágrimas começam a
escorrer por seu rosto. Ela aperta os punhos, amassando o bilhete em suas mãos
enquanto sua respiração se torna ofegante.
SONOPLASTIA ON
– “Faz
uma loucura por mim- Alcione”
INARA - (Chorando e gritando) Não!
Não pode ser! Juliano!
Ela cai de
joelhos, segurando o bilhete amassado contra o peito. Seus soluços enchem o
quarto, ecoando pelas paredes. A sensação de abandono e desespero a consome
completamente.
INARA - (Desesperada) Como você
pôde fazer isso comigo? Depois de tudo...
Em um acesso
de fúria, ela se levanta e começa a rasgar o bilhete em pedaços, jogando-os ao
ar. Os pedaços caem lentamente ao seu redor como neve, mas isso não alivia sua
dor. Ela se debate, empurrando a escrivaninha, derrubando tudo o que estava em
cima. O abajur cai e se quebra, espalhando cacos pelo chão.
INARA - (Com voz embargada) Eu te
odeio, Juliano! Eu te odeio!
Ela continua a
se debater, empurrando a cadeira e a mesa, até que finalmente cai no chão,
exausta e soluçando. Seus gritos diminuem, substituídos por suspiros profundos
e dolorosos. Ela se encolhe no chão, abraçando a si mesma
INARA - (Sussurrando para si
mesma) Por que... por que eu acreditei que haveria uma segunda chance?
Ela fecha os
olhos, tentando sufocar os soluços, mas a dor é insuportável. Cada memória da
noite anterior passa pela sua mente como uma tortura: os beijos apaixonados, os
toques gentis, as palavras sussurradas no escuro.
SONOPLASTIA
OFF
CENA 03. MANSÃO DE LÉO. INT.
MANHÃ
A mansão está
envolta em silêncio, quebrado apenas pelo som ocasional das garrafas vazias
rolando no chão enquanto Max dorme no sofá. O ambiente está bagunçado, reflexo
da noite de bebedeira. De repente, uma série de batidas altas e urgentes na
porta da frente ecoa pela casa.
JULIANO - (Do lado de fora, batendo
na porta) Max! Max, abre essa porta!
Max desperta
abruptamente, piscando para afastar a confusão do sono e da bebida. Ele se
levanta cambaleando, esfregando o rosto, e segue até a porta. Ao abrir, se
depara com Juliano, visivelmente agitado.
MAX - (Confuso e irritado) O que
diabos você está fazendo aqui?
JULIANO - (Determinado) Eu preciso
falar com você, Max. É sobre a Romina.
MAX - (Esfregando os olhos) Nada
que tenha a ver com Romina me interessa.
JULIANO - (Sério) Eu estou apaixonado
por ela, Max. Mas quero conquistar a Romina jogando limpo.
Max para por
um momento, a surpresa se transformando em algo mais sombrio. Ele ri secamente,
sem humor.
MAX - (Sarcasticamente)
Apaixonado, é? Bem, que sorte a sua. Espero que sejam muito felizes juntos.
Max tenta
fechar a porta, mas Juliano a impede, colocando o pé no caminho.
JULIANO - (Apressado) Espera, Max.
Você precisa saber de uma coisa. Eu forcei aquele beijo com Romina. Ela estava
distraída e eu me aproveitei do momento.
A fisionomia
de Max se transforma. A surpresa dá lugar a uma fúria crescente, seus olhos
queimando com uma mistura de raiva e ressentimento.
MAX - (Furioso) Você fez o quê?
Juliano mantém
seu olhar firme, determinado a ser honesto.
JULIANO - (Calmamente) Foi um erro,
eu sei. Eu estava desesperado. Mas eu não quero que ela pense que sou alguém
que se aproveita das situações. Eu quero que ela saiba que estou sendo sincero.
Max avança,
empurrando Juliano contra a parede. Seus olhos estão arregalados de raiva, suas
mãos segurando firmemente a camisa de Juliano.
CENA 04. MANSÃO DE MARISOL.
MANHÃ
Inara
estaciona seu carro na entrada, notando imediatamente que a porta da frente
está entreaberta. Ela franze a testa.
Inara sai do
carro, seus passos rápidos e decididos. Ela empurra a porta com cuidado,
fazendo-a ranger levemente. Ao entrar, a visão que a recebe é caótica: móveis
virados, objetos quebrados espalhados pelo chão, um ambiente que exala perigo.
INARA - (Assustada) Marisol? Você
está aí?
A única
resposta é o eco da sua própria voz. Inara avança cautelosamente, seu coração
acelerando com cada passo. Ela esquiva-se dos cacos de vidro e dos destroços,
mantendo os olhos atentos a qualquer movimento.
INARA - (Chama novamente, mais
alto) Marisol! Onde você está?
Ela ouve um
barulho leve vindo do andar de cima. Sem pensar duas vezes, Inara começa a
subir as escadas, a madeira rangendo sob seus pés. Ela chega ao corredor
principal, onde mais sinais de luta são evidentes: pinturas derrubadas, vasos
quebrados, o carpete manchado.
INARA - (Sussurra para si mesma) O
que aconteceu aqui?
Quando chega à
porta do quarto de Marisol, Inara a empurra, revelando um cenário ainda mais
perturbador. O quarto está revirado, a cama desfeita e mais sinais de
violência. Inara sente um nó na garganta, o medo tomando conta.
De repente,
antes que ela possa reagir, sente um movimento atrás de si. Um reflexo no
espelho à sua frente revela Leo, segurando uma arma. Ela se vira, mas é tarde
demais. Leo a golpeia com a coronha da arma, atingindo-a na têmpora. Inara
sente uma dor aguda e, em um segundo, tudo fica preto.
CENA 05. MANSÃO DE LÉO. INT.
MANHÃ
Continuação da
cena 03.
MAX - (Com raiva contida) Você acha
que ser sincero agora apaga o que você fez?
JULIANO - (Olhos fixos nos de Max) Eu
sei que não apaga, Max. Mas eu não podia continuar com essa mentira. Romina
merece saber a verdade. Eu estou aqui para enfrentar as consequências.
Max solta
Juliano com um empurrão, afastando-se e passando a mão pelos cabelos, tentando
controlar sua raiva.
MAX - (Ainda furioso) Você não
faz ideia do que ela passou, do que nós passamos. E agora você quer jogar
limpo? Onde estava essa integridade antes?
Juliano
endireita a camisa, tentando recuperar a compostura.
JULIANO - (Com remorso) Eu cometi um
erro, Max. E estou disposto a fazer o que for preciso para consertá-lo. Se isso
significa que Romina nunca mais vai querer me ver, então que seja. Mas ela
merece saber que estou sendo honesto.
Max balança a
cabeça, incrédulo. Ele pega uma garrafa de bebida e joga contra a parede,
quebrando-a em mil pedaços. O som ecoa pela sala, sublinhando a tensão.
MAX - (Amargo) Honestidade? Você
realmente acredita que isso vai mudar alguma coisa? Romina está ferida, e agora
você vem aqui, confessando, esperando o quê? Perdão? Aceitação?
Juliano se
aproxima, seu olhar sério.
JULIANO (Empático) Não espero
perdão imediato.
Max olha para
Juliano por um longo momento.
MAX - (Murmurando para si mesmo)
O que eu fiz...? Romina... Leo...
Max pega as
chaves do carro que estão em cima da mesa. Juliano estranha o comportamento
súbito de Max.
JULIANO - (Confuso) Max, o que está
acontecendo?
MAX - (Olhos fixos nas chaves)
Você é um infeliz, Juliano. Eu tenho que ir até a mansão de Marisol. A Romina
pode estar em perigo!
JULIANO - (Empenhado) O que? Max,
espera! Eu vou com você!
Antes que
Juliano possa se aproximar mais, Max, em um movimento rápido e decidido, dá um
soco violento no rosto de Juliano. O impacto é forte e preciso, e Juliano
desmaia instantaneamente, caindo no chão sem reação.
CENA 06. MANSÃO DE MARISOL.
PORÃO. MANHÃ
Inara acorda
com um gemido, a cabeça latejando de dor. Ela está deitada no chão da sala, os
braços e pernas amarrados com força. Leo está de pé ao lado dela, um sorriso
sinistro no rosto, segurando a arma casualmente.
LEO - (Sombria e debochada) Bom
dia, Bela Adormecida.
Inara tenta se
mover, mas as cordas estão apertadas demais. Ela olha para Leo com uma mistura
de raiva e medo. Inara percebe a presença de Romina e Marisol também amarradas.
INARA - (Furiosa) Leo, me desamarra
agora! Seja lá o que esteja acontecendo aqui, eu não tenho nada a ver. Só vim
aqui sentar a mão na cara da Romina e ir embora!
Romina solta
uma gargalhada alta e debochada, o som ecoando.
ROMINA - (Rindo) Você é muito
pretensiosa, Inara!
INARA - (Irritada) Não me dirija a
palavra, sua vadia!
ROMINA - (Rebatendo) Você está com
saudade de levar uma porrada, é isso?
MARISOL - (Tentando acalmar) Por favor,
parem as duas! Isso não vai ajudar em nada!
A discussão
entre Inara e Romina esquenta, com ambas levantando a voz e se xingando. Leo,
visivelmente irritado, começa a perder a paciência.
LEO - (Irritado) CALADAS, AS
DUAS!
Elas não
obedecem, continuando a troca de insultos.
ROMINA - (Desafiadora) Você sempre
foi uma invejosa, Inara!
INARA - (Sarcastica) E você
sempre foi uma oportunista!
Marisol tenta
intervir, mas é em vão. A situação está fora de controle, com a tensão
aumentando a cada segundo.
Leo, com o
rosto vermelho de raiva, aponta a arma para o alto e puxa o gatilho. O som do
disparo ressoa alto, silenciando instantaneamente a sala. Romina, Inara e
Marisol se calam, olhando para Leo com olhos arregalados.
LEO - (Autoritário) Eu mandei
vocês calarem a boca!
O silêncio é
absoluto, interrompido apenas pela respiração pesada das três mulheres. Leo se
aproxima lentamente delas, a arma ainda em mãos, os olhos frios e calculistas.
CENA 07. CLÍNICA. INT. SALA
DE ESPERA. TARDE
A sala de
espera está quase vazia, apenas algumas pessoas sentadas em cadeiras
desconfortáveis. A decoração é minimalista, com paredes brancas e alguns
quadros genéricos. O som baixo de música ambiente toca suavemente ao fundo, mas
não faz muito para aliviar a tensão. Simas, visivelmente nervoso, está sentado
em uma das cadeiras, tamborilando os dedos no braço da cadeira. Ele olha para o
relógio na parede repetidamente.
ENFERMEIRA - (Surgindo da porta) Sr.
Simas?
Simas se
levanta rapidamente, quase tropeçando nos próprios pés. Ele caminha até a
enfermeira, que segura um envelope branco com o logotipo da clínica.
SIMAS - (Respirando fundo) Sou
eu.
ENFERMEIRA
-
(Sorridente, mas formal) Aqui está o resultado do exame de DNA. Deseja algum
acompanhamento com o médico para revisar os resultados?
SIMAS - (Balançando a cabeça) Não,
obrigado. Eu... eu vejo isso sozinho.
Simas pega o
envelope com mãos trêmulas e caminha lentamente até uma poltrona no canto da
sala. Ele se senta, o coração batendo forte no peito. O som do papel amassando
ecoa na sua mente enquanto ele rasga cuidadosamente o envelope.
SIMAS - (Murmurando para si mesmo)
Ok, Simas. Respira. É só um pedaço de papel.
Ele abre o
envelope e tira o documento. As primeiras linhas são apenas informações
administrativas, mas ele sabe que a resposta está no meio da página. Seus olhos
passam rapidamente pelas palavras técnicas até encontrar a conclusão do teste.
SIMAS - (VOZ
INTERIOR)
(Escutando sua própria respiração) “Baseado nos marcadores genéticos
analisados...”
Ele pausa,
respirando fundo antes de continuar. Cada palavra parece pesar uma tonelada.
SIMAS - (Continuando) “A
probabilidade de paternidade é de...”
CENA 08. MANSÃO DE MARISOL.
INT. TARDE
Max entra
cautelosamente, seus passos silenciosos enquanto atravessa a entrada principal.
Ele ouve os sussurros abafados e segue o som, sentindo a tensão aumentar a cada
passo.
Max desce as
escadas para o porão, seus olhos ajustando-se à pouca luz. Ele vê Romina,
Marisol e Inara amarradas, suas expressões de desespero se transformando em
esperança ao ver Max.
ROMINA - (Max, desesperada) Max, nos
ajude! Léo foi ao banheiro, mas ele voltará logo!
Max corre até
Romina, desamarrando-a rapidamente. Assim que a liberta, eles se beijam
apaixonadamente.
MARISOL- (Irritada) Vocês podem continuar o romance
depois. Vamos sair daqui!
Max corre até
Inara para desamarrá-la, enquanto Romina se dirige a Marisol. De repente, o som
de passos se aproxima. Léo aparece na entrada do porão, com uma arma em punho.
Ele dispara um tiro para o alto, fazendo todos congelarem.
LÉO - (Irritado e sarcástico) Não
sei por qual motivo não me surpreendo em te ver aqui, Max!
MAX - (Determinado) Eu não vou
permitir que você faça mal à Romina.
Léo ri de
maneira irônica, aproximando-se lentamente.
ROMINA - (Tentando negociar) Léo,
você pode fugir e esquecer tudo isso. Ainda há tempo.
Léo aponta a
arma diretamente para Romina, seus olhos cheios de raiva.
LÉO - (Gritando) Cale a boca!
Max se coloca
na frente de Romina, enfrentando Léo.
MAX - (Desafiador) Se você quer
machucar alguém, terá que passar por mim primeiro.
LÉO - (Com raiva) Saia do meu
caminho! Como é que você pode deixar os sentimentos acima de nossos planos.
MAX - (Firme, olhando nos olhos
de Léo) Você é um egoísta, cruel e incapaz de amar. Se você soubesse o que é
amor, entenderia o que estou sentindo agora.
As palavras de
Max começam a pesar em Léo, que tenta manter a compostura.
LÉO - (Desesperado) Você é um
sentimental de merda, Max! Está colocando tudo a perder por uma mulher que se
quer vale a pena.
MAX - (Intenso) Se você tivesse
amado alguém, saberia o que estou sentindo. Mas você nunca amou ninguém, não é?
Léo explode de
raiva, suas emoções finalmente transbordando.
LÉO - (Furioso) Você está errado!
Eu amei, sim! Eu amei a prostituta italiana mais famosa do Rio de Janeiro! Eu a
amei tanto que a engravidei e quis casar com ela, tirá-la daquela vida. Mas
Chiara Barbare fugiu com um mafioso!
A fisionomia
de Max muda para desespero ao perceber que Léo está falando de sua mãe.
LÉO - (Percebendo a reação de
Max) Você conhece bem essa história, não conhece, Max?
Max parece
perder os sentidos, a revelação o atingindo como um golpe. Romina o ampara,
confusa e preocupada.
ROMINA - (Desesperada) Max, o que
houve?
Max, aos
prantos, encontra forças para falar.
MAX - (Soltando as palavras com
dificuldade) Chiara Barbare... era minha mãe.
Um silêncio
pesado cai sobre a sala, todos processando a revelação chocante.
LÉO - (Com uma amargura contida)
Chiara Barbare foi o único e verdadeiro amor da minha vida. No fundo, sei que
ela me amou também. Tanto nos amamos que nossa união deu fruto... Você!
Max, chorando
de raiva, encara Léo.
Obrigado pelo seu comentário!