Saudações, queridos mancebos! Bem-vindos ao Primeira Impressão desse domingo e, dessa vez, com temperaturas mais amenas, finalmente!
Mas não é sobre o tempo que
quero começar falando no programa de hoje. Deixemos esse tema para os tímidos mancebos
desesperados por iniciar qualquer assunto quando estão em presença feminina.
Gostaria de falar sobre o Troféu Galáxia! Sim, esse é o nome com o qual foi
batizada nossa premiação de fim de ano. E quando digo nossa, é realmente nossa.
Pois o Troféu Galáxia não tem relação alguma com o Trophy Ranable. Esse é
destinado a todas as produções da casa que saírem ao longo do ano. Já o Troféu
Galáxia premiará apenas webnovelas e webséries que tiverem sido criticadas aqui
no Primeira Impressão, independente de quando tenham sido publicadas e de que
emissoras virtuais elas sejam.
E é com sincera alegria e
uma parruda taça de orgulho que anuncio que TODAS as produções criticadas até
aqui foram pré-indicadas em pelo menos uma categoria da premiação. Claro, isso
não quer dizer que elas serão de fato indicadas a essas categorias e que
concorrerão ao Troféu, mas já é um bom prenúncio. As regras da premiação ainda
não foram integralmente desenhadas, mas provavelmente cada categoria suportará
apenas 5 indicadas. Portanto, se tivermos por exemplo 8 pré-indicadas em uma
determinada categoria, só as 5 melhores estreias naquele quesito serão
indicadas, ganharão o Troféu de Prata e concorrerão ao Troféu Galáxia, de ouro
puro de Ofir, aliás. O restante, que não terá passado da pré-indicação, jamais
será revelado por mim. Mas, nesse momento, pelo menos podem já saber que todas
as webs até aqui têm ao menos uma pré-indicação. Que vençam os melhores
(para mim)! O Troféu Galáxia acontecerá no mês de dezembro, nos 2 últimos
programas da temporada 2020 do Primeira Impressão.
Mas agora vamos ao que
interessa hoje, que se trata da crítica da estreia da websérie
Prisioneiros do Passado, escrita por Ted Moreira e exibida no Live!. Confira a
sinopse:
“Meu nome é Daniel e a
minha vida nunca foi lá essas coisas, apesar de ter crescido na base do luxo.
Quando se tem uma mãe extremamente misteriosa e cheia de segredos sobre você,
aí tudo piora. Eu queria saber sobre o meu pai, saber sobre quem eu sou, mas
ela não me diz. Já houveram diversas brigas e nem assim ela consegue ser
honesta comigo. Namoro com o Mateus há um ano. A Valentina não sabe e eu
preferi assim, até precisar mostrar pra ela que manter segredos não é a melhor forma
de preservar quem quer que seja. Eu vou descobrir tudo o que quero saber, é
direito meu e ninguém vai me impedir.”
O grande conflito que marca
esse 1° episódio de 3 é a busca do protagonista Daniel em descobrir o segredo
que a mãe Valentina esconde dele à todo custo acerca de seu pai e, consequentemente,
de seu passado. Bem, com isso alguém poderia pensar então que a narrativa
introduz o protagonista de forma eficiente e bem resolvida, afinal já temos um
objetivo pelo qual buscar ao lado do herói em sua jornada; a resposta para isso
é: parcialmente correto.
Se por um lado a trama é
tecida de forma a aguçar nossa curiosidade cada cena mais em relação ao segredo
e aos motivos de Valentina de querer mantê-lo enterrado no passado, por outro
lado o protagonista Daniel, que deveria ser o coração da história, não consegue
se mostrar de outra forma a não ser apático. Nem mesmo as cenas de afeto com o
namorado Mateus conseguem aproximá-lo do leitor, dando a impressão de que há
uma fina parede de gelo entre o lado de cá e ele. Veja, nós compramos sua
busca, embarcamos em sua luta pela verdade, torcemos para que tudo se explique,
mas é como se fizéssemos tudo isso ao lado de um transeunte qualquer com o qual
esbarramos na rua: quase nenhum afeto, apesar de toda a imensa torcida.
Inversamente proporcional à
construção do protagonista é todo o conjunto de descrições dos estados dos
personagens. Sim, a narração é minuciosamente detalhada quanto às expressões
faciais e corporais, fazendo desse um material riquíssimo para qualquer amante
das artes visuais. É como se o leitor conseguisse enxergar por cima do fundo
branco a têmpora latejante ou as contrações dos músculos do rosto em um momento
de tensão; até mesmo as atrevidas linhas do texto desaparecem com a invocação
dos semblantes dessas pessoas.
Agora somem esse mergulho
visual aos diálogos absolutamente naturais, que valorizam as hesitações, o
pensar duas vezes, o processamento do cérebro na escolha das palavras, que têm
a consciência de que o ser humano NÃO É uma máquina. Mesmo no meio
profissional, não são todos os roteiros que conseguem representar com
eficiência na mente do leitor o que a obra pretende ser após filmada. Para um
capítulo que preza pelo visual e pelo naturalismo, bem-sucedido é um termo
pequeno para se usar.
Infelizmente a qualidade no
uso das palavras para esse fim não se mostra presente na escolha de
substantivos para substituírem nomes e pronomes. Tão incontável quanto as
estrelas do meu lado da galáxia é o número de repetições dos termos “o mais
velho” e “o homem” ao longo do episódio, sendo que uma maior variação usando
outros termos como “o outro”, “ele”, “o namorado”, “a mãe”, “a amiga” poderia
se fazer presente e agregar senão qualidade, a falta de defeito, pois essa sempre
será, sem dúvidas, alguma coisa. Felizmente trata-se de uma habilidade que a
prática certamente concederá.
Quem acompanhou essa estreia
pôde ver que as emoções de Daniel na busca do segredo que a mãe esconde são
intensas. E isso, claro, está relacionado às grandes qualidades da obra já
citadas acima. Por outro lado, a série já abre com o drama de filho e mãe, onde
ele a ataca verbalmente com rancor e decepção. Mas de onde vem tudo isso? Como
começou? Quando foi que Daniel descobriu que a mãe escondia algo sobre seu passado?
Qual é o ponto de início da rachadura na relação dos dois? Talvez haja um
motivo para a trama não apresentar a origem nesse momento, mas se já a víssemos,
provavelmente não só seria enriquecida a dinâmica entre esses 2 pilares da
série como talvez o próprio Daniel se mostrasse um protagonista menos apático e
mais identificável.
O segredo, parcialmente
revelado ao final, não é nada surpreende e é até, de certa forma, previsível.
Porém ele está contextualizado, faz sentido nessa trama. E às vezes essa
coerência é muito mais importante que um eventual frescor que o autor queira
dar à narrativa. Já dizia o gorducho Bétsebeth, de Alexandria: “antes o certo
do que o duvidoso”. Ele tinha razão, não nego, mas sua petulância mereceu as
inúmeras paráfrases que sofreu essa frase. Que descanse em paz... e com alguns
pesadelos ocasionais.
Talvez alguns estejam se
perguntando quando é que falarei sobre a apresentação dos personagens, o tema
mais recorrente nesse programa desde a estreia. Bom, Prisioneiros do Passado é
um caso curioso quanto a isso. Se o texto é expert em nos fazer enxergar
o semblante daquelas pessoas, quando se trata de introduzi-las ele é
completamente formulaico, limitando-se a indicar entre parênteses a idade e que
ator ou atriz “empresta” seu corpo àquela persona. Bom, isso sana o problema? O
leitor consegue então ter noção se aquele ser é mancebo, moço ou geriátrico?
Bom, pelos números, sim. Mas
só visualizará a aparência se conhecer o ator ou a atriz. Além de aquele
nome real quebrar a imersão no universo apresentado e de soar brega,
perde-se o valor artístico. É triste que um texto que toma tanto cuidado com diálogos
e reações humanas simplesmente se recuse a dar a atenção artística devida às
características que reagirão de forma tão clara na mente do leitor. Traduzindo:
como raios é esse cabelo caído à frente do rosto após o desabafo?! E que
cor tem esses olhos que, encarando seu desafeto, estão mais esbugalhados que o
centro da Via Láctea?! Mancebos escritores, não estou dizendo aqui que é
necessário que descrevam até a cor dos olhos de todos os seus personagens. Se
leram as críticas dos programas anteriores, principalmente os primeiros,
certamente me entenderam.
No mais, analisar a estreia dessa série é muito importante, porque à primeira vista, com sua logo e formatação de texto, ela passa a ideia de uma produção cult (no sentido cinematográfico) e conceitual. Mas a autêntica primeira impressão, tendo destrinchado o 1° episódio por completo, é a de que ela é um novelão clássico. Sim, com uma qualidade e um cuidado apresentados muito acima da média do Mundo Virtual. Mas, ainda assim, um bom e velho novelão.
Série: Prisioneiros do Passado
Autor: Ted Moreira
Episódios: 3
Emissora: Live!
Clique aqui para ler o 1° episódio
Bem, bem, meus amigos. Gostaria agora de
falar brevemente sobre algo que, segundo o que chegou aos meus ouvidos, está
gerando certo burburinho por aí. Quando eu faço a crítica de uma webnovela ou
websérie nesse programa, absolutamente TUDO o que eu disse MAIS a nota em
estrelas – que se trata de um resumo dos pontos apontados e dos que, por N
motivos, não foram apontados – se trata única e exclusivamente do 1°
capítulo/episódio, ou seja, da estreia da produção. A ideia do programa é
simplesmente expor, de forma embasada, qual foi a primeira impressão válida que
a obra causou nesse ser que cruzou o espaço interestelar motivado pela
admiração inigualável que tem pela criação humana.
Portanto, uma obra que recebe
aqui nota alta poderia muito bem receber uma baixa caso eu a lesse por
completo, e a mesma coisa o contrário, em que certa obra teria sua nota elevada
se eu constatasse que seus capítulos/episódios posteriores são muito melhores
que o inicial. Não quero também que os autores pensem que estou aqui taxando suas
obras como um todo. Não! Nada sei do restante de suas escrituras, aqui estou
para falar apenas do primeiro contato que o mundo tem com suas criações. E se
ele for bom, mediano ou ruim, eu falarei. Como venho fazendo há 7 semanas, eu
falarei.
Bom, e quanto ao programa da
semana passada, mancebos? Perderam?! Pois então é só clicar aqui e conferir o
que aprontamos lá. Vocês têm sugestões, reclamações, dicas ou pedidos de webs
para serem criticadas aqui? É só dizerem tudo nos comentários. Continuem
pedindo que estou vendo tudo, hein! Mas por hoje é só.
Tenham uma semana tranquila, de paz, prudência e bastante respeito. Cuidem uns dos outros e... até semana que vem!
Obrigado pelo seu comentário!