ESPERANÇA
Capítulo 03
Novela criada e escrita por
Wesley Franco
CENA 1. EXT. FAZENDA BELLINI - CASA
DOS BELLINI - DIA
Som
do motor de um automóvel se aproximando. O carro de Jerônimo estacionada em
frente à casa. Ele e sua esposa, Martina, estão no banco da frente. No banco de
trás, estão Francesa, Isabella, Rodolfo e Matteo. Jerônimo desliga o motor e
todos começam a sair do carro visivelmente abatidos.
JERÔNIMO (SUSSURANDO PARA MARTINA) – Não vamos demorar.
Jerônimo
e Martina saem do carro.
MARTINA (TOCANDO COM CARINHO NO BRAÇO DE FRANCESCA) – Minha irmã, você sabe que estou aqui para o que precisar,
não é? Seja o que for, é só me chamar.
FRANCESCA (COM OS OLHOS CHEIOS DE LÁGRIMAS) – Grazie, Martina. E Grazie a você também, Jerônimo.
Eu...agradeço muito pela ajuda de vocês nesse momento.
JERÔNIMO (SORRINDO GENTILMENTE) – Não se preocupe. Estamos aqui por vocês.
Eles
trocam um último olhar de compreensão e carinho. Jerônimo se aproxima e dá um
breve abraço em Francesca. Martina também abraça a irmã, sussurrando algo que
não se ouve. Eles se afastam e entram no carro novamente.
FRANCESCA –
Buon viaggio de volta, cuidem-se.
MARTINA (DE DENTRO DO CARRO, ACENANDO PARA A IRMÃ) – Você também. Qualquer coisa me procure. Meninos, cuidem da
mãe de vocês.
Jerônimo
acena com a cabeça e aciona o motor do carro. Eles partem enquanto Francesca,
Rodolfo, Isabella e Matteo observa o carro se afastar.
CORTA PARA:
CENA 2. INT. FAZENDA BELLINI - CASA
DOS BELLINI – SALA - DIA
Francesca,
Matteo, Isabella e Rodolfo entram na casa silenciosa. As crianças olham ao
redor, a casa parece grande e vazia sem a presença do pai e do irmão. Eles vão
até a sala e todos se sentam no sofá. Há um momento de silêncio bastante
pesado.
FRANCESCA –
Eu sei que está difícil. A perda do pai e do irmão de vocês deixou um vazio que
nada pode preencher. Eu perdi um figlio e un marito. Mas nós ainda temos um aos
outros, e agora, mais do que nunca, precisamos estar unidos.
Francesca
faz uma pausa olhando para cada um com ternura.
FRANCESCA –
Vamos seguir em frente juntos. Sempre que um de nós precisar de algo, o outro
estará lá. Siamo una famiglia, e isso é o que importa.
As
crianças, com os olhos cheios de lágrimas, se aproximam de Francesca. Eles a
abraçam, encontrando consolo no calor da união familiar. Francesca os envolve
em seus braços, e por um momento, todos ficam em silêncio, confortando-se
mutuamente.
CORTA PARA:
CENA
3. EXT. ESPERANÇA - DIA
SONOPLASTIA ON: Linda Flor (Ai, ioiô) – Fafá de Belém
DIAS DEPOIS
SONOPLASTIA OFF
CORTA PARA:
CENA
4. EXT. FAZENDA BELLINI – PLANTAÇÕES – DIA
Matteo
está de pé em uma pequena elevação, olhando para um pequeno grupo de
trabalhadores reunidos à sua frente. O sol da manhã ilumina as fileiras de
café, criando uma atmosfera de trabalho árduo. Ao lado de Matteo está Firmino,
o funcionário mais antigo e respeitado da fazenda. Todos os trabalhadores estão
em silêncio, aguardando as palavras de Matteo.
MATTEO –
Amigos, como vocês sabem a morte do meu pai nos deixou com uma enorme
responsabilidade. A partir de agora, eu estarei à frente dos trabalhos na
fazenda, junto com o Firmino, que conhece essa terra melhor do que ninguém.
Firmino
acena levemente com a cabeça em concordância, mostrando seu apoio a Matteo. Os
trabalhadores murmuram entre si, mostrando respeito pelo jovem patrão.
MATTEO (COM VOZ FIRME) –
Sei que sou novo, até outro dia era apenas um menino que corria com sua
bicicleta pelo meio do cafezal, mas agora eu sou o responsável pela minha
família e eu vou assumir com todo empenho esse papel. Eu sei que não vai ser
fácil, mas precisamos continuar. A colheita está no auge e não podemos perder
tempo. Precisamos dar o nosso melhor, redobrar o esforço para garantir que o
café seja colhido a tempo.
Há
um momento de silêncio, enquanto os trabalhadores observam as palavras de
Matteo. Em seguida, um dos trabalhadores, com um olhar determinado, dá um passo
à frente.
TRABALHADOR (COM CONFIANÇA) – Estamos com você, patrãozinho. Vamos fazer o que for
preciso.
Os
outros trabalhadores começam a concordar, expressando seu apoio.
MATTEO (SORRINDO) – Obrigado,
muito obrigado, de verdade. Com o esforço de todos nós, vamos conseguir. Vamos
honrar o nome da família Bellini e continuar o legado do meu pai.
Matteo
faz um sinal para Firmino, que começa a orientar os trabalhadores. Todos voltam
ao trabalho, enquanto Matteo observa, sentindo-se mais determinado do que
nunca.
CORTA PARA:
CENA
5. INT. FAZENDA ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – ESCRITÓRIO– DIA
Almeida está sentado em sua cadeira, mexendo
em alguns papéis quando Dorotéia entra no escritório. Ela fecha a porta
suavemente e se aproxima de Almeida.
DOROTÉIA – O almoço está pronto. A
Nina preparou um filé com molho madeira que ficou dos deuses.
Almeida continua em silêncio mexendo nos
papéis.
DOROTÉIA – Almeida? Está me ouvindo?
ALMEIDA – Desculpa querida. Estava
aqui olhando uns papéis e pensando no que fazer.
DOROTÉIA – Aconteceu alguma coisa?
ALMEIDA – Descobrir através do
Homero que o Giuliano Bellini deixou a família dele em uma situação terrível. A
fazenda está hipotecada e a se a dívida com o banco não for paga, a fazenda irá
a leilão.
DOROTÉIA – Meu Deus, que tragédia!
Mas onde você entra nisso?
ALMEIDA (COM UM SORRISO
FRIO) – Eu tenho planos de comprar essa dívida e tomar posse das terras. A
fazenda Bellini tem uma excelente extensão de plantações de café, além disso
cortaríamos uma boa parte do caminho até a estrada de ferro se a fazenda for
nossa.
DOROTÉIA – Mas eles ainda podem pagar
a dívida.
ALMEIDA – Não acredito muito nessa
possibilidade. Sem o Giuliano, eles terão muita dificuldade de lidar com a
fazenda, cuidar de café não é tão simples quanto parece. Eles não vão conseguir
quitar a dívida.
DOROTÉIA – Almeida, tenha um pouco de
compaixão com essa família. Eles tiveram duas grandes perdas em tão pouco
espaço de tempo. Em vez de tomar a fazenda deles, ofereça uma proposta justa
para compra-la. Assim, eles podem ter algum dinheiro para recomeçar a vida em
outro lugar.
Almeida fica em silêncio, reflexivo.
DOROTÉIA (COM UM OLHAR DE
SÚPLICA) – Eles não são nossos inimigos. As nossas famílias nunca
tiveram muito contato, a nossa única ligação foi o que aconteceu entre o Marcos
e o Vittorio...
ALMEIDA (INTERROMPE) – Não fale sobre o que
aconteceu entre esses dois. Sinto nojo só de pensar.
DOROTÉIA – Pense na senhora
Francesca, nos outros filhos dela, eles não têm culpa de nada disso.
ALMEIDA (PENSATIVO) – Tudo bem, eu irei pensar
sobre isso..., mas não posso prometer nada. Eu vou fazer o que eu achar melhor
para nossa família.
CORTA PARA:
CENA
6. INT. CASA DE CANDOCA – SALA DE ESTAR – DIA
Do topo da escada, Hismeria desce com elegância. Ela está
bem arrumada, vestindo uma roupa formal, carregando uma bolsa e uma pasta. Na
sala, está Candoca sentada em uma poltrona, concentrada em seu crochê. Próximo
a ela, Angislanclécia está sentada no sofá comendo um pedaço generoso de pudim.
Do outro lado da sala, Chandra Dafni está ajoelhada diante de uma imagem de
Santo Antônio, rezando em silêncio.
HISMERIA – Tia Candoca, meninas, estou de saída. Hoje é
um dia importante, tenho uma entrevista esta tarde na prefeitura para uma vaga
de secretária.
Candoca leva os olhos do crochê e sorri, enquanto
Angislanclécia para de comer por um momento e Chandra Dafni faz o sinal da
cruz, encerrando sua oração.
CANDOCA (SORRINDO) – Que notícia boa! Espero que dê tudo certo e
você consiga essa vaga.
ANGISLANCLÉCIA (COM A BOCA CHEIA DE PUDIM) – Isso é ótimo Hisméria. Boa sorte lá!
Chandra Dafni se levanta e se aproxima de Hisméria.
CHANDRA DAFNI – Vou com você prima. Quero passar na igreja
para me confessar, aproveito e rezo por você, para que consiga esse emprego.
ANGISLANCLÉCIA (SARCÁSTICA) – De novo? O que tanto você tem para
confessar? Sua rotina é igreja e casa. Ou você anda aprontando alguma coisa por
aí?
Chandra Dafni dá um olhar severo para Angislanclécia.
CHANDRA DAFNI – Você deveria se preocupar mais com suas próprias
confissões. Talvez Deus perdoasse essa sua gula, já que você come feito uma
porca morta de fome.
Angislanclécia fica vermelha de raiva e se levanta
rapidamente encarando Chandra Dafni.
ANGISLANCLÉCIA (IRRITADA) – Olha aqui, não vem me dizer o que eu devo ou
não fazer! Eu como o que eu quiser, e você fica aí se confessando toda semana
como se fosse uma santa.
Chandra Dafni se prepara para retrucar, mas Candoca
intervém.
CANDOCA (EM TOM FIRME) – Parem com isso já! Chega vocês duas, eu
quero a paz nesta casa, vocês estão me entendendo? Vamos manter a paz.
Angislanclécia e Chandra Dafni trocam olhares
desafiadores, mas se acalmam. Hismeria suspira aliviada e agradece à tia com um
sorriso.
HISMERIA – Vamos, Chandra Dafni. Não quero me atrasar.
Chandra Dafni pega sua bolsa e segue Hismeria até a
porta.
ANGISLANCLÉCIA (FALANDO SOZINHA) – Deus me perdoe, mas eu não aguento essa
hipocrisia...
Candoca lança um olhar de reprovação para Angislanclécia,
que rapidamente começa a pegar suas coisas.
ANGISLANCLÉCIA – Já vou também, meu horário de almoço acabou.
Angislanclécia sai, fechando a porta com um leve
estrondo. Candoca, sozinha, balança a cabeça e volta ao seu crochê.
CORTA PARA:
CENA 7. INT. FAZENDA BELLINI – ESTOQUE DA FAZENDA – DIA
Matteo está no estoque da fazenda, cercado por sacos de
café empilhados. Ele segura uma prancheta e um lápis, contando os sacos com
concentração. Matteo ouve o som de passos se aproximando e levanta o olhar,
vendo Camila entrando no armazém. Ele esboça um sorriso.
MATTEO (SORRINDO) – Que surpresa boa!
Matteo coloca a prancheta sobre um saco de café e caminha
até ela, abraçando e a beijando com carinho. Camila sorri, mas logo se afasta
um pouco, olhando para ele com preocupação.
CAMILA – Estou com saudades, mas estou preocupada
também...Já faz vários dias que você não aparece na escola. Tenho medo que
acabe perdendo o ano.
Matteo segura as mãos de Camila e a olha nos olhos,
tentando tranquilizá-la.
MATTEO – Fica tranquila. Vou voltar a estudar,
prometo! Mas agora preciso focar na colheita. É uma responsabilidade grande, e
preciso terminar tudo a tempo. Mas eu agradeço muito por se preocupar comigo.
Camila sorri, ainda um pouco apreensiva, mas aliviada com
as palavras de Matteo. Eles se beijam novamente, num gesto terno e afetuoso.
Matteo a segura por um mais um momento.
MATTEO – Quero que você venha me ver mais vezes.
CAMILA (SORRINDO)- Eu venho sim. Ah, e aproveitando...queria te convidar
para o jantar de aniversário do meu pai. Vai ser amanhã à noite.
MATTEO – Claro, vou adorar ir.
Camila sorri, satisfeita. Eles trocam mais um beijo.
CORTA PARA:
CENA 8. INT. CASA DE HOMERO – QUARTO DE NATÁLIA – DIA
Natália está deitada na cama, visivelmente doente, com
uma expressão pálida e exausta. Ela tosse levemente enquanto olha para o teto.
A porta do quarto se abre e Dirce entra, carregando uma bandeja com um copo de
suco. Ela se aproxima da cama e coloca a bandeja na mesinha de cabeceira.
DIRCE – Aqui está dona Natália. Trouxe um copo de
suco para a senhora.
Natália se esforça para se sentar um pouco, mas permanece deitada
enquanto Dirce a ajuda a pegar o copo. Ela toma um gole e respira fundo.
NATÁLIA (COM VOZ FRACA) – Obrigada, Dirce...Você é um anjo. Onde está o
Fernando e o Homero? Eles não vieram aqui hoje.
DIRCE – O senhor Homero saiu cedo para o banco, e o menino Fernando acabou de
sair, mas não disse para onde iria.
Natália assente, parecendo um pouco aliviada. Ela devolve o copo para
Dirce e se recosta nos travesseiros.
NATÁLIA (COM UM OLHAR DISTANTE) – Quando o Fernando chegar peça para que ele venha
aqui, quero vê-lo.
DIRCE – Assim que ele chegar eu falo para ele vim ver a senhora.
Natália fecha os olhos, tentando descansar, enquanto Dirce observa com
preocupação.
CORTA PARA:
CENA 9. INT. PREFEITURA – ESCRITÓRIO DE AUGUSTO – DIA
Hismeria está sentada em frente a Augusto, que está atrás de uma grande
mesa de madeira. Ele examina o currículo de Hismeria.
AUGUSTO – O cargo
de secretária do prefeito é de extrema importância. Precisamos de alguém
competente e confiável. Pode me contar um pouco sobre sua experiência?
HISMERIA - Claro.
Trabalhei como secretária em um banco em São Paulo por vários anos. Lidar com documentos,
organizar agendas e auxiliar na administração eram parte das minhas funções
diárias.
Augusto balança a cabeça, satisfeito com a resposta, mas continua
observando-a atentamente.
AUGUSTO (CURIOSO) – O que a trouxe a Esperança, se me permite perguntar? Não é muito comum
as pessoas deixarem uma cidade grande como São Paulo para virem viver em uma
cidade tão pacata.
HISMERIA - Vim para
cá para recomeçar a minha vida. Eu me desquitei recentemente do meu marido e
precisava de um novo começo.
Augusto parece compreender a situação e sorri levemente.
AUGUSTO - Entendo.
Bem, Hismeria, sua experiência e coragem são admiráveis. Parabéns, a vaga é
sua.
Hismeria solta um suspiro de alívio e sorri, agradecida.
HISMERIA (EMOCIONADA) - Muito obrigada, senhor Augusto. Não vai se arrepender da sua escolha.
Augusto acena com a cabeça, satisfeito com a decisão.
AUGUSTO (SORRI) - Estou certo de que não vou.
Hismeria se levanta, apertando a mão de Augusto com um sorriso grato
antes de sair do escritório.
CORTA
PARA:
CENA 10. EXT. FAZENDA ALMEIDA – ENTRADA DA CASA – DIA
Um elegante automóvel preto se aproxima da entrada da Fazenda Almeida.
Ele para em frente à casa grande. O motorista, um homem de meia-idade com
trajes formais, sai rapidamente a abre a porta de trás. Eulália, uma mulher
idosa de porte altivo e elegância clássica, desce do carro. Ela está vestida
com um belo vestido e usa um chapéu igualmente elegante. Seu olhar é
determinado e sua postura, impecável.
EULÁLIA (AUTORITÁRIA) – Não demore com as malas. Suba com elas assim que
terminar.
O motorista acena com a cabeça, começando a descarregar as malas do
carro. Eulália, sem perder tempo, sobe as escadas da estrada da casa. Ela abre
a porta da casa e entra sem ser anunciada.
CORTA PARA:
CENA 11. INT. FAZENDA ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – SALA – DIA
Dentro da casa, Dorotéia está sentada no sofá, lendo uma revista,
enquanto Camila e Marcos estão próximos conversando entre si. Ao ouvirem a
porta se abrir, todos levantam o olhar surpresos.
DOROTÉIA – Eulália! Que surpresa...Não esperávamos por você.
Eulália sorri levemente, mas seu olhar é firme. Ela coloca sua bolsa em
uma mesinha próxima e olha ao redor, observando o ambiente com certo desdém.
EULÁLIA – Eu não vejo motivos para tanta surpresa, eu vim por ocasião do
aniversário do meu filho Almeida. Será amanhã, e é claro que a mãe dele não
poderia estar ausente neste momento.
Camila e Marcos trocam olhares incertos, enquanto Dorotéia tenta manter
a compostura.
CAMILA (SORRINDO)- É bom tê-la aqui, vovó. Papai vai ficar feliz.
EULÁLIA (COM UM LEVE SORRISO) - Espero que sim, querida. Não vai abraçar a sua
avó?
Camila sorri e dá um abraço apertado em Eulália. Marcos se aproxima de
Eulália com um sorriso no rosto.
MARCOS – Tem espaço para mim também?
EULÁLIA – Claro que sim, venha cá!
Eulália abraça Marcos e passa a mãos em seus cabelos.
EULÁLIA – Como você está lindo! Parece o seu avô quando era jovem.
Eulália se aproxima de Dorotéia, que ainda está visivelmente
desconcertada e a cumprimenta formalmente com um beijo no rosto.
EULÁLIA – Dorotéia, espero que tudo esteja em perfeita ordem para amanhã. É
aniversário do meu filho, não aceito nada menos que a perfeição.
DOROTÉIA – Tudo estará perfeito para o aniversário do meu marido. Pode ter
certeza.
Eulália sorri satisfeita, e se vira para olhar os netos, que a observam
com um misto de respeito e apreensão.
CORTA PARA
CENA 12. INT. FAZENDA BELLINI – CASA DOS BELLINI – SALA – DIA
Francesca está sentada à mesa, ao seu lado, Matteo, com as mãos
calejadas pelo trabalho nas plantações. Rodolfo e Isabella estão próximos,
quando batidas na porta são ouvidas. Rodolfo se levanta e abre a porta, Coronel
Almeida entra sem ser anunciado, deixando todos em silêncio por um instante.
FRANCESCA (SURPRESA) – Coronel Almeida! No esperava uma visita.
ALMEIDA – Dona Francesca, me desculpa pelo adiantar da hora, mas precisava vim
até aqui ter uma conversa com a senhora.
FRANCESCA – Aconteceu alguma coisa? O senhor nunca veio até casa mia.
Coronel Almeida senta-se no sofá sem ser convidado, cruzando as pernas
com uma tranquilidade forçada.
ALMEIDA – Meus pêsames pelas suas recentes perdas. Giuliano foi um homem de
valor, e seu filho Vittorio, um grande amigo do meu filho Marcos.
FRANCESCA – Agradeço suas palavras, Coronel. Isabella, querida, vá preparar um café
para o Coronel, per favore.
Isabella, relutante, se retira para a cozinha.
ALMEIDA – Imagino que seja um momento difícil para todos vocês...Mas preciso ser
honesto. Recebi informações que Giuliano, antes de falecer, contraiu algumas
dívidas...dívidas que, infelizmente, resultaram na hipoteca desta fazenda.
Francesca e Matteo se olham, surpresos e alarmados.
FRANCESCA (SURPRESA) – Eu sabia que o Giuliano tinha feito alguns
empréstimos ao banco, ma non lo sabia que ele tinha colocado a fazenda como
garantia.
ALMEIDA (COM UM TOM DE FALSA COMPAIXÃO) – Infelizmente, é verdade. Se as dívidas não forem
pagas, o banco colocará a fazenda em leilão. E sabemos o que isso
significaria...vocês teriam que deixas estas terras. Mas...pensando no futuro
da sua família, quero fazer uma proposta.
MATTEO – Proposta?
ALMEIDA (SORRINDO) – Sim, sim. Sempre admirei o Giuliano por seu
trabalho duro e pela dedicação à terra. E, claro, por causa da amizade entre
Vittorio e meu filho Marcos...Gostaria de comprar a fazenda. Com o dinheiro,
vocês poderiam pagar o banco e reconstruir suas vidas em outro lugar.
O silêncio se instala. Francesca e Matteo ficam perplexos.
FRANCESCA (FIRME) – Coronel, eu agradeço sua oferta, mas esta fazenda
é o legado de la nostra famiglia. Foi conquistada com muito trabalho pelo padre
e o nonno do Giuliano, que chegaram da Itália com as mãos vazias e
transformaram esse pedaço de terra no que é hoje. Não podemos simplesmente
vender.
MATTEO – Eu estou trabalhando dia e noite, mas não vou parar até colher cada
grão de café. Com o dinheiro da colheita, vou pagar a dívida e manter a fazenda
nas mãos da minha família. Não vamos vender.
ALMEIDA (IRRITADO) – Vocês estão cometendo um grande erro! A vida de
vocês pode se reconstruir longe daqui, com dignidade...Se não pagarem, eu mesmo
farei questão de comprar essa fazenda em leilão, por um preço de migalhas, e
botarei vocês todos para fora. Pensem bem antes de recusarem a minha oferta.
FRANCESCA (OLHANDO DIRETAMENTE NOS OLHOS DE
ALMEIDA) – Prefiro
lutar até o fim, Coronel. Esta terra é tudo que nos resta de la nostra storia,
del nostro sacrifício. Eu jamais desonraria a memória do meu marido.
MATTEO (ENCARANDO ALMEIDA COM FIRMEZA) – O senhor não terá esse prazer. Vou trabalhar até
minhas mãos ficarem em carne viva, mas vou terminar a colheita e pagar o que
devemos. Essa fazenda é nossa e ninguém vai tirá-la de nós.
O Coronel sorri sarcasticamente, se levantando devagar, ajeitando o
chapéu.
ALMEIDA (COM DESPREZO) – Muito bem, rapaz. Boa sorte, então. Vamos ver até
onde essa teimosia vai te levar.
Ele se vira e começa a caminhar em direção à porta, mas para por um
instante.
ALMEIDA – Só espero que vocês não se arrependam de terem perdido essa
oportunidade.
Sem esperar resposta, o Coronel sai, deixando um rastro de tensão na
sala. Francesca segura o braço de Matteo com firmeza, enquanto Isabella retorna
com o café, sem palavras.
Obrigado pelo seu comentário!