Saudações intergalácticas,
meus terráqueos prediletos! Não podem imaginar o grande prazer e alívio que
sinto em finalmente poder falar com humanos depois de 1 semana viajando pelo
espaço frio, escuro e silencioso rumo ao meu planeta natal. Nem mesmo as
espetaculares imagens de Marte e Júpiter em minhas janelas ou as dezenas de
horas de filmes e podcasts que consumi puderam suprir o vazio que em mim se
formou depois que pisei em seu pequena planeta azul e que se ampliou desde que
os deixei para trás...
Mas não nos apegamos a
sentimentalismo, pois há algo mais potencialmente prejudicial às minhas
emoções, tanto quanto é às minhas vísceras: o buraco de minhoca o qual estou
buscando a fim de encurtar a viagem e alcançar o outro lado da galáxia em um
tempo que não os 100.000 anos usuais. Apesar de já tê-lo usado algumas vezes há
milhares de anos, a experiência nunca é tranquila, e o trauma parece querer
manifestar seus sintomas conforme vou me aproximando dessa – devo admitir –
maravilha. Não quero dizer que todo o percurso por esse túnel através do tecido
espacial seja assustador, mas o é em momentos pontuais, que acontecem sem a
menor cerimônia: solavancos violentos, quedas de energia, sons absurdamente
horripilantes, como que gorjeios vindos do coração de buracos negros ou de
criaturas inimagináveis mesmo em minha mente... Mexer com as possibilidades do
universo como faz o buraco de minhoca de fato acaba gerando essas experiências,
no mínimo, inexplicáveis. Só espero que eu consiga sair bem do outro lado.
x x x
Mais algumas horas de
aproximação e contemplação se passaram, e finalmente ele se agiganta em minha
frente, como que um colossal espelho redondo vitoriano: no lugar da moldura,
uma borda de pura energia azulada, e no lugar do vidro, uma fina pele branca e
opaca... É lindo, mancebos.
A nave finalmente entra e,
se é que isso é possível, dentro do buraco de minhoca o silêncio é ainda maior,
como se o som ou a noção do mesmo viesse das luzes das estrelas, as quais
naturalmente desapareceram e ficaram para trás. Nesse momento, não estou
tecnicamente em lugar algum do espaço, e tudo que espero para essa travessia é
o menor número possível de surpresas desagradáveis enquanto falo com vocês
sobre a webnovela de hoje, que se trata de A Inveja Mata, escrita por Igor
Gonçalves e exibida no Ranable Webs. Confiram a sinopse:
“Eloiza mora de favor na mansão de sua irmã
lsadora e tem uma inveja fora do comum. E sua inveja prevalecerá ainda mais
quando conhecer Maíra, que vive cercada de amor com seu marido Hugo e seu filho
Rodrigo.”
Intenso, não? Calma, ainda nada aconteceu nada
com a nave, tudo segue tranquilo. Falo sobre a inveja de nossa protagonista (e
vilã, arrisco dizer) Eloiza, a qual será o fio condutor da trama. Mas sabem o
que não é intenso nesse capítulo de estreia? A intenção do texto em nos situar
no cenário, em nos introduzir adequadamente os personagens e em nos fazer
acreditar que os diálogos que ali estão acontecendo são reais e, por
consequência, naturais. Ou seja, mancebos, é uma amálgama de praticamente TODOS
os grandes problemas sobre os quais viemos discutindo desde o primeiro
programa.
Para começar, essas personagens são adultas? Se
sim, em idade mais madura? Ou ainda são adolescentes? Um texto cuja formatação
quer emular um roteiro audiovisual não pode se dar ao luxo de nos fazer
perceber em que faixa etária estão seus personagens só cenas à frente, e ainda
por dedução, já que ligamos os pontos com base no local onde uma delas
trabalha. Se bem que, pelo estilo dos diálogos, talvez todas elas sejam
crianças, mas não crianças em suas vidas reais, e sim crianças brincando
de adultos.
E conforme a leitura vai avançando, mais e mais
vezes esses problemas vão se repetindo. Rodrigo, filho da aparentemente
boazinha Maíra, e que em minha mente foi e voltou entre 3 e 45 anos, só teve
sua idade revelada na 5° cena, e através de um diálogo expositivo, de uma
descrição robótica e de um conjunto de obra completamente vazio em carga
emocional. E olha que nessa cena o rapaz desabafa sobre a incompreensão dos
pais para com ele, decide criar um canal no YouTube sobre sua “fase emo” e o
cria de fato. Primeiro, quem fala tudo aquilo sozinho, e com uma velocidade de
decisão que em muito excede o de minha nave? E segundo: de novo, estamos
falando de um texto que segue, ainda que com falhas graves, o modelo de um
roteiro audiovisual. A narração simplesmente dizer “Rodrigo vai no notebook e
cria seu canal” não faz o leitor vibrar, nem faz que nele acenda uma chama de
curiosidade, empolgação, torcida, curiosidade; não nos faz sentir nada! E isso
é muito triste.
Conforme as cenas vão passando o leitor tem de presenciar
mais diálogos expositivos, mais personagens introduzidos só pelo nome (e até
mesmo surgindo inicialmente em falas) e mais cenas narradas robótica e
burocraticamente. Mas, assim como o espaço interestelar, o capítulo fica um
tanto mais literariamente nocivo. Por favor, não pensem que sou eu, estou
apenas dando minha primeira impressão, e vocês mesmos podem constatar: Eloiza,
ao ver Maíra em seu local de trabalho, automaticamente já se pergunta se aquela
mulher está ali para roubar sua vaga. Mancebos... pensem comigo. Uma empresa
com dezenas ou até centenas de pessoas, de diversos níveis hierárquicos em
diversas áreas e departamentos... Será mesmo que um funcionário pensaria isso
ao ver uma pessoa desconhecida chegando ali? “Ah, mas essa pessoa foi falar com
seu chefe, e ela pode também estar vestida ou munindo ferramentas que são do
seu tipo de serviço”, podem dizer. Bom, então por que é que o texto não se
encarregou em me descrever isso? Percebem o que quero dizer?!
E a situação só se agrava! Por que é que Eloiza
pensa mal de Maíra e a trata por “fulaninha” quando seu chefe Flavio a chama
para conversar, ao que ela também já responde com um singelo e sutil
questionamento: “Quer me demitir?”. Fora a dedução iluminada cosmicamente de
que a “fulaninha” está ali para lhe roubar a vaga, não há razão alguma para
Eloiza detestar tanto assim a novata Maíra! Não há um motivo sequer apresentado
pelo texto, nem mesmo características físicas que poderiam indicar um
preconceito (nada!) velado! E o buraco fica ainda mais fundo ao constatarmos
que ela coloca toda a culpa de seus atrasos e péssimos atendimentos ao
clientes, problemas apontados por Flavio e que vêm acontecendo há tempos, na
“fulaninha”, que chegou ali HOJE! Olhem, tudo isso me faz pensar apenas que alguma
coisa nisso tudo tem sérios problemas: ou Eloiza, ou o texto. A diferença é que
se fosse a primeira, o segundo teria algum mérito.
Não bastando tudo isso, ainda nos deparamos com
abreviações como “vc” no lugar de “você” e um uso de pontuações bastante
deficiente. A apresentação visual, ou seja, a formatação, não tem absolutamente
nada de interessante, nem mesmo se dá ao trabalho de diferenciar o tamanho ou a
cor dos cabeçalhos, ou até mesmo de destacar as falas das descrições, e muito
menos diferenciar o espaçamentos entre as frases. Se ainda esse quesito fosse
agradável aos olhos, teríamos algo para aliviar nossa experiência.
Bem, depois de um período incrivelmente curto,
finalmente saio do buraco de minhoca, do outro lado da galáxia, e a sensação
não é nada agradável. Mas, infelizmente... não estou falando sobre o trajeto através
do túnel espacial.
Novela: A Inveja Mata
Autor: Igor Gonçalves
Capítulos: 15
Emissora: Ranable Webs
Clique aqui para ler o 1° capítulo
É com grande surpresa que chego ao outro lado
do buraco de minhoca sem ter passado por nenhum daqueles incômodos surpresas.
Agora é só direcionar a nave para o quadrante correto e avançar à toda
potência. Mais uns 10 dias e, acredito, já estarei em minha terra natal. A
única coisa que me intriga nesse momento é a escuridão desse ponto da galáxia.
Não vejo nenhuma estrela à frente, apesar de com certeza estar no espaço. Bem,
não deve ser nada demais... Veremos.
Por
hoje é isso, mancebos. Gostaram do programa? Têm dúvidas ou reclamações? É só
dizerem abaixo. Querem a crítica da estreia de alguma webnovela ou websérie?
Peçam abaixo e prometo tentar lhes atender, como tentei (e pude) atender todos
os pedidos até agora. Perderam o programa da semana passada? Cliquem aqui e poderão lê-lo. Eu vou ficando por aqui, e espero que vocês fiquem bem
por aí. Bebam muita água para que possamos nos ver bem no próximo domingo! Até
lá!
Obrigado pelo seu comentário!