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A Promessa - Capítulo 24 (Reprise)


CAPÍTULO 24 


uma novela de 

FELIPE LIMA BORGES 

 

livre adaptação do livro de Rute 

 

Edição da Versão Reprise por 

RAMON FERNANDES 

 

EDIÇÃO: 

Restante do Capítulo 37 + Parte do Capítulo 38 ORIGINAL (SEM CORTES)


CENA 01: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA 

Rute solta Malom enquanto Quiliom solta as mãos de Orfa. Leila parece não acreditar no que está vendo. Noemi e Elimeleque extremamente confusos. 

NOEMI Mas o que é isso? O que está acontecendo aqui?! Elas são-- 

RUTE (interrompendo) Por favor, queiram perdoar nossa chegada repentina... Eu sou Rute e essa-- 

ORFA (interrompendo) Orfa. 

MALOM São as sacerdotisas. 

Ainda confusa, Noemi observa. 

LEILA Eu... Nossa... Mal posso acreditar! As sacerdotisas?! As sacerdotisas estão na minha casa?! 

ELIMELEQUE Por que vieram dessa forma? Cobrindo os rostos... Parecem fugir... 

RUTE Eu preciso de ajuda... Nós precisamos. 

Noemi e Elimeleque franzem o cenho. Malom e Quiliom escutam atentamente. 

ORFA Quiliom havia me contado onde estavam. 

RUTE Nós ficamos muito tocadas por tudo que Malom e Quiliom nos falaram sobre o Deus de vocês... Mal dormimos à noite. Mas de tudo isso, uma coisa em especial não saiu de minha mente: o fato de o Deus Jeová não requerer sacrifícios humanos. 

ELIMELEQUE Sim. Isso é abominação aos olhos de nosso Senhor. 

RUTE Uma das meninas será sacrificada. E eu não quero isso. 

NOEMI Não quer isso? Como uma sacerdotisa pode não querer isso? 

Rute respira fundo e tenta encontrar palavras. 

RUTE Eu... Na verdade, eu... 

LEILA Não estou entendendo... 

RUTE Eu vou explicar... Eu já não tenho essas coisas no meu coração há muito tempo, e já não vejo razão alguma nos deuses... 

Impressionada, Leila tampa a boca. 

RUTE Mas, acima de tudo, eu quero salvar Aylla. 

LEILA Eu devo mesmo estar sonhando... 

RUTE Posso garantir a todos vocês que não é um sonho. Nas minhas palavras há apenas a mais pura e desesperadora verdade. 

Malom e Quiliom ficam apreensivos. Noemi e Elimeleque não sabem como reagir. 

LEILA Não é seguro falarmos disso aqui. A rua aí está muito movimentada... Vamos entrar, vamos para a sala. 

Todos eles então vão para o fundo, atravessam a porta e se acomodam na mesa da sala. Elimeleque fica na porta. 

ELIMELEQUE Vou ficar cuidando para o caso de alguém entrar. 

NOEMI Muito bem. Por favor, explique direito. 

RUTE Explico. 

Rute respira fundo, preparando-se para falar. 

 

CENA 02: EXT. CAMPOS – DIA 

A forte tensão entre os saqueadores e Iago continua. Maya, atrás do marido, respira aflita. 

SAQUEADOR O que acham, ahn, rapazes?! Será que o derrotamos? Cada um que conseguir fazer nele um corte à espada ganhará alguns bons momentos com a esposinha dele... 

Os homens sorriem, gostam da ideia. 

IAGO Eu garanto que vocês fizeram uma péssima escolha quando decidiram nos importunar. Certamente não sairão dessa vivos. 

Eles riem, gargalham em zombaria. 

SAQUEADOR Chega de perder tempo. Quero experimentar logo essa princesa. Ataquem! 

Sem receio algum, os homens avançam e atacam Iago. Várias espadas contra uma, que, de início, apenas bloqueia os golpes; com extrema agilidade, no entanto. Mas Iago precisa defender a si e também impedir que toquem em Maya, logo atrás dele. Do outro lado, Tamires assiste àquilo tudo aflita. 

TAMIRES Segismundo! Não está entendendo que são meus amigos???!!! Precisam da nossa ajuda!!! 

De repente Segismundo agarra Tamires, prende-a em seus braços e tampa a boca dela com sua mão. Ela tenta gritar, esperneia, mas em vão. Então desiste e, presa, se atenta à luta logo à frente. Maya só não chora porque precisa se movimentar conforme Iago se movimenta. Não pode correr, pois certamente algum deixaria a luta e a alcançaria, e também não pode ficar muito próximo do marido para não ser atingida por um dos golpes; momentos de extrema angústia. 

A cada golpe defendido, a fúria no olhar de Iago aumenta. Então seus movimentos começam a ficar mais abruptos e perigosos... Em menos de um piscar de olho ele usa a perna esquerda para dar uma rasteira em um saqueador, que é pisoteado pelos companheiros que não conseguem desviar. 

MAYA Iago, nós vamos morrer!... 

IAGO Não acontecerá nada com nós três, Maya! Fique atrás de mim! 

SAQUEADOR 2 Não sabe contar, seu estúpido?! 

IAGO Pergunta para a minha espada! 

Ao bloquear um golpe, Iago desliza a lâmina e faz um corte grave na mão do homem, que cai gritando. Três golpes simultâneos vêm na direção de seu pescoço, mas ele se abaixa a tempo e finca a espada na barriga de um. Antes que os outros possam revidar, ele dá um soco com o punhal da arma em um e bloqueia as investidas dos outros. 

IAGO Aconteça o que acontecer, meu amor, não saia de trás de mim! 

Os outros voltam a atacar, mas Iago, cheio de fúria, bloqueia os golpes com rapidez e, movido a puro ódio, chuta um dos saqueadores no peito e rasga o pescoço de outro no fio da espada. Sangrando muito, o homem cai de joelhos e desaba morto. O saqueador chefe parece preocupado. 

IAGO Eu lhes avisei. 

SAQUEADOR 3 Não é melhor partirmos, senhor? 

IAGO Foi-se o tempo em que podiam desistir. Escolheram importunar a mim e à minha esposa grávida, agora só saem daqui para os braços da morte. E minha espada é sua carta de viagem. 

Movido por medo, o saqueador chefe o ataca e o outro faz o mesmo. Golpes em cima, em baixo, bloqueios, ataques, desvios... Em um movimento rápido em que ele manipula a mão e a espada do chefe, Iago mata o segundo homem, que cai morto. Então ele torce a mão do chefe e toma a espada: agora está com duas. Aponta ambas para o pescoço do saqueador. 

SAQUEADOR Espere, espere! Deixe-me ir! Eu prometo que não voltarei mais, eu prometo que-- 

IAGO (interrompendo) Está vendo? Está sentindo? Essa é a sensação... Impotência, medo... Saber que tudo está perdido... 

SAQUEADOR Por favor!... 

IAGO Vai pro inferno, desgraçado! 

Iago atravessa o saqueador com as duas espadas. Com o olhar vazio, o homem cospe sangue e cai secamente no chão. 

Maya se assusta com uma mão que agarra sua perna: é o saqueador que havia sido pisoteado. Iago então vai até o homem caído, pega-o pelas vestes e o arrasta. Passa por aquele que teve a mão cortada e o agarra também. Ele leva os dois homens, que gritam e esperneiam, na direção de uma ribanceira logo ali. 

Segismundo está adorando o que vê; seu olhar brilha. 

Iago chega na beira da ribanceira e solta um deles. Pega o outro, o levanta e o joga dali de cima. O homem rola, bate nas pedras e cai morto lá embaixo. O outro, apavorado, grita. 

SAQUEADOR 4 Não, não, por favor!!! Por favor, não!!! Não!!! 

IAGO Shh! Shhh!!! Shhh!!! Escute! 

Assustado, o saqueador para de gritar. 

SAQUEADOR 4 O quê?... 

IAGO O som de estrume caindo. 

Iago ergue o homem e o joga dali. Ele nem rola pela ribanceira, apenas cai lá no fundo, morrendo na hora. Cansado, Iago expira e cai de joelhos, olhando os dois lá embaixo. Maya chega ali correndo e o abraça. 

MAYA Iago, Iago! Você está bem?! 

IAGO Sim, sim, meu amor! Estou bem... E você? 

MAYA Não fui atingida, mas... Meu coração está muito acelerado... 

IAGO Desgraçados!... 

MAYA Calma, calma... Já acabou... 

Maya ajoelha ao lado de Iago e abraça o marido, que também a abraça. Tamires se desvencilha dos braços de Segismundo. 

TAMIRES Sai, sai! Me solta!!! 

Segismundo mal percebe Tamires, está encantado com o cenário ali na frente. Olha boquiaberto para os corpos e para Iago, abraçado com Maya. Tamires nota seu estado e o observa com mais atenção. 

SEGISMUNDO Nós... precisamos daquele homem na Caravana... Imediatamente! 

Ainda olhando para ele, Tamires sorri. Finalmente Segismundo quer o mesmo que ela. Ele, por sua vez, continua hipnotizado. 

 

CENA 03: EXT. BELÉM – RUA – DIA 

Boaz, Josias e um grupo de jovens termina de orar. 

BOAZ— Amém! 

TODOS Amém! 

Eles se levantam. 

BOAZ Obrigado a todos por terem vindo. Acho muito importante que nos unamos em tempos como esses, principalmente nós, com a vida toda pela frente. Somos nós que herdaremos essas terras... Enfim, é isso. Que Deus recompense a cada um. Shalom! 

TODOS Shalom! 

Um a um, os jovens passam por Boaz e o saúdam. Por último, vem uma moça. Ao vê-la, o olhar de Boaz brilha. Ela também o olha com certo interesse... 

BOAZ Shalom... 

MOÇA Shalom... Boaz, certo? 

BOAZ (sorrindo) Isso! Boaz... E você? 

MOÇA Meu nome é Magda. 

BOAZ Magda... Tão lindo quanto a dona. 

Magda sorri. Boaz então olha para Josias. Nesse meio-tempo, Magda olha para as vestes e os apetrechos valiosos que Boaz usa, parece muito interessada no ouro. Quando Boaz volta a olhá-la, ela desvia o olhar e o fita nos olhos. 

BOAZ Posso acompanha-la, Magda? 

MAGDA Seria um prazer, Boaz. Me dê essa honra. 

Boaz sorri empolgado e sai com Magda. Josias fica ali, observando-os e sorrindo. 

 

CENA 04: INT. CASA DE LEILA – SALA – DIA 

Elimeleque continua, simultaneamente, a cuidar a loja e a prestar atenção na explicação de Rute, na mesa. Noemi, Leila, Malom e Quiliom escutam atentíssimos. 

RUTE E... é isso. 

Por alguns segundos eles não dizem nada, parecem absorver tudo o que ouviram. 

Noemi quebra o silêncio. 

NOEMI Quer dizer então que vocês, sacerdotisas, querem servir ao Deus de Israel. 

RUTE Sim. 

Orfa fica quieta, não responde nada. 

NOEMI Você tem de concordar comigo que isso é muito repentino. Essa mudança só por conhecer os meninos... 

RUTE O incômodo que eu sinto naquele lugar já vem de muito tempo, senhora. Malom me contando todas essas coisas foi apenas um novo horizonte que surgiu, a possibilidade de uma segunda chance para uma alma angustiada. E há também a possibilidade de salvar Aylla...

Leila mexe muito as mãos, parece nervosa. 

LEILA O problema é que isso atrairia o perigo para a minha casa. Esconder, aqui, uma oferenda aos deuses, do próprio rei... 

RUTE Do Sumo Sacerdote. 

LEILA Ainda que seja! 

RUTE É a única chance que eu tenho de salvar a menina de uma morte cruel e injusta!... 

MALOM Eu concordo. 

QUILIOM Eu também, sem dúvidas! 

Noemi, Leila e Elimeleque pensam. Orfa e Rute os observam. 

ELIMELEQUE Quando isso seria? O resgate da menina. Imagino que queiram raptá-la. 

RUTE Perdão por corrigi-lo, senhor, mas é “resgatá-la”. Aylla não pertence àquelas pessoas. Gostaria que fosse feito na noite de amanhã. 

Todos ali se olham. Noemi e Elimeleque trocam olhares, mas nada conclusivo. Elimeleque vira de vez para a mesa, deixando as costas para a loja e para a rua. 

ELIMELEQUE Pois bem. Para isso precisaremos de um plano. 

ORFA Sim. 

RUTE (um pouco mais aliviada) Ótimo! 

Elimeleque respira fundo, se aproxima da mesa e se senta. Todos prontos para discutirem o plano. 

 

CENA 05: EXT. BELÉM – RUA – DIA 

Salmon e Raabe chegam onde está Josias. 

SALMON Josias... 

JOSIAS Senhores. 

SALMON Você viu Boaz? 

JOSIAS Olhem lá... 

Salmon e Raabe olham para onde Josias aponta, e veem Boaz e Magda caminhando devagar. 

RAABE Quem é a moça? 

JOSIAS Não sei seu nome, mas Boaz a conheceu há pouco. Ela estava na oração da mocidade. Faz tempo que saíram, mas caminham muito devagar. (rindo) Estão aproveitando cada momento pra conversarem... 

Salmon e Raabe fazem que sim e continuam a observar seu filho. Lá, Boaz conversa com Magda. 

MAGDA Eu sei que nos conhecemos há pouco, mas... E se voltarmos e irmos para sua casa? Você pode me apresentar sua família... 

BOAZ Para minha casa? 

MAGDA Sim... Algum problema, Boaz? Eu não devia-- 

BOAZ (interrompendo) Não, não, claro que não. Podemos ir lá sim, sem dúvidas. Vamos voltar, então. 

Magda sorri satisfeita e eles voltam. Boaz para ao se aproximarem de seus pai e Josias. 

BOAZ Magda, deixe-me apresenta-los. Salmon, meu pai, e Raabe, minha mãe. Meus pais, essa é Magda, minha amiga... 

SALMON É um prazer. 

RAABE Como vai? 

Eles apertam a mão de Magda. 

MAGDA O prazer é todo meu, senhores. É uma honra conhecer a senhora. 

Raabe sorri. 

SALMON Então, vamos para casa... Você aceita? 

MAGDA Claro, senhor. (sorrindo) Na verdade Boaz já havia me convidado, e eu aceitei a honra... 

Salmon e Raabe olham para Boaz. 

BOAZ É, foi... Pois vamos. 

Salmon faz que sim e eles caminham. 

MAGDA Onde fica a casa de vocês? 

BOAZ Ah, acho que daqui dá para ver... Naquela outra rua, aquela alta... 

MAGDA Oh, é como imaginei... Bela, imponente... Parece linda. 

Boaz sorri e eles continuam a caminhar. 

 

CENA 06: INT. CASA DE LEILA – SALA – DIA 

Noemi, Elimeleque, Leila, Malom, Quiliom, Rute e Orfa sentados ao redor da mesa. 

NOEMI Muito bem. Temos o sentimento de revolta de vocês, o plano de resgate da menina... Mas e o que será depois? Se foram tocadas pelo Deus de Israel, como continuarão a servir aos deuses de Moabe? Como é que continuarão a ser sacerdotisas? 

Rute e Orfa se entreolham. 

RUTE Eu quero abandonar essa vida. Quero abandonar tudo. 

Noemi arqueia as sobrancelhas levemente e a observa. 

MALOM Podemos nos casar. 

Noemi olha com leve desaprovação para Malom e Elimeleque se mexe incomodado. 

ELIMELEQUE Vocês são jovens. E mal se conhecem... 

MALOM Mas eu não falei de nos casarmos agora, pai. Teremos tempo de nos conhecer melhor. 

Malom sorri para Rute, que o olha com carinho. Orfa e Quiliom trocam olhares de cumplicidade. 

NOEMI Nós podemos ver esse assunto depois. 

ELIMELEQUE Sim. Vamos nos concentrar no resgate de Aylla. 

Todos concordam. 

 

CENA 07: INT. CASA DE SEGISMUNDO – SALA – DIA 

Segismundo e Gael estão à frente de todos os homens da Caravana da Morte. Tamires está sentada em um canto. 

SEGISMUNDO Vocês partirão em busca de pistas do paradeiro da família de Elimeleque e Noemi. Gael, você ficará responsável por lidera-los e comandá-los nessa missão. 

GAEL Entendido. 

SEGISMUNDO Podem ir. 

Os homens se espalham pegando suas coisas. Segismundo se aproxima de Tamires e ela se levanta. 

TAMIRES Eu só não me vingarei de você por ter me prendido em seus braços e por não ter agido no ataque dos saqueadores porque, primeiro, eles estão bem, e segundo, está sendo um prazer ver você pagar com a língua. Agora vai ficar atrás de Iago feito uma raposa faminta atrás de uma galinha gorda. 

SEGISMUNDO Quero que me diga tudo o que sabe sobre Iago. Vou mesmo atrás dele. Vamos, me conte tudo! 

Tamires sorri em tom de zombaria. 

TAMIRES Fique tranquilo, Segismundo, eu te contarei. 

 

CENA 08: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA 

Conforme o dia vai passando, Malom, Quiliom e Elimeleque discutem o plano, se preparam... Noemi e Leila os observam apreensivas. 

 

CENA 09: EXT. TEMPLO – PÁTIO – DIA 

Rute e Orfa caminham falando sobre o plano. Apontam os locais que lhes interessam, fazem sinais das rotas, se preparam... 

 

CENA 10: EXT. BELÉM – ARREDORES – DIA 

O dia passa, a noite chega e o dia seguinte nasce. 

Quase 5 dezenas de soldados marcha com vigor na direção do portão de Belém. A população aguarda ansiosa na entrada. Parado no caminho está o Ancião, com olhar alegre. Liderado pelo COMANDANTE, os soldados se aproximam e param próximos do Ancião. 

ANCIÃO (abrindo os braços) Sejam bem-vindos a Belém! 

O comandante sorri e faz um aceno discreto com a cabeça. Perto dali, Segismundo assiste a movimentação. Então sai. 

 

CENA 11: INT. HOSPEDARIA – DIA 

Segismundo entra e olha todas as mesas. Nota Iago, com sua taça de vinho, sentado quieto em uma, e se aproxima. 

SEGISMUNDO Licença. 

Iago o olha e volta a encarar o nada. Segismundo senta na outra cadeira. 

SEGISMUNDO Dias difíceis... 

Iago faz que sim devagar. 

SEGISMUNDO Você não deve saber quem eu sou. Eu me cha-- 

IAGO (interrompendo) Segismundo. Líder da Caravana da Morte. 

Segismundo olha discretamente para as pessoas ao redor, conferindo se ninguém escutou, e de volta para Iago. 

SEGISMUNDO Você sabe que são muitos os perigos. Os animais agem assim... Juntos. A proteção é maior, mais eficiente... Todos ganham. 

IAGO Eu não vou participar da Caravana. 

SEGISMUNDO Por que a recusa? 

IAGO Por que deveria aceitar? Já hospedo a criadora de tudo, e ela me paga. 

SEGISMUNDO E ela pode continuar te pagando. Mas você pode conseguir muito mais, Iago, se também ir pessoalmente. Pense no futuro, homem. Logo terá mais uma boca para alimentar. 

Ao dizer isso, Iago olha para Segismundo. Encara-o por alguns segundos, e volta a encarar o nada. 

IAGO A resposta é não. Está perdendo seu tempo. 

Iago então se levanta e vai embora. Segismundo fica ali, frustrado. 

 

CENA 12: EXT. BELÉM – RUAS – DIA 

Iago passa pela população que, empolgada, assiste à passagem dos soldados pela rua principal. Ele se aproxima dessa e para, observando-os. Atrás dos homens vem o Ancião e Tani. 

TANI Finalmente, senhor! Finalmente teremos um pouco de sossego nessa cidade! 

ANCIÃO Esse é o objetivo da presença deles, Tani! Espero que tenhamos sucesso com isso. 

TANI Teremos sim, senhor. Se Deus quiser vai dar tudo certo! 

Eles continuam a caminhar. O Ancião passa na frente dos soldados e os guia para a praça. 

 

CENA 13: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA 

Momentos mais tarde, o Ancião e o Comandante estão à frente dos soldados e da população, que lota a praça e as ruas ao redor. Tani ali perto. 

ANCIÃO Eu gostaria de, mais uma vez, dar as boas-vindas aos nossos irmãos de Hebrom, que mesmo com a crise assolando toda Israel, aceitaram marchar até Belém para nos socorrer de um mal tão sórdido. Enfim, bem-vindos! E palmas para a coragem, determinação e lealdade desses homens! 

Todos os belemitas, felizes, batem palmas para os soldados. 

ANCIÃO Muito bem. A partir de hoje esses homens guardarão o nosso portão, circularão por nossas ruas e farão rondas à noite. Tenho certeza que cada belemita poderá contar com eles, mas, por favor, respeitem esses homens. 

Momentos depois, a população se dispersa. Perto dali estão Boaz e Magda. 

MAGDA Ah, ainda bem que agora teremos soldados nos protegendo... Há tempos não tenho o menor ânimo em sair sozinha da cidade. 

Boaz a olha de forma diferente. 

MAGDA O quê, Boaz? 

BOAZ Magda, eu... eu tenho algo pra te pedir. 

MAGDA Pedir? Peça, pode me pedir tudo, Boaz. 

Boaz ajoelha um dos joelhos. 

BOAZ Magda, você aceita ser minha namorada? 

Magda sorri e tampa a boca com as mãos. 

MAGDA Boaz!... 

BOAZ Aceita, Magda?! 

MAGDA Claro! Claro, Boaz! Levante! 

Boaz se levanta e a abraça. 

MAGDA Vamos comemorar! Podemos beber algo na sua casa! 

BOAZ Não tenho certeza se temos vinho, mas— 

MAGDA (interrompendo) Não tem importância! Não importa o que vamos beber, importa que agora somos namorados! 

Boaz sorri e ela o beija. Um beijo meio desengonçado que logo acaba. Boaz olha ao redor um tanto envergonhado, mas Magda o puxa e eles vão. 

 

CENA 14: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA 

Noemi, Elimeleque e Leila sentados. Malom e Quiliom ajeitam suas vestes. 

NOEMI E se elas estiverem inventando tudo isso apenas para se aproveitarem?... 

MALOM Se aproveitarem? Como é que sacerdotisas vivendo no luxo e no conforto podem querer se aproveitar de meros plebeus? 

NOEMI Não digo nesse sentido, mas no sentido de salvar Aylla. E se estiverem usando a crença no nosso Deus para que as ajudemos a resgatar a menina? 

QUILIOM Me desculpe, mãe, mas isso não faz sentido. 

NOEMI Vocês acham que elas gostam de vocês? Assim como gostam delas? 

Malom e Quiliom se entreolham e olham para Noemi. 

MALOM Por que não? 

QUILIOM Está na hora, Malom. 

Noemi fica mais aflita. 

MALOM Pois vamos. 

QUILIOM Mãe, pai, Leila... Shalom. 

LEILA, ELIMELEQUE Shalom. 

NOEMI Shalom, meus filhos. Paz, muita, muita paz! Vocês precisarão e eu também... Não sei o que eu faria se acontecesse alguma coisa com vocês dois!... 

MALOM Fique tranquila, minha mãe. Nossa missão é nobre. 

QUILIOM Fiquem firmes e atentos. Precisaremos disso para que nos recebam com a menina. 

ELIMELEQUE Estaremos aqui, prontos. 

MALOM Shalom. 

Malom e Quiliom saem para a rua e sobem a ladeira. Noemi fecha os olhos e respira fundo. Em seguida olha para Leila. 

NOEMI Leila, vamos orar todos juntos? 

LEILA Será um prazer, Noemi! Falar com o Deus de Israel... Vamos, vamos agora! Ali na sala... Vocês podem me ensinar a falar com Ele. 

Eles se levantam e vão. 

 

CENA 15: INT. TEMPLO – CORREDOR – DIA 

Rute e Orfa estão com Aylla. Rute olha para os dois lados, certificando-se de que estão sozinhas, e olha para Aylla. 

RUTE Aylla, faça o que eu te pedi, exatamente como falei. Não durma, entendeu bem? E fique próxima da janela do seu quarto. 

AYLLA Eu entendi, senhora Rute. O que não entendo é o motivo. 

RUTE Apenas faça isso. Você não confia em mim? 

AYLLA Confio, senhora. E na senhora Orfa também. 

RUTE Pois bem. Posteriormente você entenderá. 

AYLLA Está bem. 

RUTE Pode ir. 

AYLLA Com licença. 

Aylla dá meia volta e sai. 

RUTE Está quase na hora. Vou conferir o número de guardas. 

ORFA Tudo bem. 

Rute sai por outro lado e Orfa a observa se afastar. Depois de um bom tempo, Orfa toma a direção contrária. 

 

CENA 16: INT. TEMPLO – SALA DE FARUK – DIA 

Orfa chega ali discretamente. Olha no interior da sala, está vazia. 

Então ela entra, vai direto na mesa, pega um pergaminho, uma pena, a molha na tinta e escreve energicamente. Nisso, IMAGEM CONGELA. 

 

CONTINUA...

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