Capítulo 33
Cena 01 - Fazenda Santa Clara [Interna/Noite]
[Amália e Mila conversavam na sala de estar, quando de repente ouviram gritos.]
AMÁLIA: - Gritos! [Assusta-se].
MILA: - Sim e parecem ser da minha mãe. O que será que aconteceu? [Questiona-se ao se levantar do sofá onde estava sentada].
AMÁLIA: [Levanta-se logo após] - É melhor irmos até lá, sua mãe pode estar precisando de ajuda.
MILA: - Vamos! [Disse ao sair correndo apressada].
[Sozinha em seu quarto, Ana Catarina gemia de dor ao observar o pé recém picado pela cobra que havia sido colocada em seu quarto.]
ANA CATARINA: [Apertava o pé, enquanto se contorcia de dor. Em seguida abriu uma gaveta e começou a procurar por algo].
[Neste momento, Mila e Amália entram no quarto de Ana Catarina bruscamente.]
MILA: - Mamãe, o que houve?
AMÁLIA: [Olha para o chão e percebe a cobra rastejando] - Céus, uma cobra!
ANA CATARINA: [Retira um revólver de prata da gaveta e atira na cobra, matando-a instantaneamente].
MILA: [Aproxima-se de Ana Catarina e constata que a cobra picou seu pé] - Um médico, nós precisamos de um médico. Rápido, madrinha!
Cena 02 - Acampamento dos Ciganos [Interna/Noite]
[Com a transição de cenas, surge o acampamento cigano. Ao lado de Açucena e Leonora, Madalena observava Vicente e Vladimir socorrem o estranho homem que usava uma máscara de ferro.]
MADALENA: - E então, ele está vivo? [Questionou].
VICENTE: - Sim, ele está vivo, mas eu não consigo tirar essa estranha máscara dele. [Responde tentando tirar a máscara].
VLADIMIR: - Não adianta, bato. Precisamos de ferramentas específicas para remover essa máscara.
Tradução: Bato = Pai.
LEONORA: - Quem será que fez isso com ele? É uma monstruosidade obrigar alguém a viver com uma máscara dessa.
AÇUCENA: - Quem fez isso com este gadjó, devia odiá-lo muito.
Tradução: Gadjó = Homem não cigano.
MADALENA: [Sente um arrepio] - Ou evitar que ele falasse o que não deve.
Cena 03 - Fazenda Santa Clara [Interna/Noite]
[Após um dia de trabalho no jornal, Antônio acabava de chegar em casa quando se deparou com Amália adentrando apressadamente, com um semblante de preocupação.]
ANTÔNIO: - Amália! Onde vai com tanta pressa? Algum problema?
AMÁLIA: - A Ana Catarina… [Diz afobada].
ANTÔNIO: - O que aconteceu com Ana Catarina? [Pergunta preocupado].
AMÁLIA: - Algo terrível… Uma cobra peçonhenta a picou!
ANTÔNIO: [Assusta-se e logo em seguida corre até o quarto de Ana Catarina].
[Após atravessar parte da casa correndo, Antônio e Amália retornaram ao quarto de Ana Catarina.]
ANTÔNIO: - Como ela está? [Perguntou ao se aproximar].
MILA: - Mal, muito mal! [Respondeu aflita].
ANA CATARINA: - O que faz acá, Antônio? Saia! [Grita gemendo de dor, com a face empalidecida e suando cada vez mais].
ANTÔNIO: - Agora não é hora de brigar, Ana Catarina. Onde a cobra lhe picou? [Perguntou ao se sentar na cama].
ANA CATARINA: - No pé direito! [Responde sem jeito].
ANTÔNIO: - Amália, providencie uma bacia de água e toalhas, precisamos diminuir a febre. Peça para o Sebastião procurar o Miguel e só voltar quando trazê-lo, ele precisa aplicar o antídoto para veneno de cobra.
ANA CATARINA: [Geme de dor mais uma vez e desmaia].
MILA: - Mamãe! [Grita preocupada].
ANTÔNIO: - Depressa, Amália. Vá! [Ordena e em seguida senta-se ao lado de Ana Catarina, apoiando-a em seu ombro]. - Calma, Mila. Eu não vou deixar nada de mal acontecer a sua mãe, eu prometo.
AMÁLIA: - Sim, senhor. Eu já volto! [Diz ao sair apressada].
Cena 04 - Casarão D’ávilla [Interna/Noite]
[Sozinhas na senzala, Carlota e Idalina conversavam. A escrava lhe contava o que tinha escutado escondida da conversa entre Ana Catarina e Rosaura.]
IDALINA: - A sinhá precisava ver, io quase caí pra trás quando ouvi com esses ouvidos que a terrá há de comer, quando a Ana Catarina disse que a filha dela é do sinhozinho Antônio. A sinhá acredita?
CARLOTA: [Sorri ironicamente] - Já desconfiava, praticamente tinha certeza. Vosmecê só me deu a confirmação agora.
IDALINA: - Então não é mentira? Aquela lambisgóia teve mesmo uma filha dele?
CARLOTA: - Era de se esperar, eles estavam enrabichados antes de acontecer o que aconteceu.
[Neste momento, Zeferino retorna e entra na senzala.]
CARLOTA: - E então, fez o serviço? [Questiona sem que Idalina consiga entender do que ela está falando].
ZEFERINO: - Feito! [Responde sorridente].
CARLOTA: [Sorri] - Maravilha! [Comemora].
Cena 05 - Mercearia da Paz [Interna/Noite]
Música da cena: Flor de Lis - Melim
[Algumas imagens da cidade são apresentadas, em seguida surge a fachada do sobrado onde ficavam a mercearia e casa de Cândida e Joana. Como de costume, nas noites de quarta-feira, Cândida costumava fechar a mercearia mais cedo, pois gostava de frequentar a missa semanal. Assim, ela se preparou como comumente fazia para ir até a igreja.]
CÂNDIDA: [Pega a bolsa e o véu em cima do sofá e em seguida sai de casa].
JOANA: [Observa pela janela a mãe se afastar e em seguida volta ao seu quarto, onde havia escondido a caixinha que tinha encontrado no quarto da mãe e a abre, sentando-se na cama] - Cartas… [Diz ao observar envelopes e em seguida abri-los].
“ Querida Candoca, minha xaborrí mais linda. Não podemos continuar nos vendo, pois a sua família é contra o nosso namoro e o meu povo vai sair em viagem pelo o mundo. Levarei vosmecê sempre em meu coração, assim como lembrarei para sempre dos seus beijos e nossos momentos juntos.
Com amor, Alejandro. Seu cigano!”
JOANA: [Surpreende-se] - Céus, minha mãe namorou um… [Pausa rapidamente ao refletir em uma possibilidade que começara a pairar em sua mente]. - Será que esse Alejandro é o meu pai? [Questiona-se].
Cena 06 - Fazenda Santa Clara [Interna/Noite]
[Aflitos, Antônio, Mila e Amália aguardavam na sala de estar por notícias há algum tempo, desde que Miguel havia entrado para socorrer Ana Catarina.]
MILA: - Ele está demorando muito, será que aconteceu alguma coisa?
ANTÔNIO: - Não, nada pode acontecer com a sua mãe. Deus não há de permitir! [Responde andando de um lado para o outro].
AMÁLIA: - Vejam, aí vem o Miguel!
[Quando Miguel se aproximou da sala de estar, todos foram ao seu encontro.]
ANTÔNIO: - E então, Miguel? Como ela está?
MIGUEL: - Eu apliquei antídoto e fiz uma pequena drenagem na área da picada, mas o estado é preocupante. As próximas horas serão decisivas, eu diria que a noite será decisiva, para ser mais exato.
ANTÔNIO: - Como assim? Vosmecê já prestou os primeiros socorros… O que quer dizer? [Questiona aflito].
MIGUEL: - Que não sabemos que o veneno afetou o funcionamento de algum órgão interno, pois querendo ou não, o socorro demorou um pouco. Não quero pensar no pior, mas devo ser franco. O estado dela é delicado!
ANTÔNIO: - Vosmecê quer dizer que ela pode… Morrer? [Pergunta com um nó na garganta].
MIGUEL: - Sim, infelizmente existe essa possibilidade.
MILA: [Chora e abraça Amália nesse momento].
ANTÔNIO: [Fica estarrecido com a notícia, permanecendo em silêncio].
Cena 07 - Casarão D’ávilla [Interna/Noite]
[Rosaura terminava o jantar, quando estranhou uma cantoria.]
ROSAURA: [Aproxima-se da janela e nota que Carlota está na senzala cantarolando] - A cobra está cantando? Estranho, o que será que está a deixando feliz? [Pensa em voz alta].
Cena 08 - Casa dos Lobato [Interna/Noite]
Música da cena: Acreditar no Seu Amor -
[Surgem algumas imagens externas da cidade. Pessoas transitam pelas avenidas e em seguida surge a fachada da casa da família Lobato.Graça e Laura conversavam na sala de estar, quando Pedro adentrou.]
PEDRO: - Mamãe, que bom que se aproximou… Estava mesmo pensando na senhora. [Diz ao se aproximar].
GRAÇA: [Estranha] - Pensando em mim? Aconteceu alguma coisa?
PEDRO: - Não, nada grave. Apenas estava pensando naquele anel que o meu pai te deu de noivado, a senhora sempre disse a mim e a Laura que nos daria quando o primeiro se casasse.
GRAÇA: - Sim, eu sei de qual se trata.
PEDRO: - Ótimo, estou precisando dele. Procure-o, que amanhã eu pego com a senhora. Não vou jantar, boa noite às duas! [Retira-se em seguida].
GRAÇA: [Observa Pedro subir a escada, temerosa em pronunciar o que estava pensando].
LAURA: - É, mamãe… Pelo o que vejo, o meu irmão vai mesmo se casar com a cigana. Nem a senhora e nem ninguém poderá impedir. Se me permite, vou me retirar para a senhora poder espernear sozinha e mais a vontade. Boa noite! [Conclui, deixando Graça furiosa].
Cena 09 - Fazenda Santa Clara [Interna/Noite]
Música da cena: Coleção - André Leonno
[Decidido a não deixar nada acontecer com Ana Catarina, Antônio havia resolvido passar a noite ao lado da esposa, velando o seu sono.]
ANTÔNIO: [Observa Ana Catarina, enquanto tira o blazer e a gravata. Em seguida aproxima-se da esposa e senta ao lado dela na cama].
[Com febre e delirando por conta do veneno, Ana Catarina tremia de frio.]
ANTÔNIO: - Tão indefesa assim… Até me lembro da Ana Catarina que eu conheci no passado… [Diz acariciando o rosto de Ana Catarina]. - Não tenha medo, eu vou ficar ao seu lado.
Cena 10 - Acampamento Cigano [Externa/Noite]
[Madalena havia ido preparar um pouco de comida acompanhada de Açucena, enquanto Vicente e Leonora continuavam observando o homem com máscara de ferro.]
HOMEM: [Desperta atordoado e se esquiva].
VICENTE: - Calma, nós somos de paz. Queremos te ajudar! Como se chama?
HOMEM: [Permanece em silêncio].
VICENTE: - Não precisa ter medo, pode confiar. Eu me chamo Vicente e essa é a minha companheira, Leonora.
HOMEM: - Eu não tenho nome…
VICENTE: [Estranha] - Como não tem nome? Isso não é possível, todo mundo tem um nome.
HOMEM: - Não sei, eu não me lembro…
VICENTE: [Afasta-se um pouco e se aproxima de Leonora, que o observava de um jeito estranho] - Que foi, que cara é essa?
LEONORA: - Não sei, esses olhos… Tenho impressão de já tê-los visto antes. [Responde intrigada].
Cena 11 - Casarão D’ávilla [Interna/Noite]
[Carlota organizava alguns pertences sentada numa esteira, quando Zeferino aproximou-se por trás.]
ZEFERINO: - Tão distraída… Posso saber no que vassuncê está pensando?
CARLOTA: - Nada, apenas fazendo planos.
ZEFERINO: [Estranha] - Planos?
CARLOTA: - Sim, planos. Se há essa altura já tiver se cumprido o que planejei, Ana Catarina deve estar batendo na porta do inferno nesse momento. Meu filho será herdeiro ou pelo menos tutor daquela menina sem graça, então consequentemente, o dinheiro virá para as minhas mãos. [Responde radiante].
Cena 12 - Fazenda Santa Clara [Interna/Noite]
[Ainda febril, Antônio fazia compressas com água fria na testa de Ana Catarina para tentar controlar a febre.]
ANTÔNIO: [Espreme o pano na bacia para tirar o excesso de água e em seguida posiciona na testa de Ana Catarina de novo].
ANA CATARINA: - Antô… Antônio… Eu vou morrer! [Fala com dificuldade e os olhos fechados, delirando].
ANTÔNIO: - Não, vosmecê não vai morrer. Eu não vou deixar!
ANA CATARINA: - Eu não que… Eu não quero morrer sem… Sem um último beijo de amor. Me be… Beije!
Música da cena: Amor Gitano - Beyoncé ft. Alejandro Fernández
ANTÔNIO: [Surpreende-se com o pedido de Ana Catarina].
ANA CATARINA: [Continua delirando] - Me bei… Beija, Antônio…
ANTÔNIO: [Aproxima-se de Ana Catarina, hesita por um momento, mas em seguida a beija nos lábios].
[A imagem congela focando em Antônio beijando Ana Catarina, surge um efeito de uma pintura envelhecida e o capítulo se encerra].
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