CAPÍTULO 28
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Capítulo 42 + Parte do Capítulo 43 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 1: INT. CASA DE LEILA – SALA – DIA
O dia amanhece.
Na casa de Leila, alegria, descontração e carinho. Todos desjejuam felizes e satisfeitos.
CENA 2: INT. CASA DE SEGISMUNDO – SALA – DIA
Ali, choro e tristeza. Sentados, Tamires e Iago, já acordado, soluçam enquanto as lágrimas escorrem por seus rostos. Gael se aproxima e aperta o ombro dela, que o fita com seus olhos vermelhos. Depois ele abraça Iago com firmeza, e o homem chora no ombro de Gael. Por fim desfazem o abraço e Iago sorri em agradecimento a Gael.
CENA 3: INT. CASA DA VIZINHA – FRENTE – DIA
Noemi, Leila, Malom e Quiliom conversam com a vizinha sobre a casa enquanto Elimeleque, mais afastado, brinca com Aylla. Pega-a no colo, gira-a, corre atrás dela, abraça-a, riem... Por fim, Noemi fala sobre a casa para Elimeleque, e ele aprova com a cabeça. Sorriem para a vizinha.
CENA 4: EXT. CAMPOS – DIA
Um grupo de belemitas caminha em luto. À frente, Iago, Tamires, Segismundo e Gael carregam uma maca de madeira sobre o qual está o corpo de Maya coberto por um pano branco. Depois, à frente de uma caverna, eles mantém um momento de silêncio.
Mais tarde, colocam o corpo no interior da caverna. Iago chora ajoelhado e Tamires esconde o rosto nas mãos. Por fim, fecham a caverna com pedras e, pouco a pouco, as pessoas começam a ir embora. Ficam ali apenas Iago e Tamires.
Mais tarde... Em outro lugar, Iago chora sozinho, ajoelhado sobre a relva e com o rosto voltado para o céu. Gael se aproxima calmamente por trás e para, observando-o.
GAEL— Você sabe quem fez isso, Iago.
Iago abaixa o olhar, mas não olha para trás. Encara o nada à sua frente.
GAEL— São os que combatemos. Junte-se a nós, Iago, e ninguém ficará impune.
Iago pisca, funga, limpa as lágrimas e se levanta. Ele respira fundo, dá meia volta e se aproxima de Gael, que o encara com o olhar de um mestre.
Iago, por fim, estende sua mão para Gael. Satisfeito, Gael faz que sim, aperta a mão de Iago e o puxa para um abraço apertado.
CENA 5: INT. TEMPLO – SALÃO DE REFEIÇÃO – DIA
O salão está quase vazio e a luz da manhã adentra pelas janelas altas de forma melancólica. Em uma das mesas estão Myra e Faruk. Ele, com semblante de derrota e cansaço, apoia o queixo sobre a mão e o cotovelo sobre a mesa. Ela está pensativa acerca de tudo o que acabou de ouvir.
MYRA— Eu não consigo entender... Como que tão repentinamente as sacerdotisas largaram tudo... As duas..
FARUK— A verdade, Myra, é que não importa o seu nível de aproximação com os deuses, ou o quão profundo foram seus estudos na arte do sacerdócio, o coração humano jamais será desvendado por completo. Nunca se sabe o que se passa por um.
MYRA— Que coisa... Eu nunca percebi nada de diferente, de suspeito em Rute ou Orfa.
FARUK— Elas souberam guardar o sentimento muito bem, principalmente Rute. Mas, pelo que vi, já há muito tempo a insatisfação existia. É o que eu estou te dizendo... Quem dera eu tivesse conseguido mais e mais... e pudesse ver, com um pouco de nitidez, ao menos um traço do âmago das pessoas sem pergunta ou observação alguma... Quem me garante que você também não está com ideias de abandonar tudo e ir morar com algum plebeu imundo?...
MYRA— Isso está fora de cogitação, Sumo Sacerdote.
FARUK— (melancólico) Sei...
Faruk encara sua comida enquanto Myra, levemente desconfortável, se ajeita na cadeira encarando Faruk.
CENA 6: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA
Boaz e Magda se encontram e se abraçam.
BOAZ— Shalom, meu amor.
MAGDA— Shalom! Feliz aniversário de 1 dia de namoro!
Ela sorri de braços abertos e o abraça novamente.
BOAZ— (sorrindo) Feliz, amor... Feliz...
Magda o solta e o encara.
MAGDA— Boaz, meu amor... Preciso te falar uma coisa. Eu comprei um presente para você, mas na ânsia de vir te encontrar eu tropecei e caí... e o seu presente se partiu... Eu ainda tentei consertar, mas, mas... Meu coração ficou quebrado de te dar algo tão feio... Fui obrigada a descarta-lo.
Boaz parece não gostar muito, mas tenta disfarçar.
BOAZ— Tudo bem... Foi um acidente, não tem problema...
MAGDA— E você, Boaz? Trouxe?...
BOAZ— Sim.
Boaz sorri, pega algo no interior de sua veste e entrega para ela: dois bonecos de madeira esculpidos grosseiramente, porém de aparência agradável. Um representando o homem e o outro a mulher.
BOAZ— (sorrindo) Somos nós.
Ao vê-los, o sorriso de Magda se transforma em um sorriso amarelo, e ela fica desconfortável.
MAGDA— É o presente, meu amor?...
BOAZ— Sim, eu mesmo fiz.
MAGDA— Ah, sim...
Quase parecendo enojada, Magda pega os bonecos e os olha sem empolgação alguma.
BOAZ— O que foi, Magda? Não gostou?
MAGDA— Não, eu... É que... Você tem dinheiro para comprar, não tem?
BOAZ— Você não gostou.
Magda respira fundo e, por fim, olha para ele.
MAGDA— Pensei que compraria algo, Boaz.
BOAZ— Magda, você nem mesmo me deu algo--
MAGDA— (interrompendo) Porque caiu e quebrou!
BOAZ— Será mesmo?
Magda para e o encara, simulando indignação.
BOAZ— Sabe o que eu acho, Magda? Que você se apega muito às coisas materiais. E parece que essas coisas têm mais importância que o namoro, que nós.
MAGDA— Você é o último que pode falar isso, Boaz! Mas eu entendo... Tendo muito é fácil, não é?
BOAZ— É isso que você queria? Coisas, presentes?
MAGDA— (apontando o dedo) Boaz, não ouse me chamar de interesseira, está ouvindo?
BOAZ— Pois é isso que está parecendo.
Magda o olha como se tivesse chocada.
BOAZ— É melhor terminarmos, não vai dar certo. Acabou, Magda. Acabou tudo. Que você tenha uma boa vida, um bom outro relacionamento... e Shalom!
Boaz dá as costas para ela e sai.
MAGDA— Vai, Boaz! Pode ir! Suma da minha frente e não se aproxime mais de mim! Idiota!!!
Algumas pessoas que passam olham confusos para ela, que logo sai dali e se aproxima, com sorrisos, de um jovem bem vestido. Boaz olha para trás, vê a situação, faz que não e continua a caminhar.
CENA 7: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Tani e o Ancião caminham pela rua.
TANI— Para ser sincera, senhor, eu nunca gostei da Maya. Mas o que aconteceu com ela... foi muito cruel. E ainda dizem que ela estava grávida...
ANCIÃO— Eu estou tão decepcionado, Tani... Como alguém pode ser capaz de um ato tão desumano?...
TANI— E o pior é que deve ser obra de gente daqui mesmo de Belém, já que os soldados não notaram nada anormal na entrada da cidade.
ANCIÃO— Arrisco dizer que, para os soldados não terem percebido nada, foi obra de algum membro da Caravana.
TANI— Da Caravana da Morte?! Senhor... Será mesmo que Maya, Iago ou Tamires, ou todos eles, entrariam no alvo desse grupo horrível?!
O Ancião mexe os braços sem saber o que dizer.
CENA 8: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA
Os dias passam...
Na loja de Leila, ela, Noemi e Elimeleque em pé e Rute junto de Malom e Orfa de Quiliom. Aylla brinca por ali com brinquedos de madeira.
NOEMI— Já está quase tudo pronto para nos mudarmos. E os preparativos para o casamento estão bem adiantados...
QUILIOM— Casamentos...
NOEMI— (rindo) Casamentos, isso. Quem diria que os dois casariam no mesmo dia?
MALOM— O certo mesmo seria o mais velho primeiro, não é? O primogênito...
QUILIOM— Ah, nem vem, Malom. Abdique dos privilégios da primogenitura ao menos dessa vez, seu metido...
Eles riem.
LEILA— Noemi, Elimeleque e os meninos vão se mudar, mas até o casamento... Rute, Orfa e Aylla ficam comigo.
RUTE— Será um prazer, Leila.
ORFA— Muito obrigada pela sua bondade com nós.
LEILA— (sorrindo) Não há de quê.
CENA 9: EXT. CAMPO – DIA
Atrás e embaixo de árvores e outras vegetações, Tamires está com os homens da Caravana, que preparam seus cavalos. Segismundo fala com eles.
SEGISMUNDO— Como já devem saber, nós já temos pistas o suficiente para partirmos em busca de Elimeleque e sua família. Os sinais vão na direção de Moabe.
MONTANHA— Moabe? Outro reino, senhor? Acha mesmo que foram para outro reino?
SEGISMUNDO— Eu disse que as pistas vão nessa direção, não que eles foram para lá. Podem ter desviado para alguma cidade ou vilarejo posteriormente... Mas isso não interessa. Israel, Moabe, não importa. Seja lá onde estiverem, nós os encontraremos. Terminem de se preparar. Partiremos imediatamente!
Um pouco mais tarde, com quase tudo pronto, Tamires fala com Segismundo, chorosa.
TAMIRES— Além de tudo o que aconteceu na minha vida, de tudo o que não aconteceu também, agora perdi minha amiga... Segismundo, descarregue sua fúria em Noemi e nos seus. Destrua-os completamente! Dessa vez, sem falhas!!!
Segismundo faz que sim.
SEGISMUNDO— Até mais, Tamires.
Segismundo vai na direção do seu cavalo. Não muito longe dali, Tani, carregando um cesto com poucas frutas que encontrou, para ao ouvir um barulho. Ela aperta os olhos, mas não identifica. Então corre até atrás de uma moita e olha: vê os homens da Caravana. Seus olhos arregalam um pouco e ela se desequilibra. Ao se arrumar, olha novamente, e então vê Tamires junto, observando-os montar e partir cavalgando. Dessa vez Tani fica chocada!
Quase sem pensar, Tani se levanta e sai correndo, derrubando alguns frutos. Mas Tamires a vê e se assusta.
TAMIRES— Essa não...
Tamires então corre atrás de Tani.
TAMIRES— Tani! Tani!!! Tani!!!
Tani olha algumas vezes para trás, mas continua a correr assustada pelo campo. Tamires então pega algumas pedras relativamente grandes e começa a jogar, tentando atingir Tani. Erra todas por pouco.
Tani continua a correr rumo à cidade. Se abaixa por causa das pedras que vem voando de trás... De repente, uma atinge o pé dela, e ela tropeça e cai seca no chão. Tamires se aproxima correndo e chega ali derrapando. Antes que Tani consiga se levantar, Tamires a segura no chão.
TAMIRES— Maldita! O que você viu, hein?! Por que correu?! O que pretendia fazer, han?!
TANI— Vi tudo, Tamires! Tudo!!! E vou contar para o Ancião esse absurdo!!! Compactuando com um grupo que trouxe morte e sofrimento para muitos! E que deve ter matado até a sua amiga!
TAMIRES— Você não sabe de nada, Tani! E também não vai fazer nada! Não se eu fizer antes!
Tamires então agarra uma porção de terra e mato com a mão e esfrega no rosto de Tani, principalmente na boca. Tani tenta se desvencilhar, mas Tamires pega mais terra e aperta na boca dela. Em seguida, Tamires se levanta e corre na direção de Belém o mais rápido que consegue. Tani, deitada, cospe a terra e tosse. Com dificuldade ela tira a terra de sua boca. Depois tira o excesso de terra em seu rosto e cospe mais. Então põe-se de pé e corre, também rumo a Belém.
CENA 10: EXT. CASA DE NOEMI – QUINTAL – DIA
Lá dentro da casa, Noemi, Elimeleque, Malom e Quiliom apreciam sua casa nova. Eles vem para fora e saem no quintal.
ELIMELEQUE— Esse fundo do quintal dá para a cozinha de Leila.
MALOM— Poderíamos abrir uma porta e transformar tudo numa casa só.
NOEMI— É bom ter amigos, principalmente como a Leila, mas também precisamos do nosso espaço, meu filho. Se bem que, na verdade, você quer é acesso especificamente à cozinha dela, não é?
QUILIOM— Leila tem ótimos vinhos...
NOEMI— Não estou dizendo?
QUILIOM— Não seria nada ruim visitar a cozinha dela durante a madrugada.
ELIMELEQUE— Francamente, hein... Agora que estão noivos, pensei que pensariam um pouco menos em comida e bebida...
MALOM— Comida é necessidade, meu pai.
QUILIOM— E bebida é fundamental.
ELIMELEQUE— Ah, rapazes... Vocês de fato amadureceram em algumas coisas, mas em outras... só com o tempo mesmo.
Noemi sorri para o marido e Malom e Quiliom trocam olhares.
CENA 11: INT. CASA DE BOAZ – SALA – DIA
Boaz conserta um móvel de madeira enquanto Salmon passa por ali. De repente ele desequilibra e cai de quatro. Imediatamente Boaz se levanta.
BOAZ— Pai!
Boaz se aproxima.
BOAZ— O que aconteceu?! O senhor está bem?!
SALMON— Estou bem, estou bem, meu filho. Só me ajude a levantar...
Josias chega ali, preocupado.
BOAZ— Me ajude a leva-lo naquela cadeira, Josias.
Boaz e Josias levantam Salmon e o ajudam a se sentar.
SALMON— Ahn, obrigado, obrigado...
JOSIAS— O que aconteceu, senhor Salmon?
SALMON— É apenas... o peso dos anos. Mas fiquem tranquilos, fiquem tranquilos...
Salmon fecha os olhos enquanto respira fundo. Boaz e Josias trocam olhares preocupados.
CENA 12: EXT. MOABE – RUA – DIA
Orfa e Quiliom caminham juntos enquanto Rute e Malom mais atrás.
ORFA— (sorrindo) A cada dia fica mais próximo.
QUILIOM— O grande dia.
ORFA— O nosso dia.
Quiliom sorri e a abraça.
RUTE— É impressão minha ou está a cada dia mais nervoso, Malom?
MALOM— Nervoso? Eu?
Rute, sorrindo, arqueia uma sobrancelha.
MALOM— Tudo bem... Não posso negar. Isso é novidade para mim...
RUTE— Ora, pra ambos!...
MALOM— Claro, claro... Mas eu quero garantir que tudo saia... sabe? Perfeito... Da melhor forma possível. Para você.
RUTE— Oohh...
Rute acaricia o rosto de Malom.
RUTE— Eu vou me casar com um homem admirável, servo do Deus de Israel, justo... Poderei ser feliz como nunca... E a cada dia eu tenho mais certeza que eu te amo, Malom. Não tem como não ser perfeito.
Malom sorri.
MALOM— Eu também te amo, Rute. Muito, muito!
Eles sorriem e trocam um delicado beijo. Em seguida continuam a caminhar.
CENA 13: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA
O Ancião conversa com outros anciães mais jovens quando Tamires vem correndo de outra rua.
TAMIRES— Senhor! Senhor!!! Senhor Ancião!!!
O Ancião olha para ela, que cruza a praça e se aproxima dele. Para quase empurrando-o.
ANCIÃO— Calma, mulher!
TAMIRES— Senhor!... Senhor, sou Tamires, não sei se lembra de mim!...
ANCIÃO— Lembro.
TAMIRES— Pois bem, senhor... Eu--
ANCIÃO— (interrompendo) Calma, calma, mulher, calma! Respire! Respire fundo e conte.
Tamires faz que sim, respira fundo algumas vezes e olha para ele.
ANCIÃO— Pronto?
TAMIRES— Sim. Senhor... Cheguei assim, vim correndo porque fiquei chocada com o que presenciei... Ainda estou, na verdade, e... Mal tenho forças. É muita decepção.
ANCIÃO— Seja mais clara, Tamires.
Tamires respira fundo mais uma vez.
TAMIRES— Tani. O senhor a conhece, é amiga de Noemi...
ANCIÃO— Sim, sim. O que tem a Tani?! Aconteceu algo com ela?!
TAMIRES— Só se for com seu juízo, senhor. Eu a vi no campo, junto à Caravana da Morte...
O Ancião arregala os olhos.
ANCIÃO— Caravana?! Você os viu?!
TAMIRES— Eles e Tani junto, conversando com os homens normalmente. Quando vi isso, mal tive forças para vir lhe denunciar, senhor. Mas é a mais pura verdade.
Nesse instante, Tani aparece vindo correndo da outra rua. Tamires e o Ancião olham para ela. Tani, com o rosto sujo, se aproxima e para derrapando.
ANCIÃO— Tani?!
TANI— Senhor!... Senhor, seja lá o que essa mulher está lhe dizendo, é MENTIRA!
TAMIRES— Eu fui vista por Tani, senhor. Por isso ela veio correndo. Imaginei que seria essa a reação dela.
TANI— Sua--
Tani ergue o braço para dar em Tamires, mas o Ancião segura sua mão.
ANCIÃO— Tani! Acalme-se!
Indignada e cansada, Tani abaixa o braço, mas continua a olhar furiosa para Tamires, que a olha com olhar de desdém.
CENA 14: INT. CASA DE LEILA – QUARTO DE NOEMI – DIA
Noemi e Elimeleque estão dobrando roupas para levar para sua casa nova quando ela passa por ele, tropeça e cai em seus braços.
NOEMI— Ai!...
ELIMELEQUE— Calma... Se machucou?
Rindo, Elimeleque a ajuda a se pôr de pé novamente.
NOEMI— Não, não, só tropecei... Nossa, que coisa... Parece até...
ELIMELEQUE— O quê?...
Noemi gesticula.
NOEMI— 25 anos de casados, 2 filhos às vésperas de se casarem e, às vezes, ainda parecemos dois adolescentes com os sentimentos à flor da pele... Mesmo com tudo isso... meu coração ainda bate forte ao ser segurada inesperadamente por você...
Noemi está com o rosto corado, e Elimeleque se aproxima sorrindo. Quase como a adolescente tímida de anos atrás, ela o olha direto nos olhos.
ELIMELEQUE— Aconteceu comigo... Lembra-se do jantar?
NOEMI— Claro, claro...
Elimeleque faz que sim e acaricia o rosto dela.
ELIMELEQUE— Passe o tempo que passar, aconteça o que acontecer... Seremos sempre aqueles dois adolescentes apaixonados.
NOEMI— Com a diferença que não lutaremos mais contra nossos sentimentos...
ELIMELEQUE— Engraçado, eu me lembro de apenas um de nós fazendo isso...
Noemi ri.
NOEMI— Ah, Elimeleque... Rum.
ELIMELEQUE— Minha ferinha...
Eles se aproximam delicadamente e se beijam apaixonadamente. Por fim seus lábios desgrudam e eles se encaram.
NOEMI— Vamos continuar a arrumar as coisas?
ELIMELEQUE— Vamos. E amanhã... vamos ver um pedaço de terra para plantarmos.
Noemi sorri.
CENA 15: EXT. DESERTO – DIA
Os vários cavaleiros de preto com rostos parcialmente ocultos cavalgam a toda velocidade pela imensidão do deserto. À frente, Segismundo gritando com o cavalo e com os seus homens. Logo atrás, Gael, silencioso. Depois, Iago, com a fúria estampada em seu olhar. Montanha, Besta Louca e os outros vem atrás.
CENA 16: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA
Leila, sentada para cuidar de sua loja, fita Aylla, no chão ao lado, falando com ela.
AYLLA— ...quando os três cavaleiros cavalgaram muito para salvarem a mocinha. Mas eles não tinham escolha, não é? Só que eles não imaginavam que a mocinha era guerreira, e que era a melhor lutadora da aldeia dela. Os três cavaleiros não tiveram escolha e assistiram a mocinha lutar com o monstro e derrota-lo.
Apesar de Leila olhar para ela, Aylla franze o cenho, estranhando.
AYLLA— Senhora Leila... Senhora Leila.
Leila sai de seu transe.
LEILA— Oi, Aylla. Diga...
AYLLA— A senhora não estava prestando atenção.
LEILA— Não, não, eu estava... eu estava, eu só... me distraí um pouco. Os problemas da vida, enfim...
AYLLA— A senhora está bem?
LEILA— Estou sim, meu amor. Pode continuar contando a história. E a mocinha? O que aconteceu com ela?
Inocente, Aylla continua a contar enquanto Leila tenta disfarçar, mas a observa de uma forma diferente.
CENA 17: INT. CASA DE BOAZ – SALA – DIA
Ao redor da cadeira onde Salmon está sentado, Raabe, Boaz e Josias falam com ele.
RAABE— Fiquei muito preocupada quando Boaz me contou o que aconteceu, Salmon...
SALMON— Raabe... (faz que não) Você precisa... estar preparada...
RAABE— Que...
BOAZ— O que está dizendo, meu pai?!
De repente, Salmon faz um semblante de dor e se inclina para frente...
BOAZ— Pai!
RAABE— Salmon! Salmon, meu amor!!! Boaz, faça alguma coisa!
BOAZ— O quê?!...
RAABE— Chame ajuda!
JOSIAS— Eu chamo!
Josias se levanta para sair, mas é interrompido com Salmon falando.
SALMON— (com dificuldade) Não!...
Todos o olham.
RAABE— Salmon, Salmon, está bem, meu amor?!
Com dificuldade, Salmon olha para eles.
SALMON— Apenas me levem... me levem... para o campo...
RAABE— Está delirando, meu marido! Chamem ajuda, rápido!
SALMON— Não!!! Para o campo... quero ver a semente... por favor...
Raabe e Boaz se entreolham. Josias não sabe o que fazer.
RAABE— Tudo bem... Para o campo... Vamos...
Boaz e Josias ajudam Salmon a se levantar e os quatro saem devagar.
CENA 18: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA
Tamires, aparentando tranquilidade, e Tani, suja e desesperada, diante do Ancião, um tanto confuso.
TANI— Senhor... O que essa mulher disse é mentira! Fui eu quem viu Tamires com a Caravana. Ela está mentindo!
TAMIRES— Esse seu comportamento é extremamente previsível, Tani. Sua obviedade é medíocre. Pensei que inovaria ao menos nas escolha das palavras, francamente... Mas a verdade é que você é quem estava lá, fazendo sei lá o quê com aqueles homens terríveis. Tanto que eu cheguei primeiro aqui. Não teria como eu chegar aqui primeiro se tivesse sido vista por você, longe, com os homens...
TANI— Mas isso é um absurdo! Não só teria como essa mulher chegar primeiro como ela chegou! E isso porque jogou uma pedra em mim, me sabotou, me atrasou! E ainda me sujou de terra, até na minha boca essa descarada colocou terra!
TAMIRES— Quantas palavras baixas, Tani... Um pouco mais de respeito, estamos diante do Ancião.
Tani a olha com muita raiva.
TANI— Olhe o meu pé, senhor! A pedra me acertou, me fez tropeçar! Olhe o meu rosto, sujo de terra!
TAMIRES— Forjado! Na ânsia de dar um pouco de credibilidade à sua encenação, feriu o próprio pé... Você é baixa, Tani, e eu estou chocada com tamanha traição. A Caravana... A Caravana da Morte... Senhor, eu não poderia fazer outra coisa senão vir o mais rápido possível.
ANCIÃO— (pesaroso) Tani...
Tani o olha temendo o pior.
TANI— Senhor, por favor...
ANCIÃO— Eu não tenho escolha. Tamires de fato chegou primeiro. Guardas!
Alguns soldados da praça se aproximam. Tamires sorri levemente.
TANI— Senhor, por favor, por favor! Eu não tive culpa! Era Tamires quem estava com eles!
ANCIÃO— (encarando o chão) Prendam essa mulher.
TANI— Não, não, por favor! Senhor, por favor!!!
Os soldados se aproximam e a seguram pelos braços. No desespero de Tani, IMAGEM CONGELA.
Obrigado pelo seu comentário!