Débora
CAPÍTULO 28
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
baseada nos capítulos 3 a 5 do livro
de Juízes
FADE
IN:
CENA 1: INT.
FORTALEZA – SALÃO – DIA
De pé diante das hebreias, Bogotai
discursa. Seus olhos acima da máscara fitam cada mulher. Sama mantém o olhar
baixo.
BOGOTAI
E serão
essas as suas tarefas. Hoje mais cedo, com muita dificuldade chegou uma nova
leva de filhotes hebreus provenientes de um vilarejo que já não existe. Tratem
de integrá-los aos demais.
Bogotai vira para ir embora, mas o
choro desesperado de uma das mulheres faz ele parar e olhá-la.
MULHER
Por favor,
me deixe ir! Me deixe sair! Tire-me daqui, por favor!!!
Com uma crescente fúria no olhar,
Bogotai se aproxima vagarosamente da mulher em pânico.
MULHER
Por favor,
me deixe ir!!! Quero sair!!! Eu quero sair daqui!!!
Sama fica aflita com a situação, e
Bogotai para encarando a mulher, que de repente parece temer. Bogotai coloca
sua mão de leve no ombro dela.
BOGOTAI
Você não tem
ouvidos, mulher? Não entendeu o que disse Sísera?
MULHER
Perdão,
senhor! Perdão! Tenha clemência!
BOGOTAI
Você
realmente não entende.
De repente, num movimento rápido de
Bogotai no pescoço da mulher, ouve-se um estalo e ela cai imóvel no chão, diante
de todas ali, que se assustam e se afligem. Sama fecha os olhos com pesar.
BOGOTAI
(apontando) Vocês. As
4. Recolham esse corpo e em seguida voltem ao trabalho.
Bogotai
vira e sai dali tranquilamente. As 4 mulheres, aflitas, encaram a recém-morta.
CENA 2:
EXT. DESERTO – DIA
Carregando suas coisas, Jaziel
caminha sem rumo pelo deserto...
Apesar
da falta de destino certo, está firme em seu propósito e avança com vigor.
CENA 3:
EXT. CAMPO – DIA
Débora
cavalga a toda velocidade pelo campo. As árvores são cada vez mais dispersas e
o verde vai se tornando amarelado e seco.
DÉBORA
(NAR.)
Eu estava
obstinada. Sentia que nada poderia me parar. Isso porque acreditava estar
fazendo a vontade de Deus ao deixar minha família e amigos para trás a fim de
enfrentar os tentáculos da grande força que era Hazor. Para mim, meu destino só
poderia estar adiante.
À
frente está o deserto, mas Pérola não parece temer, e avança com toda sua
força.
CENA 4:
INT. PALÁCIO – CASA – SALA – DIA
Darda e as outras duas moças ouvem
Najara.
NAJARA
Muito bem.
Primeiramente meus parabéns por terem chegado até aqui. Isso significa que são
ótimas servas e, ainda que eliminadas, terão minha carta de recomendação para apresentarem
a outros senhores.
As duas sorriem agradecidas, mas
Darda não quer nem imaginar a possibilidade de ser eliminada da competição.
NAJARA
Então vamos
à missão de hoje... Agora eu vou sair para espairecer e fazer algumas compras.
Ao final da tarde voltarei, e quero essa casa limpíssima, brilhando! Cada uma
receberá um cômodo para cuidar. Os servos da limpeza já foram avisados e
dispensados. E Eloá e Danilo, os nossos cozinheiros, estão informados de que
dividirão a cozinha com uma de vocês. A que tiver o cômodo menos limpo estará
eliminada. Pois bem... Você, para o meu quarto. Você, aqui na sala. (apontando
Darda) E você, na cozinha. Comecem imediatamente. Já!
Darda corre para a cozinha enquanto
uma vai para o quarto de Najara apressadamente e a outra se prepara para limpar
a sala.
Najara,
sorrindo, pega suas coisas, caminha para a porta e sai.
CENA 5:
EXT. BETEL – PLANTAÇÃO – DIA
Enquanto trabalha, Éder olha ao
redor disfarçadamente, e não encontra Jaziel em canto algum. Também percebendo
a falta, um dos capatazes se aproxima de Éder.
CAPATAZ
Ei, hebreu.
Onde está seu amigo? Jaziel.
ÉDER
Eu... não
sei dizer, senhor.
CAPATAZ
(com raiva) Maldito.
Quando encontra-lo vou mata-lo!
Éder olha e vê as mulheres chegando
com a água, entre elas Tamar... sem Débora.
TAMAR
(servindo-o) Shalom,
Éder...
ÉDER
Shalom,
senhor Tamar. (pequena pausa) E Débora?...
Tamar franze a testa.
TAMAR
Débora?...
Por que quer saber, Éder?
ÉDER
Não me
interprete mal, senhora. É apenas uma curiosidade... Sua filha está sempre com
a senhora nos servindo, então...
TAMAR
Bem, na
verdade não sei... Ela pode ter se sentido mal, ou alguma coisa assim...
ÉDER
Hum.
Ele termina de beber e entrega a
ela o copo.
ÉDER
Obrigado.
Tamar faz que sim e segue servindo.
Éder olha para o outro lado.
ÉDER
(murmurando) Jaziel e
Débora... Esses dois estão aprontando alguma.
CENA 6:
INT. CASA DE BARAQUE – SALA – DIA
Sara vem de outro cômodo e nota o
marido sentado e concentrado em um pergaminho. Aproximando-se por trás, ela
tenta ver o que é.
SARA
O que é
isso, Baraque?
Ele se assusta e abaixa o
pergaminho.
BARAQUE
Ahn, não...
Meu amor... Nada... Sara.
Sara, sabendo que ele está
escondendo algo, cruza os braços.
SARA
Baraque.
Não tente me enganar. Eu sou sua esposa, sei quando está mentindo. Me dê isso.
Baraque respira fundo e entrega a
ela o pergaminho. Ao ver, ela franze a testa.
SARA
Baraque!...
Isso é um mapa! Baraque! Não é possível que você está pensando em
partir novamente!
BARAQUE
Sara, meu
amor...
SARA
Baraque, e
eu?! Estou grávida! No início, mas estou!
Baraque segura os braços de Sara.
BARAQUE
Meu amor,
minha Sara querida, eu faço isso justamente por nós! Quero dar o melhor aos
meus filhos.
SARA
Você se
ilude, Baraque... Ainda que conseguisse esse tesouro, os hazoritas lhe tomariam
tudo!
BARAQUE
Não se eu
agisse antes. Com o dinheiro pretendo que nos mudemos para um lugar seguro.
Quero salvar nossa família.
SARA
Não há
lugar seguro! Israel inteira, todas as tribos estão tomadas pelos hazoritas!
BARAQUE
Talvez
encontremos um lugar isolado, no meio do nada, não sei... O importante, Sara, o
importante é nos salvarmos! E com esse tesouro poderemos fazer isso.
Olhando-o
com extrema desaprovação, Sara se limita a balançar a cabeça negativamente.
CENA 7:
INT. PALÁCIO – CASA – COZINHA – DIA
Eloá e Danilo, bem juntos e em
silêncio, observam Darda limpando a cozinha. Conversam sussurrando.
ELOÁ
Vá lá,
Danilo.
DANILO
Eu?!
ELOÁ
Sim, claro!
DANILO
E por quê?!
Vá você!
ELOÁ
Pare de
perder tempo!
DANILO
Vá você,
Eloá, vocês são mulheres!
ELOÁ
E você é o
homem!
DANILO
Então vamos
nós, vamos!
Os dois se aproximam de Darda.
Danilo pigarreia.
ELOÁ
Oi...
Darda dá uma olhada para eles.
DARDA
(simpática) Oi...
ELOÁ
Então...
Que coisa, não? Só três...
DARDA
Três?...
ELOÁ
Candidatas.
DARDA
Ah, sim...
Claro. Pois é... Três. Quem será a grande vencedora?
Eles riem.
DANILO
Curioso,
não é?
DARDA
O quê?
DANILO
A forma...
como as outras foram eliminadas...
DARDA
Curioso?
Acha mesmo?
DANILO
Uma teve a
receita prejudicada porque trompou com você... e a outra--
DARDA
(interrompendo) E a outra
não fez uma receita, mas um resfriado em forma de prato.
Darda ri e os dois forçam um riso
nervoso.
DARDA
É,
lamentável. Não vou dizer que acho ruim porque isso é uma competição. Mas é
lamentável para elas.
ELOÁ
Foi você.
Darda semicerra os olhos.
DARDA
Desculpe?
ELOÁ
Não foi?
DARDA
Eu? O
quê?...
ELOÁ
Que
adulterou o prato da moça.
Darda ri.
DARDA
Mas é claro
que não. Como poderia?! Eu jamais faria uma coisa como essa.
Eloá então assume uma expressão
séria.
ELOÁ
Não tente
me enganar.
Darda então fica quieta e engole em
seco.
ELOÁ
Mas também
não precisa se preocupar... Não vou te denunciar. E nem te matar.
DANILO
Matar?
Eloá olha feio para ele antes de ir
até a porta e fechá-la.
ELOÁ
(para Darda) Não
interferiremos, nada disso. Mas quero saber a verdade.
DARDA
Como posso
confiar em vocês?
ELOÁ
Rá, então
há mesmo algo nisso tudo!
DARDA
Não foi
isso que eu quis dizer...
ELOÁ
Eu
entendo... Darda. Quem não quer trabalhar na casa do Capitão? Afinal, esse é o
seu grande objetivo, não é?
DARDA
Sim... Sim!
Claro...
ELOÁ
(sorrindo) Eu gostei
de você... Vamos ajuda-la. Não vamos, Danilo?
DANILO
Sim, vamos
ajuda-la. (pequena pausa; para Eloá) Em quê?
ELOÁ
A limpar a
cozinha, é claro.
Darda se surpreende.
DARDA
Mesmo?...
ELOÁ
Sim,
querida. E não se preocupe porque se a senhora Najara disse que voltará só no
final da tarde, é porque ela voltará só no final da tarde. E pra que nenhum
servo entre, Danilo ficará na porta nos dando cobertura.
Danilo faz que sim e Darda sorri.
DARDA
Obrigada.
Eloá
sorri para Darda.
CENA 8:
INT. FORTALEZA – SALA – DIA
Sama entra em uma sala de tamanho
médio e, com nó na garganta, abre passagem para quase 20 crianças tristonhas
entrarem e se sentarem às duas compridas mesas sobre as quais estão vários
pergaminhos e penas; ela fecha a porta, se posiciona e olha para eles.
MENINO
Senhora, o
senhor Bogotai não virá mais?...
SAMA
Não... Não
virá mais. Agora sou eu quem estará com vocês... Meu nome é Sama. Eu sou
hebreia... como vocês.
MENINA
Senhora
Sama, quando vão nos deixar ir embora? Eu quero minha mãe...
Sama engole em seco e segura o
choro.
SAMA
Isso... não
é comigo. São os hazoritas quem decidem isso.
MENINA
Por quê?
Sama busca forças para continuar.
SAMA
Porque... é
assim que funciona.
MENINO
Nós vamos
embora depois dessa atividade?
SAMA
Apenas...
façam a atividade, tudo bem? Depois nós veremos isso.
Não
se aguentando, Sama deixa escapar uma fungada e um soluço abafado. Tristes, as
crianças olham para os pergaminhos e começam a fazer a atividade.
CENA 9:
EXT. BETEL – RUA – PÔR DO SOL
Éder está voltando para casa.
Isabel lhe espera na rua.
ISABEL
Meu amor...
Graças a Deus mais um dia de labuta terminou bem.
Isabel o beija e segura a mão dele.
ÉDER
Graças a
Deus? E o que há de bem em trabalhar como escravo?
ISABEL
Não fique
de mal humor, Éder. Eu preparei uma comida deliciosa pra você. Vamos.
Quando eles estão saindo, Éder para
ao ver Lapidote.
ÉDER
Ei! Lapidote!
Lapidote olha e estranha.
LAPIDOTE
Me chamou,
Éder?
ÉDER
E tem outro
Lapidote nessa cidade?
Lapidote se aproxima. Isabel
observa os dois.
LAPIDOTE
Pois não?
ÉDER
Eu percebi
que Débora não apareceu na plantação hoje... Só sua mãe Tamar.
Lapidote, disfarçando, tenta não
transparecer nada.
ÉDER
E sabe quem
também não apareceu para trabalhar? Jaziel.
LAPIDOTE
E?... O que
você quer me dizendo isso?
Éder olha para os lados e, sorrindo
ironicamente, se aproxima ainda mais de Lapidote.
ÉDER
Sabe, eu sempre
suspeitei daqueles dois... Débora já era saída e pra frente quando éramos
noivos. Tenha cuidado, Lapidote...
A expressão de Lapidote muda no
mesmo instante e ele encara Éder firmemente.
LAPIDOTE
Meça suas
palavras, Éder. Pois eu não vou aceitar você falar assim de minha esposa.
ÉDER
Ah, é
mesmo? Então diga porque os dois sumiram. Vamos, fale, Lapidote. Ou será que
nem você sabe o motivo? Será que os dois te enganaram, hum?
ISABEL
Éder, por
favor, vamos embora...
ÉDER
Cale-se,
mulher!
LAPIDOTE
Éder, vou
deixar uma coisa bem clara.
ÉDER
Hum...
LAPIDOTE
Eu não te
devo a menor das satisfações.
Éder sorri de canto de boca. Na
expressão séria e firme de Lapidote, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Gadi e Laís
vão para a cama, mas com outro objetivo. Najara escolhe a eliminada da
competição. E Débora dá início à sua missão.
Obrigado pelo seu comentário!