Saudações, queridos
leitores! Sejam todos bem-vindos a mais um Primeira Impressão!
E, grato que estou pelo
retorno de vocês no domingo passado, não farei nenhum rodeio a não ser a
apresentação da obra que analisaremos. Vamos comigo?!
E a crítica de hoje se trata
de Garotos de Aluguel, escrita por Edgar Feitosa e exibida no Ranable Webs.
Confiram a sinopse:
“Rodolfo é um garoto
simples, mora com a mãe e os dois irmãos na favela de Paraisópolis. Quando seu
pai foi assassinado por traficantes locais, Rodolfo passou a ser responsável
pela família, já que Darlene, sua mãe, possui um grave problema de saúde, e a
partir disso, Rodolfo, sem opções, sem emprego e oportunidades, resolve se
embrenhar na prostituição, tirando disso o sustento da família. Ele tem uma
namorada chamada Ciça, e ela é a única que conhece a vida dupla do
namorado. Enquanto isso, conhecemos também a história de Guilherme, garoto
mimado pelos pais, único herdeiro da família. Essa comanda há anos uma grande
fábrica de cervejas artesanais. Mas Guilherme não nasceu pra mesmice e é
por isso que ele vende o corpo, por puro prazer e loucura, mas esconde de
todos sua vida dupla. No último ponto da história temos Léo, um advogado
recém-formado, ex-garoto de programa que decidiu largar a vida de prostituição
e o uso das drogas para seguir seu sonho, porém, acostumado com uma vida fácil,
torna-se um obstáculo para ele viver sem o prazer e o dinheiro da prostituição.
Atualmente, Léo é casado com Dina e tem um filho pequeno de 2 anos. A vida
desses três vira de cabeça pra baixo quando em uma noite os três recebem uma
proposta maravilhosa de uma noitada com um empresário. A vida, os amores, os
conflitos familiares, as desilusões, o dinheiro, as ambições dos garotos de
programa estão presentes na trama.”
Para além de uma eventual
romantização da prostituição que algum leitor pode esperar de uma obra do Mundo
Virtual que aborde esse tema, é necessário que o drama não só esteja bem
presente como seja corretamente abordado, do contrário pode tudo se resumir a
um quadro de idealização. Geralmente, quando o autor tem responsabilidade com
esse tema e cria um drama realista, a mensagem que sua obra passa fica longe da
romantização. E não é preciso um conhecimento profundo da vida e das notícias
para saber que o recorte romantizado da prostituição está longe de ser a melhor
e mais honesta escolha de abordagem.
E se digo isso não é à toa,
afinal, uma vez no Twitter – ou seja, um lugar majoritariamente de mancebos –
não é difícil topar com dezenas de postagens exaltando, reverenciando e
transformando em ícones cenas e personagens envolvidos em relações claramente
abusivas que tem por base o dinheiro. Ah, a inocência... E essa era realmente
uma das minhas preocupações ao dar início à leitura dessa estreia – intitulada
“Fetiches” –: de que forma o autor, certamente da geração daqueles usuários do
Twitter, abordará o tema em sua obra? Para meu alívio todo o meu temor quanto a
isso se desanuviou na primeira cena com personagens.
Rodolfo é apresentado em sua
casa, à noite, se despedindo de sua mãe adoentada e de seus dois irmãos mais
novos. O clima entre todos é de carinho, e a família acredita que ele está
saindo para mais uma noite de serviço na hamburgueria. Acontece que a carne que
Rodolfo vende não é a do hambúrguer, mas sua própria, e para outras formas de
consumo. A única pessoa próxima a ele que sabe de sua vida secreta é Ciça,
personagem mal resolvida pelo texto, que não consegue passar com clareza se ela
se trata de uma namorada ou de uma amiga. Porém, o mesmo texto delineia muito
bem a atuação corporal de Ciça, o que, em conjunto com suas falas, enriquece o
drama. Aliás, um ótimo drama para abrir o episódio. Com apenas duas cenas de
diálogos bem escritos, a vida dupla de Rodolfo consegue se mostrar interessante
e chamativa.
Os outros dois
protagonistas, Guilherme e Léo, são apresentados em seguida. O primeiro é de
família abastada, irresponsável, o famoso filhinho de papai, e parece
estar na prostituição apenas pela rebeldia, por esporte, enquanto o segundo,
mais maduro e pai há pouco tempo, aparentemente foi consumido pelo vício (do
dinheiro, talvez?). Tendo essas 3 figuras estabelecidas, o texto não perde
tempo em cruzar seus caminhos, sendo todos recrutados pelo mesmo cliente rico e
misterioso. Mas aqui há de se dizer que as apresentações dos personagens, desde
o início, são bastante deficientes, uma vez que o texto se utiliza do velho
hábito do Mundo Virtual de jogar nomes aleatórios como se vocês leitores conhecessem
Madruapá de Sá. Conhecem-no? Pois é, então por que eu deveria simplesmente
dizer que o dito-cujo está ali ou acolá fazendo sei lá o quê se vocês não
conseguem nem visualizar se o tal se trata de um homem, de um mancebo ou de um
ancião, se é extravagante no vestir ou comum, se está com roupa de casa ou
pronto para uma festa...? Tudo o que sabemos da aparência física dos
personagens ou vêm de subentendimento dos diálogos (e nesse caso tudo bem que
isso aconteça, desde que não seja apenas dessa forma) ou de evidências
que precisamos ir pescando ao longo da leitura para seguir montando em nossas mentes um recorte de quem realmente devam ser esses nomes flutuando num fundo
branco.
Quando os 3 rapazes são
levados à suíte do cliente misterioso, finalmente conhecem o tal, um homem na
casa dos 60 anos que os contratou para uma noite, no mínimo, peculiar. Com uma
arma em punhos o homem revela que a ideia é que realizem seu fetiche: sexo com
2 homens na presença de um... cadáver. E para isso ser possível, um dos
três precisará morrer, o qual deverá ser escolhido ali mesmo, entre os 3. E é
nesse exato momento que o leitor, já arrebatado pelo drama da vida dupla dos
garotos de aluguel – o que por si só já é mais do que o suficiente para uma
obra de ficção – se encanta definitivamente pela trama, que acaba de sofrer uma
reviravolta e de se revelar um suspense, um thriller. Com o fim do
episódio nos rostos atônitos do trio, o leitor percebe que acabou de ter
contato com algo raro no MV: uma ótima e original premissa, um perfeito
enredo de série. Um enredo que eu consigo facilmente enxergar naquele Top 10 da
Netflix de séries mais assistidas.
Desde o início do episódio
(a boa transição da letra da música Garoto de Aluguel, de Zé Ramalho, para a
ambientação da caótica vida noturna de São Paulo) até esse final as qualidades
saltam aos olhos, mas os problemas são evidentes também. A formatação mesmo é
péssima, ao ponto de dificultar a leitura e o entendimento, com duas ou mais
falas em uma mesma linha, ou até mesmo ação e fala sendo separadas não por
parágrafos, mas como se fossem meramente duas frases de um mesmo parágrafo. E
os diálogos, mesmo sendo bons e bem escritos como já apontado, não
valorizam o tempo, as pausas. Há uma e outra inserção de (T), mas isso é mais
eficiente para um ator saber que naquele trecho precisará dar uma pausa em sua
fala do que para um leitor. E, no final das contas, essa obra não é um roteiro
para ser encenado e filmado, mas um produto para ser apenas lido. Nesse caso,
mais recomendável é o uso de reticências. Uma vez que dominar o uso das mesmas,
o autor terá o leitor em sua mão através do mar das emoções.
Ter uma ótima premissa, ou mesmo um ótimo primeiro episódio, não é garantia nenhuma para o andamento de uma série, mas sem dúvidas é um senhor voto de confiança. Agora cabe a vocês prosseguirem leitura e alugarem seu tempo para a obra e verificarem se a mesma, ainda em andamento, vale a jornada. O pagamento do tal aluguel? Uma boa trama, possivelmente. Esse é o voto de confiança conquistado pela estreia.
Série: Garotos de Aluguel
E essa foi a crítica de
hoje. Mas me digam, vocês já leram essa série? Gostaram ou não gostaram? E
quanto à crítica? Curtiram? Concordam ou discordam? Digam tudo nos comentários
abaixo.
Quem me acompanha desde o
ano passado sabe que nos programas seguintes costumo responder apenas os
comentários dos autores das obras analisadas anteriormente. Mas como o programa
passado foi uma estreia, abrirei uma exceção e responderei os 2 comentários
realizados. Bem, vejamos:
Obrigado, mancebo Diego.
Sempre tão presente, espero tê-lo conosco durante mais esse ano de críticas e
diversão. E aguardo novas obras suas!
Obrigado, Ricky! Fico feliz
que tenha amado. Bem, das suas sugestões, Garotos de Aluguel obviamente já foi.
Mas fique tranquilo que todas essas serão sim criticadas aqui no programa, mais
cedo ou mais tarde. Só que algumas demorarão mais por não serem estreias tão
atuais, e outras por outros critérios que não convém dizer. Mas já estão todas
na lista e agradeço pelas sugestões!
Para quem perdeu o programa
passado, basta clicar aqui e lê-lo. E se tiverem sugestões de outras estreias
que vieram à luz do mundo nos últimos dias ou que estrearão nos próximos, digam
abaixo, nos comentários.
Bom, mas por hoje é isso, queridos. Agradeço mais uma vez a presença de todos e os aguardo ansiosamente no próximo domingo. Obrigado, boa semana e se cuidem! Até lá!
Obrigado pelo seu comentário!