Débora
CAPÍTULO 29
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
baseada nos capítulos 3 a 5 do livro
de Juízes
FADE
IN:
CENA 1: EXT.
BETEL – RUA – PÔR DO SOL
Lapidote, sério e firme, encara
Éder, com um sorrisinho irônico. Isabel então puxa o braço do marido.
ISABEL
Éder, vamos!
Éder solta o braço da mão dela e
olha para Lapidote como se o ameaçasse... mas nada diz... e sai com a esposa.
ÉDER
Você sabe
de algo sobre o sumiço de Jaziel e Débora?
Isabel fica sem jeito e tenta
disfarçar.
ISABEL
Não... Não
sei de nada.
ÉDER
Rum.
Os
dois avançam pela rua. Lapidote, indignado, observa Éder por um tempo. Então
faz que não e toma seu caminho.
CENA 2:
INT. PALÁCIO – CASA – SALA – PÔR DO SOL
Najara chega em casa, vê Darda e as
3 moças paradas ali na sala e entrega suas compras para uma serva.
NAJARA
E então,
meninas? Está tudo pronto? Os cômodos estão brilhando como o sol?!
Elas sorriem timidamente.
NAJARA
Espero que
sim. Vou conferir agora mesmo, a começar aqui pela sala...
Najara
então sai analisando o chão, os móveis e cada cantinho da sala. Darda e as
moças se mantém tensas...
CENA 3:
INT. CASA DO AMOR – NOITE
O sol se põe e cai a noite
estrelada.
Quando
Gadi chega à Casa do Amor e encontra Laís dançando no palco, não é preciso
nenhuma conversa. Eles tocam a mão um do outro e rapidamente vão para a escada.
CENA 4:
INT. CASA DO AMOR – QUARTO – NOITE
Os dois entram no quarto e fecham a
porta. Laís então agarra Gadi e começa a beijá-lo, mas ele a interrompe.
GADI
Laís...
Laís para e o encara.
LAÍS
O que foi?
GADI
Espere...
Ela se afasta um pouquinho.
LAÍS
Tudo bem...
Não esperava isso de você. (ri) Você está bem?
GADI
Sim, sim,
estou ótimo. É que acontece que... eu não vim para isso hoje.
Laís estranha.
GADI
Deve ter
notado que até apareci mais cedo... Na verdade eu quero conversar.
Laís se afasta e senta na cama.
LAÍS
Gadi, você
sabe muito bem qual é a minha profissão.
GADI
Sim, claro.
Mas hoje vim para falar com você.
LAÍS
Bem... Você
é quem sabe. O tempo está correndo e o seu dinheiro está indo. Faça como bem
quiser.
GADI
Farei.
Gadi então vai para a cama também.
GADI
Vamos nos
sentar aqui...
Laís o acompanha e eles sentam na
cabeceira. Ela então respira fundo.
LAÍS
Pensava que
já tinha visto todo tipo de cliente... Mas você, Gadi, você me surpreendeu.
E
sorriem...
CENA 5:
EXT. VILAREJO – NOITE
Pérola finalmente desacelera quando
Débora, montada, avista logo à frente e abaixo, um vilarejo onde reina o caos.
Ali, os soldados fazem os hebreus
trabalharem em uma obra dentro do vilarejo. Chicotadas, chutes e cusparadas são
constantes nos homens. As mulheres, desesperadas, tentam alcançar seus maridos,
filhos e amigos, mas os soldados as impedem e alguns até abusam delas. A
situação deixa alguns hebreus ainda mais furiosos, que tentam a todo custo se
libertar e vingar suas mulheres, mas a opressão aumenta e acabam agredidos e
caídos.
Vendo toda essa situação, Débora
faz que não...
DÉBORA
Vamos, Pérola.
Vamos nos preparar.
Ela
puxa as rédeas ao que Pérola vira e entra na escuridão.
CENA 6:
INT. PALÁCIO – CASA – SALA – DIA
Najara volta do quarto e para
diante das moças. Eloá e Danilo também estão ali.
NAJARA
Todas estão
de parabéns. As três estiveram à altura do cargo que disputam. Tanto a sala
quanto a cozinha e o meu quarto estão brilhando como o sol à pino. Porém, uma
se destacou com uma limpeza perfeita e, portanto, já está garantida na
competição. (apontando) Você.
É Darda, que deixa escapar um
sorriso de alegria. Eloá e Danilo se entreolham, cúmplices.
DARDA
Muito
obrigada, senhora. É com prazer e honra que ouço isso. Obrigada.
NAJARA
Muito bem.
Infelizmente uma precisa ser eliminada, e essa... (apontando) é você.
A moça se entristece e a outra
respira aliviada.
NAJARA
Como eu já
disse, você fez um ótimo trabalho no meu quarto, mas se esqueceu de uma
manchinha minúscula no pé da cama. Como a sala também está ótima, essa
manchinha foi a peça decisiva para a sua eliminação. Serva, acompanhe-a e
entregue a ela minha carta de recomendação.
MOÇA
ELIMINADA
Obrigada,
senhora.
A serva chega ali e a moça
eliminada a acompanha. Najara então olha para Darda e a outra moça.
NAJARA
Muito bem,
meninas. A próxima e última missão de vocês será bastante aberta. Darei a mesma
quantidade de dinheiro a cada uma, e vocês deverão sair para trazer algo que
embeleze ainda mais essa casa. Algo que traga um frescor diferente, algo que,
apesar de todo o luxo que temos, ainda falta. Usem a imaginação. Vocês terão o
resto da noite para observarem bem minha decoração e descansarem. Deverão sair
amanhã bem cedo. Quanto antes forem, maiores as chances de encontrarem algo bom
e diferente.
Darda e a moça fazem que sim.
CENA 7:
EXT. VILAREJO – NOITE
O caos continua no vilarejo.
Soldados espancam os homens, que mais apanham do que conseguem trabalhar, e
abusam das mulheres. Gritos de socorro vêm de alguns homens e mulheres, e
outros, olhando desesperados para o estrelado céu, exclamam em alto som com
Deus.
Perto dali, ajoelhada na escuridão
e com os olhos fechados, Débora ora. Uma oração rápida e silenciosa...
Por fim, ela abre os olhos e se
levanta. Vê o caos à sua frente. Então puxa o pano e cobre a cabeça.
Um grupo de soldados, vermelhos de
tanto gargalhar, perseguem algumas mulheres que rastejam no chão, desesperadas
para escapar deles. Quando um levanta o chicote para bater nelas, um vulto
cruza o ar à sua frente a toda velocidade. Eles se assustam e olham: uma lança acabou
de se fincar na parede. Todos os soldados ali se entreolham confusos. Alguns já
sacam suas espadas.
SOLDADO 1
Quem fez
isso?! Quem atirou esta lança aqui?!
Eles então olham para o lugar de
onde a lança veio, a escuridão da rua... O soldado 1 se aproxima de lá.
SOLDADO 1
Quem está
aí???!!! Quem foi que pegou essa lança???!!! Quem foi o maldito que teve a
ousadia de segurar uma arma hazorita???!!! Apareça, desgraçado, para que eu te
mate!!!
PÁH!!! Um pedaço de madeira maciça,
vindo da lateral acima, bate na cabeça do soldado, fazendo-o cair inconsciente
e ensanguentado. Os soldados ficam ainda mais assustados e inquietos, mas não
entendem o que está acontecendo. Todos desembainham as espadas.
Uma das hebreias, caída no chão,
aponta esperançosa para cima, lá para o alto... Naquele momento todos ali,
hebreus e hazoritas, também já viram: a silhueta de Débora, segurando a espada,
está no alto de uma das casas.
Então os soldados correm para
cercar a casa, mas ela volta para a escuridão. Os homens dão a volta na
edificação. Os que estão em uma das laterais escuras são agarrados para dentro
da penumbra e somem, ao passo que sobram apenas suas espadas caídas. Barulhos
e, pouco depois, seus corpos voltam à luz, mas caídos. Soldados gritam dando
ordens. Estão tensos, se movimentam com cuidado e olhando para todos os lados.
De repente, atrás da casa, a figura
de Débora sai de entre as barracas e desfere golpes contra eles. Pegos de
surpresa, são rapidamente mortos.
SOLDADO
Invasor! Lá!
Ali atrás!
Os soldados vão naquela direção e
avistam Débora, coberta, lutando contra os soldados. Seus movimentos são
rápidos e certeiros, e não há um soldado que permaneça de pé diante dela. Um a
um eles vão sendo derrotados, feridos e mortos pela espada rápida de Débora.
Com mais e mais soldados avançando
contra ela, Débora é obrigada a usar também de socos e chutes, mas sempre com a
espada como terceiro braço. Nisso, por causa dos movimentos rápidos, sua cabeça
é descoberta, e os soldados mais afastados a veem.
SOLDADO
O
invasor... é uma mulher!
Os hebreus se entreolham confusos.
HEBREU
Mulher?!
Já
com seu rosto à mostra, Débora sai lutando contra cada soldado raivoso e com
sangue nos olhos que há ali.
CENA 8:
INT. CASA DO AMOR – QUARTO – NOITE
Conforme o tempo passa, Gadi e Laís
conversam mais e mais. Sentados à vontade na cama, eles se abrem um para o
outro falando de suas vidas, seus passados, sonhos, esperanças...
A
conversa rende, e sempre que um fala o outro presta atenção com um brilho no
olhar.
CENA 9:
EXT. VILAREJO – NOITE
Com o número de soldados
aumentando, Débora tem um pouco de dificuldade, mas então começa a usar de
estratégia. Enquanto duela com vários, pula para trás de barracas, salta em
cima de mesas, usa objetos como arma...
O tempo vai passando e, um a um,
ela derrota os soldados e a pilha de mortos aumenta.
Por fim ela chuta um soldado no
peito, duela com outro, fere-o no pescoço e, quando o outro se aproxima,
desarma-o e atravessa sua espada nele; retira-a e o soldado cai morto. Era o
último hazorita.
Por alguns instantes ela fica ali,
parada, ofegante e com a espada ainda na mão. Pouco a pouco, os hebreus se
aproximam curiosos, mas ainda receosos. Ao ouvi-los, Débora aponta-lhes a
espada, mas logo a abaixa ao ver que são hebreus.
O povo então percebe que todos os
soldados foram mortos por ela e olha aquilo tudo com extrema admiração.
HEBREU
Quem é
você?!
Homens, mulheres, idosos, jovens e
crianças a encaram com muita curiosidade.
DÉBORA
Uma
amiga...
O povo se entreolha...
HEBREU
O nome...
Qual é o seu nome?
Menos ofegante, Débora engole em
seco e olha para eles.
DÉBORA
Débora.
No mesmo instante ela vira e corre,
sumindo na escuridão.
Não muito longe dali ela monta em Pérola.
DÉBORA
Vamos,
garota!
E
dispara cavalgando. Alguns do povo correm até onde estava Pérola, e tudo o que
conseguem ver é um pálido vulto sumindo na escuridão.
CENA 10:
INT. CASA DO AMOR – QUARTO – NOITE
A madrugada avança...
Gadi percebe que Laís, já deitada,
adormeceu. Ele então a observa, apreciando cada traço de seu rosto. Sorri...
Depois pega um travesseiro e, com cuidado, coloca-o embaixo da cabeça dela.
Por
fim ele também se deita e a observa mais um pouco antes de seus olhos se
fecharem, pesados de sono.
CENA 11:
INT. CASA DE DÉBORA – QUARTO – NOITE
Ajoelhado
ao lado da cama, Lapidote ora. Ao terminar ele se levanta e se deita. Olha para
a outra metade da cama, vazia... E passa a mão de leve onde deveria estar
Débora.
CENA 12:
EXT. HAROSETE – RUAS – DIA
A madrugada passa e o sol nasce...
Enquanto procura por algo para
levar para a casa de Najara, Darda também não deixa sua concorrente, do outro
lado de uma pracinha de vendedores, sair de sua vista. Mas então ela escuta uma
voz... Uma voz feminina que parece cantar. Curiosa, olha para os lados... Vem
de uma ruazinha ali perto. Dá uma olhada na outra candidata... Mas então decide
deixar a concorrente para trás e ir procurar a dona da voz.
Darda passa pelo povo e a voz da
cantora aumenta. Ela continua, continua... até que nota, sentada na escada de
entrada de uma edificação, uma moça sentada e cantando com os olhos fechados.
Alguns ali a assistem.
Quando a moça termina de cantar,
Darda percebe que ela é cega. Alguns aplaudem e deixam moedas no pequeno cesto
aos seus pés. Darda, impressionada com a voz, se aproxima da cantora, que a
percebe.
MOÇA
Oi... Quem
está aí?...
DARDA
Meu nome é
Darda. Sou... Sou serva da casa do Capitão.
A moça parece se impressionar.
MOÇA
E o que a
serva do Capitão deseja com uma ninguém?
Darda franze a testa e se aproxima
mais.
DARDA
O que acha
de abrilhantar a casa de meu senhor com o seu dom?
A
moça é pega de surpresa...
CENA 13:
EXT. BETEL – PLANTAÇÃO – DIA
Éder, ajoelhado, cavouca a terra,
mas olha ao seu redor.
ÉDER
(murmurando) Mais um
dia sem Jaziel...
E logo vê Tamar chegar ali com as
outras mulheres para servi-los água.
ÉDER
(murmurando) E sem
Débora, também. Rum...
E
continua a trabalhar.
CENA 14:
INT. SAPATARIA DE LAPIDOTE – DIA
Lapidote pinta uma sandália, mas
seu olhar está distante. Pouco a pouco o movimento de sua mão com o pincel diminui...
e sua mente viaja.
Pensa em Débora... Em seu
sorriso... Em seus momentos juntos... Em suas trocas de carinho... No dia a dia
da esposa... Nos abraços... Nos beijos...
Lapidote
volta a si e percebe que parou o serviço. Sorri e volta a pintar.
CENA 15:
EXT./INT. DIVERSOS LUGARES – DIA/NOITE
O tempo vai passando...
Débora luta em diversos lugares de
Israel. Surpreende caravanas de escravos e os liberta. Salva homens do
espancamento por não trabalharem como querem os capatazes. Defende mulheres que
sofrem nas mãos dos soldados. Liberta vilarejos e pequenas cidades da opressão
militar...
DÉBORA
(NAR.)
Minha fama
se espalhava mais rapidamente do que Pérola e eu conseguíamos nos mover pelas
tribos. Em todos os lugares já muito se falava na “guerreira hebreia”.
Mesmo com feridas e machucados,
Débora prossegue invencível.
Em casa e na sapataria, Lapidote
ora cada dia mais, por mais tempo e com mais fervor.
Em vilarejos distantes, Jaziel se
envolve em briguinhas com homens bêbados, mas continua sua jornada incerta.
Na Fortaleza, Sama, cada dia mais
triste e abatida, segue fazendo os testes com as crianças, a fim de descobrir
quais estarão aptas para crescerem como escravas e quais serão levadas à
morte...
A missão de Débora não para, apenas
aumenta. Emboscadas começam a se formar e soldados a cercam. Mas não há uma
situação sequer em que Débora não consegue lutar contra todos com garra, força
e fé e não saia vitoriosa.
Adélia e Laila finalmente abrem a
loja de doces no local onde era a sala da casa. Recebem o povo com alegria.
Gadi e Laís acabam se aproximando
muito até que, num dia em que passeiam pela manhã após terem saído da Casa do
Amor, eles se aproximam e trocam um longo beijo...
Pouco tempo depois os dois se mudam
para uma casa e começam a morar juntos.
Hanna se envolve cada vez mais no
estudo da feitiçaria e, em um local escondido, suas mestras a ensinam sobre
magias cada vez mais profundas.
Por mais esforços que fazem os
soldados, e por maiores e mais intricadas que sejam suas estratégias, nada para
Débora, que continua defendendo seu povo e perseguindo seus opressores.
Em um dia, depois de derrotar
soldados hazoritas – que levavam um grupo de hebreias para serem suas escravas
sexuais – e de libertá-las, Débora, olhando para os mortos e segurando sua
espada, fala em alto e bom som.
DÉBORA
Justiça!
DÉBORA
(NAR.)
Mas não a
de Deus... e sim a minha. E eu estava muito perto de descobrir isso.
Em seu olhar obstinado e um tanto
raivoso, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Iru visita Sama na Fortaleza. Lapidote conta a
Tamar e Elian sobre os feitos de Débora. Sísera diz a Jabim que irá atrás da
guerreira hebreia. E ela, Débora, chega a Harosete.
Obrigado pelo seu comentário!