CAPÍTULO 27
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Capítulo 41 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 1: INT. CASA DE LEILA – LOJA – NOITE
Noemi, Elimeleque, Leila e Aylla estão por ali, mas mantém certa distância de Rute e Orfa, mais próximas da entrada. Orfa tenta se explicar com a amiga.
ORFA— O meu motivo, Rute, foi que eu não acreditei na sua visão sobre Faruk... A vida toda vendo o Sumo Sacerdote com bons olhos... Insisti em acreditar que ele fosse um bom homem, incorruptível, que trabalhava em prol do rei... Não imaginava o monstro que ele poderia ser...
RUTE— Eu te contei, Orfa!... Eu te contei o que vi no santuário, o que presenciei! Por pouco não fui descoberta!
ORFA— Pensei que poderia ter sido um equívoco da sua parte, Rute... Uma má interpretação, algo do tipo! Eu sei, eu vejo agora o quanto eu estava errada...
RUTE— Viu o que nos custou, não é? Uma perseguição mortal! Um tropeço no telhado, um esbarrão errado, um desequilíbrio naquele maldito muro e não estaríamos aqui agora! Aylla poderia estar morta e tudo teria sido em vão!!!
Noemi, Elimeleque e Leila se entreolham.
ORFA— Me perdoe, Rute, me perdoe!
Orfa então se joga ao chão e se inclina aos pés de Rute.
ORFA— Do mais profundo da minha alma eu peço que me perdoe, minha amiga! Jamais foi minha intenção te prejudicar! Eu vou retribuir todo o mal que causei! Serei tua serva, Rute! Te servirei todos os dias da minha vida!
Rute franze o cenho.
ORFA— Não, não! Serva não é o suficiente! Serei sua escrava! Sua escrava para todo sempre!
Confusa, Rute a observa no chão.
CENA 2: INT. HOSPEDARIA – NOITE
Iago, desacordado e debruçado sobre a mesa. Começa a se mexer e, pouco a pouco, se levanta. De trás do balcão, o dono o nota, um tanto aflito.
Confuso, Iago olha para os lados. Poucas pessoas ali... Leva as mãos à cabeça, está doendo... De repente, um homem vem correndo da rua e entra.
HOMEM— Pegando fogo! Pegando fogo! Uma casa está pegando fogo!
O homem olha ao redor, procurando, até que nota Iago; se aproxima correndo.
HOMEM— Você! Sua casa! Sua casa, homem! Está pegando fogo sua casa!!!
Assustado, Iago agarra o homem pelas vestes! Por alguns segundos o encara.
IAGO— Maya...
Então Iago solta o homem e sai correndo.
CENA 3: EXT. CASA DE IAGO – ARREDORES – NOITE
Iago vem correndo. Vários curiosos assistem sua casa queimar. Uns poucos moradores jogam água nas chamas, mas em vão. O incêndio é intenso. Iago passa pelos curiosos e para. Observa, quase incrédulo, sua casa arder.
IAGO— Maya!!!
Iago então corre até a porta, mas o fogo é intenso demais para ele se aproximar.
Perto dali, escondido em um beco, Gael assiste o desespero de Iago.
Esse joga vários baldes de água nas labaredas da entrada, mas nada adianta. Ele está cansado, suado e desesperado. É quando cai de joelhos e grita amargamente.
IAGO— AaaaaaaaAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHH!!!!!!
Gael sai do beco e caminha na direção da casa. Passa pelas pessoas e se aproxima de Iago por trás.
GAEL— Iago... Eu sinto muito...
Com os olhos marejados e o rosto encharcado, Iago, apesar de olhar para as chamas, encara o nada. Atrás dele, Gael o observa com paciência.
Pouco a pouco, Iago vai abaixando o rosto e o olhar... É quando ele vê o pedaço rasgado da veste de Gael. O tecido, apesar do chute, não fora atingido pelas chamas; está intacto.
Iago encara o fragmento, franze o cenho, desconfia... Ainda descontrolado, ele estica o braço e pega. Gael finalmente percebe que o fogo não queimou o pedaço e que está na mão de Iago... Ele se preocupa, se ajeita, abre a boca, olha para os lados... e volta a observar Iago, ajoelhado no chão.
Iago encara o tecido com o cenho franzido. Então um flash de lembrança na hospedaria vem à sua mente, e ele se lembra da roupa de Gael.
Devagar, Iago vira o rosto e olha para Gael. Nota o buraco na roupa do homem.
GAEL— Iago...
IAGO— Eu vou acabar com você!
Imediatamente Iago se levanta e tenta acertar o rosto de Gael, que desvia por pouco. Outra tentativa, outro desvio, outra tentativa, outro desvio. Gael dá um empurrão no peito de Iago, que derrapa para trás.
As pessoas por ali observam confusas.
GAEL— Você não está entendendo as coisas direito, Iago!
IAGO— AAAHHH!!!
Iago volta a atacar e os dois lutam corporalmente. Socos, golpes, empurrões, bloqueios... Furioso e quase irracionalmente, Iago segura o braço de Gael e mete-lhe um chute no estômago. Gael é arremessado na parede e cai entre alguns vasos. Iago estala o pescoço e se prepara para se aproximar com um golpe fatal. Gael então pega um vaso ao seu lado, esconde atrás de si e se levanta. Iago volta a atacar. Gael bloqueia o que pode e finalmente quebra o vaso na cabeça de Iago que, ensanguentando, cai desacordado. Algumas pessoas gritam assustadas.
Soldados hebreus chegam ali. Olham do incêndio para a cena pós-luta.
GAEL— (para os soldados) É meu amigo, sua casa pegou fogo... Ele não está bem, por tudo que aconteceu... Não está aguentando...
UM DOS QUE JOGAM ÁGUA— A mulher dele estava na casa!...
Gael olha do homem para o incêndio, e dali para o homem.
GAEL— Continuem a jogar água. Vou procurar ajuda para o meu amigo.
Alguns soldados começam também a jogar água nas chamas, enquanto outros ajudam Gael a levantar Iago do chão. Ele faz um sinal de agradecimento para eles e sai carregando-o.
CENA 4: INT. CASA DE LEILA – LOJA – NOITE
Rute, confusa, observa Orfa inclinada aos seus pés.
RUTE— Orfa!... Pare com isso, levante-se! Vamos, levante-se agora!
Orfa olha para cima, para os olhos de Rute.
RUTE— Vamos, vamos...
Orfa se levanta e põe-se de pé.
RUTE— Tudo que você falou... é verdade?
ORFA— Tudo, Rute. Tudo.
RUTE— O que pensou que Faruk faria comigo?
ORFA— Imaginei... que ele fosse lhe aplicar uma advertência, algo do tipo... Nada muito além disso, Rute.
Rute faz que não.
RUTE— Então você realmente não conhece o Sumo Sacerdote.
Quiliom se aproxima delas. Orfa se atenta a ele.
ORFA— Me perdoe, Quiliom...
QUILIOM— Se sua amiga perdoou...
Quiliom olha para Rute, que faz que sim.
QUILIOM— ...então eu também te perdoo.
Orfa sorri minimamente.
ORFA— Não sou digna de estar com vocês...
RUTE— Pare de dizer isso, Orfa, por favor... Já passou, deu tudo certo. Estamos em paz, agora.
ORFA— Será, Rute? Será que Faruk cumprirá sua parte do acordo? Será que convencerá o rei?
Rute encara a rua.
RUTE— Para o nosso bem e o dele, espero que sim...
CENA 5: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – NOITE
A comemoração do aniversário do rei já está cansada. Zylom, sentado em seu trono, bebe vinho tranquilamente quando vê Faruk, cabisbaixo, adentrar o salão e se aproximar.
ZYLOM— Que postura é essa, Sumo Sacerdote?
Faruk se aproxima, para e faz uma reverência.
FARUK— Com sua licença, meu rei.
ZYLOM— O que está acontecendo, Faruk?
FARUK— (encarando o chão) Eu... tenho algo importante a lhe dizer, meu senhor.
Zylom franze o cenho.
ZYLOM— Pois diga.
Faruk então olha para o rei. Zylom o encara diretamente nos olhos.
FARUK— Infelizmente tivemos baixas no corpo do sacerdócio... As sacerdotisas... Rute e Orfa... abandonaram o sacerdócio.
Zylom muda o semblante completamente e se levanta.
ZYLOM— O quê???!!!
FARUK— Elas deixaram tudo para irem morar na cidade, pra se casarem com plebeus.
Zylom, abismado, dá uma volta completa sem sair do lugar.
ZYLOM— Pois vão agora mesmo buscar essas traidoras!!!
FARUK— Creio que não seja uma boa ideia, meu senhor...
ZYLOM— Como é, Faruk?! Enlouqueceu?! Você deveria ser o primeiro a se revoltar com tamanho descaso!!!
FARUK— Meu soberano... Rute e Orfa não fizeram isso de forma a afrontar o rei, ou aos deuses... Mas porque seus corações já não estavam aqui.
ZYLOM— Como ousam?!
FARUK— O respeito por tudo que usufruíram e viveram foi tão grande que elas deixaram uma significativa contribuição para o templo, como forma de reparar eventuais prejuízos.
Zylom, um tanto revoltado, se movimenta bastante.
ZYLOM— Você tem certeza que não quer que a busquemos?! Os soldados partem agora mesmo!
FARUK— Não vejo a menor necessidade, soberano. E, acredite, isso nada tem a ver com a grande estima que tenho por elas, e elas por mim. Além disso, poderão ser substituídas imediatamente pelas aspirantes ao cargo. Vou comunicar Myra o quanto antes.
Apesar da revolta, Zylom parece estar aceitando. Então volta a se sentar.
ZYLOM— Apesar de tudo, Rute e Orfa não levarão nada do templo. Se escolheram viver como plebeias, terão apenas coisas plebeias.
FARUK— Já as informei quanto a isso, meu senhor.
Não completamente satisfeito, Zylom faz que sim.
ZYLOM— E Aylla?
Faruk respira fundo, buscando palavras.
FARUK— Um... imprevisto aconteceu. Aylla está morta, senhor.
ZYLOM— Quê???!!!
FARUK— Uma intoxicação, provavelmente por causa de alimentos estragados, atingiu algumas das candidatas que, infelizmente, partiram para a outra vida. Entre elas estava Aylla. Que os deuses as recebam de braços abertos...
ZYLOM— Quantas perdas, Faruk! Em um só dia!!!
FARUK— Meus pêsames, senhor.
ZYLOM— Aylla nos daria um grande futuro... (respira fundo) O que posso fazer se os deuses não quiseram me ajudar?!
Alguns segundos de constrangimento em que Faruk não sabe se fala ou não.
Por fim, fala.
FARUK— (reverenciando) Com sua licença.
Zylom nem olha para Faruk, que se afasta.
FARUK— (murmurando; para si) Malditas!...
CENA 6: EXT. BELÉM – BECO – NOITE
Carregando Iago desacordado pelos braços, Gael chega em um beco e, cansado, deixa o homem cair encostado na parede.
Gael então pega o frasco de suas vestes, abre a boca de Iago e despeja uma boa quantidade. Depois mexe a cabeça dele para que engula o conteúdo.
GAEL— Vamos... Engula tudo... Não pode se lembrar de nada...
Constatado que Iago engoliu todo o líquido, Gael mais uma vez levanta Iago pelos braços e vai.
CENA 7: INT. CASA DE LEILA – SALA – NOITE
Reunidos em volta da mesa, Noemi, Elimeleque, Leila, Aylla, Malom, Quiliom, Rute e Orfa conversam descontraidamente.
MALOM— Ainda consigo sentir a emoção de tudo o que aconteceu!...
QUILIOM— Por causa disso, acho que nem vou dormir essa noite...
RUTE— Provavelmente nem eu!
ORFA— Dormindo ou não dormindo, a casa está cheia... Leila vai se sentir incomodada.
LEILA— Que incomodar!... Vocês falando de dormir e eu me perguntando se não sou eu quem está dormindo e isso tudo não passa de um sonho...
NOEMI— Leila e suas indagações se não é sempre tudo um sonho...
Eles riem.
LEILA— Mas é verdade, Noemi... Veja só. Há algumas luas era só eu e o meu desânimo... Agora tenho hebreus e as sacerdotisas do reino sentados comigo na minha sala!
RUTE— (rindo) Ex-sacerdotisas...
LEILA— (rindo) Ex, ex, isso...
AYLLA— Estão esquecendo de mim...
LEILA— Ah, minha menina, ninguém esquece de você, não... É que o seu caso é mais... complicado de lembrar...
AYLLA— Não precisa ter vergonha de dizer que eu ia ser sacrificada, senhora Leila...
Eles todos riem.
LEILA— Você é muito é inteligente, Aylla. Uma menina incrível... que não precisa me chamar de “senhora”.
AYLLA— Tudo bem...
ELIMELEQUE— Mas casa cheia incomodando ou não, logo não será mais assim. Amanhã mesmo vou procurar uma casa para nos mudarmos.
MALOM— E Quiliom e eu logo nos casaremos e também teremos nossas casas.
LEILA— Como podem?... Vão me deixar sozinha de novo, é isso?
Eles riem.
NOEMI— Estaremos sempre por perto...
Leila então parece surpresa.
LEILA— Aaahhh, acabou de me ocorrer um negócio... A vizinha do fundo estava com intenção de vender a casa. Se vocês a comprassem, de fato estariam sempre perto...
ELIMELEQUE— (para Noemi) Parece interessante...
NOEMI— Vamos ver amanhã.
LEILA— Mas hoje... (sorrindo) todos dormindo aqui! Na minha casa!
NOEMI— Com todo o prazer.
LEILA— (para Rute e Orfa) Só não se importem de dormirem na sala... No chão...
RUTE— Imagine, senhora Leila!...
ORFA— De forma alguma.
AYLLA— Finalmente vou poder dormir tranquilamente com a senhora Rute!...
RUTE— “Rute”, Aylla... Só “Rute”.
AYLLA— Rute...
Riem.
RUTE— Não é difícil...
LEILA— Então vamos arrumar as coisas, já está tarde. Se quiserem continuar conversando, tudo bem. Vamos só ajeitar as coisas antes.
Eles se levantam descontraídos. Rute sorri para Malom, que sorri para ela. E Orfa e Quiliom trocam olhares apaixonados.
CENA 8: INT. CASA DE BOAZ – SALA – NOITE
Boaz e Josias sentados à mesa enquanto Salmon e Raabe dobram tecidos.
BOAZ— Confesso que estou me esforçando, mas não consigo ter nenhuma ideia... O que dar de presente de 1 dia de namoro, Josias?!
JOSIAS— Não faço a menor ideias, Boaz.
Salmon e Raabe parecem estranhar.
SALMON— Por que você não confecciona algo?... Um objeto bonito, que a faça se lembrar de quando começaram a namorar... Feito de coração... Valerá mais que qualquer coisa cara comprada.
Boaz parece pensar na situação.
BOAZ— Tem razão, meu pai... Vou fazer exatamente isso.
Salmon sorri e se levanta para levar uma pilha de tecidos.
Fora do campo de visão dos outros, e enquanto se afasta, os pés de Salmon parecem fraquejar, fazendo com que ele desequilibre. Só não cai porque se segura em um móvel. Ele se ajeita e olha para trás, se certificando que ninguém viu. Então respira fundo e continua o que estava fazendo.
CENA 9: INT. CASA DE SEGISMUNDO – SALA – NOITE
Da sala, Segismundo vê Gael, lá fora, lhe fazer um sinal. Segismundo entende, manda todos saírem e despede Tamires, que vai embora.
Momentos depois, Gael entra na casa carregando Iago, ainda desacordado.
SEGISMUNDO— (ajudando-o) O que aconteceu? Ele está ferido...
GAEL— Precisei colocar ele pra dormir... Vamos deitá-lo.
Eles o deitam num amontoado de tecidos num canto e Gael conta tudo o que aconteceu.
GAEL— Pela dose que ele tomou, não se lembrará de nada.
SEGISMUNDO— Muito obrigado, meu amigo. Tenho certeza que valerá a pena.
Gael faz que sim.
CENA 10: EXT. CASA DE IAGO – ARREDORES – NOITE
Tamires vem caminhando tranquilamente pela rua quando nota o amontoado de pessoas logo à frente. Ela estranha.
Se aproxima e percebe que estão próximos à casa de Iago. Então ela finalmente vê a casa ardendo em chamas. Soldados e alguns moradores ainda tentam apagar o fogo. Tamires arregala os olhos. Sua boca se abre de espanto. Corre e para novamente, mal acreditando no que vê. Olha para uma mulher.
TAMIRES— O que aconteceu?! Como foi?! Eu moro aí, por que a casa pegou fogo???!!!
MULHER— Ninguém sabe ainda o que aconteceu--
TAMIRES— (interrompendo) Meus amigos!
MULHER— Tinha um homem, o dono... Ele não estava bem, mas já levaram--
TAMIRES— (interrompendo) E a mulher?! E Maya???!!!
A mulher respira fundo.
MULHER— Estão dizendo que havia uma mulher dentro...
TAMIRES— Não... Não... Não, não, não, não, não, não...
Tamires, em choque, olha para o incêndio.
TAMIRES— Não, não pode ser, não pode ser...
Tamires se aproxima dos que jogam água.
TAMIRES— Não, Maya não, Maya não!...
Tamires se aproxima de um balde.
TAMIRES— Não!!!
As lágrimas começam a brotar de seus olhos.
TAMIRES— Não!!! Maya não!!! Maya não!!! AAAHHH!!!
Desesperada, espantada, em choque, ela pega o balde e começa a jogar água nas chamas descontroladamente.
ALGUÉM— Ela não está bem!
OUTRO— Tirem ela daí!
TAMIRES— NÃO!!! NÃO!!! NÃO!!! MAYA!!!
Alguns soldados se aproximam dela e tentam pará-la, mas ela insiste, gritando e jogando água na casa. Os homens então a seguram com mais força e a imobilizam. Tamires, presa, chora compulsivamente. Lágrimas, suor e saliva se misturam em seu rosto de amargura.
TAMIRES— MAYA!!!
CENA 11: INT. CASA DE SEGISMUNDO – SALA – NOITE
Segismundo e Gael abrem a porta. Os homens da Caravana estão ali fora, aguardando. Um deles se aproxima.
MEMBRO— Senhor...
SEGISMUNDO— Diga.
MEMBRO— Parece que uma casa está em chamas... Daquele canto dá para ver o fumaceiro.
SEGISMUNDO— (cínico) Mesmo?
MEMBRO— Sim, e é naquela direção... Direção onde mora Tamires, nossa senhora.
SEGISMUNDO— Há muitas casas naquela direção. Em todas as direções!
MEMBRO— Mas talvez valha conferir...
Segismundo olha para Gael, que faz que sim.
SEGISMUNDO— Claro que ia sobrar para mim. Fique aqui, cuide do nosso amigo.
Segismundo sai e Gael olha para Iago, ainda deitado no canto.
CENA 12: EXT. CASA DE IAGO – ARREDORES – NOITE
Com alguns soldados e moradores em volta, Tamires chora sentada no chão.
Segismundo a vê e se aproxima. Toca-a delicadamente no ombro.
SEGISMUNDO— Tamires...
Tamires continua a chorar. Segismundo então ajoelha ao lado dela e a abraça.
SEGISMUNDO— Vai ficar tudo bem... Vai ficar tudo bem...
TAMIRES— Ela era minha amiga!... Única amiga...
Segismundo encara o nada enquanto acaricia a cabeça de Tamires.
TAMIRES— Estava grávida... (chora) Grávida... depois de muito tempo...
SEGISMUNDO— Calma... Calma...
Tamires olha nos olhos de Segismundo.
TAMIRES— Que monstro seria capaz de fazer isso?!
SEGISMUNDO— Não se preocupe... Nós cuidaremos disso depois... Chore, Tamires, você precisa...
Segismundo a abraça novamente e ela chora copiosamente.
CENA 13: INT. CASA DE LEILA – QUARTO DE NOEMI – NOITE
Noemi e Elimeleque deitados, prontos para dormir.
NOEMI— Já perdi a conta de quantas coisas perigosas aconteceram com nós desde que saímos de Belém...
ELIMELEQUE— É o preço por se mover, ir adiante, em busca de coisas novas, de uma vida nova...
NOEMI— Uma vida de aventura.
Elimeleque ri.
NOEMI— Mas é o que está sendo a nossa vida, Elimeleque...
ELIMELEQUE— É um modo de se ver.
NOEMI— Apesar de tudo... confesso que temo uma retaliação do rei. Não estaríamos muito bem nessa situação, nem mesmo somos moabitas...
ELIMELEQUE— Mas temos um poder maior que qualquer poder terreno: o Senhor, nosso Deus.
Noemi sorri.
NOEMI— Tem razão, meu amor. Eu, melhor que ninguém, deveria saber disso.
ELIMELEQUE— Vai ficar tudo bem.
Sorrindo para ela, Elimeleque a acaricia. Malom e Quiliom abrem a porta e entram.
MALOM— Foram muitos perigos, e o risco era alto... Mas esse dia está marcado na minha vida!
QUILIOM— Tudo valerá a pena--
MALOM— (interrompendo) Quando nos casarmos!
QUILIOM— Claro!
Eles riem. Noemi e Elimeleque os observam.
NOEMI— Já vão dormir?
MALOM— Se conseguirmos...
QUILIOM— Se bem que aquele quarto é muito confortável. Como que Leila podia usá-lo apenas como depósito?...
MALOM— Shalom, mãe, pai.
QUILIOM— Shalom.
ELIMELEQUE— Shalom, meus filhos.
NOEMI— Shalom, meninos. Tenham uma boa noite.
Eles sorriem e saem.
CENA 14: INT. CASA DE LEILA – SALA – NOITE
No amontoado de tecidos ajeitados confortavelmente, Rute e Orfa estão se acomodando. Rute sentada, Orfa desprendendo o cabelo e Aylla brincando deitada aos pés delas.
RUTE— Quê dia...
ORFA— Quê dia...
RUTE— Mas eu estou ótima, me sinto melhor que nunca, mesmo dormindo no chão. Chãozinho bem gostoso, aliás...
Orfa sorri.
RUTE— (para Aylla) Quanto a você, menininha, é hora de dormir. Vamos se ajeitar...
AYLLA— Não temos que orar ao Deus de Israel antes de dormir, assim como orávamos aos deuses?
RUTE— Bom, pode ser que sim... Mas eu nem sei como fazer, Aylla. Não quero arriscar falar com um ser tão poderoso e importante de qualquer forma... Quero aprender com os nossos amigos primeiro.
AYLLA— Ah, adultos... Sempre complicando as coisas.
Rute, descontraída, arqueia uma sobrancelha. Aylla então se põe de joelho e fecha os olhos.
AYLLA— Deus de Israel, por favor, guarde nossa noite de sono, o sono da senhora Leila, da senhora Noemi, do senhor Elimeleque, do Malom e do Quiliom... De todo mundo aqui.
Rute e Aylla se olham sorrindo e um tanto admiradas.
AYLLA— E que nenhum ladrão entre aqui. Ninguém que possa fazer maldade. É isso... Por favor. Tchau...
Aylla abre os olhos e olha para elas.
AYLLA— Viram? (abrindo os braços) É fácil...
A menina deita. Rute e Orfa, olhando para ela, riem. Aylla olha uma última vez para elas.
AYLLA— Tenham uma boa noite. E bom sono.
Aylla vira de lado e fecha os olhos. Rute e Orfa continuam rindo, IMAGEM CONGELA.
Obrigado pelo seu comentário!