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VILAREJO - Capítulo 27



Capítulo 27

Cena 01 - Fazenda Santa Clara [Interna/Noite]

[Ana Catarina e Antônio estavam frente a frente pela primeira vez após muitos anos, livre de máscaras e disfarces.]


ANTÔNIO: - Que brincadeira é essa? Por quê vosmecê está fazendo isso comigo? [Questiona aflito].


ANA CATARINA: - Fazer com vosmecê? E o que vosmecê e sua mãe fizeram comigo? Com meu pai e a minha irmã? Tudo em nome de uma ambição desmedida. Eu daria tudo para tê-los novamente, mas isso não é possível e tudo graças aos dois. Vosmecê e sua mãe são dois assassinos, só não contavam que eu retornaria, não é? Até hoje eu tenho pesadelos com o dia do acidente. Não consigo esquecer da correnteza levando a minha irmã e que eu não consegui salvá-la.


ANTÔNIO: - Do que está falando? Vosmecê só pode estar brincando. Que mal eu te fiz? Por quê insiste em me ferir?


ANA CATARINA: - Seu crime! [Pausa para respirar fundo e em seguida continua]. - Mas eu não estou mentindo, meu querido marido. Eu sou Ana Catarina D’ávilla, voltei disposta a me vingar, a destruí-los e por isso resolvi te comprar. Sempre soube que o dinheiro era o combustível de vossa família. Por isso tramei tudo, cada detalhe para te comprar, meu único objetivo. Se quer saber, foi até barato. Vosmecê se vendeu por míseros 100 mil contos de réis. Minha fortuna é infinitamente maior que essa esmola. Não era isso que queria? Luxo, dinheiro, poder? Não sei se abriu os armários, mas providenciei tudo o que um bom marido de alta sociedade precisa. Hobbies de seda, abotoaduras de ouro, pentes de marfim, sapatos, relógios cravejados com pedras preciosas, vosmecê dará inveja a qualquer senhor da sociedade. Tudo para vosmecê esbanjar, mas não se esqueça que agora, eu sou a sua senhora.


ANTÔNIO: - Eu não me importo com essas coisas! [Grita]. - Eu não sei porque me acusa de tamanhas barbaridades, mas eu sou inocente. Não participei desse tipo de complô que vosmecê tanto cria!


ANA CATARINA: - Não finja! [Grita]. - Vosmecê não precisa mais usar máscaras comigo. Não era isso que queria? Eu te dou e darei até o fim dos seus dias. Bens materiais. Ah e antes que eu me esqueça, nem se atreva a ir embora. Vosmecê não pode sair, lembre-se que tem uma dívida comigo. Tem vigilantes lá fora, seguindo todos os seus passos. Quem canta as regras acá, sou eu. Vamos encarar a realidade, por mais triste que ela seja. Como disse anteriormente, eu como uma mulher magoada, destruida por dentro e vosmecê, um marido vendido. Um homem que estava no mercado e eu comprei. E pensar que quase se casou com Laura Lobato por um mesquinho dote de 40 mil contos de réis… Ah, Antônio! Vosmecê não sabe o quanto eu sangro por dentro. Posso até não ter provas contra vocês dois ainda, mas enquanto a justiça dos homens não age, vosmecê não há de se livrar dos remorsos que isso lhe trará.


ANTÔNIO: - Acabou? [Pergunta melancólico].


ANA CATARINA: [Sorri satisfeita] - Agora, sim. Tirei grande parte do peso que carregava na alma. Não preciso lhe dizer o quanto te amei, acredito que vosmecê não tenha dúvidas disso. Mas a ganância destruiu tudo o que sentíamos um pelo outro e o nosso amor secou como um cadáver, que agonizou durante os últimos dezenove anos. E pensar que ainda pensei em desistir de minha vingança, se ao menos vosmecê provasse que não era um homem vil, interesseiro… Tudo teria sido diferente, mas obviamente não podia deixar perder a pequena fortuna. [Sorri e chora ao mesmo tempo]. - Eu teria te dado tudo se tivesse me provado justamente o contrário. Esse será o seu castigo, viver unido ao coração que ajudou a matar, como os primórdios fizeram. Vou me retirar agora, faça bom proveito dos seus pertences, da sua suíte. Posso por fim lhe chamar de meu… Meu marido!


ANTÔNIO: - Eu vou liquidar essa dívida e provar que vosmecê está enganada. O amor que sentia por vosmecê antes e que voltei a sentir a partir do momento em que tornei a lhe ver, mesmo sem saber quem era, vosmecê também acabara de matar. Morto por apenas 100 mil contos de réis. Quer um recibo ou prefere confiar na palavra do homem que mais odeia na face da terra, senhora minha esposa? [Ironiza com tristeza].


ANA CATARINA: - Seu disfarce de pobre coitado chegou atrasado, Antônio. Não acredito mais em vosmecê. Então, fechamos o negócio... Não preciso dizer que vosmecê não terá dinheiro a nenhum tostão de dote, pois o valor foi investido no engenho da família, certo?


ANTÔNIO: - Naturalmente. Agora a minha senhora permite que o escravo se recolha? [Questiona, aproximando-se da porta].


ANA CATARINA: - Saia da minha frente, sua presença me causa horror. [Sai do quarto e observa Antônio do corredor, pela última vez].


ANTÔNIO: - Vosmecê deveria ter avaliado melhor a mercadoria antes de comprá-la. Com licença! [Diz ao fechar a porta].


Cena 02 - Fazenda Santa Clara [Interna/Noite]

[Após Antônio e Ana Catarina se recolherem em seus aposentos, Carlota cumpria o restante do acordo.]


CARLOTA: - Bom, acá está a escrava que a minha nora pediu de presente de casamento. Esse é o documento de propriedade dela! [Disse entregando o papel a Miguel].


MIGUEL: - Claro, pode deixar que eu cuidarei de todo o resto. Rosaura será muito bem tratada acá na fazenda.


CARLOTA: - Vai entender, o que uma condessa desse porte iria querer com uma escrava velha dessas? Naturalmente deve ser esse assunto da moda, sobre abolicionismo. 


MIGUEL: - Creio que vosmecê deva entender muito pouco sobre o tema, mas não é um assunto da moda. Liberdade é um direito de todos!


CARLOTA: [Sorri com sarcasmo] - De certo que não posso opinar, afinal nunca fui escrava. Pelo menos não que eu saiba. Dê lembranças minhas aos noivos, em breve farei uma visita. Até mais ver, boas noites! [Diz ao se retirar].


AMÁLIA: - Que mulher desagradável! [Afirma ao vê-la se afastar].


ROSAURA: - Essa daí é pior que o demônio de saias! [Completa].


Cena 03 - Cassino [Interna/Noite]

Música da cena: Esquadros - Gal Costa

[Juntos, Ricardo e Laura entraram no cassino da cidade, onde pessoas ouviam boa música enquanto dançavam.]


RICARDO: - E então, o que achou? [Questionou acomodando Laura em uma das cadeiras].


LAURA: - Nossa, fazia muito tempo que não pisava meus pés nesse lugar. As luzes, as pessoas dançando. É tudo muito bonito! Fico muito agradecida pelo convite e pela ajuda, jornalista. De fato, ficar naquele lugar estava me matando aos poucos.


RICARDO: - Eu entendo que ama fortemente Antônio Guerra, mas é necessário que entenda que agora ele é um homem casado. Vosmecê precisa reagir e seguir em frente.


LAURA: - Talvez vosmecê tenha razão, mas é muito difícil isso tudo para mim. Por muitos anos, Antônio Guerra foi o meu modelo de homem ideal, dos sonhos. De repente tudo vem à baixo, não posso estar bem. Nem sei como ficarei!


RICARDO: - Bom, se me permitir… Eu posso começar a te ajudar a passar por esse luto. Me acompanha? [Questionou estendendo a mão para Laura].


LAURA: - Para onde quer me levar? [Estranhou].


RICARDO: - Me acompanhe e saberá…


LAURA: [Hesita um pouco, mas logo após segura a mão de Ricardo e vai com ele].


[Os dois se dirigem até o salão de dança e em meio aos outros casais, começam a dançar uma valsa juntos.]


Cena 04 - Casarão D’ávilla [Interna/Noite]

[}Com a transição de cenas, imagens externas são apresentadas, incluindo a fachada da casa da família D’ávilla. Após o casamento, Carlota e Leonora voltaram para o engenho.]


LEONORA: [Surpreende-se ao ver Idalina ainda acordada na sala de estar] - Idalina, vosmecê ainda está acordada essa hora? Não deveria ter nos esperado, vá descansar.


IDALINA: - Io pensei que vassuncês poderiam precisar de mim quando chegassem, por isso io esperei.


CARLOTA: - Fez muito bem, a festa acabou na outra fazenda. Acá, só está começando. Vá buscar um pouco de vinho do porto, hoje quero brindar a sorte de um ótimo futuro que se aproxima. [Disse ao se sentar no sofá da sala].


LEONORA: - Vosmecê não tem jeito mesmo, nunca irei te entender.


CARLOTA: - Que culpa eu tenho se vosmecê voltou parecendo que veio de um enterro? Antônio fez um excelente casamento e nunca mais precisará empenhar nada para viver. Deveria me agradecer! [Disse em tom de crítica].


LEONORA: - Vosmecê só enxerga com os olhos da ganância. Acontece que eu estive notando, a condessa estava com um olhar diferente. Eu diria até mesmo sombrio, não me parecia uma mulher feliz.


CARLOTA: - Bobagem, bobagem… A única coisa que achei peculiar no casamento, foi que não descobrimos o nome da noiva. Deve ser mais uma dessas excentricidades dos nobres da Europa.


LEONORA: - Eu vou subir, não aguento essas suas bebedeiras. [Sobe pensativa].


CARLOTA: - Vai… Vai sua mal-amada, vai! [Resmungou].


Cena 05 - Fazenda Santa Clara [Interna/Noite]

Música da cena: Coleção - André Leonno

[Após despejar em Antônio anos de amargura e ressentimento, Ana Catarina por fim se recolheu em seu quarto.]


ANA CATARINA: [Chora ao entrar no quarto e fechar a porta atrás de si mesma, encostando-se] - Está feito e não posso mais voltar atrás. Antônio Guerra e Carlota precisam pagar… Mas por quê dói tanto? Por quê, meu Deus? [Questiona-se a si mesma aos prantos].


[Ao mesmo tempo, Antônio adentra em seu quarto e também se tranca.]


ANTÔNIO: [Abre novamente os armários e os pertences que havia ganhado de presente e começa a chorar, conforme os joga no chão] - Uma farsa, tudo não passou de uma farsa e eu sou apenas um objeto comprado. Nada além disso! [Grita enquanto chora].


Cena 06 - Fazenda Santa Clara [Interna/Manhã]

[Assim, separados na noite de núpcias, Antônio e Ana Catarina começavam o casamento. A noite logo foi embora e o dia chegou ensolarado. Ana Catarina costumava despertar cedo e não queria perder tempo, principalmente naquele dia.]


ANA CATARINA: [Assina um documento e valida com auxílio de uma vela] - Pronto, acá está. Agora vosmecê é uma mulher livre, minha querida Bá. [Disse ao entregar o documento a Rosaura, enquanto as duas estavam sozinhas no escritório].


ROSAURA: [Segura o papel emocionada e com as mãos trêmulas] - Livre! Eu estou livre?


ANA CATARINA: - Está… Só espero que vosmecê não me abandone, pois eu irei precisar muito da sua presença, principalmente agora. Somente vosmecê será capaz de me entender.


ROSAURA: [Aproxima-se e senta em uma cadeira, em frente a escrivaninha de Ana Catarina] - Agora que estamos só nós duas acá, me conte a verdade. Vosmecê se casou com o sinhozinho Antônio para fazer maldade com ele?


ANA CATARINA: - Maldade nenhuma será o suficiente para que ele e a mãe maldita dele paguem pelo o que me fizeram.


ROSAURA: - Menina, até quando vassuncê vai deixar esse ódio te guiar? Está na cara que os dois ainda se amam. Não deixe isso morrer!


ANA CATARINA: - Estamos condenados a viver juntos, mas sem viver esse amor, Bá. Apenas cuidarei para que os outros à minha volta não sofram com as minhas decisões.


ROSAURA: [Cerra os olhos e encara Ana Catarina] - Menina, vassuncê sabe que eu te conheço como a palma da minha mão, não sabe? Por isso vou te fazer uma pergunta, pois estou desconfiada desde que cheguei nesta casa e posso não saber ler, mas conta sei fazer. A menina Emília é filha do sinhozinho Antônio?


ANA CATARINA: [Encara Rosaura com os olhos marejados] - Sim, Bá. Mila é filha de Antônio, mas eles jamais poderão saber a verdade. Para todos os efeitos, Emília é filha do conde, pois ele a registrou. Ele era um bom homem, assumiu a paternidade da minha filha, mesmo sabendo de toda a verdade. Mila não merece ter um pai tão ardiloso como Antônio Guerra. [Completa].




Cena 07 - Casa dos Lobato [Interna/Manhã]

[Quando Pedro despertou, logo tratou de tomar um banho e se vestir para sair. Distraído, desceu a escada rapidamente e caminhou até a porta, quando foi surpreendido.]


GRAÇA: - Meu filho, vai sair tão cedo? [Perguntou ao se aproximar].


PEDRO: - Mamãe, nem te vi se aproximar. Vosmecê me assustou!


GRAÇA: - Eu posso imaginar, foi assim que eu me senti ontem. Ainda não tivemos tempo para conversar depois da fatídica apresentação. Vosmecê me deve uma explicação, não acha?


PEDRO: - Eu não vejo nada como fatídico no dia de ontem, mamãe. Pelo contrário, vejo como um gesto muito respeitoso. Eu te apresentei a mulher com quem pretendo construir uma família.


GRAÇA: - Vosmecê só pode estar de pileque. Como pode fazer isso consigo mesmo? Com a nossa família? Não é possível, teve tudo do bom e do melhor e agora quer se envolver como uma maltrapilha. É com ela que vai se encontrar, não é? A cigana imunda? [Esbraveja].


PEDRO: - Essa que a senhora se refere com tanto desprezo, de maltrapilha e cigana imunda tem nome. É Açucena… E respondendo suas indagações, sim, irei vê-la. Acho bom a senhora ir se acostumando com a ideia, mamãe. Ou aceita ou eu vou embora com Açucena, quem sabe no acampamento cigano eu não serei melhor aceito.


GRAÇA: - Vosmecê não se atreveria!


PEDRO: - Se a senhora não me der outra alternativa, verá se eu me atrevo ou não. [Conclui fechando a porta e indo embora].


Cena 08 - Fazenda Santa Clara [Interna/Tarde]

Música da cena: Flor de Lis - Melim

[Com a transição de cenas, surgem algumas imagens externas da cidade. Em seguida surge a fachada da fazenda de Ana Catarina. No interior da propriedade, todos almoçaram à mesa na sala de jantar.]


ANA CATARINA: - Esse pernil está divino, eu realmente estava faminta.


AMÁLIA: - Deve ser a felicidade após o casamento, vosmecê está radiante.


ANA CATARINA: - Vosmecê não tocou na comida, Antônio. Acaso não gostou do cardápio? Se quiser, posso pedir que preparem outra coisa.


ANTÔNIO: - No meu caso, a felicidade matrimonial causa efeito inverso. Não tenho apetite.


ANA CATARINA: - Não creio que vosmecê vá fazer essa desfeita com a comida da Rosaura. Quer que lhe sirva com mais um pouco de batata?


ANTÔNIO: - Eu não sabia que nas atribuições de marido comprado, eu seria obrigado a comer sem vontade.


ANA CATARINA: [Sorri ironicamente] - Ah, vejam… Meu marido acordou espirituoso!


MILA: - A festa estava lindíssima. Estava com saudade de ir a um sarau…


ANA CATARINA: - Vosmecê terá mais oportunidades acá, minha filha.


ANTÔNIO: - Se me permitem, vou para a sala ler o jornal. [Diz ao se levantar].


ANA CATARINA: [Observa Antônio se levantar e sair da mesa sem tocar na 

comida] - Com licença! [Diz ao segui-lo].


[Antônio vai até a sala de estar, pega o jornal em cima da mesinha e se acomoda em uma poltrona. Em seguida, Ana Catarina se aproxima dele e se senta no sofá ao lado.]


ANA CATARINA: - Eu não irei admitir que me trate dessa forma. Temos que demonstrar que somos felizes, não o contrário.


ANTÔNIO: - Ah, perdoe-me minha dona, não queria desapontá-la. O seu escravo lhe pede perdão. [Ironiza e começa a ler o jornal].


Cena 09 - Acampamento Cigano [Externa/Tarde]

[Quando saiu de sua tenda, Açucena avistou Vladimir cortando lenhas e resolveu se aproximar.]


AÇUCENA: - Vosmecê parece tão distante. 


VLADIMIR: - Ah, é você! Nem te vi chegar. Como foi o casamento da condessa? Imagino que tenha sido uma festa muito bonita. [Respondeu enquanto continuava cortando os pedaços de tronco de uma árvore com um machado].


AÇUCENA: - Até foi, mas não sei como dizer bem, mas senti um clima estranho.  


VLADIMIR: [Para de cortar lenha e olha para Açucena] - Estranho? Como assim, estranho?


AÇUCENA: - O casamento é pra ser um dia feliz na vida de uma mulher, mas eu não vi esse brilho no olhar da galbi. Algo me dizia que ela estava triste! 

Tradução: Galbi = Noiva.


VLADIMIR: - Triste? Será que ela não gosta do noivo? [Questiona rapidamente].


AÇUCENA: - É ela, não é? Ela é a gají por quem vosmecê se apaixonou. Estou certa? 


VLADIMIR: -  Mesmo que fosse, ela não é pra mim. A condessa jamais olharia para um simples cigano como eu. Jamais! [Completa voltando a cortar lenha com golpes de machado].


Cena 10 - Ruas da Cidade [Interna/Tarde]

[Amália e Mila tinham resolvido dar um passeio para conhecer a cidade onde haviam se instalado.]


AMÁLIA: - Ah, não sei porque ainda aceito os seus devaneios. Foi uma péssima ideia sairmos para passear nesse calor, essa cidade é muito quente, Lady Mila.


MILA: - Não reclame, madrinha. Vosmecê quis vir, não gosta de me deixar fazer nada sozinha.


AMÁLIA: - Porque não voltamos para casa? Precisamos nos refrescar.


MILA: [Observa ao redor e nota a igreja] - Veja, uma igrejinha. Que simpática! Porque não entramos e rezamos um pouco? [Sugere].


[Alguns instantes depois, Amália e Mila surgiram dentro da igreja e Amália logo se acomodou em um dos bancos de madeira.]


MILA - Eu vou acender uma vela e rezar um pouco no altar, não me demoro.


AMÁLIA: - Está bem, eu ficarei esperando por vosmecê acá.


MILA: [Se aproxima do altar e encontra algumas velas. Ao segurar uma delas, em silêncio tenta colocar em um dos castiçais, porém não consegue com facilidade].


Música da cena: Rosa - Fagner


SEMINARISTA ÂNGELO: - Permita-me ajudá-la, assim vosmecê acabará se queimando. [Disse ao pegar a vela da mão de Mila e colocá-la cuidadosamente no castiçal]. - Pronto, agora sim, em seu devido lugar. [Responde ao olhar para Mila e ficar boquiaberto].


MILA: - Agradecida! [Respondeu também olhando estarrecida para o seminarista].


Cena 11 - Fazenda Santa Clara [Interna/Noite]

Música da cena: Flor de Lis - Melim

[Com a transição de cenas, surge a fachada da Fazenda Santa Clara, iluminada e com pouca movimentação. Rapidamente, Miguel adentrou e encontrou Amália tricotando na sala de estar.]


MIGUEL: - Mamãe… Onde está a Ana Catarina? Vosmecê a viu?


AMÁLIA: - Vi sim. Ela saiu com o marido e a Rosaura. [Estranha a afobação do filho]. - O que houve? Aconteceu alguma coisa? Vosmecê está muito estranho.


MIGUEL: - Eu estou muito preocupado com ela. Ana Catarina está agindo muito impulsivamente e pode estar correndo perigo.


AMÁLIA: - Correndo perigo? Como isso é possível? Ela foi apenas fazer uma visita de cortesia a casa da sogra. Não vejo nenhum mal nisso!


MIGUEL: [Sente um arrepio percorrer sua espinha].


Cena 12 - Casarão D’ávilla [Interna/Noite]

[Como de costume, Carlota só saia do banco para voltar para casa à noite. Por isso, quando ela adentrou em sua casa, Leonora já estava fazendo sala para Ana Catarina e Antônio.]


CARLOTA: - Meu filho, condessa… Que surpresa vê-los acá, não esperava que viessem tão repentinamente. [Disse ao entrar na casa].


ANTÔNIO: [Permaneceu em silêncio].


ANA CATARINA: - Não viemos apenas fazer uma visita de cortesia, minha querida Carlota.


CARLOTA: [Estranha] - Não? 


LEONORA: [Percebe que Antônio está agindo de uma forma estranha].


ANA CATARINA: - Vim até acá falar sobre esse documento. [Respondeu estendendo um envelope na direção de Carlota]. - Veja!


CARLOTA: [Abre o envelope e lê rapidamente para entender do que se trata] - Sim, isso corresponde a hipoteca da casa, vosmecê pagou a dívida e Antônio assinou uma promissória. [Faz uma pausa e sorri logo após]. - Não me diga que vosmecê já desistiu da dívida e resolveu perdoar? Se for, eu digo que entendo, faria o mesmo, pois agora somos da mesma família.


ANA CATARINA: [Sorri e logo fica de pé] - Naturalmente, se fossemos uma dessas famílias tradicionais e eu não conhecesse a boa bisca que vosmecê é.


ANTÔNIO: - Eu me recuso a assistir isso… [Levanta-se e vai em direção à porta].


ANA CATARINA: - Não, vosmecê não vai arredar o pé dessa sala.


CARLOTA: [Estranha] - Eu não entendo, o que está havendo? Porque vosmecê está me tratando dessa forma?


ANA CATARINA: - O que acontece, Carlota. É que estamos chegando no final dessa história que começou há muitos anos atrás. Aliás, poderia dizer que começa um novo capítulo nesta noite. É realmente impressionante como a sua ambição cegaram seus olhos e vosmecê se esqueceu do meu rosto.


CARLOTA: - Me esqueci do seu rosto? [Nesse momento, Carlota sente-se tonta ao começar a digerir o que poderia estar acontecendo].


ANA CATARINA: - Isso, o rosto da enteada que vosmecê mandou eliminar junto com o pai e a irmã. Não se lembra, minha querida madrasta? Eu sou Ana Catarina D’ávilla. Antes ingênua e impulsiva, agora rica e com estirpe, com dinheiro suficiente para te mandar com bilhete só de ida para o quinto dos infernos. [Completa com brilho nos olhos].


[A imagem congela focando em Carlota estarrecida ao descobrir a verdade, surge um efeito de uma pintura envelhecida e o capítulo se encerra].


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