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Antropófago - Diário de um Canibal - Episódio 10

 ANTROPÓFAGO – DIÁRIO DE UM CANIBAL
WEB SÉRIE DE ADÉLISON SILVA
PRIMEIRA TEMPORADA
DÉCIMO EPISÓDIO

CENA 01/ BRAÇO FORTE/ DIA

Clarinha está estirada no chão morta, e Max em pé ao seu lado. Aos poucos ele vai se afastando do corpo da jovem.

MAX: (off) Perturbei-me diante daquele sentimento de culpa, fui afastando do corpo, aterrorizado com medo do monstro que eu havia me tornado. Já não sabia mais quem eu era ou o que eu era, ou ainda o que seria de mim. Embora, enquanto afastava aos tropeços, tivesse consciência de um tipo assustador de memória oculta que tornava meu avanço não totalmente casual. Eu queria Érica, a desejava, não aceitava a ideia de perdê-la para o Davi. Como eles puderam fazer isso comigo?

Max sai da região em que está deixando para trás o cheiro acusador do cadáver de Clarinha, ainda que carregasse manchado em suas mãos o seu sangue. Adentra na parte mais fechada da floresta, não poderia correr o risco de ser pego pela policia. Ele vai andando por entre a mata, esbarrando nas próprias pernas até chegar a um lago. Aos poucos ele vai tirando a sua roupa e entrando na água. Ele banha tirando todo o sangue que o envolvia. Vai saindo do lago e se joga de joelho no chão as margens do lago. E ali agachado ao chão ele se derrama em prantos.

MAX: (chorando) Porque ainda me sinto tão imundo? Estou me sentindo um miserável. O que eu estou fazendo da minha vida?

Passa um flashback mostrando os momentos cruciais dos seus assassinatos. A CAM vai subindo em um plano aéreo mostrando Max ao longe. Ele levanta e vai andando até chegar a sombra de um Carvalho, ali ele senta e se acomoda.

MAX: (off) Minha mente me torturava com dolorosas lembranças, ainda ouvia os gritos e gemidos das minhas vítimas. Lembrava também do maldito dia do acidente, minha pele deformada, encarquilhada e decadente era testemunha do meu sofrimento. Deslizava a mão pelo o rosto e sentia as cicatrizes, as lágrimas quentes lavavam silenciosamente a minha fronte, mostrando que ainda existia algo de humano em mim. Olhava os renques das árvores no alto, que se balançavam e se acenavam em uma harmonia perfeita, os pássaros cantavam e voavam em seus galhos retorcidos em um coro deslumbrante. Tal era o quinhão que Deus me reservou, a solidão, o medo, me sentia desapontado, enfraquecido. Sentia-me ressequido, agarrado com desespero a lembranças de um passado que insistia em retornar a minha mente. Por onde andava a minha amada Érica?

Max adormece sob as sombras gelada das árvores e acalentado pelo o som da cantoria dos pássaros. 

 [ABERTURA]

EPISÓDIO X
“A culpa e o desejo”

CENA 02/ FLORESTA MOSSAÍH/ TARDE

A CAM dá um close em Max, enquanto um fruto cai em seu rosto. Ao olhar para cima ele ver um bando de macacos guinchando e salteando fazendo molecagem nos topos das árvores. Max levanta meio troncho e morto de fome, havia se alimentado mal o dia todo.

MAX: (off) Era estranho, mas não pensava em nada silvestre para comer, era carne humana que eu queria. Minha mente, atordoada e caótica como estava ainda preservava o anseio frenético por sangue, e nem mesmo a culpa dolorosa que me atormentava poderia impedir meu avanço. Sair dali, ainda exausto em busca de algo para me saciar, não sabia e nem me preocupava em saber se a minha experiência era pura insanidade, porém parecia determinado a sentir aquele sabor novamente. O regalo que estremecia a minha pele, o pecado, o proibido, o imoral. Ansiava por ver os olhares de medo, o grito espremido, e eu soberano sobre toda aquela situação.

CENA 03/ FLORESTA MOSSAÍH/ TARDE

Mostra Max passando por um campo aberto, com poucas árvores. Até se aproximar de uma estrada velha e esburacada. 

MAX: (falando sozinho) Braço Forte, eu preciso voltar lá. O que está acontecendo comigo? Por que sinto tanta vontade de comer carne humana? Isso não está certo Max. Em quê você está se tornando? Eu preciso voltar lá, eu necessito sentir novamente aquele sabor. Tenho que ter cuidado, a polícia não pode me pegar.

Max vai aproximando de um bambuzal que cerca o Rio da Juventude. Mostra Max escondido atrás do bambuzal observando a cidade. Do outro lado da margem é possível avistar as casas mais periféricas da cidade, algumas feitas de madeirite e cobertas por telhas finas de fibrocimento. 

MAX: (off) Não acreditava no que estava pretendendo fazer, a minha fome aumentava e o meu desejo pelo o proibido superava a minha razão. No céu um crepúsculo se cobria dando adeus aos últimos raios do sol, e faminto escondido atrás do bambuzal observava algumas crianças brincado na rua, “talvez fosse melhor esperar escurecer”, pensei.

Max olha para o céu, depois olha para o lado e ver que tem uma ponte velha de madeira provavelmente feita pelos os próprios moradores. A ponte ligava Braço Forte ao outro lado da margem do rio. 

MAX: (off) Antes mesmo da luz solar desaparecer por completo no horizonte, me atrevo a procurar por alimento. Na sombra do crepúsculo galguei pelos os barrancos erodidos do rio, e então me agarrei, com perigo, às pequenas reentrâncias que me permitiram subir, indo em direção à ponte. Terrível e medonho era o meu progresso. Conforme a escuridão do alto iria aumentando a minha ansiedade de encontrar carne humana também aumentava. Estremeci, perguntando-me a razão de estar ali, sofria com as acusações da consciência, mas me tornava inconsequente diante do que avistava. 

CENA 04/ BRAÇO FORTE/ NOITE

Max ainda está na ponte. A CAM mostra uma mulher, de mais ou menos trinta e oito anos de idade. Ela veste roupas simples e esfarrapadas, cabelos ondulados e compridos amarrados com um lenço formando um rabo de cavalo. A mulher vai subindo calculadamente os barrancos escorregadios do rio, carregando sobre a cabeça uma bacia com roupas recém-lavadas. Max parado na ponte, olha atento para cada movimento que a mulher dava. 

MAX: (para si mesmo) Impressionante! Mesmo distante e como se eu conseguisse sentir o seu cheiro. É ela, eu preciso dessa mulher. 

Algumas mães gritam os seus filhos para dentro de casa, alertando que já está tarde e que eles precisam tomar banho. Apenas um garotinho fica empinando a sua pipa. A mulher de nome Catarina seguia em frente pela rua estreita e sem asfalto com sua bacia de roupa sobre a cabeça. Max vai atravessando a ponte cautelosamente para que não fosse visto. Gilmar sentando em frente a sua casa juntamente com sua mulher cumprimenta Catarina a ver ela passando. 

GILMAR: Finalmente terminou, hem Catarina?
CATARINA: Nem me fala seu Gilmar, é roupa demais. Tudo bem dona Jacira? 
JACIRA: Eu estou bem, e você minha filha?
CATARINA: Eu estou bem também. Me enrolei o dia todo tive que lavar roupa a noite. E ainda tenho que preparar a janta.
JACIRA: É assim mesmo!
CATARINA: Boa noite pra vocês!

Max desce um pouco a ribanceira, se escondendo por trás de algumas moitas de bambus  continuando seguindo Catarina. Ao terminar a rua Catarina sobe por outra avenida. Max sai de trás dos bambus, tira o seu punhal da cintura e vai seguindo-a. Ela se aproxima do portão de sua casa, Max então se agacha e se esconde por trás de um container de entulho próximo a casa da mulher, e fica a observando. Um cachorro se aproxima dele e começa a rosnar. 

MAX: (tentando expulsar o cachorro) Sai daqui seu cachorro sarnento!

O cachorro late em direção a Max, forçando ele a sair de trás do container. Catarina olha para o lado e se assusta ao ver Max. 

CATARINA: (deixando a bacia cair) Meu Deus! Quem é você?

Max ao perceber que Catarina o viu, vai se aproximando dela. Ela tenta abrir o portão apressadamente, mas por está nervosa a chave enganchava na fechadura. 

MAX: (off) Senti-me paralisado, mas não tanto que não fizesse um débil esforço de atacá-la. Mas precisava ter cuidado, não poderia deixar que os vizinhos me visse. Eu estava faminto e desejoso por um pedaço de sua carne. Meus olhos enfeitiçados fitavam de um modo horrendo em direção a mulher, se recusavam a desviar-se. O vira lata latia cada vez mais forte, se encorajando em minha direção, eu o afastava, assustando-o com a faca nas mãos. Tinha que pensar em uma saída rápida. 

Os vizinhos alertados pelas as latidas repentinas do cachorro saíam de suas casas. 

PEDRO: O que está acontecendo? O que está fazendo aí rapaz?
Max olha para trás e uma mulher o reconhece.

JACIRA: É ele, o monstro que a policia está atrás!
GILMAR: (pegando uma pedra) Não vamos deixar ele escapar! Vamos pegá-lo!

MAX: (off) Naquele mesmo segundo, desabou sobre minha mente uma avalanche rápida de lembranças lancinantes. Reconheci, naquele segundo, tudo o que eu tinha sido. Lembrei-me das coisas que havia feito, das vítimas que sangraram em minhas mãos. Reconheci o que é mais terrível, a abominação blasfêmia que estava prestes a cometer. Eu era um monstro, uma fera malsã, calculando a maneira de atacar sua vítima, enquanto meus pés se afastavam lentamente escolhendo a direção certa a tomar. A mulher desesperada tentava abrir apressadamente o seu portão, mas a chave parecia emperrar na fechadura.

Mais gente vai surgindo e se armando de pedras e porretes e vindo em direção a Max. Ele corre em direção a Catarina enquanto os vizinhos lhe tacam pedras. 

JACIRA: Vamos pegar o maldito, antes que ele alcance Catarina!

Max a puxa para dentro de sua casa agarrando-a pelo os cabelos. Catarina grita, Max tapa a sua boca com a mão. 

CENA 05/ BRAÇO FORTE/ CASA DA CATARINA/ NOITE

Ele joga a mulher no chão e vai mordendo-a, arrancando pedaço do seu couro com os dentes. Depois apunhala suas costas extravasando toda a adrenalina que continha naquele momento. O sangue de Catarina escorria molhando todo o chão tomando direção da porta. 

MAX: (off) Aquele cheiro, aquela atmosfera proibida mexia muito comigo, me fascinava. Era loucura, mas me sentia erotizado com tudo aquilo de uma forma tão completa. Eu era um drogado e o meu vicio era o gosto alucinante do sangue humano, sentia convulsão, era triste o meu estado. Viajava no êxtase de estar ali naquele momento. Meus neurônios ferviam e a minha pele tremia em cada mordida que eu dava. Nada mais me importava, a não ser aqueles míseros segundos em que eu era escravo da minha triste custódia. Era desesperador o que sentia, muito mais forte do que o medo que tinha de ser flagrado pela policia. Era nojento o que eu fazia, mas a sensação era alucinante. Me condenava por saber que aquela pobre mulher não tinha culpa nenhuma do meu estado, no entanto o cheiro fétido do seu sangue me atraía, me fazia perder a razão. Chorava por senti o preço da minha culpa, não sabia mais como parar, estava afundando cada vez mais.

CENA 06/ BRAÇO FORTE/ CASA DA CATARINA/ NOITE

Os vizinhos empurram a porta e se choca ao ver Max ali, mergulhado no sangue de Catarina. 

JACIRA: (abraçando um homem ao seu lado) Minha nossa senhora!

Alguns não aguentando o terror da cena, se afastam e saem correndo. Mesmo amedrontado Pedro insistia em encarar Max. 

PEDRO: (com um porrete na mão) Eu vou matar esse desgraçado!
LEONARDO: Pedro, vamos sair daqui temos que chamar a polícia. 
PEDRO: (chorando) A Catarina Leo, ele matou a Catarina!
LEONARDO: Eu sei, mas agora não podemos fazer mais nada. Vamos deixar a polícia cuidar dele. 

Max vai levantando lentamente com o punhal em mãos, e preparando para atacar. Sua boca estava lambuzada com o sangue de Catarina.

LEONARDO: (tentando convencer Pedro) Vem Pedro, vamos sair daqui. 

Pedro não dando ouvido a Leonardo partiu para cima de Max o atacando com um porrete de madeira. Max respondia ao ataque lhe golpeando com o punhal. Diante da situação Leonardo também procura atacá-lo, mas Max como se conduzido por uma força sobrenatural estraçalha todo o abdome de Pedro, fazendo com o que ele caia se estrebuchando no chão. Leonardo ao ver Pedro caído ali no chão fica abismado com a frenesi de Max, que o encara com sangue nos olhos.

LEONARDO: (gritando) Não! Meu irmão!
PEDRO: (no chão) Fuja! Sai daqui Léo, fuja!
LEONARDO: Eu não vou te deixar aqui.
Leonardo se agacha, agarra Pedro e vai lhe arrastando.

MAX: (off) Fiquei paralisado diante de tudo aquilo, era como se eu fosse vítima de um transtorno explosivo intermitente, não conseguia controlar os meus impulsos. Mas se tinha uma coisa que eu não era nessa situação toda, era vítima. Fui o culpado por cada gota de sangue que se espalhou por aquela sala, e cada gota de sangue que ainda derramaria.

Max ajeita o punhal em sua mão e parte para cima dos dois. Ele agacha pega o mesmo porrete que Pedro usou para atacá-lo, e dá um golpe na cara de Leonardo que cai tonto no chão. Logo depois ele enfia com violência no corte feito no abdome de Pedro, que grita de dor. Max força o porrete arrancando o último suspiro de Pedro. Leonardo levanta e tenta achar um jeito de fugir. Mas Max o agarra pela a perna e começa a lhe dá golpes com o punhal, ele grita e chuta tentando escapar. A vizinhança do lado de fora grita eufórica.

VIZINHOS: (off) Assassino, assassino! Policia!

Max pega Leonardo que está ferido e vai até a porta com o punhal apontado para o seu pescoço. 

MAX: Afastem-se, e eu o mantenho vivo. Caso contrário, o matarei assim como fiz com o seu irmão.

GILMAR: Ninguém aqui vai fazer nada contra você, mas poupe a vida de Leonardo. 

CENA 07/ BRAÇO FORTE/ NOITE

Max desce a rua apressadamente com o braço envolvido no pescoço de Leonardo e o punhal encostado em seu queixo. A vizinhança acompanha com seus olhares atentos e esbugalhado de medo. Ao aproximar do Rio da Juventude, ele joga Leonardo no chão e salta dentro do rio, nadando em direção a sua correnteza.

MAX: (off) Agora estava de volta ao inferno do horror que me aterrorizava, a explosão de lembranças negras, o caos e o medo da minha consciência que me torturava. E ainda sem saber como achar minha amada Érica.

FIM DO DÉCIMO EPISÓDIO
Como a página de um diário dá um close em Max nadando no Rio em uma espécie de Freeze frame. Depois o diário fecha mostrando o logo da série na capa.

PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO

MAXWELL = Johnny Massaro
CATARINA = Juliana Paes
GILMAR = Marco Nanini
JACIRA = Bete Faria
PEDRO = Anderson Di Rizzi
LEONARDO = Selton Melo



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