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ESPERANÇA - CAPÍTULO 29 (ÚLTIMOS CAPÍTULOS)

 


ESPERANÇA

Capítulo 29

Novela criada e escrita por

Wesley Franco

CENA 1. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – ESCRITÓRIO – DIA

Ezequiel entra no escritório e encontra Almeida sentado na sua cadeira de couro, fumando um charuto.

EZEQUIEL – Mandou me chamar, coronel?

ALMEIDA – Sente-se, Ezequiel. Temos um assunto delicado para tratar.

Ezequiel se senta, ajeitando o chapéu que segura nas mãos.

ALMEIDA – Vou precisar, mais uma vez, contar com sua lealdade.

EZEQUIEL – O senhor sabe que sempre pode contar comigo. O que precisa?

Almeida apaga o charuto no cinzeiro.

ALMEIDA – O incêndio no depósito foi um golpe duro. A minha situação financeira se encontra em um estado delicado, estou com muitas dívidas. Talvez tenha que abrir mão de uma parte da fazenda.

EZEQUIEL – Imagino, coronel. Perder toda uma safra, o baque foi grande.

ALMEIDA – Minha única esperança agora é vencer as eleições. Se eu me tornar prefeito, posso recuperar o que perdi, mas para isso eu preciso do prefeito ao meu lado.

EZEQUIEL – Mas o prefeito Fontes apoia o Bellini, não é?

ALMEIDA – Exato. E é aí que está o problema. Enquanto Fontes estiver no poder, concorrer sem o apoio dele será quase impossível. Ele tem a máquina pública nas mãos. E é por isso que preciso de você.

EZEQUIEL – O que o senhor está pensando?

ALMEIDA – Precisamos matar o Fontes.

EZEQUIEL (EM CHOQUE) – Matar o prefeito?

ALMEIDA – Isso mesmo. Mas tem que parecer um acidente...ou um assalto. Algo que não levante nenhuma suspeita contra mim.

EZEQUIEL – Coronel, isso é muito arriscado. Fontes é o prefeito...

ALMEIDA – E é exatamente por isso que ele precisa desaparecer. Enquanto estiver vivo, ele será o maior obstáculo entre mim e a prefeitura.

Almeida se aproxima de Ezequiel e se inclina para que suas palavras soem ainda mais ameaçadoras.

ALMEIDA – Você já me provou sua lealdade antes, Ezequiel. Agora preciso de você mais do que nunca.

EZEQUIEL – E como o senhor quer que isso seja feito?

Almeida volta para sua cadeira.

ALMEIDA – Algo simples. Fontes é um homem de hábitos. Ele sempre volta sozinho para sua fazenda depois do expediente de trabalho. É nesse caminho que temos que agir. Um assalto, um falso acidente...algo rápido e limpo.

EZEQUIEL – E se algo der errado? Ele é o prefeito, vão querer investigar.

ALMEIDA (FRIO) – Não vai dar nada errado, você sabe como agir. Não haverá investigação, o delegado Afrânio tratará de arquivar essas investigações.

Ezequiel parece pesar todas as consequências. Almeida se inclina para trás na cadeira, com um sorriso satisfeito.

ALMEIDA – Eu conto com você, Ezequiel.

EZEQUIEL – Entendido, coronel. Eu vou vigiar o Fontes para entender melhor os seus hábitos.

ALMEIDA – Ótimo. Agora vá e me traga resultados.

Ezequiel sai do escritório, deixando Almeida sozinho. O coronel pega outro charuto, acende-o e observa a fumaça subir, um sorriso de satisfação toma seu rosto.

ALMEIDA – Um obstáculo a menos...

                                                         CORTA PARA:

CENA 2. INT. COMARCA DE ESPERANÇA – SALA DO JUIZ – DIA

O juiz Fernando está sentado à sua mesa, revisando documentos, quando alguém bate à porta e entra.

MATTEO – Com licença, excelência.

FERNANDO (SURPRESO) – Matteo! Fiquei surpreso quando anunciaram que você gostaria de falar comigo. O que deseja?

MATTEO – É sobre o Delegado Afrânio.

FERNANDO – Aconteceu alguma coisa?

MATTEO – Como é de conhecimento de toda cidade e imagino que também do senhor, o delegado Afrânio costuma abusar de sua autoridade para agradar o coronel Almeida. Ele passa por cima da lei sem a menor cerimônia.

FERNANDO – Houve algum episódio novo?

MATTEO – Hoje mesmo, ele foi até a minha casa sem nenhuma intimação, me acusando de ser o autor do incêndio na fazenda do coronel Almeida. Ele queria me interrogar, sem nenhuma intimação ou prova do meu suposto envolvimento. É prática comum dele agir dessa forma.

FERNANDO – Infelizmente não é a primeira vez que ouço relatos assim. Recentemente, ele prendeu um peão de forma totalmente irregular, baseado em uma única acusação do coronel Almeida.

MATTEO – Então o senhor entende o motivo da minha visita.

FERNANDO – E o que exatamente você espera de mim, Matteo?

MATTEO – Vou entrar com uma ação formal contra a atuação do Afrânio. E peço que o senhor determine a vinda de um outro delegado para supervisionar o trabalho dele.

FERNANDO (PENSATIVO) – Essa é uma ideia sensata. Colocar alguém de fora para fiscalizar o Afrânio evitaria mais abusos de poder. Assim que a ação chegar à minha mesa, tomarei as providências possíveis.

MATTEO (SORRINDO) – Agradeço, excelência. A cidade precisa de homens como o senhor para mudar as coisas por aqui.

FERNANDO (SORRI) – Esperança precisa de candidatos como você. Sei que é candidato à prefeitura, Matteo. Apesar de meu pai apoiar o coronel Almeida, eu penso diferente dele, e você terá meu voto.

MATTEO – Fico feliz e grato. Juntos, podemos transformar essa cidade.

Fernando concorda e Matteo estende a mãos. Eles apertam as mãos firmemente. Matteo sai do escritório, deixando Fernando com uma expressão pensativa.

                                                         CORTA PARA:

CENA 3. EXT/INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – DIA

Um automóvel luxuoso percorre a estrada empoeirada até a entrada principal da Fazenda Almeida. Assim que o carro para, David e Laura, vestidos de forma impecável, descem do carro. Eles sobem as escadas da casa de Almeida e tocam a porta. Nina os recebe.

NINA – Sejam bem-vindos. O coronel os aguarda.

Nina conduz os dois até a sala, onde Dorotéia está sentada em um sofá. Ela se levanta e os cumprimenta com um sorriso cordial.

DOROTÉIA – Sejam bem-vindos. Meu marido já vem recebe-los.

Pouco depois, Coronel Almeida entra na sala com passos firmes e um sorriso satisfeito ao ver os marqueteiros.

ALMEIDA (ABRINDO OS BRAÇOS) – David, Laura! É um prazer recebe-los em minha casa.

David aperta a mão de Almeida.

DAVID – O prazer é nosso, coronel. Assim que recebemos seu telegrama, viemos imediatamente.

LAURA (SORRINDO) – Estamos aqui para garantir sua vitória nesta eleição.

ALMEIDA – Por favor, venham comigo até meu escritório.

                                                         CORTA PARA:

CENA 4. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – ESCRITÓRIO – DIA

Almeida se senta atrás de sua mesa enquanto David e Laura ocupam as cadeiras em frente. Laura abre a maleta, retirando alguns documentos e colocando o contrato sobre a mesa.

LAURA – Coronel, sabemos que essa campanha será difícil. Mas com o nosso trabalho, você terá os resultados que deseja.

DAVID – Nosso foco será identificar os pontos fracos de seu oponente, o Matteo Bellini, e explorá-los ao máximo. Assim viraremos o jogo a seu favor.

ALMEIDA – É isso que quero ouvir. Bellini é jovem, e muitos que estão insatisfeitos, o veem como uma alternativa. Precisamos destruir essa imagem.

LAURA – E faremos isso. Mas primeiro, pedimos que leia o contrato. Nosso trabalho é divido em duas etapas: um pagamento inicial e outro ao final da campanha.

Almeida pega o contrato e começa a lê-lo com atenção. Ele para no valor e ergue uma sobrancelha.

ALMEIDA (SURPRESO) – É um valor bem alto.

LAURA (SORRINDO) - Entendemos, mas garantimos que valerá cada centavo. Se seguir nossas estratégias sairemos vencedores.

DAVID – Mais caro, coronel, é a campanha onde se gasta muito e não se ganha a eleição.

Almeida considera por um momento, então pega uma caneta e assina o contrato.

ALMEIDA – Confio no trabalho de vocês. Foram muito bem indicados.

LAURA – Então estamos oficialmente à sua inteira disposição, coronel.

DAVID – Começaremos amanhã mesmo.

ALMEIDA (SORRINDO) – Perfeito. Agora, me aguardem na sala. Vou preparar o pagamento inicial.

LAURA (SORRI) – Claro.

David e Laura se levantam e saem do escritório. Almeida se levanta e caminha até um quadro na parede. Ele o remove, revelando um cofre embutido. Ele coloca a combinação e abre o cofre, pegando alguns maços de dinheiro. Com o dinheiro nas mãos, ele o coloca em um envelope e volta para sala.

                                                         CORTA PARA:

CENA 5. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – SALA – DIA

Almeida volta para sala e entrega o envelope a David, que o aceita com um sorriso.

DAVID – Obrigado, coronel. Amanhã voltaremos com novidades.

ALMEIDA – Confio em vocês.

David e Laura saem da casa de Almeida, deixando Almeida com um sorriso de confiança. Dorotéia se aproxima.

DOROTÉIA – Você usou o dinheiro que guarda no escritório? Mas essa não era nossa reserva de emergência?

ALMEIDA – O momento que estamos vivendo é uma emergência. Se eu não vencer essa eleição, estaremos arruinados, Dorotéia.

DOROTÉIA – E o que você vai fazer para cobrir os custos do incêndio e pagar o Inácio?

ALMEIDA – Eu vou colocar a antiga fazenda Bellini à venda, com o dinheiro dela teremos o suficiente para investir na próxima safra que será menor, mas será o que podemos ter.

                                                         CORTA PARA:

CENA 6. INT. PREFEITURA – RECEPÇÃO – DIA

Hismeria arruma sua bolsa enquanto se prepara para sair. O prefeito Fontes sai de sua sala, segurando um chapéu.

FONTES – Boa noite, Hismeria. Vou indo. Até amanhã.

HISMERIA (SORRINDO) - Boa noite, prefeito. Até amanhã.

Fontes sai, e Hismeria verifica a bolsa mais uma vez. Augusto e Pedro entram pela porta principal conversando entre si, e caminham até Hismeria.

PEDRO (BRINCANDO) - Chegamos na hora certa ou estamos atrasados?

HISMERIA (SORRI) – Na hora certa. Estou de saída.

Pedro se aproxima e dá um beijo rápido em Hismeria. Augusto observa a interação do casal com um sorriso tímido, mas discreto. Hismeria olha para Pedro com carinho.

HISMERIA – Pedro, quer vim jantar comigo hoje? Tia Candoca vai preparar um lombo maravilhoso.

PEDRO (HESITANDO) – Ah, hoje eu não vou poder ir. Combinei de sair com alguns amigos.

AUGUSTO (BRINCA) – Se ele não for, eu vou. Adoro lombo.

Todos riem.

HISMERIA – Você está mais que convidado, Augusto. Será muito bem-vindo.

PEDRO – Ei, não me jogue de escanteio assim. Não estou indo fazer nada demais, é só um encontro com os rapazes. Nada de mulheres, eu prometo.

HISMERIA – Tudo bem, Pedro. Mas é a segunda vez desta semana que você sai à noite.

PEDRO – Prometo compensar no fim da semana. Vamos fazer algo especial, só nós dois. O que acha?

HISMERIA (SORRINDO) – Está bem. Mas o convite ao Augusto continua de pé.

AUGUSTO (RINDO) – Vou deixar para outro dia. Mas pode me esperar, Hismeria. Um dia eu apareço mesmo.

Hismeria ri, e Pedro puxa a mão dela, entrelaçando seus dedos com os dela.

PEDRO – Vamos? Já está tarde, te deixo em casa.

Os três caminham juntos até a saída, com Hismeria e Pedro de mãos dadas. Augusto segue alguns passos atrás, observando discretamente o casal.

                                                         CORTA PARA:

CENA 7. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASEBRE DE ALMEIDA – DIA

Almeida está deitado sem camisa, fumando um charuto. Nina, está ao lado dele, deitada parcialmente sobre o peito do coronel, acariciando-o com os dedos.

NINA – A Helena ficou muito feliz desde que começou a trabalhar supervisionando o café com o Marcos, ela parece outra mulher. Mais leve...sorrindo pelos cantos.

ALMEIDA – É bom que ela tenha algo com que se ocupar. Talvez assim ela pare de se queixar do casamento. E quem sabe isso aproxime os dois.

NINA – Isso eu já acho difícil. Marcos nunca olhou para ela como mulher. Esse casamento foi um erro!

ALMEIDA – Talvez ainda não, mas ele vai olhar. A Helena é bonita e tem tudo que um homem deveria gostar.

NINA (SARCÁSTICA) - Sua insistência cega no casamento deles me diverte. Eles estão juntos há dez anos e o Marcos nunca demonstrou interesse, não vai ser agora que vai.

ALMEIDA (SÉRIO) – O importante é que eles se mantenham casados, se gostando ou não. É melhor um casamento de faixada do que ter que suportar o meu filho com outro homem.

Almeida puxa uma tragada longa do charuto.

NINA – Mas agora, com o incêndio no depósito tudo foi por água baixo.

ALMEIDA – A fazenda se reerguerá. Nada me derruba, Nina. Nada! Helena voltará a trabalhar com o Marcos. E isso vai ser bom para todos nós.

Nina olha Almeida por alguns segundos, em seguida ela sobe nele e começa a beijá-lo intensamente. Almeida retribui. Depois de alguns instantes, Nina interrompe o beijo e se afasta.

NINA – Agora eu preciso ir, tenho que terminar de preparar o jantar.

ALMEIDA – Então a gente se ver logo mais.

Ela se levanta e se veste rapidamente, ajeitando o cabelo diante de um pequeno espelho rachado. Almeida a observa deitado, com um sorriso.

ALMEIDA (PROVOCATIVO) – Diga ao Ezequiel que você demorou porque estava cuidando de algo mais importante.

Nina se vira e ri, atirando um olhar sedutor antes de sair pela porta.

NINA (SORRINDO) – Se eu disser isso, ele vai me matar.

Ela sai fechando a porta. Almeida solta uma risada baixa, apaga o charuto no cinzeiro improvisado e se deita novamente, olhando para o teto com expressão pensativa.

                                                         CORTA PARA:

CENA 8. EXT. ESTRADA DE TERRA – DIA

O sol começa a se pôr no horizonte. Fontes está ao volante de seu automóvel, dirigindo em uma estrada de terra que leva até sua fazenda. Logo atrás, em um carro escuro, Ezequiel o segue à distância. Dentro do carro, Fontes percebe algo pelo retrovisor. Seu olhar se estreita, desconfiado.

FONTES – Esse carro está atrás de mim desde que sair da prefeitura, estranho...

Ele diminui levemente a velocidade, fingindo indiferença, mas seus olhos alternam entre o caminho à frente e o retrovisor. O carro de Ezequiel mantém a mesma distância, seguindo com precisão. Fontes aperta as mãos no volante e acelera o automóvel, levantando poeira pela estrada. Ezequiel percebe que Fontes pode ter percebido que está sendo seguido e diminui sua velocidade. Fontes vira uma curva fechada, quase derrapando, mas consegue controlar o carro, despistando Ezequiel.

                                                         CORTA PARA:

CENA 9. EXT. ENTRADA DO PRÉDIO DE PEDRO – NOITE

Hismeria está agachada atrás de um carro estacionado, escondida. Pedro sai do prédio, ele está muito bem vestido, com um terno escuro e o cabelo penteado. Ao sair do prédio, começa a caminhar com passos apressados. Hismeria se levanta e começa a segui-lo tomando cuidado para não ser percebida.

                                                         CORTA PARA:

CENA 10. EXT. RUAS DE ESPERANÇA – NOITE

Pedro continua caminhando. Logo à frente, as luzes do Bordel de Madame Yvette aparecem ao longo. Hismeria para por um instante, confusa e preocupada ao perceber o destino de Pedro.

HISMERIA (INCRÉDULA) – Não...ele não pode estar indo pra lá.

Ela o observa entrar no bordel pela porta principal. Por um momento, Hismeria fica estática, dividida entre confrontá-lo ou não. Ela olha para a porta iluminada e respira fundo

                                                         CORTA PARA:

CENA 11. INT. BORDEL DE MADAME YVETTE – SALÃO PRINCIPAL – NOITE

O bordel está cheio de movimento e risos. As meninas estão espalhadas pelo salão, conversando com clientes. Hismeria entra no salão e começa a vasculhar a procura de Pedro. Seu coração dispara ao ver Pedro, de costas, abraçando Mara, uma das meninas do bordel. Mara ri enquanto Pedro a beija com intensidade.

HISMERIA (GRITANDO) – Pedro!

O salão todo para. A música diminui, e todos olham em direção a Hismeria. Pedro congela, se afastando rapidamente de Mara. Ele se vira e vê Hismeria, pálida de raiva e com os olhos cheios de lágrimas. Mara, desconfortável, ajeita seu vestido.

PEDRO (ASSUSTADO) – Meu amor! O que você está fazendo aqui?

HISMERIA – O que eu estou fazendo aqui? O que você está fazendo aqui, Pedro?

Pedro tenta se aproximar.

PEDRO (DESESPERADO) – Não é nada disso que você está pensando.

HISMERIA (GRITANDO) – Pensando? Eu não estou pensando nada, estou vendo!

Ela respira fundo, tremendo de raiva e as lágrimas começam a escorrer pelo seu rosto. Ela arranca o anel de noivado do dedo e joga com força no peito de Pedro.

HISMERIA – O nosso noivado está acabado! Não me procure nunca mais. Nunca mais!

Pedro tenta segurar o braço dela, mas Hismeria se afasta com um movimento brusco.

PEDRO (IMPLORANDO) – Hismeria, por favor...!

Antes que Pedro possa segui-la, Robervaldo surge e segura Pedro pelo braço.

ROBERVALDO – É melhor você esperar ela se acalmar. Falar com ela agora, não vai adiantar nada.

Pedro olha para Robervaldo com raiva, mas percebe que não tem escolha.  

                                                         CORTA PARA:

CENA 12. EXT. RUAS DE ESPERANÇA – NOITE

                               SONOPLASTIA: FASCINAÇÃO – NANA CAYMMI

Hismeria caminha apressadamente pelas ruas escuras, chorando bastante. Ela segura a bolsa contra o peito, soluçando de tanto chorar. As lágrimas borram seu rosto maquiado.

HISMERIA (CHORANDO) – Como ele pode fazer isso comigo? Mais uma vez, fui traída...

                                                     SONOPLASTIA OFF

                                                         CORTA PARA:

CENA 13. INT. CASA DE CANDOCA – SALA – NOITE

Hismeria entra em casa ainda chorando. Candoca e Chandra Dafni estão sentadas na sala vendo televisão. Ao ver Hismeria naquele estado, Candoca se levanta imediatamente.

CANDOCA (PREOCUPADA) – Hismeria! O que aconteceu, minha filha?

Chandra Dafni se aproxima, cruzando os braços e observando Hismeria.

CHANDRA DAFNI (SUSPEITANDO) – Foi o Pedro, não foi? Eu sabia!

Hismeria se joga no sofá, cobrindo os rostos com as mãos, chorando mais alto.

HISMERIA – Eu vi com meus próprios olhos! O Pedro estava no bordel...com outra mulher!

Candoca se senta ao lado dela e a abraça com ternura, alisando seus cabelos.

CANDOCA – Oh, minha filha. Eu sinto muito por isso.

CHANDRA DAFNI – Eu tentei te avisar! Essas saídas misteriosas dele. Anos e anos de noivado, sem nunca marcar a data do casamento. Já sabia que ele não prestava.

Hismeria olha para Chandra tendo que concordar com ela.

CANDOCA – Você é uma moça forte! Vai superar isso e vai encontrar um homem que saiba te valorizar. Porque um homem que não sabe valorizar a grande mulher que você é, não merece nem suas lágrimas.

Hismeria a abraça, chorando no ombro de Candoca. Chandra Dafni olha para as duas com um olhar de solidariedade.

                                                         CORTA PARA:

CENA 14. EXT. BORDEL DE MADAME YVETTE – DIA

Teodora sai pela porta principal do bordel, vestindo um vestido simples, um xale sobre os ombros e carrega uma bolsa pequena. Do outro lado da rua, um automóvel preto está estacionado. Dentro do carro estão David e Laura, os dois marqueteiros contratados por Almeida. Eles observam Teodora sair e trocam olhares.

DAVID – Lá está ela. A peça que faltava para colocar nosso plano em prática.

LAURA (AJUSTANDO AS LUVAS) – Ela vai aceitar. Todo mundo tem um preço.

David dá partida no carro e avança devagar pela rua. O som do motor chama a atenção de Teodora, que olha desconfiada. O carro para ao lado dela, e Laura, sentada no banco de trás, abaixa o vidro com um sorriso calculado.

LAURA – Bom dia.

TEODORA (DESCONFIADA) – Quem são vocês? O que você quer?

David abre a porta do carro e desce.

DAVID – Apenas uma conversa. Como se chama?

TEODORA (DEFENSIVA) – Eu não falo com estranhos.

Laura desce do carro, com um sorriso leve, tentando quebrar a resistência de Teodora.

LAURA – Não somos estranhos. Viemos com uma proposta que pode mudar sua vida e te tirar desse bordel que trabalha. Uma proposta que pode valer muito dinheiro.

TEODORA (DESCONFIADA) – Proposta? Que tipo de proposta?

DAVID – Envolve a sua amiga Isabella, a dona do bordel.

Ouvir o nome de Isabella faz Teodora erguer o rosto, surpresa e visivelmente incomodada. Ela olha para os lados e depois fixa seu olhar em David e Laura.

ISABELLA – A Isabella não é minha amiga.

LAURA (SORRINDO) – Ótimo. Isso facilita tudo.

David retira um dinheiro dobrado de dentro do casaco e mostra para Teodora.

DAVID (PERSUASIVO) – Aqui tem 10 mil cruzeiros, mas de onde vem esse tem muito mais. Estamos interessados em pagar muito bem se você nos ajudar.

TEODORA – Ajudar em quê?

LAURA – A questão é simples. Você testemunhará em uma história que precisamos espalhar. Uma história que vai colocar Isabella em uma posição muito delicada.

TEODORA – Que história?

DAVID – Você dirá que a Isabella está envolvida em algo bastante sujo: exploração de meninas menores. Que tudo isso ocorre dentro do bordel.

Teodora arregala os olhos, chocada com o que acaba de ouvir.

TEODORA – Isso é mentira! Dentro do bordel não aceitamos menores de idade. No passado até ocorria, mas desde que a Isabella virou a preferida de Madame Yvette nunca mais aconteceu.

LAURA – A verdade, minha querida, é apenas uma questão de quem conta a história.

David mostra novamente o maço de dinheiro para que Teodora veja.

DAVID – Essa é a sua chance de mudar de vida. Imagine o que você poderia fazer com esse dinheiro. Poderia ir embora daqui e deixar de trabalhar nesse lugar.

TEODORA – O que eu preciso fazer?

LAURA – Um testemunho simples. Nós cuidamos de todo o resto.

DAVID – Como se chama?

TEODORA – Me chamo Teodora.

DAVID – Ótimo. Agora volte a fazer o que estava indo fazer, nos entraremos em contato com você, quando precisarmos que você haja.

LAURA – Lembre-se, isso deve ficar em segredo.

TEODORA – Tudo bem.

Teodora olha para o dinheiro uma última vez antes de se afastar. David e Laura trocam um olhar cúmplice e voltam para o carro.

DAVID (SORRINDO) – Ponto para nós. O primeiro passo para destruir a imagem do Matteo Bellini está dado.

Laura cruza as pernas, ajeita as luvas e sorri.

LAURA – Eu já consigo imaginar a manchete “Irmã do candidato Matteo Bellini acusada de exploração de menores”. Isso irá destruí-lo.

                                                         CORTA PARA:

CENA 15. INT. CASA DE CANDOCA – SALA – DIA

Candoca com os óculos na ponta do nariz, ajusta uma peça de tecido enquanto Chandra Dafni organiza retalhos no canto. Alguém bate à porta, Chandra Dafni grita que está aberta. Patrícia entra com sua postura elegante, seguida de perto por Flora, que veste um vestido impecável e uma bolsa luxuosa no braço. Ambas mostram um ar de sofisticação e superioridade.

PATRÍCIA (SORRINDO) – Bom dia, dona Candoca. Espero não estarmos atrapalhando.

CANDOCA – De forma alguma. Sejam bem-vindas.

Patrícia entrega uma caixa nas mãos de Candoca, que abre e retira um tecido branco. Candoca toda o material com as mãos, sentindo sua textura.

PATRÍCIA – Cetim puro. Veio diretamente de São Paulo. Um tecido digno para o casamento da minha filha.

CANDOCA (ADMIRADA) – É belíssimo, sem dúvida.

PATRÍCIA – Eu poderia ter encomendado o vestido com uma modista em São Paulo, mas gostei muito do seu trabalho. Além disso, é muito mais prático fazer tudo por aqui.

CANDOCA – Fico lisonjeada pela confiança, dona Patrícia. Um casamento é um momento único na vida de uma mulher, e um vestido tem que ser feito com muito cuidado.

FLORA (IMPACIENTE) – Espero que a senhora esteja à altura do desafio. Eu quero este modelo aqui.

Flora abre uma revista de moda que traz nas mãos e entrega para Candoca. A imagem mostra um vestido de noiva moderno, ajustado ao corpo, com um leve decote quadrado e mangas transparentes de renda delicada.

FLORA – É o último grito da moda na Europa. Não quero nada daquele estilo ultrapassado, cheio de babados e volume. Quero algo leve, elegante e atual.

CHANDRA DAFNI – É um lindo vestido, porém um pouco vulgar demais, não acha? O padre Olavo pode não gostar disso.

FLORA – Mas quem tem que gostar sou eu, e não o padre. Se ele quiser um vestido ao gosto dele que ele mande fazer um para ele.

Todas ficam em silêncio.

CANDOCA – É um modelo lindíssimo, mas exige muito cuidado no corte e na costura. Precisaremos de algumas provas para garantir que ele caia perfeitamente em você.

FLORA – Não me importa o tempo que leve, ele só precisa ficar pronto antes que a minha barriga fique grande demais, pois estou grávida.

CHANDRA DAFNI (SUSSURRA) – Tá explicado essa pressa toda.

FLORA – O que disse?

CANDOCA – Ela não disse nada. O vestido ficará pronto o mais cedo possível, não se preocupe.

Chandra pega uma fita métrica e se aproxima de Flora, que se posiciona com um ar de impaciência.

                                                         CORTA PARA:

CENA 16. EXT. FRENTE DA IGREJA – DIA

A praça ao redor da igreja está movimentada. Pombas voas entre as árvores, crianças correm brincando, e fiéis saem da missa. Henrique, com uma pilha de jornais dobrados sob o braço, circula pelo local gritando com entusiasmo.

HENRIQUE – Jornal do dia! Notícias fresquinhas de Esperança! O futuro está nas páginas!

Mariana, usando um vestindo simples e o véu branco sobre a cabeça, sai da igreja. Assim que Henrique a ver, seu rosto se ilumina.

HENRIQUE (SORRINDO) – Boa tarde, Mariana.

MARIANA (SORRINDO TIMIDAMENTE) – Boa tarde, Henrique.

HENRIQUE – Gostou do jornal que eu te dei outro dia?

MARIANA – Gostei...Li escondida. Foi muito interessante.

Henrique sorri satisfeito e puxa outro exemplar da pilha, dobrando-o cuidadosamente antes de entregar a ela.

HENRIQUE – Então toma mais um. Esse tem várias notícias boas.

Mariana olha para os lados, nervosa, mas aceita o jornal.

MARIANA – Minha mãe não pode ver.

HENRIQUE – Então vamos resolver isso. Que tal um sorvete? Prometo que ninguém vai contar.

Mariana arregala os olhos, surpresa.

MARIANA (HESITANTE) – Sorvete? Não sei...minha mãe...

HENRIQUE – Sua mãe nem vai saber. É só um sorvete, prometo que não vamos demorar.

Henrique estende a mão, gentil e confiante. Mariana respira fundo, relutante, mas acaba sorrindo e cedendo.

MARIANA – Está bem, mas só um sorvete.

Henrique sorri de orelha a orelha, e os dois caminham em direção a sorveteria.

                                                         CORTA PARA:

CENA 17. INT. JORNAL O AMIGO DO POVO – REDAÇÃO – DIA

Eriberto está sentado com a gravata frouxa e a camisa arregaçada, batendo ritmicamente com um lápis sobre a mesa. Augusto, em pé ao lado de uma lousa cheia de ve1rsos riscados, cantarola, tentando encaixar a letra com a melodia.

AUGUSTO (CANTAROLANDO) – “Esperança vai mudar, Matteo vai governar...” É...não, isso ficou péssimo!

ERIBERTO (FRUSTRADO) – Acho que nós dois deveríamos desistir disso. Se a política dependesse apenas de jingles, Matteo já estaria derrotado.

Marcos entra na redação e ouve o canto de Augusto. Ele para e olha, surpreso, com um sorriso.

MARCOS (BRINCA) – Eu entrei numa redação ou numa escola de desafinados?

ERIBERTO – Graças a Deus, uma alma que pode nos salvar! Marcos, pelo amor do progresso, sente-se aqui e nos ajude. Estamos tentando fazer um jingle para a campanha do Matteo.

MARCOS – Jingle? Vocês estão mesmo inspirados.

ERIBERTO – Inspirados, nada! Augusto aqui está quase me fazendo desejar o silêncio.

AUGUSTO (RINDO) – Olha quem fala. Você mal conseguiu fazer duas rimas, eu que escrevi tudo.

Marcos ri e se senta ao lado de Augusto.

MARCOS – E o que vocês escreveram até agora? Vamos ver.

AUGUSTO (CANTANDO) – “Chega de opressão, porque maiores são, os poderes do povo desse grande país, valeu a luta junto com você...”

Marcos sorri e balança a cabeça levemente.

MARCOS – Olha, eu gostei desse início. E você tem uma boa voz, sabia?

AUGUSTO (SORRINDO) – Eu? Ah, pare com isso, Marcos. É só improviso.

ERIBERTO – Eu concordo com o Marcos, você canta melhor do que escreve.

Marcos se levanta e rabisca a lousa.

MARCOS – Eu gostei do começo, mas...que tal ajustar um pouco a letra e um pouco o ritmo? A melodia precisa ser mais cativante. Algo que o povo cante até no banho.

Marcos, canta baixinho para si mesmo enquanto escreve na louça.

MARCOS – “Chega de opressão, porque maiores são os poderes do povo, dessa grande nação. Valeu a luta lado a lado com você, valeu a luta e nós vamos vencer.”

Ele se vira para os dois e canta com entusiasmo o verso ajustado.

MARCOS (CANTANDO) – “Esperança, Esperança, todas as janelas vão se abrir, deixe entrar o sol da liberdade que a grande vitória vem aí.”

Augusto sorri de orelha a orelha e bate palmas.

AUGUSTO (EMPOLGADO) – Agora sim, Marcos! Isso tem ritmo! Dá até vontade de cantar na praça.

ERIBERTO – Aleluia! Alguém com talento apareceu. Marcos, meu amigo, você salvou o dia!

MARCOS (RINDO) – Eu e o Vittorio costumávamos compor algumas músicas na fazenda quando éramos jovens. Tudo amador, mas acho que serve para hoje.

AUGUSTO – Pois hoje você se tornou compositor oficial da campanha. Vamos continuar trabalhando na letra.

ERIBERTO – Quando estiver pronto, faremos com que seja cantado em cada canto dessa cidade.

Marcos sorri satisfeito, e se volta para o quadro para continuar escrevendo.

                                                         CORTA PARA:

CENA 18. INT. PREFEITURA – RECEPÇÃO – DIA

Hismeria está séria, organizando papéis. Pedro entra pela porta.

PEDRO – Hismeria...precisamos conversar.

HISMERIA – Não temos nada para conversar, Pedro. O que aconteceu ontem acabou com qualquer assunto entre nós.

PEDRO – Por favor, você precisa me ouvir. Não foi o que você está pensando.

HISMERIA – Eu não estou pensando, Pedro. Eu vi você agarrado com aquela mulher no bordel. E aqui não é o lugar para você me atormentar com esse assunto. Se me respeita minimamente, trate de me dirigir a palavra apenas sobre trabalho.

Pedro tenta insistir, se aproximando mais.

PEDRO (IMPLORANDO) – Hismeria, me deixe explicar!

Ates que ele diga mais alguma coisa, a porta se abre. Fontes, entra ajustando o chapéu.

FONTES – Bom dia.

HISMERIA – Bom dia, prefeito.

PEDRO – Bom dia.

FONTES – Hismeria, preciso trocar uma palavra com você na minha sala.

HISMERIA – Claro, prefeito.

Pedro dá um passo para trás, frustrado, e sai relutante. Hismeria respira fundo e acompanha fontes até sua sala.

                                                         CORTA PARA:

CENA 19. INT. PREFEITURA – SALA DO PREFEITO – DIA

Fontes se senta atrás de sua mesa, sério, enquanto Hismeria permanece de pé.

FONTES – Hismeria, algo estranho aconteceu ontem ao sair daqui. Um carro me seguiu até a fazenda.

HISMERIA (SURPRESA) – Seguiu? O senhor tem certeza?

FONTES – Certeza absoluta, e tenho quase certeza de que são homens a mando de Almeida. Ele está tentando me intimidar por eu ter apoiado o Matteo.

HISMERIA – O senhor precisa registrar isso na delegacia.

FONTES – À frente da delegacia tem um lambe botas do Almeida. O Afrânio não moveria um dedo contra o coronel.

HISMERIA – Mesmo assim, é importante que haja um registro. Ao menos ficará documentado. Mas eu irei avisar a todos o que aconteceu. O senhor não pode se deixar intimidar.

Fontes suspira, pensativo e assente.

FONTES – Você tem razão. Farei o registro.

                                                         CORTA PARA:

CENA 20. INT. SORVETERIA – DIA

Henrique e Mariana estão sentados próximo à janela, cada um com seu sorvete. Henrique toma um sorvete de chocolate enquanto Mariana saboreia o de creme.

HENRIQUE – Você sempre escolhe creme? Nenhuma vontade de arriscar e pegar algo mais exótico?

MARIANA (RINDO) – Creme é clássico. E minha mãe diz que é o mais apropriado. Nada de exageros.

HENRIQUE – Sua mãe parece bem rígida, hein? Aposto que se ela pudesse, controlava até os seus sonhos.

MARIANA – Ela só quer o melhor para mim.

Henrique a observa com atenção, notando o leve desconforto nas palavras dela. Ele decide mudar o tom.

HENRIQUE – Bom, e o jornal? Gostou mesmo?

MARIANA – Sim! Adorei a forma como vocês abordaram o incêndio na fazenda Almeida.

HENRIQUE – Obrigado, fui eu que escrevi a matéria.

MARIANA (ADMIRADA) – Você gosta muito do que faz, não é?

HENRIQUE – Gosto. Mas agora...acho que gosto mais de estar aqui com você.

Mariana fica com o rosto corado e desvia o olhar, mexendo no sorvete com a colher. Henrique ri suavemente, se divertindo com a timidez dela.

MARIANA – Está ficando tarde. Preciso ir.

HENRIQUE – Eu te acompanho até em casa.

MARIANA – Não! Não pode. Se alguém nos vir, minha mãe ficaria furiosa.

HENRIQUE – A gente pode se ver novamente amanhã? Depois da missa.

MARIANA (SORRINDO) – Sim...depois da missa.

Ela sai correndo, mas ao atravessar a porta, olha para trás e sorri timidamente para Henrique antes de desaparecer na rua. Henrique fica sentado, com um sorriso bobo no rosto.

                                                         CORTA PARA:

CENA 21. INT. IGREJA – DIA

A igreja está silenciosa. Gustavo, o seminarista, está em um canto, organizando um suporte de velas. Chandra Dafni entra pela porta principal, vestindo um vestido preto. Ela olha para o altar, faz o sinal da cruz e se ajoelha em um banco próximo. Após uma rápida oração, ela se levanta e caminha em direção a Gustavo, com um sorriso travesse no rosto?

GUSTAVO (TENSO) – Chandra? O que você está fazendo aqui a essa hora? O Padre Olavo foi fazer uma visita a uma fazenda bem longe daqui.

CHANDRA DAFNI – Vim rezar. Mas também vim te ver.

GUSTAVO – Me ver? Por favor se comporte, aqui é casa de Deus, não é admissível que você se comporte como na última vez.

Chandra Dafni se aproxima com um olhar malicioso.

CHANDRA DAFNI – Eu sei, e não há lugar melhor para confessar.

Ela dá uma risada baixo e começa a passar a mão levemente pelo próprio braço, enquanto Gustavo desvia o olhar, claramente desconfortável.

CHANDRA DAFNI – Toda vez que vejo você, eu sinto um calor que não consigo explicar.

Ela começa a deslizar as mãos lentamente pelo próprio corpo, oscilando entre provação e obsessão.

CHANDRA DAFNI – Esse fogo...vem de baixo. Você nunca sentiu isso, Gustavo?

GUSTAVO – Pare com isso! Controle-se, Chandra!

CHANDRA DAFNI – Até sua voz me seduz. Como espera que eu me controle?

Antes que Gustavo possa reagir, Chandra Dafni o agarra e o beija com intensidade. Ele tenta se afastar, mas tropeça, e os dois caem no chão da igreja. Chandra Dafni fica por cima dele, segurando seus ombros e o beijando descontroladamente.

GUSTAVO – Chandra, pare! Isso é errado!

De repente, Flora entra pela porta lateral da igreja e flagra os dois no chão, ela para surpresa, mas logo um sorriso malicioso surge em seu rosto.

FLORA (IRÔNICA) – Ora, ora, que cena interessante.

Chandra Dafni se levanta num salto, ajeitando o vestido com pressa, completamente assustada. Sem olhar para trás, ela sai correndo pela igreja, desaparecendo pela porta principal. Gustavo se levanta rapidamente, ajeitando as roupas, claramente em pânico.

GUSTAVO (DESESPERADO) – Isso não foi o que parece! Posso me explicar.

FLORA (SORRINDO) – Não precisa explicar, algumas cenas falam por si.

                                                         CORTA PARA:

CENA 22. INT. MANSÃO DE INÁCIO – SÓTÃO – NOITE

O sótão é escuro e abafado, com uma única janela gradeada que deixa entrar uma luz fraca da lua. Camila está sentada no chão, abraçando os joelhos, com o olhar perdido. A porta do sótão se abre com um rangido alto, revelando Inácio, com uma expressão severa e segurando um castiçal com velas que ilumina parcialmente o ambiente.

INÁCIO – Levante-se. Está na hora do jantar. Minha mãe está nos esperando.

CAMILA – Eu não vou. Estou sem fome.

INÁCIO – Isso não foi um pedido, querida. Foi uma ordem.

CAMILA – Eu já disse que não vou. Não importa quantas ordens você dê.

Inácio coloca o castiçal sobre a mesa e, dá um tapa forte no rosto de Camila, que rapidamente leva a mão ao rosto.

CAMILA (DESAFIA) – Até quando você vai me manter aqui, Inácio? Presa nesse lugar escuro como um animal?

INÁCIO – Até o dia que você decidir se comportar como uma esposa digna. Uma mulher que sabe o seu lugar.

CAMILA – Eu nunca serei uma esposa digna para você. Nunca vou te amar, Inácio. Nunca!

INÁCIO – Amor? Quem falou de amor, Camila? Amor é um luxo que você não merece. O que você merece é aprender a obedecer a seu marido.

CAMILA – Você é um monstro. Um covarde. Nem meu pai teria coragem de fazer o que você está fazendo comigo.

INÁCIO (RINDO) – Seu pai? Ah, Camila...ele deveria me agradecer por eu estar de te ensinando um pouco de disciplina.

Inácio pega Camila pelo braço e arrasta em direção à porta.

INÁCIO – Se você não descer por vontade própria, então eu vou te levar a força. Minha mãe vai voltar para o Rio amanhã cedo, e você vai sorrir na frente dela como a esposa exemplar que prometeu ser.

CAMILA (SE DEBATENDO) – Eu não prometi nada! Esse casamento foi um acordo e você sabe disso.

INÁCIO – Eu cumpri minha parte. Vou dar um nome a esse bastardo que você carrega no ventre. Agora, cumpra a sua parte.

CAAMILA – Você não passa de um homem inseguro, tenta esconder sua fraqueza por trás da violência.

Inácio, visivelmente atingido pela provação, empurra Camila contra a parede.

INÁCIO – Chega de drama! Você vai descer agora.

Inácio leva Camila arrastada pelos corredores da casa.

                                                         CORTA PARA:

CENA 23. EXT. ESTRADA DE TERRA – NOITE

O carro de Fontes trafega calmamente, com os faróis cortando o breu. De repente, dois carros surgem rapidamente pelo retrovisor, acelerando e ultrapassando o carro de Fontes. Um deles para bruscamente à frente, enquanto o outro bloqueia a retaguarda. Fontes freia com força, o carro derrapa levemente e para. Ele olha ao redor, visivelmente alarmado. As portas de um dos carros pretos se abrem e dois homens armados descem e caminham em direção ao carro de Fontes.

LUCAS (APONTANDO A ARMA) – Sai do carro, agora!

FONTES (ASSUSTADO) – O que vocês querem? Quem é você?

DIEGO (GRITANDO) – Disse pra sair! Saia agora!

Fontes levanta as mãos suavemente e abre a porta. Diego o puxa com brutalidade, jogando-o contra o capô. Lucas amarra suas mãos com uma corda grossa, apertando com força.

FONTES (NERVOSO) – Vocês estão cometendo um erro! Eu sou o prefeito da cidade.

Os homens o ignoram e o colocam no banco de trás do carro que ficou na retaguarda. O motorista desse carro é Ezequiel, enquanto no banco do passageiro está Coronel Almeida. O rosto de Fontes se contorce em choque ao ver Almeida.

FONTES – Almeida! Eu devia ter imagino.

ALMEIDA – Você não achou que ficaria impune, achou?

FONTES (GRITANDO) – Você é um tirano! Um dia, sua arrogância será sua ruína!

ALMEIDA (SORRINDO) – Talvez, mas você não está vivo para ver.

O carro segue pela estrada, com os outros veículos atrás. Os carros chegam a uma área isolada. O local está iluminado pelos faróis dos veículos, revelando uma cova recém cavada, com a terra solta ao redor. Ezequiel, puxa Fontes do carro, jogando-o no chão. Ele cai de joelhos, olhando para a cova aberta. Almeida desce do carro.

FONTES – Você acha que pode silenciar todos que que se opõem a você? O povo de Esperança não vai se curvar a um monstruoso como você para sempre!

ALMEIDA – Silenciar? Não. Mas posso ensinar uma lição para quem acha que pode me trair. E você, Fontes, foi o maior traidor de todos.

FONTES (GRITANDO) – Traidor? Eu só fiz o que era certo! Cansei de ser sua marionete!

ALMEIDA – E por isso você vai pagar. Não há espaço para traição, Fontes.

Ele sinaliza para Ezequiel, que levanta Fontes com brutalidade e o empurra para dentro da cova.

FONTES – Você vai me calar, mas não vai conseguir conter o movimento contra você.

ALMEIDA (RINDO) – Talvez não. Mas calar você já é um bom começo.

Almeida puxa um revólver do coldre, mirando na cabeça de Fontes. A respiração de Fontes é pesada e ele mostra desespero no rosto.

ALMEIDA – Dar um tiro na sua cabeça seria rápido demais. Você merece algo mais duradouro!

Almeida se aproxima da beira da cova, pega um pouco de areia e joga sobre o rosto de Fontes.

ALMEIDA (FRIO) – Grite, Fontes. Chame por seu Deus, pelos seus aliados, por quem quiser.

Ezequiel, Lucas e Diego começam a jogar terra com pás na cova. Fontes grita e se debate em desespero, enquanto a areia vai sendo jogada sobre seu corpo. Almeida observa tudo com um olhar frio.

FIM DO CAPÍTULO

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