Capítulo
24
Cena 01 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Noite]
(Luiza Helena encara o envelope e
estranha a caligrafia, pois tem a impressão de que ela seja familiar. O
envelope não possui remetente, apenas o nome dela).
LUIZA HELENA: Ué, que esquisito... Quem será que escreveu isso?
(Resolve abrir o envelope em seguida e começa a ler a carta).
Narração na voz de Manoel, pai de
Luiza Helena:
“Luiza, minha filha. Escrevo essa
carta porque não tive tempo e muito menos coragem de te encarar na cara e te
contar a verdade. Durante muitos anos eu achei que tivesse feito o que era
certo, mas pude entender depois de todo o seu sofrimento o quanto fui
responsável por te deixar assim, completamente amargurada. Eu errei como pai,
mas foi tentando acertar. Se eu pudesse, daria tudo para voltar no tempo, só
que infelizmente eu não tinha esse poder. O Durant sempre foi um bom rapaz, só
que eu não enxerguei isso a tempo. Tive medo de que ele levasse para longe a
minha única filha, foi então que resolvi separá-los. No dia em que saí de casa
para lavar a nossa honra e jogar na cara dele o quanto ele tinha desgraçado a
sua vida, eu não o encontrei, na pensão onde ele ficava, soube que ele precisou
visitar para São Paulo urgentemente para auxiliar uma prima que havia acabado
de ficar viúva. Quando ele retornou à Porto de Pedras, a sua mãe já havia
falecido vítima daquela forte tuberculose que teve, foi então que começou toda
a confusão. Ao se deparar com o caixão fechado, já que não podíamos abri-lo devido
a tuberculose ser contagiosa, eu menti. Disse para o Durant que era você quem
estava naquele caixão, fui capaz de dizer que você havia morrido.”
LUIZA HELENA: (Pausa a leitura completamente horrorizada e olha
para os lados completamente transtornada) Meu Deus... Meu Deus! (Em seguida
volta a ler a carta).
Narração na voz de Manoel, pai de
Luiza Helena:
“Quando ele soube que você havia morrido, ele ficou
enlouquecido. Queria te ver, se despedir e te ver pela última vez, mas eu
prossegui com a mentira e deixei ele continuar acreditando naquela infâmia. Eu
ainda lembro o olhar consternado quando ele deixou a nossa casa após saber de
sua falsa morte. Pouco mais de dois meses depois você deu à luz a Roberta
Miranda, minha pequena Betinha. A minha pequena criança havia tido outra
criança, senti o desejo de protege-la e por isso fiz o que fiz. Aproveitei a
minha amizade com o responsável pelo cartório da cidade naquela época e foi
assim que consegui adulterar a certidão da Betinha para meses antes da real
data do nascimento dela, podendo encaixar assim o nome de sua falecida mãe. A
única verdade nessa história é que o pai dessa menina nunca soube da existência
dela e talvez nunca mais saiba, essa culpa eu carregarei para sempre comigo e
espero que algum dia, você pensa me perdoar. Seu pai, Manoel.”
LUIZA HELENA: (Joga a carta no chão e grita) Não!
(Completamente transtornada, Luiza
Helena começa a andar de um lado para o outro em seu quarto enquanto ouve
vozes. Ouve o choro de Betinha quando ainda era apenas um bebê, a voz de sua
mãe e a do seu pai dizendo que seu amor com Durant será impossível, tudo isso
fruto do delírio da sua imaginação atordoada).
LUIZA HELENA: (Pega
a carta do chão, abre a porta do quarto e sai correndo).
Cena 02 – Ruas da Mooca
[Externa/Noite]
Música da cena: Jeito Sexy - Sambô
(Pelas ruas da Mooca, Maria Rita
caminha rumo a mais um dia de trabalho na noite de São Paulo, mas durante sua
caminhada, algo começa a pairar em sua cabeça).
MARIA RITA: (Pensativa, olha para o restaurante de Zeca do outro
lado da rua e fala consigo mesma) Quer saber? Eu vou mostrar ao Caruso que ele
não manda em mim e que eu posso sim deixar essa vida quando eu quiser.
(No interior do restaurante, Zeca e
Ítalo atendem aos clientes no salão, enquanto Marcelo se encarrega da cozinha).
ZECA: Boa noite,
que surpresa! (Diz ao ver Maria Rita em seu restaurante).
MARIA RITA: (Sorri
para Zeca) Boa noite, o Marcelo está?
ZECA: Está sim, lá
na cozinha para ser mais exato.
MARIA RITA: E
eu posso vê-lo?
ZECA: Claro, você
é de casa. Sabe o caminho, não sabe?
MARIA RITA: Sei
sim, com licença! (Diz ao se retirar).
(Na cozinha do Umbu-Cajá, Marcelo
cortava tomates para compor uma salada. Ao erguer a cabeça, deparou-se com
Maria Rita parada e olhando para ele).
MARCELO: Tigresa, o que você está fazendo aqui? (Questiona).
MARIA RITA: Eu resolvi retribuir um pouco do carinho e afeto que
você tem me proporcionado nos últimos tempos. Não vou mais trabalhar, quero
ficar aqui... Com você tigrão!
MARCELO: (Sorri emocionado).
MARIA RITA: (Corre ao encontro de Marcelo e pula em seu colo. Ao
ser segurada por Marcelo, os dois trocam beijos apaixonados).
Cena 03 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Noite]
(Eva andava apressava e se aproximava
da sala enquanto ouvia gritos).
EVA: (Chega na sala de estar) Meu Deus, o que está
acontecendo?
LUIZA HELENA: (Desce a escada correndo aos gritos) Eva, Eva!
EVA: O que foi, minha filha? O que aconteceu?
LUIZA HELENA: A carta... Essa carta! (Diz ao terminar de descer a
escada e encontrar com Eva).
EVA: (Percebe a aflição de Luiza Helena e tenta acalmá-la)
Calma! O que tem de tão importante nessa carta?
LUIZA HELENA: Essa carta foi o meu pai que escreveu, meu Deus como
eu estive cega, olha, lê... (Entrega a carta para Eva).
EVA: (Pega a carta e começa a ler).
LUIZA HELENA: O meu pai mentiu, ele mentiu para nós dois. O Durant
nunca me abandonou, ele pensou que eu estava morta. O Durant pensava que eu
morri há vinte anos.
EVA: (Ergue a cabeça e olha para Luiza Helena
impressionada).
Cena 04 – Casa de Durant
[Interna/Noite]
Música da cena: Me Leva – Alice
Caymmi
(Imagens aéreas da cidade de São
Paulo são apresentadas e mostram toda a movimentação noturna. Em seguida, surge
de plano de fundo a fachada da casa de Durant. Após sair do banho, Durant cruza
o corredor do andar superior da sua casa enrolado numa toalha preta. Em
seguida, ele se surpreende ao abrir a porta de seu quarto e se deparar com uma
visita).
DURANT: Glória? O
que você está fazendo aqui? Como conseguiu entrar?
GLÓRIA: (Olha para
Durant enquanto está deitada em sua cama de frente para a porta) Eu vi a sua
prima saindo, resolvi me aproximar e percebi que a porta estava aberta, resolvi
te fazer uma surpresa. Te assustei?
DURANT: Na verdade,
sim. Eu não imaginava me deparar com alguém dentro do meu quarto e em minha
cama, para ser mais exato.
GLÓRIA: Ah, não
fique chateado comigo. Eu só queria te fazer uma surpresa, você sabe que eu sou
meio impulsiva, não é por maldade...
DURANT: É, eu sei
sim. Bom, eu vou trocar de roupa no quarto do Rafael e já volto!
GLÓRIA: (Levanta e
vai ao encontro de Durant que continua parado na porta) Trocar de roupa em
outro quarto? Porque? Não tem nada aqui que eu não tenha visto ainda, tem?
(Puxa a toalha de Durant).
DURANT: Glória, por
favor! (Tenta se desvencilhar de Glória).
GLÓRIA: (Coloca um dedo nos lábios de Durant para que ele se
cale) Não diga mais nada, não resista... Apenas sinta esse momento! (Glória
beija Durant).
Cena 05 – Chesca’s, Restaurante
Italiano [Interna/Noite]
(Ainda nervosa por conta da briga,
Lola está sentada na cozinha completamente trêmula após o reencontro com
Glória. Francesca e Enrico tentavam acalmá-la).
ENRICO: (Entrega um copo d’água a Lola) Toma, você precisa se
acalmar!
LOLA/AMARA: (Bebe um gole de água) O passado inteiro voltou e
está me atormentando, eu não sei se consigo lidar com isso novamente.
FRANCESCA: Io entendo o quanto isso deve ser difícil, mas você
precisa entender que as pessoas do seu passado virão te confrontar, uno per
uno.
ENRICO: (Se abaixa e olha para Lola) A mamma tem razão, Lola,
Amara... Seja lá qual for o seu nome. Você não pode esmorecer a partir de
agora, seja forte, continue forte. Você não está sozinha, nós iremos te apoiar.
LOLA/AMARA: (Se emociona) É engraçado, sabe? Quando toda a minha
vida esteve de cabeça para baixo era isso que eu mais precisava ouvir da minha
família, mas eles me deram as costas. Vocês mal me conhecem e me acolheram de
uma forma que eu jamais terei como pagar e agradecer por tudo.
FRANCESCA: Você já agradeceu, mia cara. A sua amizade paga
qualquer coisa, non se preocupe! (Abraça Lola).
Cena 06 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Manhã]
Música da cena: Sampa – Caetano
Veloso
(O dia amanhece, imagens do sol
surgem de plano de fundo. Logo as pessoas começam a transitar pela cidade. As
principais avenidas da cidade são mostradas logo após e por fim, a fachada da
mansão aparece).
BETINHA: (Toma um
pouco de iogurte cremoso) Eva, a minha irmã já desceu?
EVA: Eu fui chama-la para tomar café quando percebi
que ela não havia descido, mas a cama já estava arrumada e ela não estava lá.
Saiu tão cedo que eu nem a vi e foi sem o motorista.
BETINHA: A Luiza
Helena está com umas manias estranhas ultimamente, não estou gostando nada
disso.
EVA: (Sussurra) Eu até já imagino onde
ela possa estar...
BETINHA: Disse alguma
coisa, Eva?
EVA: Não minha querida, eu apenas pensei
em voz alta. Você quer mais alguma coisa?
BETINHA: Não, não
precisa se incomodar comigo. Eu vou só terminar o meu suco e vou correr para a
faculdade, tem um projeto bacana chegando aí e que eu estou louca para fazer
parte.
EVA: Maravilha, minha linda. Faz muito bem, estude, cresça
e seja uma grande profissional. Sua mãe terá orgulho de você!
BETINHA: (Sorri) É fofo e engraçado ao mesmo tempo, do jeito
que você falou até parece que conheceu a minha mãe.
EVA: (Olha para Betinha e permanece em silêncio, para não
revelar um segredo que não lhe pertence).
Cena 07 – Casa de Durant
[Externa/Manhã]
(Após se despedir de Durant, Glória
se prepara para deixar a casa dele).
GLÓRIA: (Abre o
portão da casa de Durant quando nota um táxi estacionar).
LUIZA HELENA: (Desce do táxi após pagar ao motorista) Obrigada!
GLÓRIA: E agora, o que você veio fazer aqui? (Pergunta).
LUIZA HELENA: (Se aproxima e tenta entrar na casa) Eu vim ver o
Durant, me deixe entrar. Eu preciso falar com ele!
GLÓRIA: (Se coloca na frente do portão e empurra Luiza
Helena) Não! Aqui você não entra. Não bastou se oferecer para o meu irmão,
agora também vai ser oferecer para o meu namorado?
LUIZA HELENA: (Encara Glória) Pouco me importa o que você é dele.
Eu vou falar com o Durant e ninguém vai me impedir. (Tenta entrar).
GLÓRIA: (Empurra Luiza Helena novamente) Eu já disse que não.
Aqui você não vai entrar, abusada!
MARIA RITA: (Dentro de casa, observa da janela que Glória e Luiza
Helena estão discutindo).
LUIZA HELENA: (Respira fundo) Olha Glória, você já está me tirando
do sério faz tempo. Na minha terra dizem que o remédio de um doido, é outro
doido bater na porta. Está faltando um tantinho assim para eu me esquentar.
Saia da minha frente ou eu...
GLÓRIA: (Interrompe Luiza Helena) Ou o que, pescadora? Vai
mostrar as suas garras? Eu não tenho medo, eu sim tenho coragem de falar muitas
verdades na sua cara. Vagabunda, aproveitadora, eslionatária, larápia... Você não passa
de uma qualquer!
LUIZA HELENA: (Esbofeteia Glória) Eu avisei... Agora você vai sair
da minha frente! (Glória e Luiza Helena se agarram no tapa).
MARIA RITA: (Abre a porta e sai de casa correndo para afastar as
duas, colocando-se entre elas) O que vocês pensam que estão fazendo? Brigando
feito duas molecas no meio da rua?
LUIZA HELENA: Essa dondoca que não quer me deixar entrar, eu
preciso falar com o Durant! (Diz tentando bater em Glória novamente, mas como
Maria Rita está entre elas, não consegue).
GLÓRIA: Você não vai entrar, eu mostro a você que não. Vem
aqui se você tem coragem, vem!
MARIA RITA: E quem foi que disse que você decide ou não quem entra
na minha casa?
GLÓRIA: (Se afasta sem graça) É que...
MARIA RITA: (Interrompe Glória) É que nada! Se a loirona quer
entrar na minha casa, ela é muito bem-vinda. Nem você, nem ninguém vai impedir,
entendeu?
LUIZA HELENA: Obrigada, obrigada... Realmente é muito importante o
que eu tenho para falar com ele. É muito urgente!
MARIA RITA: (Olha para Luiza Helena e percebe
sua aflição) Claro, minha querida! Pode entrar e subir a escada, é o segundo
quarto a direita.
LUIZA HELENA: (Sem pensar duas vezes entra na casa correndo).
GLÓRIA: Se ela pensa que vai roubar o Durant de mim, ela está
enganada. Eu também vou entrar!
MARIA RITA: (Coloca-se na frente de Glória e impede que ela
passe) Não, você não vai entrar. Por hoje já está de bom tamanho, você já arrumou
muita confusão. Por favor, retire-se! (Orienta Glória a ir embora).
GLÓRIA: (Encara Maria Rita) Eu vou, mas saiba que isso não
vai ficar assim. Eu vou contar tudo para o Durant, essa forma que falou comigo
como se eu não fosse ninguém. Pode anotar querida, eu volto ou eu não me chamo
Glória Martins de Andrade e Britto, futura Durant. (Dá as costas e vai embora).
MARIA RITA: (Começa a falar alto para que Glória escute enquanto
vai embora) Vai, sua mal educada. Da próxima vez a loirona te desmonta com a mão
pesada dela e te faz esquecer esse teu nome de grã-fina metida!
(No interior da casa, Luiza Helena
sobe a escada correndo. Ao chegar no andar superior, segue as orientações e vai
exatamente no quarto indicado por Maria Rita).
LUIZA HELENA: (Abre
a porta do quarto de Durant bruscamente e se depara com ele).
DURANT: (Surpreende-se)
Luiza Helena, o que você está fazendo aqui?
Cena 08 – Universidade Pereira
Vasconcelos [Externa/Manhã]
(Enrico está sentado em uma mesa do
campus da universidade aprontando seus últimos croquis para um projeto quando é
interrompido).
ÍTALO: Atrapalho?
(Pergunta ao se aproximar).
ENRICO: (Olha para
Ítalo, não responde e continua desenhando).
ÍTALO: (Senta-se
perto de Enrico) Eu sei que você está chateado e não o culpo, tenho a convicção
de que pisei na bola, mas eu estou tentando me acertar.
ENRICO: (Para de desenhar e olha para Ítalo) O que você quer
que eu faça? Você vem, fica comigo e depois me ignora. Você se aproxima, depois
se afasta. Você sabia que eu sou um ser humano e tenho sentimentos, não sabe?
Até quando você acha que eu vou aguentar esse tipo de coisa? Não tem sentimento
que dure, não tem amor que aguente. (Dispara).
ÍTALO: Isso quer dizer que você me ama? (Questiona).
ENRICO: E se for, do que vai adiantar? Você vai fugir logo,
logo.
ÍTALO: (Coloca a mão sobre a de Enrico) Como é que eu posso
fugir do que já se tornou realidade?
ENRICO: (Sente seus olhos se encherem de lágrimas) Então você
está admitindo também?
ÍTALO: Sim, eu também estou completamente apaixonado por
você. (Conclui).
Cena 09 – Casa de Durant
[Interna/Manhã]
(Durant permanece parado e surpreso
enquanto aguarda a resposta de Luiza Helena).
LUIZA HELENA: Eu precisava falar com você. Não tinha como esperar,
por isso eu vim tão cedo, me desculpa, mas eu precisava. Ah, eu nem sei como
vou começar!
DURANT: Calma! Eu já percebi que você está nervosa, aconteceu
alguma coisa? Você quer sentar?
LUIZA HELENA: (Abre a bolsa e tira um envelope) Eu não tenho como
começar isso que eu vim te dizer de outra forma se não for assim. Leia isso,
por favor! (Entrega o envelope a Durant).
DURANT: (Estranha, mas pega o envelope e o abre. Em seguida,
ele começa a ler a carta e fica estarrecido) Eu sabia, como eu pude ser tão
idiota? Eu tinha que ter visto o caixão aberto, eu deveria ter exigido... (Para de ler a carta e não conclui, entregando o envelope de volta para Luiza Helena sem descobrir todo o conteúdo relatado por Manoel, pai de Luiza Helena).
LUIZA HELENA: (Se emociona) Você não tinha o que fazer, meu pai
armou muito bem essa situação para que você acreditasse que quem estava naquele
caixão era eu, não a minha mãe. Agora eu entendo o porque de você ter me esquecido
e nunca mais ter voltado à Porto de Pedras. (Fala em tom de lamentação e
tristeza).
DURANT: (Também emocionado, olha para Luiza Helena e sorri) E
quem foi que disse que eu te esqueci?
LUIZA HELENA: (Sem conseguir conter, lágrimas escorrem por todo seu
rosto) O que você está querendo dizer com isso?
DURANT: Vem comigo! (Sai do quarto e estende a mão para que
Luiza Helena o acompanha).
LUIZA HELENA: (Olha para a mão de Durant receosa, mas decide seguir
seu coração e o acompanha).
(Luiza Helena e Durant sobem mais uma
escada, essa por sua vez dá acesso ao sótão da casa e os dois se aproximam da
porta).
DURANT: Por mais que
eu pensasse que você estivesse morta, o meu coração nunca soube lidar com o fim
da nossa história. Eu sempre soube que o dia em que você entrasse nesse lugar,
você saberia que eu nunca te esqueci nem por um só segundo. Entra! (Diz ao
abrir a porta do ateliê).
Música da cena: O Ar Que Eu Respiro –
Dienis
LUIZA HELENA: (Entra no ateliê de Durant e se depara com várias
telas com seu próprio rosto retratado em diversas modalidades, emocionando-se
ainda mais).
DURANT: (Fecha a porta do ateliê após os dois entrarem)
Durant anos eu reproduzi o seu rosto para que ele jamais saísse da minha
memória.
LUIZA HELENA: (Tenta se recompor) Eu quero dizer tanta coisa, mas
parece que a minha cabeça está a mil. Eu nem sei o que te dizer e como começar.
DURANT: Eu acho que posso te ajudar. Que tal começarmos por
algo que não fazemos há muitos anos? (Pergunta olhando para Luiza Helena).
(Durant e Luiza Helena se aproximam e
se beijam ardentemente como não faziam há mais de duas décadas. Enquanto se
beijam, eles se aproximam da mesa onde Durant armazena suas tintas para pintar
as telas. Durant empurra as tintas e as joga contra o chão, em seguida deita Luiza
Helena na mesa. Os dois continuam se beijando intensamente. Durant abre a blusa
de Luiza Helena enquanto beija seus ombros lentamente. Em seguida ela tira a
camisa dele e desliza suas mãos pelas costas dele. Assim, os dois se amam ali
mesmo. Percebendo por fim, que nunca haviam deixado de se conectar um com o
outro).
Cena 10 – Apartamento de Glória
[Interna/Tarde]
(Glória entra em casa completamente
furiosa e se depara com Judith varrendo a sala e tirando o pó da mobília).
GLÓRIA: (Fecha a porta com força) O que foi, jamanta velha?
Nunca me viu, não? Não estou com bom humor hoje, não se atreva a me atormentar
ou eu te jogo pela janela.
JUDITH: Credo, Dona Glória! Que humor de cão, o que houve com
a senhora? Que bicho te mordeu?
GLÓRIA: Uma piranha! (Esbraveja).
JUDITH: (Olha para o rosto de Glória o nota levemente
avermelhado) Que marca é essa na sua cara, Dona Glória?
GLÓRIA: (Vira o rosto e tenta disfarçar) Marca? Marca
nenhuma. Eu não tenho cara, estrupício. Eu tenho rosto, você que tem uma cara
de mendiga morta de fome. Eu vou para o meu quarto e não quero ouvir nem a sua
respiração, entendeu?
JUDITH: Mas a senhora não vai trabalhar, Dona Glória? A
revista...
GLÓRIA: Pro inferno a revista! (Grita ao deixar a sala e
Judith boquiaberta).
JUDITH: (Pensa em voz alta) Essa daí não me engana, alguém
anda amaciando a cara dela bonito, mas não tem problema, vou fazer algo mais
interessante. (Tira o celular do bolso e volta a olhar o aplicativo AMOR.COM,
analisando os perfis de seus futuros pretendentes) Esse não, esse também não,
muito barbudo, muito careca, muito sorridente, muito sério... Esse! Esse sim,
gostei... Vou curtir!
Cena 11 – Na Boca Do Povo, Redação
[Interna/Tarde]
(Sem ser visto, Evandro entra na sala
de Luiza Helena na revista).
EVANDRO: Vamo lá, garanhão! Tem que ter alguma coisa
interessante sobre a pescadora nessa sala. Mas onde? (Fala consigo mesmo
enquanto observa a sala cautelosamente).
(Em seguida, Evandro começa a mexer
nas gavetas de Luiza Helena e ler todos os papéis que encontra. Em seguida ele
encontra um livro em formato de agenda e começa a folheá-lo).
EVANDRO: (Observa o
conteúdo escrito) É, talvez tenha algo aqui que seja útil. Só me resta
descobrir! (Evandro começa a fotografar página por página enquanto lê o que tem
escrito).
Cena 12 – Casa de Durant
[Interna/Tarde]
Música da cena: O Ar Que Eu Respiro –
Dienis
(Cobertos apenas por uma manta, Luiza
Helena e Durant permaneciam deitados no tapete do ateliê de Durant, enquanto
trocam beijos apaixonados).
DURANT: (Olha para Luiza Helena).
LUIZA HELENA: O que foi? Por que está me olhando assim?
DURANT: Porque eu não quero me separar de você nunca mais.
LUIZA HELENA: (Beija Durant novamente) Eu não vou mais sair do seu
lado, eu prometo.
DURANT: Enfim, desvendamos o passado e não existe mais nenhum
segredo entre nós dois, nada que nos separe.
LUIZA HELENA: (Fica séria de repente) Durant, eu preciso te contar
uma coisa importante, uma coisa que...
(De repente, ouvem-se gritos).
DURANT: (Senta-se
bruscamente e interrompe Luiza Helena) Você ouviu isso?
LUIZA HELENA: (Senta-se
cobrindo o busto com a manta) Ouvi sim, parece uma briga!
DURANT: Sim, parece
a voz da minha prima e vem lá debaixo. Eu vou até lá! (Levanta-se e começa a se
vestir).
LUIZA HELENA: Eu
vou com você, talvez eu possa te ajudar de alguma forma. (Veste o sutiã e em
seguida a blusa).
(Na sala de estar, Caruso confronta
Maria Rita após ela o desafiar não indo fazer programa).
MARIA RITA: Vai embora Caruso, saia da minha casa. Eu não quero
que ninguém te veja aqui! (Diz enquanto dá alguns passos para trás,
completamente assustada).
CARUSO: (Anda seguindo Maria Rita) Eu disse para não me
desafiar, não disse? Ninguém me passa para trás.
MARIA RITA: Caruso, tente entender... Eu tenho o direito de
largar essa vida, recomeçar de novo. Me deixe seguir em frente, por favor!
CARUSO: Você não me deixar na mão, principalmente depois de
tudo o que eu investi em você. Eu vou te dar uma lição que você não vai
esquecer nunca...
MARIA RITA: Não Caruso, pelo amor de Deus não faça nada comigo!
(Já vestidos, Luiza Helena e Durant descem a escada e se
deparam com Caruso e Maria Rita no meio da sala).
CARUSO: (Acerta um tapa no rosto de Maria Rita que perde o
equilíbrio e vai ao chão).
DURANT: Canalha, covarde... Na minha prima não vai encostar o
dedo, eu vou te mostrar que não se deve encostar numa mulher. (Diz para logo em
seguida correr na direção de Caruso e lhe acertar um soco).
LUIZA HELENA: (Ajuda Maria Rita a se levantar) Você está bem?
MARIA RITA: (Levanta do chão desesperada) Não Durant, não faça
nada. Não cometa uma desgraça por minha causa, por tudo que há de mais sagrado.
DURANT: (Se afasta de Caruso completamente furioso) Quem é
esse canalha? O que ele faz aqui?
CARUSO: (Sorri debochando enquanto um filete de sangue
escorre pelo canto da boca) Que foi? Quer dizer que você não contou para o
primo garanhão qual a nossa relação?
MARIA RITA: (Completamente desesperada, inventa rapidamente uma
mentira) Ele é meu ex-namorado, ele não aceita o término do namoro, mas agora
ele já está indo e vai me deixar em paz para sempre, não é?
DURANT: Namorado? Que namorado? Eu não me lembro desse cara.
CARUSO: Fala a verdade! Não tem coragem, não é?
(Luiza Helena e Durant olham para
Maria Rita).
DURANT: De que
verdade ele está falando? (Questiona).
MARIA RITA: (Chora
e com o olhar, suplica para Caruso) Não Caruso, eu imploro!
CARUSO: Já que ela
não tem coragem de falar a verdade, eu vou bater a real. Essa daí que você
chama de prima, que pensa ser uma mulher honesta... Não passa de uma vagabunda!
DURANT: (Encara
Caruso completamente fora de si) Eu vou fazer você engolir as suas ofensas...
CARUSO: A rameira da
Maria Rita não passa de uma biscate. Ela é garota de programa! (Grita).
A imagem foca em Maria Rita aos
prantos após ser descoberta. A cena congela e vira uma capa de revista.
Obrigado pelo seu comentário!