ESPERANÇA
Capítulo 13
Novela criada e escrita por
Wesley Franco
CENA 1.
EXT – RUA – DIA
Ernesto
chega ao seu carro, um Tucker torpedo vermelho, com uma leve tremedeira nas
mãos. Ele tenta abrir a porta do carro, falhando algumas vezes antes de
finalmente conseguir. Entra no carro, ligando o motor.
ERNESTO
(FALANDO PARA SI MESMO) – Ninguém manda em mim,
ninguém!
Ele pisa
fundo no acelerador, o carro dá um salto para frente, cantando os pneus.
Ernesto dirige pelas ruas da cidade, completamente fora de controle. A cada
curva, o carro balança perigosamente, quase batendo em postes e outros
veículos. Ernesto segue acelerando, fazendo zingue zangue entre as faixas, mal
conseguindo manter o carro na pista. Ele ultrapassa sinais e quase colide com
outros veículos, que buzinam furiosamente. Ernesto ri, desorientado, sem noção
do perigo. Ele acelera ainda mais, o carro se aproxima perigosamente de uma
curva acentuada, com a visão turva e o reflexo lento, não consegue perceber o
perigo. Ele faz uma manobra brusca, mas o carro derrapa, perdendo completamente
o controle. O carro de Ernesto colide violentamente contra um poste de luz e
capota várias vezes. O carro finalmente para, tombado de lado, completamente
destruído. Dentro do carro, Ernesto está inconsciente com o corpo preso nas
ferragens e coberto de sangue.
CORTA PARA:
CENA 2. EXT.
FAZENDA BELLINI – DIA
A fazenda
Almeida está decorada para o casamento de Helena e Marcos. Flores brancas e
tecidos finos adornam o ambiente. Os convidados, todos bem vestidos, estão
sentados, aguardando ansiosamente o início da cerimônia. Ao lado do altar,
estão Coronel Almeida, Dorotéia, Nina, e Marcos, que está com uma expressão
séria e distante. O som da marcha nupcial enche o ar. Todos os olhares se
voltam para a entrada principal. Helena, deslumbrante em seu vestido de noiva
branco, aparece acompanhada por seu pai, Ezequiel, que a segura pelo braço.
Eles caminham lentamente pelo corredor central. Helena parece nervosa, mas
mantém um leve sorriso, enquanto é conduzida até o altar. Os convidados
sussurram entre si, admirando a beleza da noiva. Os olhos de Marcos se fixam em
Helena, mas sua expressão ainda carrega uma mistura de tristeza e resignação.
Helena e Ezequiel chegam ao altar. Ezequiel entrega a mão de Helena para
Marcos, que a segura delicadamente, e fica ao lado de Nina no altar.
PADRE
OLAVO – Estamos aqui reunidos para celebrar
a união de Marcos e Helena, um compromisso diante de Deus e de todos os
presentes. Que o amor e o respeito sejam os pilares desta nova família que se
forma.
Padre
Olavo continua com a cerimônia, recitando as passagens tradicionais sobre o
matrimônio. Helena e Marcos trocam os votos, repetindo as palavras ditas por Padre
Olavo.
PADRE
OLAVO (SORRINDO) – Por este ato de livre vontade e com
as vitórias de Deus, eu vos declaro marido e mulher. Marcos, pode beijar a
noiva.
Marcos se
aproxima de Helena, e em vez de beijá-la nos lábios, ele inclina a cabeça e
beija sua testa com reforços. Helena fecha os olhos, sentindo o gesto contido,
enquanto os convidados aplaudem moderadamente, alguns se olhando com uma
expressão de surpresa pelo gesto de Marcos.
CORTA PARA:
CENA 3.
INT. HOSPITAL SÃO PAULO – DIA
Ernesto é
trazido em uma maca, com o corpo parcialmente coberto por um lençol. Ele está
inconsciente, com o rosto machucado e o corpo apresentando lesões graves. Uma
equipe de socorrista, empurra a maca rapidamente em direção ao centro
cirúrgico.
MÉDICO
– Precisamos ter pressa, ele perdeu muito sangue e o estado
dele é extremamente delicado.
A porta
dupla do centro cirúrgico é empurra com força para abrir a passagem para a
maca. As portas se fecham, deixando apenas um vislumbre dos médicos e
enfermeiros se preparando para iniciar a cirurgia.
CORTA PARA:
CENA 4. EXT.
FAZENDA DOS ALMEIDA – DIA
A festa de
casamento está em pleno andamento. Convidados circulam pelo ambiente decorado
com flores, as mesas estão fartamente servidas, e a música de uma banda ao vivo
preenche o ambiente com um clima de celebração. Todos bebem, dançam e conversam
alegremente. Com um copo de whisky na mão, Coronel Almeida conversa com
Dorotéia, Ezequiel e Nina, que parecem animados e satisfeitos com o evento.
ALMEIDA
(SORRINDO) – Finalmente consegui o que eu tanto
queria. Casei meu filho, e agora esses malditos boatos sobre ele vão ficar no
passado. Quero ver logo essa casa cheia de netos.
NINA
(SORRINDO) – Ah, eu também espero ser avó muito
em breve. A Helena está tão bonita hoje, parece que foi feita para ser a esposa
do Marcos.
DOROTÉIA
– Eu também estou muito feliz de ter o
meu filho de volta para perto de mim.
EZEQUIEL
– É uma honra para mim, coronel, agora fazer parte da sua
família. Sempre admirei o senhor, e agora, sendo praticamente seu parente, me
sinto mais realizado do que nunca.
ALMEIDA
– Agora somos todos uma grande família,
Ezequiel, e vamos viver muitos momentos felizes juntos. Todos nós!
Em meio à multidão,
Marcos e Helena são vistos de longe, interagindo com os convidados, mas sem
muita intimidade.
CORTA PARA:
CENA 5. INT.
MANSÃO DE FLÁVIO – SALA – DIA
A
empregada Magali abre a porta da Mansão, e o delegado entra. Flávio está
prestes a sair, e para ao ver o delegado na porta.
MAGALI
– Pois não?
DELEGADO
ANDRADE – Sou o delegado Andrade, preciso
falar com o senhor Flávio Matarazzo. É uma questão urgente.
Flávio
caminha em direção ao delegado, com uma expressão confusa e ansiosa. Magali
fica ao lado.
FLÁVIO
(SEM ENTENDER) – Delegado, estou de saída. O que houve?
DELEGADO
ANDRADE – Senhor Flávio, eu sinto muito, mas
seu filho, Ernesto, sofreu um grave acidente de carro.
Flávio fica
atônito, incapaz de acreditar no que acabou de ouvir. Magali fica assustada e
Matteo entra na sala atraído pelo o que acaba de ouvir.
FLÁVIO
(EM NEGAÇÃO) – Tem certeza de que foi o meu filho
Ernesto?
DELEGADO
– Sim, senhor Flávio. Encontrei essa carteira com os
documentos dele no local do acidente. Reconheci pelo sobrenome da família e vim
comunicar essa triste notícia.
O delegado
estende uma carteira para Flávio, que a pega com as mãos trêmulas. A realidade
do ocorrido cai sobre Flávio.
FLÁVIO
(SURPRESO) – Eu...eu preciso ir para o hospital.
Preciso ver o meu filho.
MATTEO
– Nós vamos com você, padrinho.
Magali
apenas assente, visivelmente abalada.
CORTA PARA:
CENA 6. INT.
HOSPITAL SÃO PAULO – DIA
Flávio,
Matteo e Magali caminham apressadamente pelo corredor do hospital, guiados por
uma enfermeira. Eles chegam à porta do quarto de Ernesto, onde encontram o
médico saindo com uma expressão séria e cansada.
FLÁVIO
(ANSIOSO) – Como está meu filho?
MÉDICO
(SUSPIRANDO ANTES DE FALAR) – Senhor, a
cirurgia correu bem, mas logo após, ele sofreu uma parada cardíaca. Fizemos
tudo o que podíamos, mas...ele não resistiu.
FLÁVIO
(DESESPERADO) – Não...
Flávio
caminha rapidamente até a cama, segurando a mão fria de seu filho Ernesto.
FLÁVIO
(DESESPERADO) – Não pode ser...Ernesto!
Flávio
passa a mão pelo rosto de Ernesto, como se esperasse que isso pudesse acordá-lo.
As lágrimas descem incontroláveis por seu rosto.
FLÁVIO
(CHORANDO) – Meu filho...não me deixe...por favor...
Magali e
Matteo entram no quarto, também em choque. Magali cobre a boca com as mãos ao
ver o corpo inerte de Ernesto. Matteo, com os olhos marejados, se aproxima
devagar e põe a mão no ombro de Flávio.
MATTEO
(EMOCIONADO) – Padrinho, eu sinto muito.
Magali se
aproxima da cama e toca no rosto de Ernesto com delicadeza, como se ainda
estivesse cuidando dele como tantas vezes fez.
MAGALI
(CHORANDO) – Meu menino...que Deus te acolha em
seus braços.
FLÁVIO
– Como isso aconteceu? Assim que chegamos ao hospital, me
disseram que a cirurgia tinha corrido bem.
MÉDICO
– A cirurgia realmente foi um sucesso, mas, pouco depois que
ele foi trazido para o quarto, ele teve uma parada cardíaca. Tentamos reanima-lo,
mas não foi possível trazê-lo de volta.
Flávio,
ainda em choque, volta a olhar para o filho, e se debruça sobre ele chorando
bastante.
CORTA PARA:
CENA 7.
INT. CASA DE DANÇAS – NOITE
A casa de
danças tem um ambiente animado, as paredes são decoradas com quadros e luzes
suaves. No centro do salão, casais dançam ao som de uma cantora que interpreta
uma música romântica e cativante. Pedro e Hismeria entram no salão. Ele puxa
uma cadeira para que Hismeria se sente. Ela sorri, visivelmente satisfeita com
o ambiente.
HISMERIA
– Adorei esse lugar, parece muito divertido.
PEDRO
(SORRINDO) – Sei que vai gostar, vamos
aproveitar bastante a noite.
Um garçom
se aproxima.
GARÇOM
– Boa noite, desejam algo para beber?
PEDRO
– Dois Bourbon, por favor.
Hismeria
observa os casais dançando no salão, e uma nova música começa a tocar.
HISMERIA
(SORRINDO) – Ah, essa música é ótima.
Pedro se
levanta e estende a mão para Hismeria.
PEDRO
– Então, vamos dança-la?
Hismeria
aceita a mão de Pedro e os dois seguem para a pista de dança. Eles se
aproximam, dançando colados, se movimentando no ritmo da música. O clima de
intimidade e paixão é forte entre os dois. Pedro olha para os olhos de Hismeria
e então a puxa para um beijo apaixonado. Eles se beijam no meio do salão,
cercados por outros casais que dançam ao redor.
CORTA
PARA:
CENA 9. INT
– CASA DE MARTINA E JERÔNIMO – NOITE
Martina está
dormindo, até que ela se mexe, acordando aos poucos. Ela estende a mão para o
lado da cama onde deveria estar Jerônimo, mas não o encontra.
MARTINA
(CONFUSA) – Jerônimo?
Ela se levanta,
pega o robe de seda e a veste rapidamente, e sai do quarto, caminhando pelo
corredor da casa silenciosa. À medida que desce as escadas, ouve sons abafados vindos
da direção da cozinha. Ela para e inclina a cabeça, tentando identificar os
sons: gemidos e risadas sussurradas de um homem e uma mulher. Uma expressão de
inquietação surge em seu rosto. Martina segue em direção ao quarto de Isabella,
de onde os sons parecem estar vindo. Os gemidos ficam mais altos e
inconfundíveis conforme Martina se aproxima da porta entreaberta. Seu coração
acelera, e ela empurra a porta devagar. A porta se abre, revelando Isabella,
montada sobre Jerônimo, com a respiração pesada e ofegante. Os dois estão transando
e só percebem a presença de Martina quando ela solta um grito de dor e indignação.
MARTINA
(EM CHOQUE) – O que...o que é isso?
Jerônimo
se assusta com a voz de Martina, tira Isabella de cima de si e a empurra para
cama. Isabella cai na cama e rapidamente puxa um lençol para cobrir o corpo nu.
JERÔNIMO
(ASSUSTADO) – Martina! Não é o que você está
pensando!
MARTINA
(GRITANDO) – Eu não estou pensando nada, eu
vi! Eu vi com os meus próprios olhos! Como vocês puderam fazer isso comigo? Na
minha casa, debaixo do meu nariz!
Jerônimo
se levanta apressado, ajustando a roupa enquanto se aproxima de Martina com as
mãos erguidas, tentando acalmá-la.
JERÔNIMO
– Eu tentei evitar, Martina! Mas ela...ela ficava dando em
cima de mim o tempo todo. Eu sou homem, não consegui resistir!
MARTINA
– É verdade, Isabella? Você seduziu o meu marido? Você foi
capaz de fazer isso comigo?
Isabella
continua paralisada, os lábios trêmulos e os olhos arregalados. Ela não
consegue falar, apenas soluça em pânico, incapaz de se defender.
MARTINA
(GRITANDO) – Isabella, eu estou falando com você,
responde! Fala alguma coisa!
JERÔNIMO
– Ela está com vergonha de admitir. Não foi minha culpa, meu
amor. Ela praticamente me obrigou a vir até aqui todas as noites, me ameaçando de
contar para você que tínhamos um caso.
Martina
avança em direção a Isabella, com a fúria em seus olhos. Ela agarra os cabelos
da sobrinha com violência, puxando-a para fora da cama.
MARTINA
(INDIGNADA) – Eu te trouxe para esta casa para te
proteger, para te dar uma vida melhor! E você tenta destruir o meu casamento?
Sua ingrata, sua desgraçada!
Martina dá
tapas violentos contra o rosto de Isabella, enquanto a jovem tenta se proteger
com os braços, mas não consegue reagir. Jerônimo segura Martina pelos ombros,
tentando contê-la.
JERÔNIMO
– Chega, Martina! Não vale a pena, ela já teve o que merece.
Isabella,
aproveitando a distração, se desvencilha de Martina. Ela pega apressadamente um
vestido do chão, se veste às pressas e sai correndo do quarto, lágrimas escorrem
pelo rosto. Martina fica parada, ofegante e furiosa, enquanto Jerônimo a segura
pelos ombros, tentando acalmá-la. Ela empurra as mãos dele para longe e sai do
quarto.
CORTA PARA:
CENA 10.
EXT. RUAS DE ESPERANÇA – NOITE
Isabella
sai correndo da casa de Martina e Jerônimo, chorando e desnorteada, ela corre
pelas ruas da cidade que estão praticamente vazias sem ter um rumo para onde ir.
CORTA PARA:
CENA 11. INT.
APARTAMENTO DE PEDRO – SALA – NOITE
Pedro e
Hismeria, entram pela porta da frente, se beijando de forma intensa. Pedro
empurra a porta com o pé, fechando-a rapidamente enquanto seus lábios continuam
colados aos de Hismeria. Eles caminham desajeitadamente pela sala, tropeçando
em móveis, sem se afastar por um segundo. Suas mãos percorrem o corpo um do
outro com urgência, puxando peças de roupa, que caem no chão pelo caminho.
PEDRO
(OFEGANTE) – Eu te quero agora.
HISMERIA
– Então me tenha.
Eles se movem
em direção ao quarto, quase caindo sobre a cama, os corpos entrelaçados. As
roupas restantes são jogadas de lado enquanto continuam a se beijar e explorar
um ao outro.
CORTA PARA:
CENA 13.
INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – QUARTO DE MARCOS – NOITE
Helena
está deitada na cama vestindo uma camisola de seda branca, sua expressão é de
expectativa com um misto de nervosismo e desejo. Ela olha para a porta do
banheiro com ansiedade, esperando por Marcos. A porta se abre, Marcos, vestido
com uma calça de pijama e uma camiseta. Ele olha para Helena, seus olhos percorrem
rapidamente por ela, mas ele não sente nenhum desejo por ela.
HELENA
(SORRINDO) – Eu estava esperando por você...
Marcos
apaga o abajur ao lado da cama, deixando o quarto no escuro. Ele se deita ao
lado dela, mantendo distância entre os dois.
MARCOS
– Boa noite, Helena.
Marcos se
vira para o lado oposto, deixando Helena sozinha em sua espera não
correspondida. Helena olha para o teto, o sorriso dela desaparece lentamente em
seu rosto.
CORTA PARA:
CENA 14.
INT. BORDEL DE MADAME YVETTE – SALÃO – DIA
O som de
risadas e conversam enchem o salão. Robervaldo está sentado em uma poltrona com
as meninas – Zuleika, Florzinha, Mara e Teodora – todas reunidas em volta,
conversando e rindo.
FLORZINHA
(RINDO) – Vocês não acreditam! Ontem à noite,
um dos meus clientes tirou o sapato e quase me matou sufocada com o cheiro que
saiu daquele sapato. Quando aquele fedor invadiu o quarto, foi quase uma
tortura!
Todos caem
na gargalhada, divertidos com a história.
ZULEIKA
– Acho que a gente deveria começar a cobrar taxa extra por
suportar certos odores.
De
repente, a porta se abre e Isabella entra. Ela olha ao redor com um misto de
timidez e vergonha, claramente deslocada naquele ambiente. Os risos cessam e
todos a encaram, sem entender o que ela está fazendo ali.
ROBERVALDO
– Acho que a mocinha entrou no endereço errado...
ISABELLA
(HESITANTE) – Não, eu vim ao lugar certo...Aqui é
o bordel de Madame Yvette, não é?
MARA
(CONFUSA) – Sim, é. Mas o que você quer aqui,
menina?
Nesse
momento, Madame Yvette desce lentamente as escadas, e olha para Isabella de
cima a baixo com um olhar cauteloso.
YVETTE
– O que você deseja?
ISABELLA
(ERGUENTO O OLHAR) – Quero ser uma das meninas do
bordel!
Há um
murmúrio de surpresa e descrença entre os presentes. Madame Yvette caminha em
direção a Isabella, parando a poucos passos dela, analisando-a com um olhar
penetrante.
YVETTE –
Tem certeza do que está falando? Sabe onde está se metendo?
ISABELLA –
Sim. Eu não tenho outra saída, ou eu fico aqui, ou vou para a rua.
FIM DO CAPÍTULO
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