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Débora - Capítulo 09


Débora
CAPÍTULO 09

uma novela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

baseada nos capítulos 3 a 5 do livro de Juízes

 No capítulo anterior: 6 anos se passam. Aos 18, Débora disputa uma corrida à cavalo com Jaziel e também treinam à espada. Em conversa diária com o ancião Aliã no templo, Débora tenta entender como, no passado, o povo aceitou Eúde como juiz, e o ancião diz que o homem foi escolhido por Deus, que, por Sua vez, usa dos improváveis e capacita seus escolhidos. A garota ainda confessa não gostar de seu noivo Éder e que não se esqueceu de Lapidote. Na praça, sua prima Sama pergunta do namorado, Jaziel. Na cidade de Harosete, capital do reino de Hazor, o rei Jabim culpa um grupo de soldados por não terem encontrado o Capitão e o Primeiro Oficial do exército, desaparecidos há 3 dias. Um dos homens levanta a possibilidade de o sumiço estar relacionado ao reino inimigo Amom. Jabim pensa na hipótese e pergunta o nome do soldado, que é Sísera. Esse sugere liderar um pequeno pelotão para levar as buscas para perto dos amonitas, mas o rei manda ele liderar vários pelotões, não antes de apresentar um plano de estratégia até o dia seguinte. Em casa, Sísera comemora com a mãe Najara o cargo temporário de Capitão, mas ela diz que seu plano dará certo e em breve ele será o novo Capitão do exército. Éder vai à casa da noiva Débora, mas ela não está; Elian fica preocupado com o futuro genro. Em visita ao juiz Sangar, Débora ouve que os anos no cargo lhe consumiram, e que ela deve se preparar, pois vê nela uma luz diferente. Que continue a ser fiel e leal ao Senhor, pois Ele tem grandes planos para ela. Jaziel diz a Sama que sua mãe a convidou para jantar em sua casa. Um rapaz chamado Baraque chega à cidade dizendo “Então é aí onde está o maior tesouro do mundo...”. Éder decide procurar pela noiva. Na praça, Débora e Baraque se esbarram, e ele pergunta se é ali a praça central de Betel, ao que ela confirma. Ele diz que fará uma escavação naquele local. Éder encontra Débora com Baraque e pergunta o que ela está fazendo ali e quem é aquele.
FADE IN:

CENA 1: INT. CASA DE NAJARA – SALA – DIA
Enquanto Sísera, sentado à mesa, limpa a boca, Najara lava uma vasilha ao lado do fogão.
SÍSERA
O pão de mel estava maravilhoso, mãe! Pena que preciso voltar para o palácio... Tenho que montar esse plano de estratégia para entregar ao rei e poder ir até Amom.
Najara, no entanto, não responde ao filho, apenas continua a lavar. Ele nota que o olhar da mãe é distante.
SÍSERA
Mãe?...
NAJARA
(virando levemente) Sim?
SÍSERA
A senhora está bem?
NAJARA
Sim, sim, estou bem...
SÍSERA
Não parece... Tem a ver com o nosso plano?
NAJARA
Não... Não, não é sobre o plano. Na verdade... é sobre o seu pai...
Sísera limpa a boca uma última vez e se levanta.
SÍSERA
(aproximando) A essa hora... não era pra ele estar aqui?
Najara termina de lavar a vasilha e vira para Sísera.
NAJARA
Era... Era sim.
SÍSERA
A senhora está preocupada?
Najara respira fundo.
NAJARA
Não... Não dessa forma. Eu estou é desconfiada... desconfiada que seu pai está tendo um caso com alguma mulher.
Sísera é pego de surpresa pela confissão da mãe...

CENA 2: INT. CASA DE NIRA – DIA
A casa é feita apenas de um quarto, no qual está uma mesa, dois baús e uma cama, além de roupas e outras bugigangas espalhadas em cima e embaixo de tudo isso.
Na cama há algo a mais, duas pessoas: NIRA (28 anos) e JEBOÃO (60 anos), ainda vestidos, ele beijando-a afoitamente. Rindo, ela escapa de seus braços, sai da cama e fica parada, em pé. Ele olha para ela e se aproxima rapidamente. Leva suas mãos até a costa da parceira e beija seu pescoço com vontade. Ela deixa por alguns instantes, mas logo se desprende dele e volta para a cama, onde fica de barriga para cima numa posição provocativa. Jeboão, parado, aprecia a visão.
JEBOÃO
(aproximando devagar) Você é linda...
NIRA
Acha mesmo?...
JEBOÃO
Acho, muito, muito!...
Ela sorri para ele.
JEBOÃO
Você é como uma deusa para mim. Perco completamente os sentidos, me esqueço de tudo!
Jeboão pula na cama e beija o pé de Nira até a coxa, onde ela tira o rosto dele.
NIRA
Você se esquece até da sua esposa?...
Ainda em cima das pernas dela, Jeboão a encara nos olhos.
JEBOÃO
Quem é Najara perto de você?
Nira sorri para Jeboão, que rapidamente se arrasta até o mesmo nível dela e a beija desengonçadamente no rosto. Quando ele está beijando o pescoço dela, ela encara o teto do quarto com uma expressão de nojo e desprezo.



CENA 3: EXT. BETEL – PRAÇA – DIA
Éder encara Débora.
ÉDER
Estou esperando por uma explicação, Débora.
DÉBORA
Não posso responder, não sei quem é ele. Acabei de conhece-lo.
BARAQUE
(aos dois) Perdão, perdão. Meu nome é Baraque, habito na cidade de Quedes, na tribo de Naftali.
ÉDER
E o que está fazendo aqui em Efraim? Em Betel? O que quer com minha noiva?!
DÉBORA
Baraque me pediu uma informação. Ele queria saber se essa é--
ÉDER
(interrompendo) Eu perguntei para ele, não para você.
Um tanto frustrada e irritada, Débora respira fundo e fica quieta.
BARAQUE
Eu vim até Betel para procurar por essa praça. Não pretendia falar com ninguém sobre o que procuro, mas não vai ter jeito, já vi que todos saberão. Na verdade estou atrás de um tesouro. Um tesouro que deve estar aqui em Betel.
Éder sorri.
ÉDER
Todo o povo de Naftali é inocente assim ou é só você mesmo? Porque pra sair falando dessa forma de um tesouro...
BARAQUE
(tirando um pergaminho de dentro da veste) A pessoa que me fizesse mal e me tomasse essa carta não estaria em melhores condições, pois nem eu estou conseguindo interpretar direito o que diz a carta.
ÉDER
Deixe-me ver isso.
Éder leva sua mão para tomar a carta, mas Baraque, num movimento ágil e certeiro, a desvia e a protege de Éder, que olha com estranheza.
ÉDER
Como foi tão rápido?!
BARAQUE
É que, ao contrário da maioria do nosso povo, eu treino. Espada, duelos, cavalgadas...
DÉBORA
(sorrindo) E você tem razão. Isso pode ser útil um dia.
Éder olha para Débora com um semblante de ódio.
ÉDER
Vamos! Agora, vamos embora!
Éder agarra o braço da noiva e a puxa.
BARAQUE
Ahn, será que vocês não podem por favor me ajudar com o juiz Sangar?! Para onde fica sua residência?
DÉBORA
(sendo puxada por Éder e apontando) Por ali!...
BARAQUE
Muito obrigado! Shalom!
Baraque sai por um lado e Éder com Débora por outro.

CENA 4: EXT. BETEL – RUA – DIA
Éder continua puxando Débora pelo braço, mas ela, com raiva, se solta.
DÉBORA
Você está me machucando, Éder!
Eles param.
ÉDER
Quantas vezes eu já pedi pra você não tomar a palavra na minha frente?!
DÉBORA
Sim, mas eu estava apenas te contando o que aconteceu, pois Baraque já havia me falado por cima o que veio fazer!...
ÉDER
Eu me preocupo. Eu me preocupo muito!
DÉBORA
Por quê?...
ÉDER
Eu sou o homem, Débora. Quando nos casarmos como poderei ser o homem da casa com você sempre me interrompendo e tomando a palavra sem eu pedir?!
Débora fica quieta.
ÉDER
Eu não gosto nada desse seu jeito.
Débora abaixa um pouco a cabeça.
DÉBORA
Eu vou tentar mudar...
ÉDER
Não, não! Tentar, não! Já era pra você ter mudado há muito tempo!
Ela respira fundo.
ÉDER
Além do mais, você se atrasou. Chegou mais tarde do que de costume. Não estava usando espada, estava?
DÉBORA
(rapidamente) Não!
Ela não mantém seus olhos nos dele.
ÉDER
Estou tentando confiar em você, Débora. Não venha estragar isso, não quebre a ainda frágil confiança que tenho em você!
Desanimada, ela faz que sim.
ÉDER
Imagine só uma esposa que sabe lutar, mas o marido não. Que absurdo, que escândalo seria se descobrissem!
Éder tenta se acalmar.
ÉDER
Muito bem, vamos. Vamos logo para a sua casa.
Eles saem.

CENA 5: EXT. CASA DE TAMAR – FRENTE – DIA
Éder e Débora chegam à frente da casa, onde estão Elian e Tamar.
DÉBORA
Shalom.
ELIAN
Shalom...
TAMAR
Shalom, minha filha.
ELIAN
Ainda bem que a encontrou, Éder.
ÉDER
É...
ELIAN
O que aconteceu, Débora?
Ela olha para Éder e de volta para o pai.
DÉBORA
Um rapaz de Quedes de Naftali me parou para pedir uma informação sobre a cidade... Tal de Baraque.
ELIAN
Hum.
DÉBORA
Vou entrar e comer alguma coisa.
Débora começa a caminhar para a porta, mas para com o chamado de seu pai.
ELIAN
Débora.
Ela olha para ele.
ELIAN
(apontando Éder e sorrindo forçadamente) Seu noivo... Convide-o.
Tamar observa a situação com um leve pesar.
DÉBORA
Ah, claro... Éder, venha comer...
ÉDER
Certo.
Sem esperar pelo noivo, Débora vai até a porta, abre-a e entra; Éder a segue e fecha a porta.
Insatisfeito, Elian faz que não e Tamar nota.
TAMAR
O que foi, Elian?
ELIAN
Débora não trata Éder como devia. Como uma esposa cuidadosa, atenta e zelosa que ela vai ter que ser.
TAMAR
Mas não é pra menos, ela não gosta dele.
ELIAN
(irritado) Como você pode falar isso?!
TAMAR
Ora, você é ingênuo, Elian? É tão inocente a ponto de pensar que ela aceitou de bom grado o moço que seu pai lhe empurrou goela abaixo?!
ELIAN
Pra se casar não tem que gostar! Isso vem depois, com o tempo. Éder tem tudo para Débora gostar dele. É trabalhador, honesto, de boa reputação...
Enquanto Elian continua a elencar as qualidades que vê em Éder, Tamar revira os olhos e continua seu serviço.

CENA 6: EXT. CASA DE SANGAR – FRENTE – DIA
Dois servos estão postos à porta da casa de Sangar. Perto dali, um transeunte aponta a residência para Baraque, que se aproxima rapidamente.
BARAQUE
Shalom!
SERVO 1
Shalom.
BARAQUE
É aqui a casa do juiz Sangar?
SERVO 1
Exato. Quem deseja?
BARAQUE
Baraque, de Quedes, Naftali.
SERVO 2
Um instante.
O servo 2 entra na casa e, segundos depois, retorna.
SERVO 2
Entre. O senhor Sangar o receberá.
BARAQUE
Obrigado.
Baraque passa por eles e entra na casa.

CENA 7: INT. CASA DE SANGAR – SALA – DIA
A porta se fecha e Baraque se aproxima da cama onde está deitado Sangar.
BARAQUE
Senhor Sangar... Shalom... Com licença...
SANGAR
Aproxime-se, filho...
Baraque chega à cama.
SANGAR
Sente-se.
Baraque senta na cadeira ao lado da cama.
BARAQUE
É uma honra finalmente conhecer o juiz de Israel.
SANGAR
No que eu posso ajudá-lo?
BARAQUE
Senhor Sangar, eu vim de Quedes até Betel à procura de um tesouro. Um tesouro de minha família, muito antigo.
Apesar de debilitado, Sangar presta bastante atenção.
BARAQUE
Meu pai nunca se importou com isso, nunca acreditou. Mas meu avô diz que é verdade, que no passado sua família escondeu esse tesouro.
SANGAR
Muito interessante... E o que deseja de mim, filho?
Baraque pega o pergaminho.
BARAQUE
Pelo que eu li nessa carta, o tesouro está embaixo da praça de Betel.
Sangar franze a testa.
SANGAR
Posso lê-la?
BARAQUE
Claro.
Baraque entrega o pergaminho para Sangar, que lê.
SANGAR
Não há menção à Betel aqui. O texto fala apenas sobre a casa de Deus... E em cima, não embaixo... “Sobre a casa de Deus”. Não “sob a casa de Deus”.
Baraque estranha e parece ficar arrasado.
BARAQUE
Não acredito que cometi esse erro tão simples...
SANGAR
(entregando o pergaminho) Fique tranquilo, isso acontece.
Baraque pega a carta e a guarda rapidamente.
SANGAR
Por que você interpretou a localização como sendo aqui em Betel?
BARAQUE
Bom, Betel significa “a casa de Deus”, então só poderia estar aqui...
SANGAR
Hum. Bem pensado...
BARAQUE
Mas se não pode estar em cima da praça por motivos óbvios... onde estará?
SANGAR
Perto da cidade, no lado sudeste, há um grande monte. É possível vê-lo de quase qualquer rua de Betel... No passado, muitos hebreus ricos e idólatras foram sepultados ali com alguns de seus bens. É o que dizem... O problema é que, com o tempo, o único acesso que havia desmoronou. Agora... só há uma forma de chegar lá em cima: escalando um paredão de rocha.
Os olhos de Baraque parecem esperançosos novamente.
SANGAR
É um bom lugar para se enterrar um tesouro.
BARAQUE
Gostei. Gostei, senhor. Tem razão! Agora, só mais uma coisa: onde eu poderia passar a noite?
SANGAR
Você tem como pagar por conforto?
BARAQUE
Sim.
SANGAR
Então recomendo a hospedaria aberta recentemente... O povo nas ruas poderá orientá-lo a como chegar lá.
BARAQUE
Muito obrigado, senhor!
SANGAR
Se escalar o paredão de rocha e chegar lá em cima, não viole os supostos bens dos sepultados. E, se o tesouro realmente estiver lá, use-o bem, com sabedoria. Lembre-se dos pobres, dos aflitos, das viúvas e dos necessitados.
BARAQUE
(levantando) Claro, claro... Obrigado, meu senhor. Deus o abençoe.
SANGAR
Amém, Baraque. Que Deus o abençoe e o guie.
BARAQUE
Amém! Shalom!
SANGAR
Shalom...
Baraque então caminha para a porta e sai. Sangar, deitado, observa-o partir.
CENA 8: INT. CASA DE NIRA – DIA
Nira está sentada na cama e Jeboão deitado com a cabeça em suas pernas. Ambos com as roupas amarrotadas.
JEBOÃO
Não, eu não quero ir... Está tão bom aqui, tão maravilhoso...
NIRA
(tentando levantá-lo) Jeboão, mas é melhor, meu amor... Você precisa ir...
JEBOÃO
(aproveitando o colo) Não, hummm...
NIRA
Não podemos ser vistos... Já pensou se, por uma infelicidade do destino, sua esposa o flagra aqui comigo?!
Incomodado com a possibilidade, Jeboão levanta a cabeça e se senta.
JEBOÃO
Eu voltarei. Eu quero, eu preciso ver você novamente, Nira.
NIRA
(acariciando os braços dele) É claro, Jeboão! Eu sou toda sua, sempre e para sempre!
JEBOÃO
(sorrindo) Gostei!
Então ele se levanta, arruma sua roupa e calça a sandália. Vai até ela, que o observa com um olhar fingido de admiração, e a beija.
JEBOÃO
Até breve, minha deusa.
NIRA
Até, meu guerreiro maravilhoso!
Jeboão sorri orgulhoso, vai até a porta, dá uma última olhada nela e sai.
Quando a porta se fecha, Nira pula e corre até a mesma. Espera alguns instantes...
Então a abre, olha para o lado... Está limpo. Sai para fora, olha para cima e assovia.
Não demora muito e um homem pula da casa lá de cima direto para o chão ao lado de Nira. É DEBIR (29 anos, moreno e alto).
NIRA
(com pressa) Entre...
Os dois entram rapidamente e fecham a porta. Logo Nira agarra os braços de Debir.
NIRA
Por favor, Debir, me limpe, vai, rápido, me abrace e me limpe! Que nojo, tire logo esse cheiro do Jeboão do meu corpo!
DEBIR
Eu também não quero sentir esse cheiro, Nira. Lave-se antes.
NIRA
(abraçando-o) Não, não, Debir! Estou desesperada por você! (se esfregando nele) Por um homem de verdade, por um amor quente, forte!...
Debir não resiste e a aperta com força, e logo os dois se entregam a um beijo intenso. Caem na cama agarrando-se com extremo desejo.

CENA 9: INT. CASA DE NAJARA – SALA – DIA
Escorado em um pilar, Sísera observa sua mãe sentada à mesa.
SÍSERA
E o que a senhora pretende fazer em relação ao pai?
NAJARA
Olha, eu não quero nem pensar no caso de ele estar me traindo. Nem sei qual seria minha reação!
SÍSERA
Meu pai não tem o direito de fazer isso com a senhora.
NAJARA
(levantando) Bom, por enquanto não se preocupe com isso, Sísera. Você precisa se concentrar no seu trabalho. O plano não pode ter uma única falha. Volte ao palácio e monte a estratégia com calma e cuidado.
SÍSERA
Tudo bem. Vou indo... Até mais tarde, mãe.
NAJARA
Até. Que os deuses o acompanhem.
Sísera caminha para a saída. Quando estende a mão, a porta se abre e Jeboão entra. Por alguns segundos Sísera e Najara encaram o homem...
NAJARA
Jeboão...
JEBOÃO
Oi... Eu... me distraí com uma barraca nova lá no comércio... mas já estou de volta. (para Sísera) Novidades, meu filho?
SÍSERA
Sim, o senhor não vai acreditar no que o rei--
NAJARA
(interrompendo) Vá, Sísera, vá logo! Eu conto para o seu pai.
SÍSERA
Tudo bem. Até mais tarde.
Jeboão faz um sinal com a cabeça e fecha a porta após Sísera sair.
JEBOÃO
E então?
Najara começa a contar tudo o que aconteceu com Sísera.

CENA 10: INT. CASA DE TAMAR – SALA – DIA
Débora pega alguns biscoitos do forno e traz para Éder, sentado à mesa. Olhando-a fixamente, ele nota que ela não o olha nos olhos.
DÉBORA (NAR.)
Uma das piores coisas pelo que alguém pode passar na vida é ter seu destino decidido por outros sem o seu consentimento. Sem nem mesmo a sua voz poder dar uma mera opinião. É sufocante... É como se uma corda, amarrada ao seu pé e puxada por uma pedra, te levasse cada vez mais para o fundo de um profundo e escuro rio. Mas eu precisava passar por isso. Quase todas as mulheres tinham que experimentar essa amargura.
Quando Débora termina de servir o copo de vinho de Éder, ele segura seu braço e ela o olha.
ÉDER
Por que você está assim?
DÉBORA
(franzindo a testa) Assim como?
ÉDER
Assim, esse seu jeito... Você!...
Débora, não entendendo, faz que não.
ÉDER
Você não gosta de mim.
DÉBORA
Éder, pode soltar o meu braço?
Ele olha com certa raiva para o braço dela, mas o solta.
ÉDER
Diga, Débora. É verdade, não é? Você não gosta de mim.
DÉBORA
(sem olhá-lo) Eu... É claro... que eu gosto de você, Éder. É o meu noivo...
Éder a encara por alguns segundos. Por fim ela olha para ele.
ÉDER
Sabe o que eu acho?
DÉBORA
O quê?...
ÉDER
Acho que você passa tempo demais com o Jaziel.
DÉBORA
Jaziel é como um irmão para mim. Somos amigos de infância.
ÉDER
Não é apropriado você passar mais tempo com ele do que com o seu noivo.
DÉBORA
Mas nós passamos bastante tempo juntos, Éder. Às vezes você até vem fora do horário dos nossos encontros enquanto eu ainda estou trabalhando...

CENA 11: EXT. CASA DE TAMAR – FRENTE – DIA
Uma garota de aparência alegre vem da rua e para ali próximo a Elian e Tamar: é ISABEL (20 anos).
ISABEL
Shalom, tios!
ELIAN, TAMAR
Shalom!
ISABEL
A Débora está?!
TAMAR
Está sim, Isabel. Entre, entre...
ISABEL
Com licença.
Isabel vai até a porta e entra.
ISABEL
Prima!

CENA 12: INT. CASA DE TAMAR – SALA – DIA
Débora e Éder olham para a porta. Ao ver o rapaz, Isabel paralisa ali mesmo na entrada.
DÉBORA
Isabel? Que bom, entre!
A garota mexe os lábios e tenta desviar seu olhar de Éder, mas em vão. No constrangimento de Isabel, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:


No próximo capítulo: Sísera faz uma promessa a uma prostituta que o despreza, Sama fica desconfortável na casa de Jaziel e Baraque pede ajuda a Débora e Jaziel na busca do tesouro.




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