Saudações, queridos mancebos,
sejam muito bem-vindos a mais um programa Primeira Impressão!
E hoje minha passagem será mais
rápida, pois meu encontro com o Alto Conselho foi adiada e meu advogado e eu
estamos preparando toda a defesa e estratégias para essa semana. Portanto,
vamos logo ao que mais interessa.
A crítica de hoje se trata de
Ovelha Negra, escrita por Maurício Rosa Silva e exibida na TV Mix. Confira a
sinopse:
“Uma ilha afastada, uma
grande tempestade, onze ovelhas assustadas... Quem será a Ovelha Negra entre
nós?”.
O problema mais clássico das
webnovelas é a figura da “grande vilã da trama”, geralmente megeras caricatas,
histéricas, o retrato moderno das bruxas dos contos de fadas. São tipos que os
autores criam se inspirando no que veem nas telenovelas, mexicanas e
brasileiras. E ali, nas obras audiovisuais, o resultado não é muito melhor que
isso, de fato textos e atrizes não costumam dar uma razão lógica ou um
aprofundamento àqueles comportamentos no mínimo inverossímeis. O que já é ruim
geralmente consegue ser piorado em algumas obras do Mundo Virtual.
Portanto, confesso que
quando, como leitor, fui apresentado a Laura, figura central desse capítulo de
estreia intitulado “Álbum de Família”, já imaginei que estava diante de mais um
fatídico exemplar da vilã maligna de novela, mas não demorou muito para o meu
preconceito cair por terra. Para que entendam, Laura é uma senhora riquíssima,
mas que descobriu recentemente que lhe restam poucos meses de vida em decorrência
de um câncer que tem. Com relacionamento problemático com a maioria dos filhos,
noras, sobrinhos e agregados, ela decide os reunir em sua mansão em uma ilha
durante um final de semana, a fim de lhes fazer um grande anúncio; são convidados
também dois amigos. Todos vão, apesar de alguns a contragosto, enquanto outros
parecem já desconfiar do que se trata o tal anúncio.
Como vocês, mancebos, já podem
desconfiar, o que Laura tem a dizer à família e amigos está relacionado à sua
doença terminal. Ela mesma abre o capítulo falando ao telefone com alguém não
identificado, para quem revela reconhecimento de seus próprios erros, e que
quer mudar tudo e viver em paz com a família durante seus últimos dias. Uma personagem
em busca de redenção, talvez... Será mesmo? Acontece que quando todos chegam,
os primeiros sinais da velha Laura, a odiada pela maioria, já começam a se apresentar.
Aqui vale um ponto muito bem dado à cena em que o pessoal se encontra na praia,
nos arredores da mansão, e um grupo pergunta ao outro se Laura veio com eles,
pois 2 barcos diferentes trouxeram todos. Constatado que ninguém a teve por companhia
e após alguém dizer que “aquela vaca” não andaria de barco e outro se perguntar
do que então ela viria, um helicóptero surge logo acima e pousa com a “diva” e
seu gato de estimação. Inverossímil? Talvez, mas a cena é sagaz, e um belo
exemplo de chegada de personagem. E esse é só o início, porque conforme todos
vão se acomodando na casa, Laura não deixa de destilar seu veneno contra a nora
que não engravida, à outra com quem tem um problema grave do passado e ao
sobrinho especial. Talvez tanto o leitor mancebo quanto o leitor da novela
pense que está aí uma incongruência na construção da personagem, mas eu não
vejo assim.
E para entenderem meu
posicionamento temos que chegar ao final do capítulo (que não é muito grande),
onde Laura finalmente reúne todos e faz seu anúncio. Entrega a eles 2 envelopes:
em um está o resultado de seu exame, e no outro cópias do seu testamento. Antes
que eles possam questionar quanto cada um deles receberá de todo o patrimônio
de Laura, a mesma já adianta que resolveu beneficiar apenas um deles com tudo o
que é seu, e que em caso de recusa ou morte do beneficiado, uma linha de sucessão,
formada por todos eles, será seguida, assim sucessivamente conforme forem
recusando ou morrendo. E é exatamente aí que tudo muda em relação à megera (agora
sim o termo se aplica).
Suas atitudes e suas falas malignas
com os membros da família em um momento que ela mesma alegava ser de reconciliação
e união nada mais são do que evidências de sua verdadeira intenção: Laura quer
ver o circo pegar fogo. Laura quer ver muito sangue e muito fogo por todos os
lados. Odeia tanto todos eles (a maioria, pelo menos) que armou um plano genial
para vê-los se matar, um a um, usando suas próprias ambições contra eles mesmos,
se aproveitando do desejo de alguns de colocar as mãos em sua fortuna para os
destruir. Fazer a cobra engolir a própria cauda. A jogada é esperta, digna de
uma vilã de respeito. Por vilã, quero dizer vilã mesmo.
A paz que a personagem dizia
buscar só poderá ser encontrada assistindo, do alto de seu conforto, seus
desafetos armarem uns contra os outros até não sobrar ninguém, e ela poder sair
desse mundo tranquila, sabendo que nenhum inimigo seu ficará com sua riqueza.
Isso já é minha dedução do que vem nos capítulos seguintes, até porque nem
mesmo sabemos se a história do câncer é real. Confesso que prefiro uma versão
onde a doença é sim verdadeira, e tudo o que Laura quer é morrer e levar todos
consigo.
Quem me acompanha sabe que não
sou muito de especular o que vem nos capítulos subsequentes, mas esse capítulo,
de todos os que já analisei aqui no programa, foi o que mais me deu vontade de
prosseguir leitura. Fato esse que não isenta o mesmo de todos os problemas que possui.
A cena em que a família é apresentada nos barcos, já próximos da ilha, é mais
um exemplo de como não se introduzir personagens, onde os nomes são
simplesmente tacados no texto, sem preocupação alguma em descrever ao menos
características básicas e faixa etária. Egídio, o sobrinho especial de Laura,
parecia ser um mancebo, mas, segundo os materiais de divulgação da webnovela, já
é um homem bem mais velho. E trama nenhuma tem que depender de materiais externos
para ser compreendida, ela precisa se sustentar individualmente.
Os diálogos oscilam entre ok e bem bons, e a formatação não apresenta nada de mais, apesar de seguir uma ideia clara de organização. As maiores forças do capítulo são realmente sua protagonista Laura e o absoluto sucesso em apresentar a premissa da novela, em parte por meio de um gancho espetacular. Descobrir quem é a ovelha negra dessa família, se é que há apenas uma, eu infelizmente não vou, mas, ao menos em alguns aspectos, descobri nessa estreia uma “ovelha” igualmente diferenciada, que também se destaca entre a monocromia ao redor.
Novela: Ovelha Negra
Autor: Maurício Rosa Silva
Capítulos: 15
Emissora: TV Mix
Clique aqui para ler o 1° capítulo
Então por hoje é isso, queridos. Quero
resolver minhas pendências aqui em meu planeta para poder o mais rapidamente
possível retornar ao seu lar e preparar nossa tão esperada cerimônia do Troféu
Galáxia. Está chegando, é em dezembro!
Perderam
o programa da semana passada, que foi Especial de Halloween? Então clique aqui e
confira, está imperdível! O que acharam da crítica e do programa? Digam nos
comentários! Torçam por mim e no próximo domingo terei uma notícia melhor para
lhes dar quanto ao meu caso aqui. Tenham uma boa semana e até o próximo
domingo!
Obrigado pelo seu comentário!