CAPÍTULO 24
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Restante do Capítulo 37 + Parte do Capítulo 38 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 01: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA
Rute solta Malom enquanto Quiliom solta as mãos de Orfa. Leila parece não acreditar no que está vendo. Noemi e Elimeleque extremamente confusos.
NOEMI— Mas o que é isso? O que está acontecendo aqui?! Elas são--
RUTE— (interrompendo) Por favor, queiram perdoar nossa chegada repentina... Eu sou Rute e essa--
ORFA— (interrompendo) Orfa.
MALOM— São as sacerdotisas.
Ainda confusa, Noemi observa.
LEILA— Eu... Nossa... Mal posso acreditar! As sacerdotisas?! As sacerdotisas estão na minha casa?!
ELIMELEQUE— Por que vieram dessa forma? Cobrindo os rostos... Parecem fugir...
RUTE— Eu preciso de ajuda... Nós precisamos.
Noemi e Elimeleque franzem o cenho. Malom e Quiliom escutam atentamente.
ORFA— Quiliom havia me contado onde estavam.
RUTE— Nós ficamos muito tocadas por tudo que Malom e Quiliom nos falaram sobre o Deus de vocês... Mal dormimos à noite. Mas de tudo isso, uma coisa em especial não saiu de minha mente: o fato de o Deus Jeová não requerer sacrifícios humanos.
ELIMELEQUE— Sim. Isso é abominação aos olhos de nosso Senhor.
RUTE— Uma das meninas será sacrificada. E eu não quero isso.
NOEMI— Não quer isso? Como uma sacerdotisa pode não querer isso?
Rute respira fundo e tenta encontrar palavras.
RUTE— Eu... Na verdade, eu...
LEILA— Não estou entendendo...
RUTE— Eu vou explicar... Eu já não tenho essas coisas no meu coração há muito tempo, e já não vejo razão alguma nos deuses...
Impressionada, Leila tampa a boca.
RUTE— Mas, acima de tudo, eu quero salvar Aylla.
LEILA— Eu devo mesmo estar sonhando...
RUTE— Posso garantir a todos vocês que não é um sonho. Nas minhas palavras há apenas a mais pura e desesperadora verdade.
Malom e Quiliom ficam apreensivos. Noemi e Elimeleque não sabem como reagir.
LEILA— Não é seguro falarmos disso aqui. A rua aí está muito movimentada... Vamos entrar, vamos para a sala.
Todos eles então vão para o fundo, atravessam a porta e se acomodam na mesa da sala. Elimeleque fica na porta.
ELIMELEQUE— Vou ficar cuidando para o caso de alguém entrar.
NOEMI— Muito bem. Por favor, explique direito.
RUTE— Explico.
Rute respira fundo, preparando-se para falar.
CENA 02: EXT. CAMPOS – DIA
A forte tensão entre os saqueadores e Iago continua. Maya, atrás do marido, respira aflita.
SAQUEADOR— O que acham, ahn, rapazes?! Será que o derrotamos? Cada um que conseguir fazer nele um corte à espada ganhará alguns bons momentos com a esposinha dele...
Os homens sorriem, gostam da ideia.
IAGO— Eu garanto que vocês fizeram uma péssima escolha quando decidiram nos importunar. Certamente não sairão dessa vivos.
Eles riem, gargalham em zombaria.
SAQUEADOR— Chega de perder tempo. Quero experimentar logo essa princesa. Ataquem!
Sem receio algum, os homens avançam e atacam Iago. Várias espadas contra uma, que, de início, apenas bloqueia os golpes; com extrema agilidade, no entanto. Mas Iago precisa defender a si e também impedir que toquem em Maya, logo atrás dele. Do outro lado, Tamires assiste àquilo tudo aflita.
TAMIRES— Segismundo! Não está entendendo que são meus amigos???!!! Precisam da nossa ajuda!!!
De repente Segismundo agarra Tamires, prende-a em seus braços e tampa a boca dela com sua mão. Ela tenta gritar, esperneia, mas em vão. Então desiste e, presa, se atenta à luta logo à frente. Maya só não chora porque precisa se movimentar conforme Iago se movimenta. Não pode correr, pois certamente algum deixaria a luta e a alcançaria, e também não pode ficar muito próximo do marido para não ser atingida por um dos golpes; momentos de extrema angústia.
A cada golpe defendido, a fúria no olhar de Iago aumenta. Então seus movimentos começam a ficar mais abruptos e perigosos... Em menos de um piscar de olho ele usa a perna esquerda para dar uma rasteira em um saqueador, que é pisoteado pelos companheiros que não conseguem desviar.
MAYA— Iago, nós vamos morrer!...
IAGO— Não acontecerá nada com nós três, Maya! Fique atrás de mim!
SAQUEADOR 2— Não sabe contar, seu estúpido?!
IAGO— Pergunta para a minha espada!
Ao bloquear um golpe, Iago desliza a lâmina e faz um corte grave na mão do homem, que cai gritando. Três golpes simultâneos vêm na direção de seu pescoço, mas ele se abaixa a tempo e finca a espada na barriga de um. Antes que os outros possam revidar, ele dá um soco com o punhal da arma em um e bloqueia as investidas dos outros.
IAGO— Aconteça o que acontecer, meu amor, não saia de trás de mim!
Os outros voltam a atacar, mas Iago, cheio de fúria, bloqueia os golpes com rapidez e, movido a puro ódio, chuta um dos saqueadores no peito e rasga o pescoço de outro no fio da espada. Sangrando muito, o homem cai de joelhos e desaba morto. O saqueador chefe parece preocupado.
IAGO— Eu lhes avisei.
SAQUEADOR 3— Não é melhor partirmos, senhor?
IAGO— Foi-se o tempo em que podiam desistir. Escolheram importunar a mim e à minha esposa grávida, agora só saem daqui para os braços da morte. E minha espada é sua carta de viagem.
Movido por medo, o saqueador chefe o ataca e o outro faz o mesmo. Golpes em cima, em baixo, bloqueios, ataques, desvios... Em um movimento rápido em que ele manipula a mão e a espada do chefe, Iago mata o segundo homem, que cai morto. Então ele torce a mão do chefe e toma a espada: agora está com duas. Aponta ambas para o pescoço do saqueador.
SAQUEADOR— Espere, espere! Deixe-me ir! Eu prometo que não voltarei mais, eu prometo que--
IAGO— (interrompendo) Está vendo? Está sentindo? Essa é a sensação... Impotência, medo... Saber que tudo está perdido...
SAQUEADOR— Por favor!...
IAGO— Vai pro inferno, desgraçado!
Iago atravessa o saqueador com as duas espadas. Com o olhar vazio, o homem cospe sangue e cai secamente no chão.
Maya se assusta com uma mão que agarra sua perna: é o saqueador que havia sido pisoteado. Iago então vai até o homem caído, pega-o pelas vestes e o arrasta. Passa por aquele que teve a mão cortada e o agarra também. Ele leva os dois homens, que gritam e esperneiam, na direção de uma ribanceira logo ali.
Segismundo está adorando o que vê; seu olhar brilha.
Iago chega na beira da ribanceira e solta um deles. Pega o outro, o levanta e o joga dali de cima. O homem rola, bate nas pedras e cai morto lá embaixo. O outro, apavorado, grita.
SAQUEADOR 4— Não, não, por favor!!! Por favor, não!!! Não!!!
IAGO— Shh! Shhh!!! Shhh!!! Escute!
Assustado, o saqueador para de gritar.
SAQUEADOR 4— O quê?...
IAGO— O som de estrume caindo.
Iago ergue o homem e o joga dali. Ele nem rola pela ribanceira, apenas cai lá no fundo, morrendo na hora. Cansado, Iago expira e cai de joelhos, olhando os dois lá embaixo. Maya chega ali correndo e o abraça.
MAYA— Iago, Iago! Você está bem?!
IAGO— Sim, sim, meu amor! Estou bem... E você?
MAYA— Não fui atingida, mas... Meu coração está muito acelerado...
IAGO— Desgraçados!...
MAYA— Calma, calma... Já acabou...
Maya ajoelha ao lado de Iago e abraça o marido, que também a abraça. Tamires se desvencilha dos braços de Segismundo.
TAMIRES— Sai, sai! Me solta!!!
Segismundo mal percebe Tamires, está encantado com o cenário ali na frente. Olha boquiaberto para os corpos e para Iago, abraçado com Maya. Tamires nota seu estado e o observa com mais atenção.
SEGISMUNDO— Nós... precisamos daquele homem na Caravana... Imediatamente!
Ainda olhando para ele, Tamires sorri. Finalmente Segismundo quer o mesmo que ela. Ele, por sua vez, continua hipnotizado.
CENA 03: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Boaz, Josias e um grupo de jovens termina de orar.
BOAZ— Amém!
TODOS— Amém!
Eles se levantam.
BOAZ— Obrigado a todos por terem vindo. Acho muito importante que nos unamos em tempos como esses, principalmente nós, com a vida toda pela frente. Somos nós que herdaremos essas terras... Enfim, é isso. Que Deus recompense a cada um. Shalom!
TODOS— Shalom!
Um a um, os jovens passam por Boaz e o saúdam. Por último, vem uma moça. Ao vê-la, o olhar de Boaz brilha. Ela também o olha com certo interesse...
BOAZ— Shalom...
MOÇA— Shalom... Boaz, certo?
BOAZ— (sorrindo) Isso! Boaz... E você?
MOÇA— Meu nome é Magda.
BOAZ— Magda... Tão lindo quanto a dona.
Magda sorri. Boaz então olha para Josias. Nesse meio-tempo, Magda olha para as vestes e os apetrechos valiosos que Boaz usa, parece muito interessada no ouro. Quando Boaz volta a olhá-la, ela desvia o olhar e o fita nos olhos.
BOAZ— Posso acompanha-la, Magda?
MAGDA— Seria um prazer, Boaz. Me dê essa honra.
Boaz sorri empolgado e sai com Magda. Josias fica ali, observando-os e sorrindo.
CENA 04: INT. CASA DE LEILA – SALA – DIA
Elimeleque continua, simultaneamente, a cuidar a loja e a prestar atenção na explicação de Rute, na mesa. Noemi, Leila, Malom e Quiliom escutam atentíssimos.
RUTE— E... é isso.
Por alguns segundos eles não dizem nada, parecem absorver tudo o que ouviram.
Noemi quebra o silêncio.
NOEMI— Quer dizer então que vocês, sacerdotisas, querem servir ao Deus de Israel.
RUTE— Sim.
Orfa fica quieta, não responde nada.
NOEMI— Você tem de concordar comigo que isso é muito repentino. Essa mudança só por conhecer os meninos...
RUTE— O incômodo que eu sinto naquele lugar já vem de muito tempo, senhora. Malom me contando todas essas coisas foi apenas um novo horizonte que surgiu, a possibilidade de uma segunda chance para uma alma angustiada. E há também a possibilidade de salvar Aylla...
Leila mexe muito as mãos, parece nervosa.
LEILA— O problema é que isso atrairia o perigo para a minha casa. Esconder, aqui, uma oferenda aos deuses, do próprio rei...
RUTE— Do Sumo Sacerdote.
LEILA— Ainda que seja!
RUTE— É a única chance que eu tenho de salvar a menina de uma morte cruel e injusta!...
MALOM— Eu concordo.
QUILIOM— Eu também, sem dúvidas!
Noemi, Leila e Elimeleque pensam. Orfa e Rute os observam.
ELIMELEQUE— Quando isso seria? O resgate da menina. Imagino que queiram raptá-la.
RUTE— Perdão por corrigi-lo, senhor, mas é “resgatá-la”. Aylla não pertence àquelas pessoas. Gostaria que fosse feito na noite de amanhã.
Todos ali se olham. Noemi e Elimeleque trocam olhares, mas nada conclusivo. Elimeleque vira de vez para a mesa, deixando as costas para a loja e para a rua.
ELIMELEQUE— Pois bem. Para isso precisaremos de um plano.
ORFA— Sim.
RUTE— (um pouco mais aliviada) Ótimo!
Elimeleque respira fundo, se aproxima da mesa e se senta. Todos prontos para discutirem o plano.
CENA 05: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Salmon e Raabe chegam onde está Josias.
SALMON— Josias...
JOSIAS— Senhores.
SALMON— Você viu Boaz?
JOSIAS— Olhem lá...
Salmon e Raabe olham para onde Josias aponta, e veem Boaz e Magda caminhando devagar.
RAABE— Quem é a moça?
JOSIAS— Não sei seu nome, mas Boaz a conheceu há pouco. Ela estava na oração da mocidade. Faz tempo que saíram, mas caminham muito devagar. (rindo) Estão aproveitando cada momento pra conversarem...
Salmon e Raabe fazem que sim e continuam a observar seu filho. Lá, Boaz conversa com Magda.
MAGDA— Eu sei que nos conhecemos há pouco, mas... E se voltarmos e irmos para sua casa? Você pode me apresentar sua família...
BOAZ— Para minha casa?
MAGDA— Sim... Algum problema, Boaz? Eu não devia--
BOAZ— (interrompendo) Não, não, claro que não. Podemos ir lá sim, sem dúvidas. Vamos voltar, então.
Magda sorri satisfeita e eles voltam. Boaz para ao se aproximarem de seus pai e Josias.
BOAZ— Magda, deixe-me apresenta-los. Salmon, meu pai, e Raabe, minha mãe. Meus pais, essa é Magda, minha amiga...
SALMON— É um prazer.
RAABE— Como vai?
Eles apertam a mão de Magda.
MAGDA— O prazer é todo meu, senhores. É uma honra conhecer a senhora.
Raabe sorri.
SALMON— Então, vamos para casa... Você aceita?
MAGDA— Claro, senhor. (sorrindo) Na verdade Boaz já havia me convidado, e eu aceitei a honra...
Salmon e Raabe olham para Boaz.
BOAZ— É, foi... Pois vamos.
Salmon faz que sim e eles caminham.
MAGDA— Onde fica a casa de vocês?
BOAZ— Ah, acho que daqui dá para ver... Naquela outra rua, aquela alta...
MAGDA— Oh, é como imaginei... Bela, imponente... Parece linda.
Boaz sorri e eles continuam a caminhar.
CENA 06: INT. CASA DE LEILA – SALA – DIA
Noemi, Elimeleque, Leila, Malom, Quiliom, Rute e Orfa sentados ao redor da mesa.
NOEMI— Muito bem. Temos o sentimento de revolta de vocês, o plano de resgate da menina... Mas e o que será depois? Se foram tocadas pelo Deus de Israel, como continuarão a servir aos deuses de Moabe? Como é que continuarão a ser sacerdotisas?
Rute e Orfa se entreolham.
RUTE— Eu quero abandonar essa vida. Quero abandonar tudo.
Noemi arqueia as sobrancelhas levemente e a observa.
MALOM— Podemos nos casar.
Noemi olha com leve desaprovação para Malom e Elimeleque se mexe incomodado.
ELIMELEQUE— Vocês são jovens. E mal se conhecem...
MALOM— Mas eu não falei de nos casarmos agora, pai. Teremos tempo de nos conhecer melhor.
Malom sorri para Rute, que o olha com carinho. Orfa e Quiliom trocam olhares de cumplicidade.
NOEMI— Nós podemos ver esse assunto depois.
ELIMELEQUE— Sim. Vamos nos concentrar no resgate de Aylla.
Todos concordam.
CENA 07: INT. CASA DE SEGISMUNDO – SALA – DIA
Segismundo e Gael estão à frente de todos os homens da Caravana da Morte. Tamires está sentada em um canto.
SEGISMUNDO— Vocês partirão em busca de pistas do paradeiro da família de Elimeleque e Noemi. Gael, você ficará responsável por lidera-los e comandá-los nessa missão.
GAEL— Entendido.
SEGISMUNDO— Podem ir.
Os homens se espalham pegando suas coisas. Segismundo se aproxima de Tamires e ela se levanta.
TAMIRES— Eu só não me vingarei de você por ter me prendido em seus braços e por não ter agido no ataque dos saqueadores porque, primeiro, eles estão bem, e segundo, está sendo um prazer ver você pagar com a língua. Agora vai ficar atrás de Iago feito uma raposa faminta atrás de uma galinha gorda.
SEGISMUNDO— Quero que me diga tudo o que sabe sobre Iago. Vou mesmo atrás dele. Vamos, me conte tudo!
Tamires sorri em tom de zombaria.
TAMIRES— Fique tranquilo, Segismundo, eu te contarei.
CENA 08: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA
Conforme o dia vai passando, Malom, Quiliom e Elimeleque discutem o plano, se preparam... Noemi e Leila os observam apreensivas.
CENA 09: EXT. TEMPLO – PÁTIO – DIA
Rute e Orfa caminham falando sobre o plano. Apontam os locais que lhes interessam, fazem sinais das rotas, se preparam...
CENA 10: EXT. BELÉM – ARREDORES – DIA
O dia passa, a noite chega e o dia seguinte nasce.
Quase 5 dezenas de soldados marcha com vigor na direção do portão de Belém. A população aguarda ansiosa na entrada. Parado no caminho está o Ancião, com olhar alegre. Liderado pelo COMANDANTE, os soldados se aproximam e param próximos do Ancião.
ANCIÃO— (abrindo os braços) Sejam bem-vindos a Belém!
O comandante sorri e faz um aceno discreto com a cabeça. Perto dali, Segismundo assiste a movimentação. Então sai.
CENA 11: INT. HOSPEDARIA – DIA
Segismundo entra e olha todas as mesas. Nota Iago, com sua taça de vinho, sentado quieto em uma, e se aproxima.
SEGISMUNDO— Licença.
Iago o olha e volta a encarar o nada. Segismundo senta na outra cadeira.
SEGISMUNDO— Dias difíceis...
Iago faz que sim devagar.
SEGISMUNDO— Você não deve saber quem eu sou. Eu me cha--
IAGO— (interrompendo) Segismundo. Líder da Caravana da Morte.
Segismundo olha discretamente para as pessoas ao redor, conferindo se ninguém escutou, e de volta para Iago.
SEGISMUNDO— Você sabe que são muitos os perigos. Os animais agem assim... Juntos. A proteção é maior, mais eficiente... Todos ganham.
IAGO— Eu não vou participar da Caravana.
SEGISMUNDO— Por que a recusa?
IAGO— Por que deveria aceitar? Já hospedo a criadora de tudo, e ela me paga.
SEGISMUNDO— E ela pode continuar te pagando. Mas você pode conseguir muito mais, Iago, se também ir pessoalmente. Pense no futuro, homem. Logo terá mais uma boca para alimentar.
Ao dizer isso, Iago olha para Segismundo. Encara-o por alguns segundos, e volta a encarar o nada.
IAGO— A resposta é não. Está perdendo seu tempo.
Iago então se levanta e vai embora. Segismundo fica ali, frustrado.
CENA 12: EXT. BELÉM – RUAS – DIA
Iago passa pela população que, empolgada, assiste à passagem dos soldados pela rua principal. Ele se aproxima dessa e para, observando-os. Atrás dos homens vem o Ancião e Tani.
TANI— Finalmente, senhor! Finalmente teremos um pouco de sossego nessa cidade!
ANCIÃO— Esse é o objetivo da presença deles, Tani! Espero que tenhamos sucesso com isso.
TANI— Teremos sim, senhor. Se Deus quiser vai dar tudo certo!
Eles continuam a caminhar. O Ancião passa na frente dos soldados e os guia para a praça.
CENA 13: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA
Momentos mais tarde, o Ancião e o Comandante estão à frente dos soldados e da população, que lota a praça e as ruas ao redor. Tani ali perto.
ANCIÃO— Eu gostaria de, mais uma vez, dar as boas-vindas aos nossos irmãos de Hebrom, que mesmo com a crise assolando toda Israel, aceitaram marchar até Belém para nos socorrer de um mal tão sórdido. Enfim, bem-vindos! E palmas para a coragem, determinação e lealdade desses homens!
Todos os belemitas, felizes, batem palmas para os soldados.
ANCIÃO— Muito bem. A partir de hoje esses homens guardarão o nosso portão, circularão por nossas ruas e farão rondas à noite. Tenho certeza que cada belemita poderá contar com eles, mas, por favor, respeitem esses homens.
Momentos depois, a população se dispersa. Perto dali estão Boaz e Magda.
MAGDA— Ah, ainda bem que agora teremos soldados nos protegendo... Há tempos não tenho o menor ânimo em sair sozinha da cidade.
Boaz a olha de forma diferente.
MAGDA— O quê, Boaz?
BOAZ— Magda, eu... eu tenho algo pra te pedir.
MAGDA— Pedir? Peça, pode me pedir tudo, Boaz.
Boaz ajoelha um dos joelhos.
BOAZ— Magda, você aceita ser minha namorada?
Magda sorri e tampa a boca com as mãos.
MAGDA— Boaz!...
BOAZ— Aceita, Magda?!
MAGDA— Claro! Claro, Boaz! Levante!
Boaz se levanta e a abraça.
MAGDA— Vamos comemorar! Podemos beber algo na sua casa!
BOAZ— Não tenho certeza se temos vinho, mas—
MAGDA— (interrompendo) Não tem importância! Não importa o que vamos beber, importa que agora somos namorados!
Boaz sorri e ela o beija. Um beijo meio desengonçado que logo acaba. Boaz olha ao redor um tanto envergonhado, mas Magda o puxa e eles vão.
CENA 14: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA
Noemi, Elimeleque e Leila sentados. Malom e Quiliom ajeitam suas vestes.
NOEMI— E se elas estiverem inventando tudo isso apenas para se aproveitarem?...
MALOM— Se aproveitarem? Como é que sacerdotisas vivendo no luxo e no conforto podem querer se aproveitar de meros plebeus?
NOEMI— Não digo nesse sentido, mas no sentido de salvar Aylla. E se estiverem usando a crença no nosso Deus para que as ajudemos a resgatar a menina?
QUILIOM— Me desculpe, mãe, mas isso não faz sentido.
NOEMI— Vocês acham que elas gostam de vocês? Assim como gostam delas?
Malom e Quiliom se entreolham e olham para Noemi.
MALOM— Por que não?
QUILIOM— Está na hora, Malom.
Noemi fica mais aflita.
MALOM— Pois vamos.
QUILIOM— Mãe, pai, Leila... Shalom.
LEILA, ELIMELEQUE— Shalom.
NOEMI— Shalom, meus filhos. Paz, muita, muita paz! Vocês precisarão e eu também... Não sei o que eu faria se acontecesse alguma coisa com vocês dois!...
MALOM— Fique tranquila, minha mãe. Nossa missão é nobre.
QUILIOM— Fiquem firmes e atentos. Precisaremos disso para que nos recebam com a menina.
ELIMELEQUE— Estaremos aqui, prontos.
MALOM— Shalom.
Malom e Quiliom saem para a rua e sobem a ladeira. Noemi fecha os olhos e respira fundo. Em seguida olha para Leila.
NOEMI— Leila, vamos orar todos juntos?
LEILA— Será um prazer, Noemi! Falar com o Deus de Israel... Vamos, vamos agora! Ali na sala... Vocês podem me ensinar a falar com Ele.
Eles se levantam e vão.
CENA 15: INT. TEMPLO – CORREDOR – DIA
Rute e Orfa estão com Aylla. Rute olha para os dois lados, certificando-se de que estão sozinhas, e olha para Aylla.
RUTE— Aylla, faça o que eu te pedi, exatamente como falei. Não durma, entendeu bem? E fique próxima da janela do seu quarto.
AYLLA— Eu entendi, senhora Rute. O que não entendo é o motivo.
RUTE— Apenas faça isso. Você não confia em mim?
AYLLA— Confio, senhora. E na senhora Orfa também.
RUTE— Pois bem. Posteriormente você entenderá.
AYLLA— Está bem.
RUTE— Pode ir.
AYLLA— Com licença.
Aylla dá meia volta e sai.
RUTE— Está quase na hora. Vou conferir o número de guardas.
ORFA— Tudo bem.
Rute sai por outro lado e Orfa a observa se afastar. Depois de um bom tempo, Orfa toma a direção contrária.
CENA 16: INT. TEMPLO – SALA DE FARUK – DIA
Orfa chega ali discretamente. Olha no interior da sala, está vazia.
Então ela entra, vai direto na mesa, pega um pergaminho, uma pena, a molha na tinta e escreve energicamente. Nisso, IMAGEM CONGELA.
Obrigado pelo seu comentário!