Type Here to Get Search Results !

Primeira Impressão com o Senhor X - Crítica "Força de um Sonho" - Programa 04


Saudações, caros mancebos! Bem-vindos a mais uma crítica do Primeira Impressão!

Como passaram da semana passada? Confesso que essa minha semana não foi das melhores, principalmente nos últimos dias, em que ficamos sabendo da partida do grande ator Chadwick Boseman, conhecido mundialmente pelo papel do Pantera Negra no Universo Cinematográfico da Marvel. Ao longo dos milênios perdi diversos ídolos envolvidos na arte de contar histórias, mas poucos me tocaram dessa forma. Seu trabalho significou muito em termos de representatividade e seu legado certamente será eterno. O que me conforta é que ele está bem, está melhor e entre os seus, em algum lugar dentro ou fora do frágil, mas arrojado tecido existencial.

Bom, vamos tentar secar as lágrimas por um pouco de tempo para que possamos falar sobre a webnovela de hoje, que se trata de Força de um Sonho, escrita por Diego Silva e exibida aqui no Ranable Webs. Confiram a sinopse:

“Janaína é moradora da Rocinha, e vive em uma casa muito simples com sua mãe Leonor, seu pai Augusto e seu irmão Wesley. Após a morte de Augusto, que foi brutalmente assassinado por Jadson, Leonor fica viúva e precisa assumir a família; com isso as dificuldades financeiras aumentam. Então, junto com Janaína, ela vai trabalhar na casa de Paula. É quando Janaína conhece André, morador da Zona Sul do Rio de Janeiro. Paula, ex-namorada do rapaz e racista, ao descobrir que foi trocada por Janaína mostrará seu lado intolerante. No meio de toda essa história virá à tona um debate relacionado às classes sociais e à toda desigualdade existente no nosso país.”

Mancebos, hoje eu vou apresentar a vocês um dos problemas mais recorrentes das produções artísticas ficcionais, mesmo nas de grande orçamento: o diálogo expositivo. Vamos fazer um pequeno exercício mental: você acorda pela manhã, encontra sua família à mesa e, durante o desjejum, vocês conversam sobre o seu trabalho, que é em uma central – chamada Cevavi – para onde as pessoas ligam a fim de desabafarem suas angústias. Detalhe: você está lá há 1 ano. Então, mancebo, você diz que está muito satisfeito com o seu emprego, que ouvir as pessoas é algo muito importante e que em você as pessoas podem encontrar um escape para suas aflições de alma... Daí você ainda diz que não se cansa, pois a Cevavi é muito cuidadosa com a jornada de trabalho de seus funcionários, que segue as leis corretamente, que você consegue ter seu tempo de descanso, de banheiro, de refeição e tudo mais.

Vejam bem. Por que é que você está dizendo tudo isso para sua família, que sabe há 1 ano onde você trabalha? Se tem com eles intimidade o suficiente para falar tudo isso agora, certamente já disse antes, já contou várias vezes sobre a natureza do seu emprego. A vocês isso soa natural? Ou será que não parece que você está tentando informar uma 3° pessoa ou grupo de pessoas, uma plateia invisível que está ali em sua cozinha e que nada sabe sobre seu passado e presente?

Bom, de fato uma 3° pessoa ali: o leitor. Uma das funções do autor de uma história é nos contar sobre a vida daqueles personagens, mas isso não pode de modo algum ficar artificial. Há maneiras e maneiras de expor um personagem sem que seja por meio de uma auto narração. Querem identificar isso mais vezes em filmes e afins? O termo “Você sabe que” é um dos maiores indicadores de diálogos expositivos. Se a pessoa “sabe que”, então não tem porque dizer isso novamente, a não ser que o autor queira desesperadamente informar o público sobre tal. E, infelizmente, esse problema acomete os diálogos de Força de um Sonho.

Diálogos como os das cenas de introdução de Paula e André e de Gael e Douglas dão um show de exposição. O leitor sai bem informado sobre as opiniões e parte da vida dos personagens? Sim. Mas de modo nenhum sente que presenciou uma conversa real entre duas pessoas reais. O único diálogo que me soou de fato real foi aquele da cena 2, quando Augusto vai até a boca de fumo do traficante Jadson. Nessa sequência o autor soube dar personalidade a cada um dos envolvidos e a tensão do momento foi construída com realismo.

Ainda sobre essa cena, a descrição do cenário é igualmente competente, quase sendo possível sentir o cheiro de drogas no ar. Mas não posso dizer o mesmo da cena anterior, a 1°, que apenas indica, de maneira fria, que estamos na sala da casa de Augusto e Leonor. E não é como se o autor quisesse dar um choque de realidade em nós, mostrando na cena 2, após a demora de Augusto em voltar para casa,  que é na comunidade da Rocinha que eles estão, aumentando significativamente a tensão por conta do que pode ter ocorrido com o homem. Pois mesmo essa 2° cena sendo bem ambientada, a indicação do local ocorre como se dissesse que água faz bem para a saúde. Uma breve descrição do local em que estão seus personagens é sempre bom, não tão essencial quanto a descrição dos personagens, mas é sim bom.

Quem me acompanha desde o início pode estar se perguntando se essa webnovela, assim como todas as 3 produções criticadas anteriormente, também apresenta o problema de introdução dos personagens. Bom, a resposta é: sim e não. E o que essa afirmação napolitana significa? SIM, em Força de um Sonho diversos personagens são apresentados apenas por seus nomes mais a ação que estão praticando. “X, Y e Z estão arrumando o objeto K em cima da mesa”. Quem é X, Y e Z? Nem os sábios da lua de Éfhasus poderiam adivinhar. NÃO, em Força de um Sonho diversos personagens são apresentados com uma breve descrição sobre sua vida. “A é um jovem de 21 anos que, nos momentos livres do estudo, adora ouvir pop e curtir uma praia para esquecer as dificuldades financeiras de casa”. O mancebo pode estar se perguntando então qual é o critério usado para escolher quais personagens são agraciados com uma digna apresentação e quais não. É o mesmo usado pela alta e corrupta cúpula do reino de Etrúria para me expulsarem por apoiar um poeta crítico ao governo: nenhum.

Em relação à parte mais técnica do capítulo, infelizmente temos uma formatação problemática com rubricas em excesso e espaços entre as palavras e os parênteses. E também frases da narração que ora estão no passado, ora no presente. Mancebos, tomem muito cuidado com o texto de vocês. É necessário decidir se a história será narrada no pretérito ou no presente. Eu sou atemporal, seus personagens provavelmente não.

 Uma das promessas dessa novela é tratar causas sociais que estão em foco já há algum tempo, e, por isso, nessa estreia já temos um episódio de (neologismo à parte) semi-racismo da vilã Paula para com uma faxineira de um shopping. “Semi” pois o racismo ficou no olhar e no pensamento, sem se transformar em uma ação. Ao contrário do que poderia acontecer, a cena não soou forçada. Pelo contrário, se o autor fizesse de forma caricata, talvez ainda assim continuaria realista, visto as barbáries que ainda ocorrem por aí. E, por fim, chegamos ao final do capítulo com um gancho surpreendente e muito bem descrito. A cena impressiona não apenas pela sequência gráfica, mas também pela inesperada morte de um personagem que aparentemente protagonizaria a novela; muito corajoso da parte do autor.

No geral, após essa estreia, Força de um Sonho parece um conjunto de diversas histórias paralelas sem muita relação entre si. Temos o núcleo da família de Leonor, o principal, e os outros núcleos correndo em paralelo. E também não é possível identificar qual é a trama central. Vejam bem, temos os personagens principais, sim, mas não a história principal, que, nesse caso, deve se apresentar só nos capítulos subsequentes. E, como já falamos antes, uma das funções da estreia é apresentar sua trama central. Resta a  mim torcer para que quem acompanhe o restante da obra se depare com mais diálogos de personalidade, como há sim nesse capítulo (mas pouco), e menos com textos expositivos. E aí caberá a vocês me dizerem se o problema é ou não sanado no decorrer da trama.

Como eu disse na estreia do nosso programa, o que me fascinou na obra escrita do planeta Terra há muito e muito tempo foi a terrivelmente divertida esperança humana. Como então não poderia me atrair por uma história com um título como esse, que exala a espera por um futuro melhor? Dando-me ao luxo de molhar os lábios de meu espírito com o inesperado frescor de tal esperança, anseio por futuras obras do autor com uma evolução significativa em relação ao que vi aqui. E, agora que já estou consumido por essa esperança, digo com certeza: acredito que isso acontecerá.





Novela: Força de um Sonho

Autor: Diego Silva

Capítulos: 21

Emissora: Ranable Webs

Clique aqui para ler o 1° capítulo

Saiba mais sobre a novela


    E essa foi a crítica de hoje. Concordam, discordam? Leram a web? Comentem abaixo. Querem dar sugestões de obras a terem suas estreias criticadas aqui? Também é só dizerem abaixo. Perderam a crítica da semana passada? É só clicar aqui para lê-la. Por hoje é só, mancebos. Cuidem-se, protejam-se e até o próximo domingo com mais um programa imperdível!

Em memória de Chadwick Boseman

#WakandaForever


Postar um comentário

0 Comentários
* Please Don't Spam Here. All the Comments are Reviewed by Admin.