Capítulo 19
Cena 01 – Mansão
Assumpção [Externa/Noite]
(Encurralada, Amanda tentava não transparecer estar nervosa).
CRISTINA: Eu te dei uma semana, Amanda. Você não pode continuar com essa farsa
diante o sofrimento da sua família. A sua mãe sofreu por você dia após dia nos
últimos anos. Não é justo com você, nem com ela. O que a Marion fez foi um
crime e ela precisa lidar com as consequências disso.
AMANDA: Está bem, você tem toda razão. Amanhã nós iremos até lá e contaremos
toda a verdade aos meus pais.
CRISTINA: (Se surpreende com a resposta de Amanda) Sério? Então você topa ir
comigo até lá amanhã?
AMANDA: Claro, conhecer os meus pais é tudo o que eu mais quero na vida.
CRISTINA: E eu quero a sua felicidade! (Abraça Amanda).
AMANDA: Eu não sei o que seria de mim sem você, Cris. Eu te amo, amiga! (Abraça
Cristina, fingindo estar emocionada).
CRISTINA: Eu também, você é e sempre será a minha irmã de alma. (Conclui).
AMANDA: Eu vou ficar com a sua família, o seu namorado e o seu dinheiro.
Querida inimiga! (Fala consigo mesma através do pensamento).
Cena 02 – Casa de
Marina e Antônio [Interna/Noite]
Música da cena:
Because You Loved Me – Claudia Rezende
(Com a transição de
cenas, surge a fachada da casa de Marina e Antônio. No quarto do casal, Antônio
assistia TV, deitado em um lado da cama, enquanto Marina passava creme hidratante
facial, sentada do outro lado).
ANTÔNIO: Vai, toca pra esquerda! (Falava sozinho enquanto assistia à partida de
futebol).
MARINA: (Para de passar hidratante no rosto de repente e fica com um olhar
distante).
ANTÔNIO: (Percebe o semblante reflexivo da esposa e diminui o volume da TV) O
que foi, amor? Você ficou tão quieta de repente, aconteceu alguma coisa?
MARINA: Eu não sei, é uma sensação esquisita, um aperto no peito.
ANTÔNIO: (Senta-se na cama) Você está se sentindo mal? (Questionou preocupado).
MARINA: Não, não é isso. É uma sensação estranha, como se algo estivesse
prestes a acontecer. Algo importante, entendeu? (Responde olhando o marido nos
olhos).
ANTÔNIO: Isso é coisa da sua cabeça, você anda muito sobrecarregada. Nós
precisamos fazer alguma coisa, sair, descansar, espairecer. Vamos fazer alguma
coisa esse final de semana? Nós nunca mais fizemos nenhum programinha só nós
dois. Vamos fazer alguma coisa e eu tenho certeza que esse mau pressentimento
vai desaparecer. Vem cá! (Abraça Marina).
MARINA: É... Vai passar! (Respondeu com um olhar angustiado, com intuito de não
preocupar o marido).
Cena 03 – Donna Sô
(Café Bar) [Interna/Noite]
Música da cena: Vai
Sobrar Pra Geral – João Rosa, Tchelo Gomez
(Do balcão, Sofia
observava o movimento do bar com nostalgia após a consulta médica).
TIAGO: Mãe! (Gritou após chamar a mãe pela terceira vez consecutiva).
SOFIA: Oi, desculpa! Estava distraída, nem vi você chegar. (Respondeu após
voltar a si).
TIAGO: Está tudo bem? A senhora está tão esquisita, distante... Tá tudo bem?
SOFIA: Eu? Claro que estou, que pergunta! Porque eu não estaria? (Sorriu sem
graça).
TIAGO: (Desconfia da mãe, mas resolver dar um crédito) Está bem! Preciso que a
senhora prepare esses petiscos aqui para as mesas externas, a turma é grande
está com fome. (Disse ao entregar a comanda a mãe).
SOFIA: Eu apronto tudo num minuto, já volto! (Segura a comanda e vai para a
copa).
TIAGO: (Observa Sofia entrar na cozinha e em seguida volta para o salão).
(Sofia percorre a
cozinha e vai até a pia, em seguida ela abre a janela para respirar o ar puro
da noite).
SOFIA: Meu Deus, me ajude... Eu preciso vencer essa doença, eu tenho que
vencer, não me abandone! (Fala olhando para o céu).
(No palco, Daniel
descansava durante um breve intervalo no show, quando Tiago lhe serviu uma
água).
TIAGO: Cansado?
DANIEL: (Abre a garrafa e toma um gole) Demais, esses dias estão muito puxados.
O Beto é o meu parceiro na banda e ele teve que se ausentar por uns dias para
ver a mãe dele, mas felizmente ele está voltando. Chega amanhã de manhã!
TIAGO: Que bom então, né?
DANIEL: Escuta, quando o bar fechar, o que você acha de darmos uma esticadinha
e ir em outro lugar?
TIAGO: Outro lugar? (Repete sem jeito).
DANIEL: Sim, outro lugar e eu não aceito não como resposta. (Rouba um beijo de
Daniel e volta para o palco).
Cena 04 – Mansão
Assumpção [Interna/Noite]
Música da cena:
Amarelo, Azul e Branco – ANAVITÓRIA, Rita Lee
(Imagens aéreas
apresentam a cidade de São Paulo iluminada, viadutos vazios por conta da hora e
pontes com grandes luzes. Em seguida, ouve-se a voz de Marion e Amanda com o
surgimento da fachada da Mansão Assumpção. No interior da casa, as duas
adentraram no escritório para conversar com mais privacidade).
AMANDA: O momento chegou, vovó. Não temos mais como adiar essa ocasião! (Disse
ao se sentar de frente para Marion).
MARION: (Sente-se um calafrio) Você está falando da sua mãe?
AMANDA: Sim, a Cristina não vai mais esperar. É preferível que os meus pais
saibam por mim, do que por ela. Além do mais, preciso me aproximar deles e
evitar que o pior aconteça. (Finge se preocupar com Marion).
MARION: Maldita faxineira! Que amizade essa sua, hein? Francamente! (Ironiza).
AMANDA: Ela gosta de mim, vovó. A única coisa que ela quer é o meu bem, eu a
entendo.
MARION: (Respira fundo) Está bem, eu estou nervosa... Mas no que você está
pensando?
AMANDA: No mais provável, vovó. Evitar que os meus pais te denunciem! Apesar do
que me fizeram no passado, eu perdoo vocês e quero que a minha família supere
isso e fique unidade.
MARION: (Fica surpresa com o comentário) Você nos perdoa? Isso é realmente
muito nobre da sua parte.
(Amanda levanta, dá
a volta e fica atrás da cadeira onde Marion está sentada).
AMANDA: (Coloca a mão no ombro de Marion) Não se preocupe, eu vou falar com os
meus pais e eles não irão fazer nada com a senhora e nem com o meu tio Murilo.
Cena 05 – Ruas de
São Paulo [Externa/Manhã]
Música da cena:
Oceana – OUTROEU, Melim
(O dia amanhece e a
cidade acorda movimentada. Em meio ao trânsito, podemos notar o carro de Ulisses,
preso no engarrafamento).
ULISSES: (Observa a fila extensa de carro pelo retrovisor) Mas que droga, desse
jeito eu não vou chegar a tempo! (Buzina insistentemente).
Cena 06 – Terminal
Rodoviário do Tietê [Externa/Manhã]
Música da cena: Seu
Lugar – Lucas Mennezes
(Com a transição de
cenas, surge a fachada do terminal rodoviário. Pessoas transitavam de um lado
para o outro, conforme desembarcavam. Outras corriam apressadas pela
plataforma, atrasadas para a viagem. Em uma das plataformas, uma fila estava
aguardando o motorista retirar as bagagens do compartimento do ônibus).
BETO: (Desce do ônibus e percebe uma grande fila para passageiros retirarem
as malas) Escuta, o que está acontecendo? (Questionou ao se aproximar da última
pessoa na fila).
HOMEM 01: Parece que é uma passageira criando caso por não estar encontrando as malas.
(Responde).
MULHER 01: Deve ser uma desocupada! Vai demorar? Nós temos o que fazer aqui!
(Grita).
BETO: Eu vou ver se consigo ajudar! (Disse ao sair da fila).
(Beto caminhou entre
os passageiros, até que encontrou o motorista do ônibus parado ao lado do
porta-malas).
BETO: Desculpe, mas está aconteceu algum problema? (Questiona).
MOTORISTA: Não, mas vai começar a ter. Moça, eu preciso ir embora, vai demorar? (Disse
em voz alta).
(Ao observarmos bem
o porta-malas, percebemos a presença de uma mulher tentando vasculhar o espaço
em busca de sua bagagem, apenas com as pernas para o lado de fora).
BETO: Moça, tudo bem aí?
MULHER 02: (Tenta sair, mas percebe que está entalada) Céus, eu não consigo sair
daqui. Eu estou presa! (Grita).
MOTORISTA: Aí cabou! Era só o que me faltava, vou ter que chamar o corpo de
bombeiros?
BETO: Calma, eu vou ajudar. Não acredito que seja para tanto! (Beto
inclina-se e se aproxima da jovem mulher, tentando encontrar um jeito de
tirá-la dali). – Moça, eu vou ter que te puxar pela cintura para tentar te tirar
daí, tudo bem?
MULHER 02: Me tirem daqui, por Deus! (Grita).
MOTORISTA: Eu vou chamar o corpo de bombeiros... (Tira o celular do bolso e começa
a discar).
BETO: (Segura na cintura da moça, envergonhado) Tudo bem, eu vou te puxar no
3. É 1, é 2, é 3 e já... (Puxa a mulher com força e dos dois caem no chão, ela
cai em cima dele).
IRMÃ JANICE: Céus, tire as suas mãos de cima de mim, abusado! (Grita assustada. É
então que percebemos que a mulher é uma noviça, usando hábito).
BETO: (Encara a noviça).
Cena 07 – Terminal
Rodoviário [Externa/Manhã]
(Beto e Irmã Janice
continuavam no chão, enquanto os passageiros ao redor continuavam reclamando).
IRMÃ JANICE: (Afasta-se de Beto) Fique longe de mim, seu abusado!
BETO: Abusado, eu? Você que é uma mal agradecida, se não fosse eu, você ainda
estaria bem ali, entalada. A senhorita é muito mal educada, sabia?
IRMÃ JANICE: (Levanta, limpando a poeira de sua saia cumprida) Ora, me respeite. Não
sou da sua laia!
BETO: (Levanta-se bruscamente) Nem eu da sua, felizmente. No seu convento lhe
faltaram os bons modos.
IRMÃ JANICE: (Pega sua mala no chão) O senhor nem me conhece, não permito que fale
do meu convento.
BETO: Seu convento? Por acaso você comprou? Uma freira capitalista? (Ironiza).
IRMÃ JANICE: Chega de falácias, eu tenho mais o que fazer do que ficar perdendo
tempo com um sujeito grosseiro como você.
BETO: (Puxa a sua bagagem com brutalidade) Vai, siga o seu rumo. Espero ter a
sorte de nunca mais encontrar na minha vida uma mulher tão mal educada como
você.
IRMÃ JANICE: Eu é quem desejo isso! Rum, passar bem. (Diz ao sair emburrada).
BETO: (Observa Janice se afastar) Era só o que me faltava, é mole?
(Resmunga).
Cena 08 – Casa de
Marina e Antônio [Interna/Tarde]
(Marina fazia algumas
anotações quando ouviu a campainha tocar. Em seguida, ela se levantou e foi até
a porta).
MARINA: Cristina? Que surpresa, não esperava a sua visita! (Disse ao abrir a
porta).
CRISTINA: É, eu sei. Vim sem avisar antes, mas é que eu tenho um assunto importante
para falar com você.
MARINA: Claro, entra... Pode sentar, fique à vontade!
CRISTINA: (Senta-se no sofá e tenta encontrar as palavras certas para contar a
verdade).
MARINA: (Senta-se no sofá ao lado, estranhando o comportamento de Cristina) O
que aconteceu? Você está tão séria. É alguma coisa com a Sofia, o filho dela?
CRISTINA: Não, não, não é isso. Estão todos bem, os motivos que me trouxeram até
aqui são outros.
MARINA: Você está me assustando! O que pode ser tão sério para te deixar assim,
minha querida?
CRISTINA: A sua filha! (Responde).
MARINA: A Letícia? O que aconteceu com ela? Foi alguma coisa com o bebê? Ela
passou mal? (Questiona preocupada).
CRISTINA: Não é dela que eu estou falando!
MARINA: Eu não estou entendendo onde você quer chegar...
CRISTINA: Eu estou falando da sua outra filha, a que deu à luz há mais de vinte e
cinco anos!
MARINA: (Surpreende-se).
Cena 09 – Mansão
Assumpção [Externa/Tarde]
(Aflitos com o que
estava prestes a acontecer, Murilo e Marion não tinham ido até a fábrica).
MARION: Você já vai? (Perguntou quando Amanda entrou no escritório).
AMANDA: Já, vovó... Não posso me atrasar, agora não tem mais jeito! (Respondeu
fingindo um tom de preocupação).
MARION: Eu não sei se é uma boa ideia, será que não tem como dar um jeito de
calar a boca dessa sua amiga?
MURILO: Agora não tem outro jeito, mamãe. Precisamos enfrentar as consequências
dos nossos atos. Apesar de tudo, a Amanda não tem culpa dos nossos problemas no
passado e merece conhecer os pais dela.
AMANDA: O tio Murilo tem razão, vovó. Precisamos ser corajosos, não se
preocupe. Eu prometi que vou falar com os meus pais e não mudei de ideia. Eu
vou implorar para que eles não denunciar vocês dois.
MARION: Eu não sei se isso vai funcionar, Amanda. (Respondeu preocupada).
AMANDA: Confie em mim, vovó. Eu vou conseguir, a senhora verá! (Conclui).
Cena 10 – Casa de
Marina e Antônio [Interna/Tarde]
(Marina havia
ficado estarrecida com o que Cristina tinha dito).
MARINA: Minha filha? Que brincadeira é essa? (Levanta-se bruscamente do sofá).
CRISTINA: Não é brincadeira, Marina. Eu posso explicar!
MARIAN: (Começa a andar de um lado para o outro, nervosa) Então explique,
porque eu continuo sem entender aonde você quer chegar trazendo à tona essa
história.
CRISTINA: Você me contou que no passado, você deu à luz a uma menina. No dia do
parto, tudo estava muito conturbado e...
MARINA: (Interrompe Cristina e senta no sofá novamente) E eu lembro de flashes
daquele dia, mas eu ouvi, eu ouvi a minha filha chorar, por mais que o médico
dissesse que ela nasceu morta, eu ouvi a minha filha chorar, eu tenho certeza.
CRISTINA: E você estava certa, você ouviu a sua filha chorar.
MARINA: (Horroriza-se) O-o-ouvi?
CRISTINA: (Toca a mão de Marina) A sua filha está viva, Marina.
MARINA: Viva? A minha filha está viva? (Repete atordoada).
CRISTINA: Eu sei que parece loucura, mas depois que eu te explicar como tudo
aconteceu, você vai entender. Eu sei onde a sua filha está!
MARINA: Meu Deus, isso não é possível! Não pode ser, não pode. Quer dizer que não
era imaginação? Não era loucura da minha mente? Onde ela está, eu quero vê-la,
eu quero entender o que aconteceu, quem arrancou a minha filha de mim. Roubaram
a minha filha! (Grita).
Cena 11 –
Apartamento de Ulisses [Interna/Tarde]
Música da cena: Não
Sai Da Minha Cabeça – Flavio Ferrari, Gabriel Nandes
(Imagens áreas
mostram a cidade de São Paulo através dos seus arranha-céus. Em seguida, surge
a fachada do edifício onde Ulisses morava com o avô).
JOAQUIM: Já estou indo, já vai! (Disse ao ouvir a campainha. Em seguida, Joaquim
abre a porta).
IRMÃ JANICE: É daqui que abandonaram uma noviça na rodoviária? (Brinca).
JOAQUIM: Janice! (Abraça a neta, emocionado).
Cena 12 – Casa de
Marina e Antônio [Interna/Tarde]
(Enquanto isso, Cristina
tentava acalmar Marina depois da revelação que havia acabado de fazer).
CRISTINA: Calma, Marina. Você precisa ficar calma, eu tenho medo que você passe
mal.
MARINA: Nada será pior do que tenho passado nos últimos vinte e seis anos,
pensando que a minha filha estava morta. Eu quero vê-la, eu quero conhecer a
minha filha. Me leve até ela, Cristina... Por favor!
CRISTINA: Não será necessário ir até ela, ela está aqui...
MARINA: Não? Então como faremos?
(Cristina se afasta
de Marina, dá alguns passos e vai até a porta).
CRISTINA: (Abre a porta e se depara com Amanda) Essa daqui é a Amanda, a sua
filha!
AMANDA: (Finge estar emocionada).
MARINA: (Observa Amanda parada na porta).
CONTINUA!
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