A Promessa
CAPÍTULO 14
webnovela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
No capítulo anterior: Elimeleque conta para Noemi sobre a situação da plantação. Malom e Quiliom resolvem observar melhor as moças que servem água no campo. Yuri mostra para Elimeleque a área do campo destruída, mas ela aumentou em relação à noite anterior. Noemi e Tani pregam para o povo sobre seus erros e a necessidade do arrependimento e reaproximação de Deus, mas são repreendias por todos. Malom e Quiliom analisam cada moça, mas em todas encontram algum defeito. Tamires retorna a Belém e tão logo se opõe publicamente a Noemi e Tani. Elimeleque e o Ancião chegam ali, e o marido de Noemi brada ao povo que a calamidade no campo é real. Rancorosa, Tamires observa Noemi e Tani de longe, e murmura que a hora dela chegou, e finalmente terá sua vingança.
FADE IN:
CENA 1: EXT. PLANÍCIE DESÉRTICA – DIA
Os trigais que cercam Belém, os morros, as montanhas... Montanhas cada vez mais distantes, paisagens com menos vida, terras inóspitas... Até que chegamos a uma vasta planície desértica cercada de morros tão áridos quanto.
No pé de um monte, um numeroso exército aguarda em forma. Os soldados, vestidos com resistentes couraças, empunham uma espada e um escudo redondo no outro braço. Em cada semblante, um misto de ansiedade, tensão e empolgação.
No alto do monte, uma tenda improvisada e sem as laterais abriga um grupo de homens e mulheres vestidos peculiarmente. São os sacerdotes do mesmo reino do exército. Entre eles, o Sumo Sacerdote FARUK (40 anos, careca e vestes negras), a Sacerdotisa MYRA (35 anos, cabelo cortado e branco) e as sacerdotisas RUTE (20 anos, cabelo e olhos claros). Mais atrás, fora da tenda, alguns servos escoltam uma GAROTA (10 anos, ornada da cabeça aos pés) de aparência indiferente.
Todos ali olham ansiosos para o horizonte. Então o Sumo Sacerdote Faruk semicerra os olhos e, como todos, percebe uma grande movimentação surgir do outro lado da planície: outro exército marchando em direção a eles.
FARUK
Os malditos amorreus estão se aproximando. (para a Sacerdotisa Myra) Está tudo pronto para o sacrifício?
MYRA
Sim, Sumo Sacerdote.
Faruk volta a encarar o exército amorreu aumentando no horizonte. Myra olha brevemente para Rute e Orfa, que permanecem quietas, observando.
Lá embaixo, à frente do exército, o rei ZYLOM (50 anos, cabelo na nuca), montado em seu cavalo e olhando para frente, fala com o CAPITÃO do exército, também montado.
ZYLOM
São uns tolos, mesmo. Não percebem que não tem a menor chance contra nós. Moabe é um reino superior, o nível do nosso exército é muito alto, mas rum... ainda insistem.
CAPITÃO
São persistentes, não há como negar.
ZYLOM
Esmagaremos a todos! Que venham. Assim como fizemos com sua cidade, faremos com eles!
Do outro lado da planície, o também numeroso exército amorreu marcha com vigor rumo à batalha, até que o rei, montado à frente, faz um sinal com o braço e o exército para; o silêncio reina. Ele vira de frente para seus homens.
REI AMORREU
Hoje não é um dia qualquer. Hoje é o dia em que o sol nasceu com apenas um objetivo, meus irmãos: mostrar ao mundo a honra que os filhos de Hesbom reconquistarão! Esta batalha... é uma questão de honra para nós. Os moabitas roubaram nossas casas, se apropriaram de nossas mulheres, transformaram nossos filhos em escravos... Lançaram mão sobre o que tínhamos de mais precioso. Mas agora, irmãos... Agora chegou a hora de tomarmos o que é nosso!!!
Todos os soldados gritam com vigor. O cavaleiro ao lado do rei se aproxima desse.
FILHO DO REI
Eles são muitos, meu pai...
REI AMORREU
Não podemos recuar agora. Vamos lutar, com toda nossa garra! (olha para o exército) Coloquem no fio de suas espadas o motivo de estarem aqui! Preparem-se!
Os soldados amorreus se ajeitam, seguram a espada mais firme, conferem o escudo... e encaram os inimigos com ânimo.
ABERTURA
CENA 2: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Elimeleque termina de contar para o Ancião, com o povo ao redor presenciando.
ELIMELEQUE
E é isso...
O Ancião está claramente preocupado.
ANCIÃO
Uma praga como castigo... Você, Noemi e Tani tem toda razão. Há muito tempo esse povo anda por caminhos perversos, e o Senhor certamente está descontente. (para as pessoas ao redor) A verdade é que se não mudarem, o castigo do céu cairá de uma vez sobre Israel!
O povo não repreende o Ancião, mas lhe dão as costas e saem. Ele, decepcionado, balança a cabeça. Elimeleque lhe faz um sinal com a cabeça e se aproxima de Noemi e Tani, frustradas. Tamires também chega ali.
TAMIRES
Elimeleque! Estive pensando, onde estará seu primo Neb?
Elimeleque olha para ela por alguns segundos.
ELIMELEQUE
Depois de todo esse tempo, Tamires?
TAMIRES
É justamente pelo tempo. As coisas mudam, e Neb não está imune a isso.
ELIMELEQUE
Sabe, já que você tem a língua solta, fala como quer, da forma que quer e com quiser, vou te falar a verdade, Tamires. Depois do breve namoro de vocês naquela época, Neb pegou trauma de casamento. Ele já era um tanto avesso à ideia, mas depois de você o rapaz se tornou alérgico à simples ideia de se casar. Mesmo com todos nós tentando convencê-lo de quem nem todas moças são Tamires.
Tamires o encara num misto de curiosidade e descrença. Tani mantém um sorrisinho.
ELIMELEQUE
Infelizmente ele não prosperou nos negócios, e tampouco aceitou ajuda de seu primo aqui. Hoje, passa a maior parte do dia andando pelas ruas, fazendo toda sorte de serviços... incluindo, possivelmente, golpes--
TAMIRES
(interrompendo) Então logo nos reencontraremos!
Tamires sai por uma rua.
TANI
Continuo não confiando nessa mulher. Depois de tanto tempo, volta como se fosse a rainha de Belém.
ELIMELEQUE
(para Noemi) Eu amaria passar o dia aqui com você, meu amor, mas preciso voltar ao campo. Sabe-se lá quanto trigo a mais não se perdeu nesses momentos em que estivemos aqui...
NOEMI
Tudo bem, eu espero por você no final do dia.
Elimeleque a beija.
ELIMELEQUE
Shalom.
NOEMI
Shalom, meu amor.
ELIMELEQUE
Shalom, Tani.
TANI
Shalom, Elimeleque.
Elimeleque sai. Apesar de abatidas, Tani força um sorriso para Noemi.
CENA 3: EXT. PLANÍCIE DESÉRTICA – DIA
REI AMORREU
AVANTE!!!
O rei dá o sinal e o exército amorreu começa a correr pela planície. Os soldados gritam com as espadas levantadas.
Do outro lado, o rei moabita Zylom se enoja.
ZYLOM
As baratas estão vindo. Eu quero todas esmagadas!!!
CAPITÃO
ATACAR!!!
Então o exército de Moabe sai de sua posição e também começa a correr pela planície, de encontro aos amorreus. No alto do monte, os sacerdotes moabitas observam com extrema atenção. Rute e Orfa mantém o olhar fixo na batalha prestes a se iniciar.
Os dois exércitos disparam pela planície e se aproximam cada vez mais... Os soldados gritam! Espadas firmes, escudos em posição, correm, gritam, correm... E, de repente, os exércitos amorreu e moabita colidem furiosamente.
Homem contra homem, espada contra espada! Para todos os lados que se pode ver, golpes são desferidos a grandes velocidades. Soldados duelam, ferem, matam e, em seguida, já tem de enfrentar outro inimigo. Porém, os amorreus claramente estão em vantagem; sua garra é visível! Um deles luta contra dois moabitas. O homem grita a cada vez que desvia de um golpe e impede outro com o escudo. Sua determinação e habilidade faz com que ele derrube um dos inimigos com uma rasteira, meta o escudo no rosto do outro e finalize fincando a espada no primeiro.
FILHO DO REI
Estamos em vantagem, meu pai!
REI AMORREU
Nossos homens têm um objetivo nobre, meu filho! Lute! Pois a vitória ainda está longe!
O filho do rei, ainda montado, galopa ferindo todos os moabitas que sua espada alcança. Em outro ponto da sangrenta batalha, o rei Zylom observa a tudo.
CAPITÃO
Os amorreus se mostraram mais forte do que esperávamos, meu rei!
ZYLOM
AAAHHH!!!
Raivoso, Zylom mata dois inimigos de uma vez e avança contra o restante. Mas a vantagem ainda é dos amorreus, que continuam a abater os moabitas.
Um amorreu luta contra um moabita, mas outro moabita se aproxima por trás. Um segundo amorreu, percebendo a situação, corre, pula e, no ar, corta a cabeça do moabita prestes a acertar seu companheiro pelas costas. Em seguida os dois fincam a espada no peito do primeiro moabita. Fazem um sinal de camaradagem um para o outro e continuam a lutar.
Do alto de seu cavalo, o rei Zylom tem dificuldade de lutar contra quatro amorreus que tentam feri-lo por todos os lados. Vendo a situação de seu rei, o capitão galopa até ali e, com facilidade, mata dois pelas costas. Os outros dois assustam com a chegada repentina, e Zylom aproveita para feri-los mortalmente.
CAPITÃO
Senhor... Odeio dizer, mas se continuar assim, os amorreus levarão a vitória!
A contragosto, Zylom olha para os sacerdotes no monte e faz um sinal com a mão. Faruk entende e, mais que rapidamente, vira para Rute.
FARUK
Traga a oferenda, rápido!
Rute vai até os servos ali atrás, pega a menina pela mão e a conduz até à tenda.
FARUK
Precisam ser rápidas! Os amorreus estão aniquilando nossos soldados!
Por contra própria a garota senta na mesa de pedra e deita. Não aparenta nenhum sinal de medo, parece até mesmo alheia a tudo aquilo.
No campo, o rei amorreu continua a lutar e a incentivar seus homens.
REI AMORREU
Pela honra!!! Pela família!!!
Mais e mais moabitas perecem pelas mãos dos amorreus.
FARUK
Depressa, o óleo!
Rute pega um pote e despeja um pouco de óleo na testa da garota deitada.
MYRA
Mais rápido, sacerdotisas! A fúria dos amorreus se aproxima!
Com o dedo, Rute espalha o óleo pela testa da menina enquanto Orfa amarra suas mãos.
FARUK
Muito bem! Realize o sacrifício, Myra!
Então a Sacerdotisa Myra desembainha um punhal... e se aproxima da mesa. Ergue a arma, apontada para baixo, acima de sua cabeça e fecha os olhos.
MYRA
Deuses de Moabe! Que esta lâmina seja a tua ira sobre os nossos inimigos! Que o sangue puro dessa virgem seja sagrado aos teus paladares! Ó Aserá! Ó Astarte! Ó Tiamat! Ó poderoso Baal-Zebube! Menina, prepare-se para conhecer o bafo quente de Mot, o grande e invencível senhor da morte!
Os olhos de Rute permanecem fixos na garota.
MYRA
Salve Baal! Salve o príncipe dos deuses! Guie está lâmina até o coração dos amorreus!
Rute permanece sem esboçar qualquer traço de reação, mas seus olhos encontram-se intimamente conectados com os olhos da garota, que encara o céu.
MYRA
Que esta morte seja a morte de todos os amorreus!
Com um rápido movimento, Myra corta o ar com a lâmina e a crava no peito da garota.
Um quase imperceptível tremor no olho de Rute.
Myra, Faruk e os outros ali olham para o ato com expectativa. Em seguida viram os olhos para o campo de batalha, à procura de algum indício de reversão da situação.
CENA 4: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Tamires anda tranquilamente pelas ruas da cidade quando escuta uma discussão. Ela para e se esconde para ouvir. Querendo saber quem é, olha com apenas um olho. E é NEB (43 anos) com outros homens.
TAMIRES
Neb?...
NEB
Não me interessa quem faz mais barato! Se não quiserem pelo meu preço, então que procurem outro pra fazer esse servicinho!
HOMEM
Vou mesmo! O senhor é um estúpido, tá certo?!
NEB
Ah, que estúpido o quê! Vai lamber areia! Nem preciso fazer isso pra viver! Rabo de escorpião!
HOMEM
Ah, vai!
Os homens dão as costas e vão embora. Neb sai por outro lado, resmungando, e Tamires o alcança.
TAMIRES
Neb?
Ainda bravo, Neb vira para ela.
TAMIRES
O que aconteceu com você?!
Neb franze o cenho ao olhar para Tamires.
CENA 5: EXT. PLANÍCIE DESÉRTICA – DIA
Um fio de sangue escorre pela lateral da mesa de pedra. Rute leva seu olhar da garota morta para o campo de batalha.
Os amorreus já não estão com a mesma vantagem, e mais e mais dos seus morrem à espada dos moabitas.
ZYLOM
Vamos!!! Matem todos!!!
Apesar de sua determinação, o exército amorreu tem grande dificuldade, e diversos soldados não conseguem terminar seus golpes, acabando brutalmente feridos. Zylom então nota o rei amorreu, próximo dali, assustado com a derrota repentina de seu exército. Ele sorri de orelha a orelha e galopa até o seu inimigo. O filho do rei amorreu nota que Zylom se aproxima de seu pai e então galopa em direção a eles.
FILHO DO REI
Pai!!!
Transtornado, o rei amorreu vira o rosto para seu filho vindo e... BAN! Um empurrão faz com que ele caia de cima de seu cavalo. Sorrindo, Zylom se aproxima do rei caído.
ZYLOM
Lugar de barata é no chão. E esmagada!
Zylom faz o cavalo erguer as patas dianteiras e pisotear o rei amorreu. Ao ver seu pai sendo morto, o filho do rei interrompe o galope. Transtornado, não sabe o que fazer...
Zylom olha do rei morto para o rapaz que, notando a aproximação de outros moabitas, dá meia volta e sai galopando e bradando aos seus soldados.
FILHO DO REI
Recuar!!! Todos, agora!!! Bater em retirada!!!
Os amorreus sobreviventes começam a recuar. Os moabitas, triunfantes, os expulsam e os fazem fugir pela planície. Por fim, gritam vitoriosos! O rei Zylom desce de seu cavalo e comemora abraçando o capitão. No alto do monte, Faruk e Myra sorriem aliviados.
FARUK
Os deuses nunca nos abandonam!
MYRA
(para Rute e Orfa) Obrigada, sacerdotisas! Sua participação no sacrifício certamente lhes contará vantagens nas moradas dos deuses.
Orfa sorri e Rute faz que sim, simpática. Ela olha lá embaixo, e os soldados moabitas retornam comemorando a vitória.
ORFA
(aliviada) Vamos, Rute. Hora de voltar para casa!
Enquanto Orfa a olha, Rute sorri. Mas, no breve momento em que ela vira para trás, nota o corpo da menina, com o olhar vazio, sendo carregado pelos servos. O sorriso de Rute se transforma em um misto de felicidade e incômodo e... IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Neb desabafa com Tamires e Iago provoca Malom e Quiliom.
Obrigado pelo seu comentário!