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Débora - Capítulo 24


Débora
CAPÍTULO 24

uma novela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

baseada nos capítulos 3 a 5 do livro de Juízes

 No capítulo anterior: Enquanto chega ao palácio junto às outras candidatas à serva, Darda se lembra de quando Najara invadiu sua casa e matou sua mãe Nira. Ao entrar na casa atual do Capitão, ela diz que Najara e Sísera pagarão caro pelo que fizeram. Débora confessa a Lapidote que sente que sua missão não é ali em Betel, e a mãe do menino com enfermidade no sangue chega e a agradece, pois o chá resolveu o problema. Lapidote pergunta à esposa se ela ainda acha que sua missão não é ali. Isabel derruba os doces de Adélia, mas essa a perdoa. Sísera confere a situação na Fortaleza e manda Bogotai resolver com as crianças reprovadas. Jaziel conta para Débora e Lapidote sobre a fumaça escura e os convida para irem averiguar durante a madrugada. Sísera diz a Jabim que o método de Bogotai está sendo muito sujo e dando trabalho, e sugere colocar o Primeiro Oficial em campo e colocar escravas hebreias para morarem e administrarem a Fortaleza; Jabim aprova. Éder reclama com a esposa Isabel e o filho Mireu sobre esse estar saindo por aí. Najara conta para Sísera que aquelas moças são as candidatas à nova serva. Mireu e Laila conversam sobre a liberdade e Deus. De saída da Casa do Amor, o soldado Gadi se encanta com uma das dançarinas; um clima surge entre os dois e eles vão para a cama. Najara encaminha as moças para dormirem; observa Darda. Débora, Lapidote e Jaziel passam pela passagem secreta e saem de Betel. Caminham até que, amanhecendo, dão de cara com o vilarejo, queimado e destruído. Um sobrevivente conta a eles que os hazoritas quiseram levar suas crianças por ali haver um grande número em proporção. Os hebreus se revoltaram e os hazoritas mataram a todos, tendo sobrevivido ele. 2 soldados chegam e dizem que, por terem descoberto sobre o vilarejo, devem morrer. Débora então pega uma espada que encontra e diz “Hoje não”.
FADE IN:

CENA 1: EXT. VILAREJO – DIA
Ao ver Débora segurando a espada em posição de luta, os 2 soldados hazoritas gargalham. Lapidote, que segura o homem com Jaziel, olha preocupado.
SOLDADO 1
Vivi para ver isso! Uma escrava segurando uma espada!
SOLDADO 2
Largue isso, mulher, ou vai se machucar!
Jaziel então se levanta e fica ao lado da amiga.
JAZIEL
Prepare-se, Débora. Será como nos treinamentos... mas pior.
DÉBORA
Não, Jaziel. (olhando o marido e o homem) Fique com eles. Proteja-os. Lapidote não luta e esse senhor precisa dele. Cuide-os, por favor.
Jaziel não parece gostar da ideia e, preocupado, olha para os dois soldados, de volta para Débora... e volta para junto de Lapidote e do homem.
Os soldados então riem mais.
SOLDADO 2
Os covardes recuam... e a mulher é quem pega a espada! (ri) Já ouviu falar disso?!
Eles continuam com as zombarias enquanto Débora permanece quieta e em posição. Suas mãos estão firme no cabo da espada.
SOLDADO 1
Mas chega de brincadeira, a graça acabou. Você! Escrava maldita e imunda! Coloque essa espada no chão e morra como uma mulher: ajoelhada perante seus superiores!
DÉBORA
Eu prefiro lutar como uma mulher.
SOLDADO 2
Maldita!
DÉBORA
Vocês não gostam de usar de violência com indefesos? Venham. Tentem usar comigo.
SOLDADO 1
Pois então que seja como queira!
Segurando suas espadas, os dois disparam contra Débora que, parada, se prepara para o choque. Jaziel observa com apreensão e Lapidote fica aflito.
LAPIDOTE
(murmurando) Senhor, proteja Sua serva!
Cada um dos soldados desfere um golpe de cima a baixo contra Débora, mas ela consegue bloquear ambos, ao mesmo tempo, com sua espada. Rapidamente ela chuta um na altura do peito e o outro na boca do estômago. Enquanto eles, abaixados, tentam se recuperar do golpe, ela toma distância. Os dois a olham assombrados...
SOLDADO 1
Quem é essa?!
SOLDADO 2
Não sei...
SOLDADO 1
Você disse que a conhecia!
SOLDADO 2
De vista! Não sabia que ela era capaz disso!
SOLDADO 1
Como é possível?...
Os dois se põe de pé e a encaram. Débora novamente segura a espada em posição.
SOLDADO 1
Posso não saber quem ela é, mas não serei humilhado por uma selvagem maldita que adora um único Deus!
Os dois novamente disparam contra Débora, mas ela está preparada. Golpes em cima, embaixo, desvios, bloqueios, giros... Sob o olhar preocupado de Lapidote e o apreensivo de Jaziel e do homem sobrevivente, ela luta contra os dois soldados.
Então eles começam a usar pedaços dos destroços como arma, mas Débora ou desvia ou bloqueia. Quando o soldado 1 se afasta para pegar uma pedra, ela fere a mão do outro. Assustado, o primeiro para e olha... Mas Débora já vem em sua direção e, com a espada, faz um corte na mão dele, prestes a agarrar a pedra.
JAZIEL
Ganhe distância, Débora!
Ela se afasta rapidamente dos dois, que ficam abaixados olhando para os cortes na mão.
SOLDADO 1
Nunca ouvi falar disso!... Argh!...
SOLDADO 2
É muita humilhação... O que vamos fazer?! Hein?!
SOLDADO 1
Lembre-se do Capitão... (com dificuldade, coloca-se de pé) Lembre-se de Sísera... (ajuda o outro a se levantar) E lute!!!
O primeiro sai na frente e, com a distância por vantagem, Débora consegue afastá-lo com um forte chute no peito. O outro vem em seguida e suas espadas se encontram violentamente. Os dois gritam conforme golpes mortais são desferidos, bloqueados e desviados.
O primeiro soldado corre novamente contra ela, mas entre um golpe e outro com o segundo ela consegue novamente chutá-lo. Isso distrai o segundo soldado, que então tem a mão da espada agarrada por Débora, que a torce, torce...
SOLDADO 1
Aaaahhh!!!...
Ela continua virando a mão dele, até que ela se abre e a espada cai no chão. Com um movimento rápido ela gira sua espada e faz um corte rápido e comprido no peito do homem, que cai sem forças.
O segundo, recuperado dos dois chutes, volta a ataca-la com a espada, mas ela desvia com facilidade e usa um golpe fazendo sua espada arrancar a espada inimiga da mão. Assustado, o soldado olha para ela, que mete-lhe um soco no rosto, fazendo-o cair. Débora aponta a espada para o rosto dele.
SOLDADO 2
Clemência... (tosse) Clemência...
Débora então o agarra pelas vestes e o arrasta deitado até o outro, ferido no peito.
DÉBORA
(para o soldado 2) Ajude seu amigo e sumam daqui. Vocês abandonarão seus postos, abandonarão o exército e desaparecerão da face da Terra!
O soldado 2, caído, olha-a com dificuldade.
DÉBORA
Se contarem a verdade para seus superiores e para Sísera, sabem que eles os matarão. Portanto, fujam! E nunca mais apareçam por aqui! Acabou pra vocês! Vamos, de pé! Sumam daqui!
O soldado 2 então se levanta e coloca seu companheiro ferido de pé. Olha para ela.
DÉBORA
Vão!
Finalmente ele sai arrastando o outro e, pouco a pouco, se distancia dali. Cansada, Débora observa-os ir.
LAPIDOTE
Amor...
Débora vira para ele. Lapidote se levanta e se aproxima rapidamente.
LAPIDOTE
Você está bem?! Está ferida?!
DÉBORA
Estou bem... Eu estou bem, meu amor...
Então sua mão se afrouxa e a espada cai. Imediatamente abraça o marido, um abraço longo e apertado...
Por fim eles se soltam.
LAPIDOTE
Ainda não sei direito o que vi aqui...
Segurando o velho sobrevivente, Jaziel se aproxima deles e pega a espada que Débora deixou cair.
JAZIEL
Não aprendeu o que te ensinei? (entregando a espada) Nunca abandone sua espada.
Débora o olha por alguns segundos... e então pega novamente a espada.
DÉBORA
Mas não é minha...
Porém ela olha novamente para a arma em sua mão... e uma ideia parece surgir em sua mente. Olha para o homem.
DÉBORA
Nós o levaremos para Betel, para os anciães. Lá os curandeiros tratarão do senhor.
HOMEM
Muito bem. Obrigado, senhora. Obrigado a vocês todos. Que Deus os abençoe e os proteja!
DÉBORA
Amém. Jaziel... Leve-o, vá na frente. Já é dia e podemos chamar atenção em muitos.
JAZIEL
(para o homem) Vamos, senhor.
Jaziel e o homem vão.
Ali, Lapidote olha para a esposa.
LAPIDOTE
E então, meu amor? O que vai fazer agora?
Débora olha novamente para a espada...



CENA 2: INT. PALÁCIO – CASA – QUARTO – DIA
Deitada, Darda acorda.
Esfrega os olhos e se ajeita na cama. Olha ao redor. Há ali mais 4 camas onde estão dormindo as outras 4 candidatas.
Olhando para as moças e para o quarto, Darda fica pensativa...
DARDA
(murmurando) Está dando certo...
De repente um barulho na entrada, e Darda deita e fecha os olhos subitamente. A porta se abre e uma figura masculina entra ali: Sísera. O Capitão dá uma olhada nas 5 moças e, gostando do que vê, fecha a porta e se aproxima devagar.
Sísera passa por entre as camas admirando as moças, cujos vestidos de dormir, amarrotados, deixam visíveis partes de seus corpos. Ele então se aproxima de uma e olha para o rosto dela... Passa a mão de leve em seu cabelo e no rosto da garota, que permanece em profundo sono.
Depois ele vai para outra cama e se senta. Leva sua mão ao braço da moça e o acaricia... Vai descendo seus dedos devagar pelo corpo dela... até a coxa visível. Nesse instante ela treme e desperta. Assustada, se afasta para a parede o máximo possível.
SÍSERA
Shhh...
Ela o encara um tanto apavorada.
SÍSERA
Não precisa ter medo. (sorrindo) Sou eu... O seu Capitão. E possível futuro senhor seu.
Na cama ao lado, aproveitando que Sísera está distraído com a outra, Darda puxa sua coberta, cobrindo-se bem devagar.
SÍSERA
(para a moça) Vocês devem encarar isso como parte do teste. Preciso saber se estão aptas a me servirem. A serem minhas damas sempre que eu quiser.
Sísera sorri para a moça ainda retraída e se levanta. Olha para Darda, que finge dormir, e se aproxima devagar.
SÍSERA
Esse também é o papel de uma serva. A lealdade... O pronto atendimento. A boa vontade. O “sim” no lugar do “não”, a fim de satisfazer seus senhores.
Então ele senta na cama, bem ao lado de Darda.
SÍSERA
Cada... abençoado... dia.
Passa a mão no cabelo e no pescoço de Darda... Inclina-se e a cheira... Respira bem fundo. Então olha para as acordadas.
SÍSERA
Por ora, as deixarei.
Rindo, ele se levanta e caminha para a porta.
SÍSERA
Nem sei ainda se são dignas do meu toque.
Passa pela porta e a fecha.
Darda então se levanta e olha séria para as moças que já acordaram. Ainda apreensivas, elas se encaram sem saber o que dizer.

CENA 3: INT. CASA DO AMOR – QUARTO – DIA
Gadi acorda. Logo vira para o lado e vê a dançarina com quem passou a noite, sentada se vestindo. Ao percebê-lo acordado, ela vira.
DANÇARINA
(sorrindo) Bom dia...
Gadi sorri enquanto passa as mãos no rosto ainda sonolento.
GADI
Por que acordou tão cedo?
DANÇARINA
Sua hora acabou, soldado. Sou uma profissional da noite.
Ele faz que sim com um leve sorriso. Então escorrega para a beira da cama e se senta ao lado dela.
GADI
(olhando o nada) Foi uma noite e tanto. Nunca tive isso na minha vida...
E olha para ela.
Ela arruma o cabelo e olha para ele.
DANÇARINA
Devo levar isso como um elogio às minhas habilidades profissionais?
Gadi ri.
GADI
Mas sabe... Parece... Parece ter havido mais. (buscando palavras) Era como se... Como se... Como...
Ela aguarda ele falar com um sorriso bonito... Mas Gadi não consegue.
DANÇARINA
Só espero que não esteja apaixonado, soldado.
GADI
(rindo) Não... Não, é claro que não. Não foi isso que eu quis dizer.
DANÇARINA
(sempre sorrindo) Ainda bem...
GADI
Como poderia? Eu nem mesmo sei o seu nome...
Ela diminui um pouco o sorriso, mas continua simpática.
DANÇARINA
Laís.
GADI
Laís... Que lindo.
Ela faz que sim.
GADI
Bem, Laís... O que eu queria dizer... basicamente... é que foi como se você e eu... nós dois... déssemos certos demais!
Ela parece querer contestar, mas se contém e limita-se a encará-lo. Então busca outras palavras.
LAÍS
(sorrindo) Você também não foi ruim, não...
GADI
Gadi.
LAÍS
Gadi.
Os dois riem juntos.
LAÍS
Contente-se com esse genuíno elogio. É o primeiro cliente que recebe um de mim. Ah, melhor eu parar, estou amaciando o seu ego duas vezes...
GADI
O que é isso, Laís, imagine... Obrigado.
LAÍS
Bem... Eu estou disponível. Todas as noites, aqui, no palco da Casa do Amor. (sorrindo) Basta pagar. E por falar nisso...
GADI
Ah, claro...
Gadi procura algo no meio das suas vestes jogadas. Tira um saquinho de moedas e entrega a ela, que dá uma rápida olhada no conteúdo.
LAÍS
Te vejo por aí.
Ela se levanta, abre a porta, passa, dá uma última olhada simpática para ele e fecha.
Gadi fica ali, pensativo...
Sorri sozinho...

CENA 4: INT. FORTALEZA – SALÃO – DIA
A manhã avança...
No grande salão da fortaleza, onde as crianças, em absoluto silêncio, comem sentadas à uma grande mesa, Sísera entra e caminha na direção de Bogotai, parado imponente do outro lado. Ao longo de todo o salão soldados fazem a guarda.
No meio do caminho, uma menina vira para Sísera.
MENINA
Senhor...
Sísera, enojado, para e olha para ela.
MENINA
(tristonha) O senhor sabe onde está o brinquedo que a minha mãe me deu?...
Sem abrir a boca, Sísera empurra a menina para trás, que derruba sua pouca comida na mesa. E segue.
Quando ele se aproxima de Bogotai, esse lhe faz uma reverência com a cabeça.
BOGOTAI
Capitão.
SÍSERA
Bogotai, tenho um comunicado para você. A ordem do rei agora é que mulheres hebreias morem aqui na Fortaleza e cuidem das avaliações das crianças.
Os olhos de Bogotai, logo acima da máscara, se estreitam.
BOGOTAI
(testa franzida) Hebreias?
SÍSERA
Sim.
BOGOTAI
E para onde eu irei?
SÍSERA
Você ficará disponível para tudo o que eu precisar. Trabalhos em campo, (olhando para os músculos de Bogotai) onde as suas habilidades terão grande serventia.
BOGOTAI
Entendido, senhor.
SÍSERA
E agora eu preciso de você para irmos capturar essas hebreias em suas cidades e vilarejos. Vamos.
Bogotai faz que sim e os dois saem dali. As crianças mais corajosas arriscam uma breve olhada nos dois homens mais poderosos do exército indo embora.

CENA 5: INT. PALÁCIO – CASA – COZINHA – DIA
ELOÁ (40 anos) e DANILO (45 anos) caminham pela cozinha da casa de Sísera e Najara. É um cômodo mais baixo que o restante da casa, espaçoso e cheio de prateleiras com diversos tipos de temperos, legumes, condimentos e outras especiarias. Ao fundo está o balcão de barro com o forno à lenha e o forno de assar pães.
O casal não está trabalhando, apenas andando por ali.
ELOÁ
(gesticulando como se jogasse ar para as narinas) Sinta, meu amor, sinta! Respire e sinta isso!
Ele cheira o ar.
DANILO
Não estou sentindo nada...
ELOÁ
Exatamente! Nada! Não há nada na cozinha sendo preparado porque não há nada para fazermos hoje!
Eles sorriem e se abraçam.
DANILO
Dia de folga!...
ELOÁ
Há tempos estávamos precisando, não é? Ainda bem que surgiu essa vaga à serva da senhora Najara. As candidatas que se virem para prepararem a comida. Terão que dar o seu melhor se quiserem se mostrar aptas.
DANILO
É, e com isso teremos ou estragos colossais ou comidas maravilhosas. Só essas duas coisas podem sair quando se cozinha sob pressão.
ELOÁ
Mas isso não é um problema nosso, meu amor. (sorrindo) E sabe o que eu quero fazer para aproveitar nosso dia de folga?
DANILO
(ansioso) O quê?!
ELOÁ
Massagens!
DANILO
Ahhh, amei a ideia, meu amor!
ELOÁ
Pois vamos! Vamos, vamos, vamos pro quarto! Vou fazer muita massagem nos pezinhos lindos do meu amor!
Rindo como duas crianças, Eloá e Danilo saem da cozinha.

CENA 6: EXT. BETEL - PLANTAÇÃO – DIA
Jaziel e Éder preparam a terra próximos um do outro. Vários hebreus em volta trabalham sem parar.
ÉDER
(baixo) Você ouviu algo sobre o vilarejo?
Jaziel dá uma rápida olhada para ele.
JAZIEL
Não. Mas acho que já foi resolvido.
ÉDER
Resolvido? Como?...
JAZIEL
Só acho...
ÉDER
Como poderia estar resolvido, Jaziel? Por que acha isso?
JAZIEL
Chega, Éder. (olha os capatazes e os guardas) Melhor não falarmos mais sobre isso. Vamos voltar ao trabalho antes que nos ouçam e venham nos chicotear.
Jaziel volta a mexer na terra. Éder o olha com estranhamento... Mas também volta a trabalhar.

CENA 7: EXT. QUEDES – RUAS – DIA
Quedes é uma cidade muito maior que Betel, e o movimento de pessoas várias vezes mais intenso. Não à toa as ruas viram um caos quando Sísera, Bogotai e vários soldados chegam à rua principal.
SAMA (42 anos), segurando sua filha de 3 anos no colo, observa assustada os inimigos recém-chegados. Todos sabem que a presença daqueles homens significa algo muito ruim.
Perto dali, SARA (40 anos) corre e se junta à sua família.
Os soldados já contiveram o povo, que agora olha com medo para Sísera.
SÍSERA
(sorrindo) Por que a correria, hebreus? Por que o pavor? Gazelas precisam estar acostumadas com as raposas.
Os soldados riem.
SÍSERA
É dia de alegria, pois tenho novas para vocês. As mulheres... Várias de vocês... Serão levadas para trabalharem em um lugar chamado Fortaleza. E nunca mais voltarão para cá.
Assustadas, várias mulheres tentam fugir dali, mas os soldados as impedem e começam a captura-las. Gritaria, desespero, famílias sendo separadas... Sísera faz sinal para Bogotai e esse avança. Com muita facilidade ele agarra hebreus que tentam proteger as mulheres e os jogam longe. Outros têm seus membros quebrados pelo Primeiro Oficial de Sísera.
Ao ver isso tudo, Sama, desesperada, vira e corre segurando firme sua filha no colo... Corre... Até que alguém a agarra. Ela se assusta, mas é seu marido IRU (44 anos).
IRU
Sama! Venha!!! Eles querem levar a todas!
Sama e Iru correm, mas Bogotai os percebe e avança. Não demora muito e encurrala os dois.
BOGOTAI
(irônico) Por que corre, mulher?
Desesperado, Iru olha para Sama, que entrega a filha a ele.
SAMA
Vá!!!
Confuso, assustado e apressado, Iru pega a filha e corre de qualquer jeito. Bogotai, apesar de olhá-lo, não o persegue. Aproxima-se de Sama, a agarra pelos braços e a leva arrastada.
RENÊ (62 anos), a sogra de Sara, olha para essa.
RENÊ
Corra, Sara! Fuja ou eles vão leva-la! Vá!
SÍSERA
(alto) Basta! Já temos mulheres suficientes.
Bogotai e soldados se reúnem atrás de Sísera, cada um segurando pelo menos duas mulheres, que choram e gritam. Outros soldados ameaçam com espada os homens revoltados com a situação.
SÍSERA
Vocês, familiares dessas mulheres, que a partir de agora são verdadeiras servas do magnífico rei Jabim, poderão visita-las na Fortaleza a cada lua. Tudo com ordem e decência. E todas as conversas serão assistidas de perto por um soldado. Se houver qualquer tentativa de perturbação à ordem estabelecida, elas morrem e são fácil e rapidamente substituídas.
Deixa uma última olhada em todos ali e vira para ir embora. Sob os choros dos familiares que ficaram, os soldados vão levando embora as capturadas. Sama se debate, mas os braços de Bogotai prendendo-a são como pedras.
Nas ruas, o burburinho aumenta rapidamente.
A sogra de Sara olha para a nora.
RENÊ
Graças a Deus você não foi levada!... Nem imagino como Baraque reagiria...
Sara, ainda assustada, olha para o tumulto ao seu redor.

CENA 8: INT. SAPATARIA DE LAPIDOTE – DIA
Lapidote, sentado e consertando um sapato, olha para Débora, de costa para ele e de frente para a rua. Ela examina a espada que usou no confronto com os soldados. Ele a olha com certa desconfiança...
Então ela vira para ele, que desvia o olhar e disfarça em seu serviço.
DÉBORA
Lapidote... Meu amor...
LAPIDOTE
Sim?
DÉBORA
Eu... tenho algo muito sério para lhe falar.
Lapidote larga seu serviço... E faz sinal para sentar de frente para ele; assim ela o faz.
LAPIDOTE
Pode dizer, Débora.
DÉBORA
Bem... É sobre a voz... O chamado... E a questão de minha missão não ser aqui.
LAPIDOTE
A questão de você achar que a sua missão não é aqui.
Ela faz que sim.
DÉBORA
Depois do que aconteceu nessa manhã, um pensamento novo surgiu em minha mente. Essa minha habilidade com espada... não pode ser em vão. Os treinos com Jaziel, nada disso pode ser em vão. Eu preciso usar isso para alguma coisa. Algo real, que faça a diferença.
LAPIDOTE
(desconfiado e preocupado) Do que você está falando exatamente?
Débora respira fundo.
DÉBORA
Há muita opressão na nação, e Israel é grande demais. O povo está sofrendo, as pessoas estão morrendo... São descartadas como animais de caça. Crianças separadas das mães, comida escassa, seca... A miséria e a opressão de Sísera e Jabim só aumentam. Os soldados fazem o que querem e não há ninguém para lhes colocar limite.
LAPIDOTE
Não. Não, Débora. Você não pode estar achando que o que Deus quer é você lutando por aí.
DÉBORA
Eu senti muita alegria com isso em meu coração, Lapidote.
LAPIDOTE
Você buscou a Deus?
DÉBORA
Você sabe que sim, meu amor. Eu sinto isso. Eu tenho esse poder em minhas mãos, eu posso salvar outros hebreus!
LAPIDOTE
Débora, meu amor, você não pode colocar todo o peso nas suas costas! É duro dizer, é triste, mas você não pode salvar a todos!
DÉBORA
Eu o entendo perfeitamente. Mas se eu salvar um único hebreu da morte lenta, do sofrimento, da angústia de alma... já terá valido todo o esforço e toda a luta. E eu tenho condições de fazer isso.
Lapidote, inconformado, aperta as têmporas com os dedos.
LAPIDOTE
É muito perigoso, Débora.
DÉBORA
Eu preciso tentar... É um chamado de Deus. Sei que Ele me protegerá.
LAPIDOTE
E o que você pretende fazer depois com as pessoas que salvar? Elas voltarão para casa e o quê? Mudam as identidades dos algozes, mas a escravidão e a opressão continuam. E aí?!
Débora abre a boca, mas não sabe bem o que dizer.
LAPIDOTE
Ou então você quer libertar Israel toda da escravidão?! Sozinha! Uma única pessoa! Se com um exército armado e preparado já seria difícil...
DÉBORA
Seria sim difícil, Lapidote, mas sem a ajuda de Deus. Com Ele não há nada que possa nos impedir.
LAPIDOTE
Acontece, meu amor, que esse não é o povo de Deus. Não nos dias de hoje. Esse povo aí está mergulhado na idolatria, no erro, mal sabem quem é Deus. As histórias dos nossos antepassados são tratadas quase como lendas! (pequena pausa) E além do mais... tem a nossa própria luta. Nossa busca. Você se esqueceu?
Débora parece se entristecer.
DÉBORA
Já faz tantos anos que tentamos... e nunca engravidei... Não queria dizer assim, mas... talvez... talvez até isso seja um sinal de Deus... Um sinal de que eu não posso me preocupar com filhos, porque preciso partir e cuidar desse povo.
Lapidote, entristecido, encara o nada.
DÉBORA
(chorosa) Eu sinto muito, meu amor... Muito! Não desisti de ser mãe, não desisti de forma alguma! É o que mais quero em minha vida... Mas podemos continuar tentando depois... Não tenha dúvidas de que tentaremos. Enquanto houver vida haverá esperança! Mas... agora... eu sinto que preciso mesmo partir.
LAPIDOTE
É tão perigoso, meu amor, é tão perigoso... São tantos que podem ataca-la, encurralá-la!
DÉBORA
Eu treinei, Lapidote. Desde minha mocidade eu treino... Sei que Deus estará ao meu lado. Eu sinto. Porém... a verdade é que se você não concordar... eu ficarei e não farei nada disso.
Lapidote não esperava por essa. Olha-a diretamente nos olhos.
DÉBORA
Insatisfeita e triste, mas ficarei. Não farei nada sem você estar ao meu lado. (respira fundo) E então, meu amor? O que você quer que eu faça?
Na aflição e indecisão de Lapidote, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:


No próximo capítulo: Lapidote faz uma recomendação a Débora. Éder se desentende com Josafe, com quem tem uma questão relacionada a um terreno. Começa a competição das candidatas à serva de Najara. E Sama e as mulheres são levadas à Fortaleza.





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