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A Promessa - Capítulo 32 (Reprie)



CAPÍTULO 32 

 

uma novela de 

FELIPE LIMA BORGES 

 

livre adaptação do livro de Rute 

 

Edição da Versão Reprise por 

RAMON FERNANDES 

 

EDIÇÃO: 

Restante do Capítulo 46 + Parte do Capítulo 47 ORIGINAL (SEM CORTES)  



CENA 1: INT. TEMPLO – SANTUÁRIO – DIA 

No vasto santuário do templo está o servo de Faruk. O Sumo Sacerdote entra. 

FARUK  Ah! 

SERVO  Está tudo bem, senhor? 

FARUK  (fazendo suas coisas) O rei... Zylom nem desconfia que eu já não sei nada dos deuses! Nem mesmo que eu não faço... a maioria das minhas obrigações. Mas também, como poderia?! Os deuses me abandonaram! 

O servo o observa com certa apreensão. 

FARUK  Não acontece nada, não consigo nada, não alcanço nada! 

Continua a mexer nas coisas. 

FARUK  Mas isso tem solução, ah, tem solução sim. Aylla... Ela sempre foi e é a solução! Deve estar lá, naquela lojinha, vivendo normalmente! 

SERVO  Senhor... o acordo... 

Faruk vira para ele. 

FARUK  Nada! De tudo o que eu fiz em todos esses anos, nada adiantou! Não saí do lugar! Imóvel!... Só fracasso atrás de fracasso atrás de fracasso! (se aproxima do servo) Eu não suporto mais viver nessa miséria! Vergonha, derrota, fracasso... Isso tudo caracteriza miséria para um homem como eu! Já vi que nada do que eu fizer vai resolver... a não ser Aylla. Aylla é minha salvação. Aylla é minha carta de passagem livre para o cume do sucesso! É o meu par de asas no voo rumo à glória! Rumo às conquistas cabíveis apenas a um legítimo filho de Baal como eu! 

SERVO  E o que o senhor pretende fazer? 

FARUK  Vou recuperar Aylla. E então finalmente vou sacrificá-la. Quando a comprou dos mercadores há alguns anos, você estava guiado. Aylla está destinada a me catapultar para o sucesso. Assim que eu a vi chegando, percebi. Senti! Sempre soube que ela se destacaria na seleção da nova oferenda. Rute e Orfa jamais desconfiaram que eu já sabia de Aylla muito antes delas. Agora chegou a hora do destino se cumprir. 

SERVO  Senhor, pense bem... É perigoso. Aylla é protegida pelos maridos de Rute e Orfa... E sabe-se lá se não há mais homens... 

FARUK  Vamos fazer isso de forma que pareça um assalto comum. Vão concluir que foi algum saqueador, algum bandido, ou então fique sendo como um crime sem solução. Acredite, Aylla foi feita para mim. Depois de 10 anos sendo derrotado, consigo ter essa certeza mais firme do que nunca. Vai dar tudo certo. 

O servo permanece um tanto preocupado. 

 

CENA 2: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA 

Após comerem o doce, Rute, Orfa e Noemi lavam os recipientes sujos enquanto Malom e Quiliom varrem a entrada da casa. Vendo que as noras estão indo bem, Noemi as deixa e se aproxima dos filhos. Olha se certificando que elas não estão olhando para ali, e muito menos ouvindo, e se aproxima mais dos dois. 

NOEMI  Meninos... 

QUILIOM  Mãe? 

MALOM  Diga, rainha Noemi. 

NOEMI  Vocês estão bem? 

Malom e Quiliom estranham um pouco, se entreolham e olham para ela, que sorri simpática para eles. 

MALOM  Graças ao bom Deus. 

Quiliom faz que sim, concordando. 

QUILIOM  E a senhora?... 

NOEMI  Ah, eu estou bem, vocês sabem... Só uma coisa me aflige, na verdade... 

MALOM  O quê? 

Noemi dá mais uma olhada para as duas; continuam lavando as coisas. 

NOEMI  Estou preocupada com elas... Essa situação, esses anos todos e não geraram... 

MALOM  Nós estamos agindo, mãe. Estamos orando... 

QUILIOM  Todos os dias, há muito tempo. 

NOEMI  Sim, sim... É que... Às vezes, vocês podem fazer tudo isso e ainda não será suficiente... Não adiantará de nada. 

Eles estranham. 

QUILIOM  O que a senhora quer dizer com isso? 

NOEMI  Essas mulheres... têm um passado. Vocês sabem, foram sacerdotisas...  

Malom e Quiliom um tanto incomodados. 

NOEMI  E se alguma coisa, ou várias coisas que elas fizeram em rituais pagãos acabaram... acabaram por... secar seus ventres?... Ou então e se isso for uma maldição por terem lidado com deuses? 

Malom e Quiliom estão bem abalados pela teorização de sua mãe. 

QUILIOM  Não é possível, mãe... 

MALOM  Ainda que for algo assim... oração pode sim adiantar. 

NOEMI  (dando de ombros) Se vocês têm fé... 

Malom franze o cenho. Rute e Orfa chegam ali. 

ORFA  (pegando carinhosamente em Noemi) Do que estão falando?... Hum? 

MALOM  Ah, só conversa jogada ao vento-- 

NOEMI  (interrompendo) É sobre descendência. A descendência de Elimeleque.  

Triste, Orfa tira as mãos de Noemi... 

ORFA  É o que eu mais quero... Nós estamos em busca disso. 

RUTE  Sim... Eu sei que preciso dar um filho a Malom. 

Malom se aproxima e segura as mãos da esposa. 

MALOM  Se não acontecer... se Deus não permitir... então tudo bem. Não é a melhor opção, mas tudo bem. Porque quem tem você, Rute, tem tudo. 

Rute sorri suavemente, quebrando um pouco de sua tristeza. Noemi, incomodada com o que Malom falou para Rute, se limita a coçar o olho levemente. 

NOEMI  Vamos. Vamos sentar lá fora e... conversar até à noite cair... 

Eles saem para fora. 

 

CENA 3: EXT. CASA NO CAMPO – DIA 

É uma casa isolada no campo. Os membros da família, espalhados no lado de fora, comem e bebem alegremente. 

MULHER  Meu amor, acabou o vinho... 

HOMEM  Mas já? Eu avisei que o Sidrônio nos daria prejuízo... 

SIDRÔNIO  (bêbado) Mas eu não bebi nenhuma gota... 

Todos riem.  

HOMEM  (descontraído) Esperem, já pego mais. 

MULHER  Aproveite e traga um pouco de pão também, meu amor. 

HOMEM  Certo. 

O homem entra na casa. 

 

CENA 4: INT. CASA NO CAMPO – COZINHA – DIA 

homem descobre um pano e pega o pão. Arranca um pedaço, come e deixa o restante no balcão. Vai para a sala. 

 

CENA 5: INT. CASA NO CAMPO – SALA – DIA 

Ele entra mastigando. Olha embaixo de uma mesa, dentro de um recipiente, em outros lugares... Até que acha embaixo de um móvel. 

HOMEM  Sabia que escondê-lo me faria feliz algum dia. 

O homem então se levanta para voltar quando paralisa! Parados na entrada da casa, ali na porta da sala, vários homens o encaram. 

HOMEM  (assustado) Quem são vocês?! 

Segismundo (60 anos, um pouco gordo), Gael (52 anos, alto e olhos claros), Iago (52 anos), Montanha (50 anos, músculos gigantes) e outros homens da Caravana o encaram sérios. 

HOMEM  Quem são vocês???!!! 

SEGISMUNDO  Você já ouviu falar de nós. 

HOMEM  O que querem?... 

Segismundo se aproxima. 

SEGISMUNDO  Ouvimos dizer, há algum tempo, que nessa casa aqui... há um objeto de incomparável beleza e valor. Um vaso de prata babilônico. 

HOMEM  Não sei do que estão falando! 

De repente, barulhos lá fora. Gritos dos da família... O homem fica assustado, angustiado... encara Segismundo. 

HOMEM  O que está acontecendo?! Deixem minha família em paz! 

Os gritos lá fora param. Segismundo, tranquilo, se aproxima mais, encarando o homem assustado. 

SEGISMUNDO  Nesse mesmo momento, vários dos meus homens estão mantendo a sua família como refém. Estão sendo liderados por um homem chamado de Besta Louca, que costuma comer o coração de suas vítimas. 

O homem está cada vez mais abalado. 

SEGISMUNDO  (apontando o dedo no rosto do homem) Ou você me entrega o vaso, que eu sei que está aqui, ou você e toda a sua família morrem. Simples assim. 

Enquanto o homem tenta dizer que não há vaso algum ali, Iago se distrai. Ele olha para uma mesinha ali, onde há um pergaminho. Segismundo e o homem continuam a se falar. Iago franze o cenho e pega o pergaminho. Lê-o. É uma espécie de anúncio de uma mulher que se diz feiticeira e promete grandes coisas mediante um pagamento justo. 

Iago se interessa. Lê, relê e relê de novo... até que se assusta e olha: o homem, com um punhal fincado em sua barriga, cai no chão. O recipiente de barro cai, se parte e o vinho se espalha ao lado do corpo. Iago volta a olhar para o pergaminho. 

 

CENA 6: EXT. CASA NO CAMPO – DIA 

Pouco depois, todos os homens da Caravana caminham tranquilamente para longe dali. Segismundo carrega o vaso de prata babilônico. Ao fundo, a casa em chamas e nenhum som e nem movimento algum. 

BESTA LOUCA  (os beiços manchados de sangue) É lindo, senhor. 

Segismundo dá uma olhada no vaso que carrega e continua a andar. 

SEGISMUNDO  Dá para o gasto. 

Eles se aproximam de seus cavalos, amarrados embaixo de uma árvore, montam e saem cavalgando. 

 

CENA 7: EXT. DESERTO – DIA 

Mais tarde, os homens cavalgam em velocidade baixa. 

IAGO  Nosso grupo cresceu tanto... Não sei porque ainda chamam de Caravana. Já somos quase uma cidade. 

Logo à frente, embaixo de várias árvores frondosas, alguns homens de preto fazem a guarda da região. Com a aproximação dos cavaleiros, eles abrem espaço. 

SEGISMUNDO  Tudo certo no perímetro? 

GUARDA  Tudo certo, senhor. 

Os cavaleiros passam e os guardas voltam à sua formação. 

Eles se aproximam de árvores com a folhagem cada vez mais fechada... Passam por elas e dão de cara com um paredão de folhas. Mas eles não param, apenas continuam... e passam por elas. 

 

CENA 8: EXT. VILA – DIA 

Ao passar pelo muro de folhas, eles chegam numa grande clareira. Nela, várias casas bonitas e com um certo luxo. Homens e mulheres passeiam rotineiramente para lá e para cá. 

SEGISMUNDO  Obrigado por mais uma missão, homens. 

Os outros cavaleiros se espalham, cada um vai para uma casa. Iago passa pelo povo e, ao chegar em sua casa, desce do cavalo, o amarra e entra. 

 

CENA 9: INT. VILA – CASA DE IAGO – DIA 

Iago tira alguns apetrechos de sua roupa e coloca na mesa. Então tira da veste o pergaminho que encontrou na casa, senta e relê. E fica pensativo... 

 

CENA 10: EXT. VILA – DIA 

Segismundo termina de dar o que comer para o cavalo e caminha para sua casa. Tamires (52 anos) o alcança. 

TAMIRES  Segismundo... Preciso falar com você. 

SEGISMUNDO  (sem parar) Pois diga, oras. 

TAMIRES  Eu preciso de perfumes, Segismundo. Perfumes. Também estou precisando comprar uma boa armadilha... Ontem à noite descobri um ninho de ratos no lado de fora da minha casa. 

SEGISMUNDO  É só ir buscar, Tamires. Pegue um cavalo e vá. 

TAMIRES  Já estou cansada de sempre que precisar de algo ter que ir disfarçada a Belém. 

Segismundo para e olha para ela. 

SEGISMUNDO  Você quer voltar para Belém? 

TAMIRES  Talvez. 

SEGISMUNDO  Como faria isso? 

TAMIRES  Eu já pensei nisso. Tenho um plano. 

Encarando-a, ele aperta os olhos. 

 

CENA 11: INT. CASA DE ORFA – QUARTO – NOITE 

A noite cai. 

Quiliom entra no quarto e fecha a porta. Orfa está sentada, esperando. 

ORFA  Deite... Vou fazer uma coisa. 

Quiliom, curioso, deita na cama e olha para ela. Orfa se levanta, fica em pé de frente para o marido deitado, e começa a dançar. Uma dança com movimentos sensuais... Mas para, interrompida por Quiliom. 

QUILIOM  O que está fazendo? 

ORFA  É uma dança moabita... Dança da fertilidade. Eu acho que ainda me lembro como é... Vou tentar. 

QUILIOM  Orfa, amor... Eu... acho que é melhor não. 

ORFA  Quiliom, há quase 10 anos somos casados e nada deu certo... Oramos, buscamos, tentamos... Até sacrificamos hábitos nossos!... 

QUILIOM  Eu sei, eu sei... Mas não acho que seremos abençoados assim... com uma dança pagã... 

Orfa fica frustrada. 

ORFA  Foi uma tentativa... Mas se prefere que não... 

Orfa deita ao lado de Quiliom. Ele a abraça. 

QUILIOM  Vamos fazer do jeito comum... 

Se encaram e se beijam. 

 

CENA 12: INT. CASA DE RUTE – QUARTO – NOITE 

Embaixo da coberta, Rute beija Malom e deita ao seu lado. Sorriem, ele a abraça. 

MALOM  Eu te amo. 

RUTE  Também te amo, meu amor. 

Trocam um beijo. 

RUTE  Em quantos momentos como esse já não estivemos esperançosos, pensando que agora daria certo?... 

MALOM  Muitos... Mas... Só nos resta confiar. 

Rute faz que sim, pensativa. 

RUTE  Ou então aceitar que não podemos ter filhos. 

Ficam um tanto tristes... Ele a beija. 

 

CENA 13: INT. CASA DE NOEMI – QUARTO – NOITE 

Noemi pega a água de uma bacia com as mãos e molha o rosto. Depois seca-o, toma um copo de água e deita. Acomodada, ela olha para o espaço vazio ao seu lado e o encara por um bom tempo... 

NOEMI  Já faz tanto tempo... E ainda assim você faz falta. 

Ela acaricia de leve o espaço ao lado. Por fim, Noemi vira, se ajeita e adormece. 

 

CENA 14: INT. CASA DE LEILA – QUARTO – DIA 

A noite passa e o dia amanhece... 

Leila (60 anos), deitada, acorda aos poucos. Seus olhos se abrem devagar, levemente trêmulos... PÁ!!! Assustada, ela senta na cama de uma vez! 

LEILA  Mas o que é isso???!!! 

Aylla (17 anos) foi quem fez o barulho batendo palma bem forte. Sorridente, está ajoelhada ao lado, na cama. 

AYLLA  Feliz aniversário!!! 

LEILA  Meu Deus, Aylla! Menina, quer me matar?! O que é isso??? 

Parada na porta do quarto há uma cabra. 

LEILA  O que é isso, Aylla?! 

AYLLA  “Isso” não, mãe. É uma cabrinha. É seu presente de aniversário. 

Leila olha para a cabra.

              CABRA--- Béééééééé!!!

Confusa, Leila olha da cabra para Aylla, que mantém o sorriso grande. Sorrindo, Aylla encara Leila, assustada e confusa. 

AYLLA  Por acaso a senhora esqueceu que hoje é seu aniversário? 

LEILA  (a mão no peito) Nossa, Aylla, você quase me mata... Não tenho idade pra isso não... 

AYLLA  Eu sei que a senhora aguenta. 

A garota pula e senta ao lado de Leila. 

AYLLA  Mas me diga: gostou do presente? 

Leila olha para a cabra parada na porta. 

LEILA  Até que é um bom presente... Gostei sim. Mas não precisava ser desse jeito, minha filha... Quer me perder, é?  

Aylla ri, a abraça e a beija na bochecha. 

AYLLA  Levante-se logo. Eu preparei o desjejum para a senhora. Vamos que Orfa e Quiliom estão pra chegar. 

Aylla pula da cama e vai para lá levando a cabra. Leila observa-a fazendo que não com a cabeça. 

 

CENA 15: EXT. BELÉM – TRIGAL – DIA 

Nos arredores de Belém e cercando as árvores, o trigo e a cevada se espalham para todos os lados, a perder de vista. Diversos homens e mulheres trabalham nas plantações. Outras mulheres passam servindo água aos trabalhadores. Os donos dos campos acompanham com seus administradores. Trabalho próspero e organizado. 

 

CENA 16: INT. CASA DE BOAZ – SALA – DIA 

Boaz (36 anos, cabelo escuro) desce a escadaria animado. 

BOAZ  Shalom! 

Ali embaixo, Tani (53 anos) organiza a mesa. 

TANI  Shalom, senhor Boaz. Está animado, hein!... 

Boaz chega ali e se aproxima da mesa. 

BOAZ  Feliz a nação cujo Deus é o Senhor! 

TANI  (sorrindo) Amém! 

BOAZ  E as plantações das moças? 

TANI  Oh, estão ótimas! Quase ultrapassando as dos homens. Por isso, eles acabam se esforçando muito, apenas para não terem o orgulho ferido. 

BOAZ  No final, todos saem ganhando. 

TANI  Isso é verdade... 

Tani termina de arrumar a mesa. 

TANI  Está pronto, senhor Boaz. 

BOAZ  Muito obrigado, Tani. 

TANI  Vou para o campo. 

BOAZ  Terminando de desjejuar eu vou para lá. 

TANI  Shalom. 

BOAZ  Shalom. 

Tani sai e Boaz se senta para comer. 

 

CENA 17: EXT. VILA – DIA 

Iago caminha tranquilamente pelo povo, se aproximando da casa de Segismundo. Abre-a e entra. 

 

CENA 18: INT. VILA – CASA DE SEGISMUNDO – SALA – DIA 

Segismundo está costurando uma veste sua. 

SEGISMUNDO  (sem olhá-lo) Iago?... Entre... Sente aí. 

IAGO  Licença, Segismundo. 

Iago pega um banco e senta perto de Segismundo. 

SEGISMUNDO  É tão raro receber uma visita sua... 

IAGO  Na verdade eu vim dizer, Segismundo, que vou precisar tirar um tempo. Alguns dias. Quero visitar uns parentes distantes. 

SEGISMUNDO  Quem são? 

IAGO  Na verdade são parentes da minha falecida esposa. E também preciso espairecer. 

Segismundo larga a costura e olha para Iago. 

SEGISMUNDO  Tudo bem. Você já fez muito pelo nosso grupo. 

IAGO  Obrigado. 

Iago se levanta para ir embora. 

SEGISMUNDO  O que você acha da ideia de Tamires de voltar para Belém? 

IAGO  Tamires quer voltar para Belém? 

SEGISMUNDO  Só não sei ainda qual é o plano dela pra fazer isso. 

IAGO  Eu imagino qual seja seu motivo... De fato aqui não temos tudo e os mercadores não podem se aproximar... Mas eu não sei se eu voltaria. 

Segismundo faz que sim. 

SEGISMUNDO  (dando de ombros) Tamires e suas ideias... 

IAGO  Bom, vou arrumar minhas coisas para partir. Até mais, Segismundo. 

SEGISMUNDO  Até, Iago. 

Iago sai. Segismundo volta a costurar. 

 

CENA 19: EXT. BELÉM – RUA – DIA 

Tani caminha pela rua quando encontra o Ancião (95 anos) andando. 

TANI  Shalom, senhor. 

ANCIÃO  Shalom, Tani! Está indo trabalhar? 

TANI  (rindo) Na verdade eu trabalho desde que acordo. Servir ao senhor Boaz é um prazer, mas começa no arrumar de sua casa e termina na liderança das moças no campo. 

O Ancião sorri. 

ANCIÃO  Boaz é um grande homem. Um caro servo do Senhor! 

TANI  Sim. Mas antes de seguir para o campo, vou despachar a carta para Noemi. 

ANCIÃO  Ahn, todos os anos vocês trocam cartas, não é? 

TANI  Exatamente. Recentemente chegou a dela, agora vou mandar a resposta. Pena que só no próximo ano terei outra dela... 

ANCIÃO  Tani, veja... A prosperidade, esse ano, está imensurável, a cidade está movimentada... Apesar de tudo estar bem em toda Israel, Belém é o fruto mais doce. Quem sabe não seja hora de Noemi voltar?... 

Tani parece pensar. 

TANI  O senhor recomenda eu sugerir isso a ela? 

ANCIÃO  Com certeza. 

TANI  Será que ela vai querer voltar para o lugar onde esteve tanto tempo com Elimeleque?... 

ANCIÃO  Essa é a terra dela. Atualmente ela é uma estranha em terra estranha. 

TANI  O senhor tem razão... 

ANCIÃO  Quem sabe que Elimeleque faleceu? 

TANI  Poucos. Não quis espalhar. Na verdade o que eu não quero é que Neb saiba. Conheço bem o primo de Elimeleque... Aquele ali só quer saber de dinheiro. 

ANCIÃO  Não é ele o parente mais próximo? 

TANI  Sim. Se souber que Elimeleque morreu, vai querer resgatar o pedaço de terra do primo. E aí Noemi ficará sem nada. 

ANCIÃO  Pela lei, o direito é dele... 

Tani sabe que é verdade. Respira fundo... 

TANI  Bom, mas já fico feliz com a ideia de rever a minha amiga!... Já sei, vou mandar sim minha resposta e também a recomendação para que ela volte, mas vou pagar um pouco mais e mandar um mensageiro de voz. (empolgada) Quero que Noemi ouça as boas novas! Ela vai ficar muito feliz! 

ANCIÃO  (sorrindo) Tenho certeza que sim. 

Eles continuam a andar. 

 

CENA 20: EXT. CASA DE BOAZ – RUA – DIA 

Boaz sai de sua casa e toma a rua. Logo cruza com seu primo Neb (53 anos). 

BOAZ  (sem parar) Shalom, Neb! 

NEB  Shalom... 

Boaz passa e Neb vira para olhá-lo. 

NEB  Rum, metido... 

Então Neb começa a abordar os vários belemitas que passam por ali. 

NEB  Olá, Shalom... Gostaria de ver meus novos produtos? 

pessoa recusa. 

NEB  Shalom, bom dia... Novos perfumes, aromas inéditos em Belém! Gostaria de dar uma olhada? 

Também o ignora. 

NEB  Shalom, filho de Deus... 

BELEMITA  Shalom... O senhor é que vende perfumes? 

NEB  Os melhores que poderá encontrar, meu senhor! Nem Hebrom tem os que eu tenho. 

BELEMITA  Pois bem... Mostre-me. 

Neb abre as vestes e mostra, em seu interior, vários frascos de metal. 

BELEMITA  Hum... Deixe-me ver esse. 

Neb pega e mostra. Mostra vários... 

BELEMITA  Vou levar esse. 

NEB  Ótima escolha. A esposa vai amar. (espirra) Perdão. 

BELEMITA  Quanto me custará? 

NEB  Apenas 5 moedas de prata. 

BELEMITA  Hum... Um pouco alto, não? 

NEB  Senhor, perfume como esse é raridade! Essência extraída de flores babilônicas! 

BELEMITA  Eu sei, mas... Me venda por 3 moedas. 

NEB  Sinto muito, meu senhor, mas não é possível... Assim eu fico sem o meu lucro. 

BELEMITA  Pois 4! 

NEB  Muito menos! 

BELEMITA  “Muito menos”?! 

NEB  Veja, senhor... Eu preciso ter um lucro justo, e meus produtos valem o preço! Já ouviu falar de custo-benefício? Andam comentando bastante sobre isso-- 

BELEMITA  (interrompendo) Se não negociarmos, infelizmente vou comprar de outro. 

NEB  Ahn, comprar de outro, hum? Vai, então. Vamos ver se com outro achará qualidade como a minha. 

BELEMITA  Francamente, hein... Eu até me interessei pelo perfume, mas o senhor é um péssimo vendedor! Só pensa no seu lucro! 

NEB  E no que mais eu pensaria?! 

BELEMITA  No cliente, talvez?! Hum?! Fica a sugestão para o senhor: olhe um pouco além do próprio umbigo. Tenha um bom dia. 

O belemita sai. 

NEB  Ah, vai, vai!... Vai encher a paciência de outro! Nunca encontrará produtos como os meus! Rum, “cliente”... 

Neb vira e sai pisando duro, e IMAGEM CONGELA.