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INFERNO URBANO - CAPÍTULO 10


 Inferno Urbano 

WEB-NOVELA

CAPÍTULO #010

CRIADA & ESCRITA POR:

WANDERSON ALBUQUERQUE

CENA 01.GALPÃO. INT. NOITE.

Milton olha com fúria para Renato que está com um sorriso estonteante.

MILTON – O que você está fazendo aqui?

RENATO – O que é isso, Milton? Isso não são modos de tratar um velho amigo. Aliás, meus pêsames. Fiquei sabendo da morte do seu filho.

MILTON (NOJO) – Você é o ser mais desprezível que já passou por essa cidade, e olha que estamos falando do Rio de Janeiro. Pode tirar esse sorriso cínico da cara, porque eu te conheço muito bem.

RENATO (RI) – Não é possível que você ainda guarda mágoas de mim, Milton. Eu fiz tanto por você...

MILTON (IRONIA) – É, mandou matar o meu irmão e fez questão de ir ao enterro como se nada tivesse acontecido.

A expressão de Renato rapidamente muda para séria. Ele olha ao redor e vê as luzes dos caça-níqueis.

RENATO – Fico feliz pelo seu novo empreendimento. Mas acho que se você quer expandir o seu negócio, vai precisar da minha ajuda.

MILTON – Quem te contou que eu vou expandir meu negócio?

RENATO – Uma mosquinha me contou. Na verdade, já não é novidade pra ninguém, meu querido.

MILTON (RI) – Deixe eu adivinhar. Você foi provavelmente chutado pelo Souto e agora veio propor uma parceria. Mas é claro, só pode ser isso. Mas deixa eu te dizer uma coisa, Renato, eu prefiro vender minha alma para o capiroto do que se alinhar a você.

RENATO (SÉRIO) – Perdeu o medo, Milton? Do mesmo jeito que seu irmão foi pra vala e também seu filhinho, eu posso mandar sua mãe, sua esposa e suas filhas.

Milton reage e dá um soco na cara de Renato que cai no chão. Ele leva a mão até o canto da boca que está escorrendo sangue. O deputado levanta-se e fica a cara com Milton.

RENATO – Você vai pagar muito caro por isso, Milton. Não faz ideia com quem se meteu.

MILTON – Eu tô pagando pra ver.

Renato ajeita seu terno e sai.

CENA 02. APARTAMENTO. QUARTO. INT. NOITE.

Patrícia e Capitão Vasconcelos estão deitados na cama. Eles estão de conchinha.

CAP. VASCONCELOS – O cara que foi morto no Desalento foi o mesmo que tentou te matar?

PATRÍCIA – Sim. Eu vi as fotos hoje lá no jornal. Não dá pra acreditar, né?

CAP. VASCONCELOS – Espero que ele esteja agora no inferno. Se não o tivessem matado, eu teria feito.

PATRÍCIA – Não, eu me sentiria péssima. Era como se a morte dele fosse ficar em meus ombros.

CAP. VASCONCELOS – Mesmo assim, Patrícia.

PATRÍCIA – Vamos mudar de assunto, porque sei que isso vai render bastante.

CAP. VASCONCELOS – Do que quer falar? Ou já podemos dormir?

PATRÍCIA – Diogo... Preciso saber uma coisa.

Patrícia vira-se para Capitão Vasconcelos. Ela olha seriamente nos olhos dele.

PATRÍCIA (SÉRIA) – Qual sua relação com o deputado Renato Queiróz?

Capitão Vasconcelos fica inquieto. Ele levanta-se da cama e vai em direção a janela.

PATRÍCIA – Você está provando meu ponto, Diogo. Eu tenho certeza que aconteceu alguma coisa no passado, porque toda vez que falo nele, você começa a agir estranho.

CAP. VASCONCELOS – Patrícia, não aconteceu nada, nada! Odeio esse homem o suficiente para que o nome dele não seja tocado aqui em casa. Esse cara representa a pior coisa da politica.

PATRÍCIA – Como uma partida de futebol pode ter virado esse ódio todo? Essa conta não fecha, Diogo.

CAP. VASCONCELOS (GRITA) – Chega! Não quero mais falar nesse assunto.

Patrícia se enrola no cobertor e levanta-se furiosa em direção ao Capitão. Ela segura o seu braço.

PATRÍCIA – Se você gritar mais uma vez comigo, eu saio por aquela porta e não vai me ver mais. Agora está mais do que claro que há alguma coisa aí. Eu não conheço boa parte da sua vida, mas eu sempre entendi, porque deve ser algum tipo de trauma e só Deus sabe quantas vezes pedi para que você fosse atrás de ajuda psicológica, mas agora tudo isso por causa de uma briga em uma partida de futebol?

CAP. VASCONCELOS (VIRA-SE) – Tudo o que você precisa saber é que eu e ele brigamos nessa partida de futebol. Apenas isso.

Capitão Vasconcelos vai em direção ao banheiro. Ele entra e fecha a porta. Patrícia suspira.

CENA 03. DELEGACIA. SALA. INT. NOITE

Miguel abre a porta da sua sala e joga as chaves na sua escrivaninha. Samira entra logo em seguida e senta-se na poltrona.

SAMIRA (IRONIA) – Parece que alguém andou estressado. Não dormiu direito?

MIGUEL – Estou perfeitamente bem, Samira. (T) Você já conseguiu olhar o dossiê da Igreja do Desalento?

SAMIRA – Ainda não tive tempo, porque tem muita coisa acontecendo.

MIGUEL – Acho que você ainda não entendeu que a mídia inteira está no pé desse caso. Precisamos resolvê-lo o mais rápido possível, Samira. Se não fizermos isso antes, o Pastor vai conseguir um habeas corpus e sabemos que se ele sair, ele não volta para a cadeia.

SAMIRA – Você está muito preocupado, Miguel. Eu prometo que vou resolver esse caso, não se preocupe.

Samira levanta-se e olha rapidamente para o painel na parede.

SAMIRA – Bom, preciso ir. Tenho que ir para minha sala e verificar aquele caso do rapaz que matou a esposa.

Ela se retira e Miguel fica pensativo. Sua expressão é de desconfiança.

CENA 04. COPACABANA. QUIOSQUE. EXT. DIA.

Há pouco movimento no quiosque. Apenas Dandara e Patrícia estão sentadas bebendo água de coco.

PATRÍCIA – Acho que aqui virou o nosso point, hein?

DANDARA (RISOS) – Poderia ser mais perto do Desalento, né? Mas confesso para você que seria perigoso. Minha intuição está estranhando que o secretário da segurança ainda não fez uma operação no morro.

PATRÍCIA – Oh, sobre isso... Eu não deveria estar te contando, mas acho que o secretário vai rodar. Estão pensando em colocar outro no lugar.

DANDARA (SURPRESA) – O quê? Como você soube disso?

PATRÍCIA – Isso eu não posso te dizer, Dandara.

DANDARA – Tudo bem. Não se preocupe. Olha, Patrícia, eu vou te mostrar uma coisa.

Dandara tira o seu telefone da bolsa e abre o vídeo mostrando a morte do morador pelo policial.

PATRÍCIA (HORRORIZADA) – O que é isso? Meu Deus, Dandara. Isso foi quando?

DANDARA – No dia que teve a chacina. Recebi esse vídeo e estou completamente em choque até agora.

PATRÍCIA – Eu iria sugerir para você mandar para a policia, mas isso aqui seria uma queima de arquivo facilmente.

DANDARA – Por isso, eu pensei que você pudesse divulgar de alguma forma, mas isso seria muito arriscado.

PATRÍCIA – Jornalista tem que passar por esses perrengues mesmo. Envia pra mim, eu sei o que fazer.

DANDARA – Obrigada.

PATRÍCIA – Ah, já ia esquecendo.

Patrícia puxa seu celular da sua mochila. Ela mostra o vídeo em que Felipe leva uma bofetada do deputado Renato Queiróz.

DANDARA – Patrícia, isso é muito grave. Então, minhas suspeitas sobre esse cara ser um mau caráter era verdade.

PATRÍCIA – Sim, o pior disso tudo, meu marido morre de ódio dele, mas nunca conta o real motivo, porém eu sei que tem algo nessa história.

Patrícia e Dandara se olham apreensiva.

CENA 05. COMPLEXO DO DESALENTO. BAR DA GEANE. INT. DIA

Geane passa um pano nas mesas do bar. Ela vai colocando as cadeiras em cima e joga um balde d’agua no chão e começa a esfregar. Jhonatan aparece.

JHONATAN – Resolveu trabalhar, Dona Geane?

GEANE – Tá falando que eu não trabalho é, moleque?

JHONATAN – Não, dona Geane. Eu só me expressei mal.

GEANE – Acho bom, viu? Aqui só sou eu. Não tenho ajuda de ninguém.

JHONATAN – A senhora bem que poderia contratar um novo garçom, né?

GEANE – Bem que eu poderia mesmo, mas tá ótimo. Por enquanto, tô dando conta.

JHONATAN – Se quiser, eu posso te ajudar no período da manhã, porque a tarde vou para faculdade e não posso me atrasar.

GEANE – Bem que seria de uma grande ajuda, viu? O horário de pico é a noite, mas como aqui servimos almoço, acho que seria ótimo uma grande ajuda na parte da manhã.

JHONATAN – Então, temos um acordo?

GEANE – Temos, mas vamos primeiro resolver a questão do “me faz me rir”.

Jhonatan sorri e Geane continua esfregando o chão.

FIM DO CAPÍTULO 10

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