CAPÍTULO 29
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Restante do Capítulo 43 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 01: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA
Tani desesperada, presa pelos guardas.
TANI— O senhor sabe! O senhor sabe que eu sou inocente, por favor, por favor! Tamires é quem estava lá! Não, por favor!!!
Os soldados a levam dali. O Ancião, afetado, engole em seco e olha para os lados, um tanto aflito. Tamires, com olhar de superioridade, observa Tani sendo levada pelos soldados. Por fim, ela se aproxima mais do Ancião.
TAMIRES— Muito obrigada, senhor, por ter feito justiça. Espero que ela seja devidamente punida, conforme os mandamentos.
Sem olhá-la, o Ancião faz que sim e sai. Satisfeita, Tamires sorri.
CENA 02: EXT. BELÉM – CAMPOS – DIA
Boaz e Josias ajudam Salmon. Raabe acompanha aflita. Neb chega ali.
NEB— Tios? Primos?! Eu os vi carregando o tio Salmon e vim ver... O que ele tem?!
BOAZ— Não sabemos, Neb...
RAABE— Ali, a semente foi plantada ali...
Eles levam Salmon até o local, e ele cai dos braços deles, meio sentado, meio deitado...
BOAZ— Pai...
SALMON— (cansado) Calma... Calma...
RAABE— Salmon, você não está bem! Precisa de ajuda...
SALMON— Raabe... Eu estou... onde gostaria de estar... Vejam.
O dedo de Salmon aponta a terra ao seu lado e eles olham: um pequeno e vivíssimo broto.
JOSIAS— Está nascendo...
SALMON— Já seria o tempo... de o trigo nascer?
BOAZ— Não, de forma alguma...
SALMON— Pois é... (feliz) Está dando certo... Isso mostra que o povo está verdadeiramente... voltado para Deus. E o melhor:... o Senhor está recebendo.
Todos ali sorriem um pouco. Salmon então deita de vez na terra, ao lado do broto.
RAABE— Salmon...
SALMON— (encarando o céu) Não me caibo... de tanta felicidade...
Raabe, agachada, fica ao lado do marido. Lágrimas começam a brotar de seus olhos. Boaz, Josias e Neb ajoelham e se agacham ao redor dele.
SALMON— Vivi uma vida inteira... plena... Foram muitas lutas... literais e dia após dia... mas alcancei tudo que precisava. Cresci nômade, vivendo no deserto, em tendas... Lutei e, junto aos meus irmãos, conquistei essa terra maravilhosa... E agora... agora pude contribuir na reaproximação do povo com Deus.
Salmon olha para Boaz, já em lágrimas.
SALMON— Agora essa missão é sua, meu filho... Caberá a você... dar continuidade à essa obra. Sempre com paciência... mansidão... e respeito. Acolhendo a todos que precisarem... e pronto a dar uma palavra de conselho.
Boaz chora e suas lágrimas caem sobre a terra.
BOAZ— Não sei se vou conseguir...
SALMON— Você terá amigos... Mas, principalmente... nunca deixe de se guiar pelo nosso Deus...
Salmon vira a cabeça e olha para o broto ao seu lado.
SALMON— (sorrindo) E eu sei que vai dar certo... Desse pequeno broto uma plantação a perder de vista se levantará... E Belém será chamada a Casa do Pão.
Raabe acaricia o rosto de Salmon, que então olha para Neb.
SALMON— Neb, meu sobrinho... Não troque o amor do Senhor... por bens materiais. Por aquilo que o ladrão leva... e a traça corrói... O tesouro de Deus... é maior do que tudo o que podemos ver e tocar.
Salmon bate devagarinho no peito de Neb, que o olha meio confuso, meio assustado, meio constrangido. Salmon então olha para Raabe.
SALMON— Raabe, minha grande companheira...
Raabe começa a chorar mais.
SALMON— Vivemos uma vida de amor e carinho... E o tempo ao seu lado... foi o mais feliz da minha vida. Esperarei... Esperarei pelo dia em que nos reencontraremos...
RAABE— (chorando) Eu te amo, Salmon...
Salmon sorri. A luz do sol ilumina seu rosto. Então, pouco a pouco, sua cabeça vai virando para o lado do broto... virando... Até que ela repousa na terra e seus olhos se fecham, tendo o broto como última imagem.
Todos ali choram.
CENA 03: INT. BELÉM – TEMPLO – CELA – NOITE
O dia passa e a noite chega.
Tani, muito triste e sentada no chão sujo, encara o nada. Então a porta se abre, é o Ancião. Tani olha para ele.
TANI— Ancião?...
Ele a olha, entra e fecha a porta. Ela se levanta e ele se aproxima.
TANI— Por favor, diga-me que veio me tirar daqui. Eu sou inocente, senhor. Não tenho nada, nada a ver com a Caravana! Isso é um absurdo sem tamanho!...
ANCIÃO— Eu sei, Tani.
TANI— Sabe?
ANCIÃO— Claro que sim, nós somos amigos. Eu confio em você. Mas eu fiquei de mãos atadas, Tamires realmente chegou primeiro e você sabe que isso conta muito.
TANI— Então está acabado?! Eu serei condenada, mesmo inocente?!
ANCIÃO— Calma, Tani, calma. Os fatos serão analisados. Você terá um julgamento justo. E eu farei de tudo para ajudá-la.
TANI— É uma humilhação... Ser levada daquela forma, ficar nesse lugar sujo, úmido...
ANCIÃO— Peço que aguente firme, minha amiga. Não desista! Ore a Deus enquanto isso!
TANI— É só o que me restou, mesmo.
ANCIÃO— Eu trouxe comida. Vou pegar para você.
Ele vai até a porta, abre-a e pega uma porção de comida lá fora.
ANCIÃO— Não é muito, a crise ainda é grave, mas... acho que dá para passar a noite.
TANI— Obrigada.
ANCIÃO— Eu já vou indo... Orarei por você... Shalom, Tani.
TANI— Shalom, senhor...
Pesaroso, o Ancião volta, a olha uma última vez e sai. Ela, abatida, respira fundo e olha para a comida.
CENA 04: EXT. CASA DE IAGO – FRENTE – NOITE
Não há praticamente ninguém nas ruas. Sentada no chão e abraçando as pernas, Tamires chora enquanto olha para a casa destruída.
TAMIRES— Me desculpe... minha amiga... amiga minha... Me desculpe por não poder ter feito nada... (soluça forte) Mas não se preocupe... Todos... Todos... pouco a pouco... pagarão! Tani já saiu do caminho... E em breve... Noemi e sua família... também conhecerão o alto preço...
Tamires continua a chorar...
CENA 05: EXT. DESERTO – NOITE
Ao redor de duas fogueiras, os homens da Caravana comem sentados no chão. Ao redor deles, os cavalos e, além, apenas a escuridão sem fim.
GAEL— Ao que parece, Elimeleque e a família foram mesmo para Moabe. Até aqui e ainda não fizeram desvio algum.
MONTANHA— Sim, já passamos os limites do povoado mais distante.
SEGISMUNDO— Pois então é para Moabe que nós vamos. Eles devem ter demorado muitos dias, já que estavam à pé e a carroça era só para carregar a mudança.
GAEL— Exato. Creio que, saindo antes do amanhecer e cavalgando no ritmo que fizemos, chegaremos aos campos de Moabe antes do sol a pino.
SEGISMUNDO— (mastigando) Ótimo. Não vejo a hora de ter minha revanche e colocar minhas mãos naquela pedra.
Pensativo, Gael faz que sim e continua a comer.
CENA 06: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA
A noite se vai e o dia amanhece.
Noemi, Elimeleque, Malom e Quiliom vem da rua e entram na loja, onde está Leila. Rute e Orfa a ajudam na organização dos produtos e Aylla brinca com alguns bonecos de barro da loja.
NOEMI— Shalom...
ELIMELEQUE— Shalom, família...
LEILA, RUTE, ORFA, AYLLA— Shalom...
LEILA— Uma grande família!
NOEMI— E que precisa ser sempre unida...
ORFA— (olhando o noivo) No que depender de mim e do Quiliom...
QUILIOM— Não vamos nos distanciar mais que uma cidade...
ORFA— Quiliom, rum...
Eles riem.
RUTE— Não reclamando, minha amiga, mas vivi tendo apenas Orfa a vida toda... Não quero me distanciar nunca mais de vocês. Serei eternamente grata a essa família que me acolheu... Noemi, Elimeleque... E Leila, tão generosa, tão hospitaleira.
Leila sorri.
ELIMELEQUE— Quanto a vocês duas, minhas futuras noras, eu só tenho elogios a fazer. É preciso muita garra para vencer as dificuldades da vida e conquistar ouro, poder e prestígio. Mas ainda mais coragem e fibra para largar todo o conforto e luxo que tem em nome do que acredita, em nome do que é certo... Em nome do amor.
Orfa e Rute sorriem.
ELIMELEQUE— Deus há de abençoá-las muito.
LEILA— Amém.
Todos sorriem.
LEILA— Gente... Ninguém disse nada... É “amém” mesmo que se diz?
NOEMI— (rindo) Sim, Leila, é amém. Desculpe não te imitar. Amém, amém, amém! Que Rute e Orfa tenham um casamento abençoado!
Todos ali falam “Amém”.
LEILA— Bom, e vocês, para onde estão indo? Vi que já levaram tudo para a casa.
NOEMI— Sim. Agora vamos ao campo. Elimeleque quer comprar um pedaço de terra para plantarmos.
ELIMELEQUE— Nos veremos mais tarde. Shalom, Leila. Cuide bem dessa mocinha aqui.
LEILA— Pode deixar. Ela está analisando a qualidade dos meus produtos.
Elimeleque pega Aylla no colo e a abraça.
ELIMELEQUE— Cadê o meu beijo, mocinha?
Aylla beija a bochecha de Elimeleque.
ELIMELEQUE— Hum, que beijo gostoso! Menina linda!...
AYLLA— Me levanta?!...
LEILA— Agora aguente, Elimeleque...
ELIMELEQUE— Tudo bem, mas só porque ganhei esse beijo. Vamos lá?!
Elimeleque segura Aylla e a joga para o alto. Ela grita e sorri. Ele faz de novo e ela fica irradiante.
ELIMELEQUE— Agora chega, o tio Elimeleque já tá ficando velhinho e os braços doem...
Ele a coloca no chão e ela sai animada.
LEILA— Se você está velho, eu sou o quê?
Elimeleque ri.
ELIMELEQUE— Shalom, Leila.
NOEMI— Shalom a todos.
LEILA, AYLLA, RUTE, ORFA— Shalom!
Rute, Orfa, Malom e Quiliom estão juntos.
MALOM— Gente, apesar dos preparativos, ainda não definimos o local da festa...
ORFA— Sim, e eu já estava pensando em alguns...
RUTE— Ainda bem, Orfa, porque eu não pensei em nada...
QUILIOM— Assim que chegarmos, vamos falar sobre isso.
Malom beija a mão de Rute e sai. Quiliom sorri para Orfa, acaricia o rosto dela e acompanha o irmão. Rute e Orfa sorriem uma para a outra.
CENA 07: EXT. MOABE – CAMPO – DIA
A algumas centenas de metros da cidade, Noemi, Elimeleque, Malom e Quiliom caminham pelo campo guiados pelo dono daquele pedaço.
HOMEM— Fiquem à vontade para ver o campo. Depois eu retorno e a gente fecha o acordo.
ELIMELEQUE— Certo. Muito obrigado, amigo.
HOMEM— Disponham.
O homem se afasta. Noemi e Elimeleque continuam a caminhar, apreciando a paisagem. Malom e Quiliom saem conversando, levemente para outra direção. Elimeleque abraça a esposa.
ELIMELEQUE— Imagine só, bem aqui, para todo lado... Nossa plantação, nosso trigo...
NOEMI— Hum... Já consigo ver o amarelado no lugar desse verde.
ELIMELEQUE— Podemos cultivar outras coisas, também. Assim economizaremos e sobra para mais jantares na muralha...
Noemi ri.
NOEMI— Gostei da ideia. Mas, falando em trigo, eu me lembro de algumas coisas...
ELIMELEQUE— O quê?
NOEMI— Ah... Não se lembra?... Éramos recém-casados...
ELIMELEQUE— Ahh!!!
Elimeleque gargalha e Noemi ri.
NOEMI— Lembrou, não é?
ELIMELEQUE— Sim, sim! Nunca esqueci, é que eu não havia associado... Não me esqueço do semblante do senhor Rishon quando nos descobriu ali, deitados no trigal dele... O velhinho ficou uma fera! Nossa, meu amor!... Éramos inconsequentes, hein...
NOEMI— Éramos apaixonados, isso sim! Assim como hoje!
ELIMELEQUE— Assim como sempre!
Ainda caminhando abraçados, eles trocam um beijo. Quando seus lábios se separam, escutam um barulho.
ELIMELEQUE— Que isso? Parece cavalo.
Elimeleque olha para trás, para a cidade, mas nenhum cavalo está vindo. Ele olha para frente, é quando vários cavalos surgem cavalgando em sua direção. Ele e Noemi observam sem entender. Os cavaleiros se aproximam, se aproximam... Elimeleque desconfia e franze o cenho.
ELIMELEQUE— Malom! Quiliom! Venham aqui!...
Os filhos, estranhando os cavaleiros, vão até os pais.
Os cavaleiros se aproximam, se dividem em duas linhas e cercam a família. Todos de preto, todos com o rosto coberto... A Caravana da Morte alcança a família.
O cavaleiro líder olha para eles e então tira o seu pano: Segismundo sorri satisfeito.
ELIMELEQUE— Como... é possível?...
Noemi começa a se desesperar.
SEGISMUNDO— Você achou que nossa história estava terminada, Elimeleque?
Próximo dali, o dono daquele campo observa, assustado, os cavaleiros acuando os quatro. Então ele sai correndo na direção da cidade.
ELIMELEQUE— Como sabiam onde nós estávamos?
SEGISMUNDO— Quando a galinha foge, a raposa fareja.
Elimeleque um pouco à frente e ao lado de Noemi. Malom e Quiliom ao redor.
SEGISMUNDO— Vamos fazer do jeito rápido, Elimeleque: você me diz onde a pedra está. Simples assim.
ELIMELEQUE— Quê?! Do que está falando, Segismundo?! Pedra?!
SEGISMUNDO— Ah, Elimeleque, você não ouviu eu dizer para fazermos do jeito fácil? Qual é a dificuldade de entender isso? Parem com essa enrolação... Eu sei que Noemi guarda uma pedra valiosa como lembrança do pai. Apenas quero que a entreguem para mim.
NOEMI— (quase chorando de raiva) E quem foi que lhe disse isso?!
SEGISMUNDO— Sua ex-amiga: Tamires.
NOEMI— É mentira dela! Nunca fomos amigas! Ela te enganou! Tamires sempre me desprezou!
SEGISMUNDO— Eu entendo que farão de tudo para que eu não pegue a pedra, mas já estou perdendo a paciência.
ELIMELEQUE— Eu perdi a paciência com você há muito tempo!
Imediatamente Elimeleque saca sua espada, ao que Malom e Quiliom fazem o mesmo. Segismundo, do alto de seu cavalo, olha para eles com desdém.
SEGISMUNDO— Você não vê, Elimeleque, no que nós nos transformamos? Não enxerga o nível que a Caravana da Morte alcançou? Além de todos esses apetrechos, nós treinamos. Dia após dia, nós treinamos. Vocês não tem a mais ínfima das chances.
ELIMELEQUE— Se Deus quiser que seja assim, então assim será. Se não, não haverá força que será capaz de nos derrotar.
Besta Louca olha para Elimeleque com um sorriso sanguinário.
BESTA LOUCA— Senhor... Permita-me que eu o mate...
SEGISMUNDO— Não, de forma alguma. Tenho um acerto de contas com esse homem. Ele é meu.
Montanha, vendo os quatro lá embaixo, sorri empolgado. Noemi em desespero.
ELIMELEQUE— Não temos escolha, meu amor. Vamos ter que lutar. Malom, Quiliom... Atenção.
SEGISMUNDO— Ataquem!
Os homens, ainda com o rosto coberto, descem de seus cavalos, sacam suas espadas e atacam. Malom e Quiliom duelam com alguns. Outros, entre eles Iago e Montanha, apenas assistem rindo.
Noemi fica sem saída enquanto Segismundo saca sua espada e ataca Elimeleque.
Malom e Quiliom tem extrema dificuldade com os homens, que são rápidos e fortes.
IAGO— Deixa eu participar dessa chacota. Conheço esses dois.
Iago se junta aos companheiros e golpeia os irmãos, que por muito pouco não estão sendo atingidos fatalmente.
Segismundo e Elimeleque duelam, mas o primeiro é visivelmente superior. Quase que parece estar se divertindo com Elimeleque. Esse golpeia, e Segismundo desvia. Um ataque por cima, e Segismundo se abaixa. Outro na barriga, e Segismundo desvia com sua espada.
SEGISMUNDO— Está difícil, Elimeleque?
Mais rápido, Elimeleque faz uma sequência de golpes. Segismundo bloqueia, desvia, se afasta... até que, com sua espada, trava a espada de Elimeleque próxima ao seu rosto.
SEGISMUNDO— Chegará perto, mas jamais me ferirá. Enquanto você fugia de sua terra, eu treinava com homens mais fortes do que eu!
Elimeleque desiste daquele golpe, recua e tenta outros. Nenhum chega perto de encostar em Segismundo. Esse se afasta, e Elimeleque é obrigado a segui-lo conforme tenta acertá-lo seguidamente. Noemi percebe a dificuldade do marido. Olha para os filhos, e ambos não estão resistindo aos vários homens os atacando.
NOEMI— Ajuda... Vou buscar ajuda...
Ela corre, mas os homens que não lutam a seguram e a colocam de joelhos.
NOEMI— Aaahhh!!! Me soltem!!!
Iago, lutando com Malom e Quiliom, percebe a situação de Noemi. Então dá um chute em Malom, que cai, e sai dali. Aproxima-se dos companheiros, faz sinal para eles afastarem e ele mesmo segura Noemi no chão. Em seguida tira o pano e olha para ela.
NOEMI— Iago?!... Você?!...
IAGO— Com saudades, sardenta?
NOEMI— Iago, por favor, diga-me que está aqui infiltrado e que vai nos ajudar!
IAGO— Não... Acho que não. Vim para te perguntar qual é o sabor da morte... Ela está próxima, você já deve estar sentindo.
Noemi desiste e cai sobre o chão, aflita. Iago sorri e a segura firme. Malom, no chão, e Quiliom, assustado com o irmão, são desarmados. Em seguida os homens os pegam e os imobilizam.
Todos ali assistem Elimeleque e Segismundo. Cada tentativa desesperada de Elimeleque é bloqueada ou desviada; ele está cansado. No segundo que para pra respirar, Segismundo lhe dá um soco no nariz e ele desequilibra para trás, se apoiando em um joelho. Noemi desesperada. Elimeleque se levanta, olha para Segismundo, respira fundo, ajeita a espada nas mãos... e tenta outro golpe. Segismundo bloqueia com facilidade e, com um movimento gracioso, desarma Elimeleque. A espada dele voa para o lado e cai na relva.
Segundos de silêncio.
Segismundo, armado, encara Elimeleque, de mãos vazias. Silêncio... Sorri. Segurando firme sua espada, Segismundo faz um movimento com ela. Então a lâmina viaja no ar... e atravessa Elimeleque.
Elimeleque sente o baque, e por um tempo encara o nada.
Depois, olha para o céu azul. Segismundo parece saborear o momento. Noemi, presa ao chão por Iago, arregala os olhos, quase não entendendo... Malom e Quiliom observam em início de desespero.
Segismundo então retira a lâmina ensanguentada e Elimeleque cai de joelhos. Noemi o observa ainda sem entender direito. Besta Louca, do seu lugar, observa sorrindo. Segismundo aprecia o que fez. Momentos de assombro em Malom e Quiliom. Elimeleque perde as forças e cai deitado. É quando Noemi grita! Grita! Grita com todas as suas forças!!! Seu grito parece não terminar!!! Grita!!! Longamente, ela grita!!! Então se solta das mãos de Iago e corre até Elimeleque, estirado no chão. Desesperada, levanta a cabeça do marido e não sabe o que fazer, onde tocar, como agir...
NOEMI— Elimeleque! Elimeleque! Elimeleque, calma! Calma, Elimeleque! Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem!... Não se preocupe, vai ficar tudo bem! Calma, calma! Calma, Elimeleque, calma! Vai ficar tudo bem!...
Malom e Quiliom, tirando forças de onde não têm, se soltam dos homens que os seguram e correm até seus pais.
MALOM, QUILIOM— Pai!!!
Os homens intentam ir atrás deles, mas Segismundo faz um sinal para esperarem. Em pé, segurando sua espada, ele assiste satisfeito os três em volta de Elimeleque, que encara o céu azul.
NOEMI— Vai ficar tudo bem, meu amor, vai ficar tudo bem! Não se preocupe, Elimeleque! Você não vai morrer, não vai! Você é minha Promessa, nós vamos ficar juntos!
Elimeleque encara o céu quase admirado... então olha para ela.
ELIMELEQUE— Não... Eu sinto... Eu estou sentindo... É a sensação... Eu... preciso ir...
Noemi então o abraça.
NOEMI— Não, não, não, não, não, não!...
ELIMELEQUE— A Promessa...
Noemi o solta e olha para ele.
ELIMELEQUE— A Promessa... não era... sobre mim... Você precisa... descobrir... a quem a Promessa... se referia...
Noemi chora, chora, chora, e as lágrimas caem sobre Elimeleque, que então olha para os filhos.
ELIMELEQUE— Cuidem... da mãe de vocês... E ajudem Rute e Orfa... a trilhar os caminhos de Deus... Eu sei... que terei uma descendência... iluminada!... Vocês são meninos valiosos... Muito, muito mais que qualquer tesouro. Tenho muito orgulho... de ter sido... pai de vocês.
Malom e Quiliom desabam a chorar sobre o pai. Olhando para Segismundo, Besta Louca faz um sinal de cortar a cabeça, e Segismundo sinaliza para ele esperar. Elimeleque volta a olhar para Noemi.
ELIMELEQUE— Noemi...
NOEMI— Estou aqui, meu amor...
ELIMELEQUE— Volte para Belém... Não devíamos ter saído... de nossa terra. Abandonado... o nosso povo...
Noemi apenas chora... Elimeleque toca o rosto dela, virando suavemente para ele.
ELIMELEQUE— Não se entristeça... e nem se preocupe comigo... Eu estou feliz por ter vivido... ao lado do meu grande amor... Minha ferinha...
Em meio ao choro ininterrupto, Noemi sorri. Ele pega as mãos dela.
ELIMELEQUE— Eu... estou bem... Estou indo... para os braços... do nosso Senhor...
Ele toca o rosto dela novamente.
ELIMELEQUE— Meu eterno amor...
Noemi pega a mão dele e segura firme. Mas ela vai caindo, caindo...
A cabeça de Elimeleque vira para o lado e seus olhos se fecham tranquilamente... Um semblante de paz.
NOEMI— Elimeleque... Elimeleque... Elimeleque!... Elimeleque!!! Não, Elimeleque, não!!! Elimeleque!!! Fala comigo, Elimeleque!!! NÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOO!!!
Malom e Quiliom choram amargamente. Em total desespero, Noemi balança o corpo de Elimeleque em seus braços. Segismundo respira fundo, olha para os lados e olha para ela.
SEGISMUNDO— Você quer que isso também aconteça com os seus filhos?
Noemi não dá a menor atenção para Segismundo, apenas chora abraçando e balançando Elimeleque em seus braços.
SEGISMUNDO— Me dê a pedra, Noemi.
QUILIOM— CALE A SUA BOCA!!!!!!
Quiliom volta a chorar sobre o pai. Segismundo faz que não e faz um sinal para Besta Louca, que se aproxima por trás de Quiliom e ergue sua espada para lhe cortar a cabeça. Um barulho, e ele para. Todos os homens da Caravana olham para o lado da cidade e veem vários soldados moabitas cavalgando em sua direção.
SEGISMUNDO— Aaahhh!!! Que inferno!!! Os moabitas estão vindo! Bater em retirada! Rápido!!!
Os homens abandonam a família de Noemi e voltam aos seus cavalos. Começam a partir. Os soldados chegam ali e interceptam os retardatários. Outros soldados cavalgam atrás dos que foram rapidamente.
Segismundo, Gael, Iago, Besta Louca, Montanha e outros tentam escapar, mas logo os cavalos moabitas ultrapassam os deles e os soldados apontam suas espadas para a Caravana, que é obrigada a parar.
SOLDADO 1— Levem todos! Serão interrogados e julgados pelo rei!
Pouco a pouco, os soldados amarram as mãos de todos os homens da Caravana e os colocam sobre os cavalos moabitas. Um soldado olha para Noemi, Malom e Quiliom sobre o corpo de Elimeleque.
SOLDADO 2— E quanto a eles?
SOLDADO 1— Levem também. Todos serão interrogados.
Malom e Quiliom são retirados à força de sobre Elimeleque e levados aos choros. Logo um soldado arranca Noemi de perto de Elimeleque e a leva.
NOEMI— NÃO!!! NÃO!!! Me deixe!...
Noemi é colocada sobre um cavalo e o cavaleiro parte. Chorando desesperada, ela olha para trás, esticando a mão para o corpo de Elimeleque, cada vez mais longe, cada vez mais distante... IMAGEM CONGELA.
Obrigado pelo seu comentário!