Capítulo 40 (Últimas Semanas)
Cena 01 - Casa dos Lobato [Interna/Manhã]
[Eufórica, Graça segurou o envelope e logo o abriu.]
GRAÇA: [Analisa o conteúdo do documento e fica feliz] - É perfeito, perfeito.
FALSIFICADOR: - Eu disse que vosmecê não iria se arrepender, o meu serviço é garantido. Agora o pagamento!
GRAÇA: [Coloca o papel de volta no interior do envelope] - É claro… Vou buscar seu dinheiro.
[Graça pega uma caixa em cima da mesa de centro e retira uma quantia considerável de dinheiro, em seguida retorna para a entrada da casa, onde o homem a esperava.]
GRAÇA: [Entrega o dinheiro] - Acá está. Vosmecê não me conhece, nunca me viu. Entendeu?
FALSIFICADOR: [Segura o dinheiro e sorri com malícia] - Perfeitamente, madame. Com licença, tenho que pegar o próximo trem.
GRAÇA: [Fecha a porta após o homem ir embora e em seguida corre até o centro da sala, para olhar o documento mais uma vez] - Agora sim, vamos ver se aquela maluca não volta a comer na minha mão. [Conclui].
Cena 02 - Acampamento dos Ciganos [Interna/Manhã]
Música da cena: Flor de Lis - Melim
[Com a transição de cenas, surge o acampamento cigano. O homem mascarado carregava lenha que havia acabado de cortar, quando Vladimir se aproximou.]
VLADIMIR: [Se aproxima] - Enfim te achei, tenho uma ótima notícia para vosmecê.
HOMEM: [Coloca a lenha no chão] - Que tipo de notícia?
VLADIMIR: - Recebi um recado do chaveiro, as ferramentas que ele precisava para abrir a sua máscara chegou. Finalmente vosmecê será um homem livre. Livre!
HOMEM: [Fica melancólico].
VLADIMIR: [Nota a tristeza do homem e estranha] - O que foi? Acaso vosmecê não ficou feliz com a notícia?
HOMEM: - Não, não é isso. Acontece que sou como um barril velho, por mais que tire a máscara, não lembro do meu passado e certamente, não há alguém me procurando. De nada vai adiantar! [Completa entristecido].
Cena 03 - Fazenda Santa Clara [Externa/Manhã]
[Sozinho na varanda, Antônio fumava um charuto quando Miguel foi até o seu encontro.]
MIGUEL: - Apreciando as belas paisagens, meu caro?
ANTÔNIO: - Tentando conter minhas frustrações para ser mais exato.
MIGUEL: - As investigações não andaram muito bem?
ANTÔNIO: - Infelizmente ainda não consegui nada. Começo a achar que não terei como provar a minha inocência para Ana Catarina e assim, não poderemos ser felizes.
MIGUEL: - Não desista, Antônio. Vosmecê aguentou até acá, há de ser recompensado por sua persistência. Continue investigando e a verdade irá aparecer.
ANTÔNIO: - Deus queira, meu amigo. Deus queira! [Completa].
[De longe, Ana Catarina foi até a janela e avistou Miguel e Antônio conversando na varanda, demonstrando certa intimidade.]
ANA CATARINA: [Estranha] - Miguel e Antônio conversando com tanta intimidade. Eu não sabia que ambos haviam se tornado tão amigos assim. O que será que está havendo? Questiona a si mesma em voz alta].
Cena 04 - Casarão D’ávilla [Interna/Manhã]
Música da cena: Apesar de Você - Chico Buarque
[Imagens externas da cidade são apresentadas. Em seguida surgem os canaviais do engenho e logo após a área externa da casa da Família D’ávilla. Sozinhos na senzala, Carlota e Zeferino conversavam.]
CARLOTA: - Maldita, mil vezes maldita seja. Ela está muito confiante, por isso segue em me enfrentar. [Resmunga].
ZEFERINO: [Aproxima-se] - Talvez vassuncê não perceba, mas faz sentido. Se Antônio descobrir que a menina é filha dele, talvez os dois até fiquem juntos.
CARLOTA: - Não, isso não vai acontecer. Eu não vou dar o gostinho da vitória para aquela ordinária. Se for preciso, eu mesma a mato, já que vosmecê sequer conseguiu isso no passado.
ZEFERINO: [Irrita-se] - De novo essa história?
CARLOTA: - E o que vosmecê quer que eu diga? Se estamos passando pelo o que estamos passando. Vosmecê tem sim, a culpa!
ZEFERINO: - Muito fácil jogar a culpa toda em mim, quando vassuncê se julga tão esperta e foi enganada pela condessa. [Gargalha].
CARLOTA: - Do que está rindo? Quando vosmecê acabar seus dias numa masmorra, quero ver se terá tanto senso de humor. Para a sua sorte eu cuidei de tudo, Ana Catarina jamais vai descobrir a verdade. Jamais!
[Sem perceber, do lado de fora mais alguém observava a conversa].
VICENTE: [Observa ao redor da senzala, garantindo que não está sendo visto].
Cena 05 - Fazenda Santa Clara [Interna/Manhã]
Música da cena: Corre - Gabi Luthai
[Ainda no quarto, Maria do Céu e Tomásia conversavam, quando Amália entrou carregando consigo uma farta bandeja com café da manhã.]
AMÁLIA: - Trouxe o desjejum! [Diz sorridente].
MARIA DO CÉU: - Amália, não precisava se incomodar. Nós duas podemos ir até a cozinha tomar café.
TOMÁSIA: - Io bem que estou gostando de ser servida como uma sinhá. [Responde sorridente].
AMÁLIA: [Pousa a bandeja em cima da mesa] - O meu filho gosta muito da senhorita e pediu que lhe tratasse muito bem. Se vosmecê faz bem ao meu filho, faz bem a mim também.
MARIA DO CÉU: [Fica sem jeito com o comentário].
AMÁLIA: - Café ou suco? [Perguntou antes de servir].
MARIA DO CÉU: - Café, por favor.
AMÁLIA: [Serve uma das xícaras, dissolve um torrão de açúcar e prepara-se para entregar, quando de repente sente um arrepio e deixa a xícara cair no chão].
MARIA DO CÉU: [Aproxima-se rapidamente] - Amália, vosmecê está bem? Sente-se mal?
AMÁLIA: [Angústia-se] - Não sei, de repente senti um mal pressentimento. Como se algo de ruim tivesse para acontecer. [Fala colocando a mão no peito].
Cena 06 - Casarão D’ávilla [Interna/Manhã]
[Zeferino e Carlota continuavam discutindo, sem suspeitarem da presença de Vicente.]
ZEFERINO: - Já que vassuncê é tão esperta e astuta como se gaba ser, deveria ter feito tudo sozinha.
CARLOTA: - Eu fiz, praticamente tudo sozinha. Vosmecê só cuidou de uma parte e nem conseguiu executar direito. Atirou em Gonçalo e nem pra balear as duas insuportáveis, tinha que deixá-las vivas.
ZEFERINO: - Mas a carruagem havia caído no rio, o que queria que io fizesse?
CARLOTA: - Sei lá, atirasse, tocasse fogo, só não deixasse o serviço sem findar.
ZEFERINO: - Não tínhamos como prever que ela sobreviveria, não tinha.
CARLOTA: - Essa sua falha quase acabou conosco. Tive que mandar o seu capanga chinfrim para longe de São José dos Vilarejos, pois Juvenal estava prestes a descobrir tudo.
ZEFERINO: - Mas logo virou carta fora do baralho, pois vosmecê e a irmã dele logo deram um jeito de tirá-lo do caminho.
VICENTE: [Horroriza-se ouvindo tudo do lado de fora da senzala].
CARLOTA: - Naturalmente, mas uma vez eu precisei cuidar de tudo sozinha para que nada fugisse ainda mais do controle.
VICENTE: [Chocado com o que ouvia, distraiu-se e pisa no graveto, emitindo um som].
ZEFERINO: [Ouve o som].
CARLOTA: - Que barulho foi esse? [Questiona-se também ao ouvir o som].
Cena 07 - Casarão D’ávilla [Interna/Manhã]
[Nervosos com a possibilidade de serem descobertos, Carlota e Zeferino temiam que alguém tivesse ouvido a conversa.]
CARLOTA: [Assusta-se] - Eu ouvi, tem alguém lá fora, Zeferino. Corra! [Grita].
VICENTE: [Percebe que pode ser descoberto, corre e vai até onde seu cavalo estava. Em seguida, monta e sai a galope].
[Carlota e Zeferino correm para o lado de fora da senzala e o avistam se afastar.]
ZEFERINO: - O desgraçado do rei dos ciganos!
CARLOTA: - Vicente! [Surpreende-se]. - Faça alguma coisa, Zeferino. Vá atrás dele com os seus capangas e evite que ele dê com a língua nos dentes. Agora dessa vez, vosmecê não pode errar. Não pode! [Grita nervosa].
ZEFERINO: [Corre até a senzala, pega uma espingarda e em seguida monta em seu cavalo, seguindo na mesma direção].
CARLOTA: [Observa] - Ele não pode dar com a língua nos dentes. Não pode! [Pensa em voz alta].
Cena 08 - Fazenda Santa Clara [Interna/Manhã]
[Após sair de seu quarto, Antônio preparava-se para sair quando foi surpreendido.]
ANA CATARINA: - Antônio! Vai sair sem tomar o seu café? [Pergunta ao surgir logo atrás dele].
ANTÔNIO: [Vira-se para Ana Catarina e a olha de frente] - Eu não estava com muita fome. Preciso resolver um assunto, vou até a cidade.
ANA CATARINA: - Vi que vosmecê e Miguel conversavam intimamente. Aconteceu alguma coisa?
ANTÔNIO: [Sorri] - De que tem medo, que eu lhe roube o amigo? Não se preocupe, Ana Catarina. Era apenas uma conversa trivial. Eu não te roubei e nunca te roubaria nada.
ANA CATARINA: - Eu não quis dizer isso…
ANTÔNIO: [Interrompe] - Naturalmente não quis dizer, mas disse muitas outras coisas. Palavras ferem, Ana Catarina e as suas me feriram e muito nos últimos tempos. O que me manteve de pé, por mais que eu quisesse negar, foi o amor que eu sinto e sempre senti por vosmecê. Eu já disse uma vez e vou repetir, vou provar minha inocência, custe o que custar. [Aproxima-se da porta].
ANA CATARINA: - Espera, onde vosmecê está indo? [Aproxima-se ainda mais].
ANTÔNIO: - Eu estou cuidando do nosso futuro. Não esqueça, aconteça o que acontecer, eu nunca menti sobre o meu amor por vosmecê. [Conclui saindo logo em seguida].
ANA CATARINA: [Estranha] - Está acontecendo alguma coisa e eu preciso descobrir o que é. Vou averiguar! [Pega a bolsa e um chapéu e em seguida sai de casa, decidida a seguir Antônio].
Cena 09 - Delegacia [Interna/Tarde]
[A delegacia estava pouco movimentada naquela tarde, quando o inspetor adentrou em sua sala para atender mais uma diligência.]
INSPETOR VIEIRA: - Meu agente disse que a senhora estava à minha espera. Como posso servi-la? [Questionou ao se sentar frente a frente com a mulher].
GRAÇA: - Sim, inspetor. Eu vim fazer uma denúncia!
INSPETOR VIEIRA: - Que tipo de denúncia, senhora?
GRAÇA: - Eu vim denunciar a fuga de um escravo da minha propriedade. Ele se chama Miguel Soares, acá está o documento de posse dele. [Fala entregando o documento ao inspetor].
INSPETOR VIEIRA: [Lê o documento].
GRAÇA: - Eu exijo que ele retorne para casa para receber o castigo que merece. [Completa friamente].
Cena 10 - Acampamento dos Ciganos [Interna/Tarde]
[Com o passar das horas, Leonora começava a estranhar o sumiço de Vicente.]
LEONORA: [Observa o horizonte e ao redor] - Onde será que ele está? Por quê não volta, meu Deus? Estou muito preocupada, faça com que ele volte são e salvo. [Pensa em voz alta].
[Mais adiante no acampamento, Vladimir, Madalena e Açucena observavam o chaveiro tentando abrir a máscara do homem sem memória.]
CHAVEIRO: [Gira uma chave nos parafusos da máscara] - Só mais um pouquinho e… [Abre a máscara]. - Pronto! [Diz ao retirá-la].
[O chaveiro tira o capacete de ferro e todos observam o rosto do homem pela primeira vez.]
Cena 11 - Campos da Cidade [Externa/Tarde]
[Vicente continuava correndo em seu cavalo o mais rápido que podia, enquanto era perseguido por Zeferino e seus capangas.]
VICENTE: - Vai… Vai! [Grita conduzindo o cavalo a correr cada vez mais].
ZEFERINO: - Vassuncê não vai fugir, cigano desgraçado.[Grita].
Cena 12 - Acampamento dos Ciganos [Externa/Tarde]
[Ao chegar no acampamento, Antônio logo adentrou na tenda de Vicente. Logo atrás, Ana Catarina surgiu com um semblante desconfiado.]
ANA CATARINA: - O que Antônio faz acá? Pensei que ele tivesse brigado com o pai. [Fala ao avistar de longe].
VLADIMIR: - Ana Catarina… O que faz acá? [Surpreende-se com a chegada da condessa].
ANA CATARINA: - Vladimir, eu… [De repente, Ana Catarina perde a fala ao avistar o homem desconhecido sem a máscara]. - Meu Deus! [Choca-se].
Cena 13 - Acampamento dos Ciganos [Interna/Tarde]
[Antônio esperava sozinho na tenda, quando de repente, Vicente entrou afobado.]
ANTÔNIO: - Vosmecê demorou! Onde esteve? [Questiona].
VICENTE: - Eu consegui ouvi tudo, já sei toda a verdade e o que aconteceu naquele dia. [Dispara].
LEONORA: [Entra na tenda] - Vicente, eu vi vosmecê chegar de um jeito estranho, o que está acontecendo.
ANTÔNIO: [Surpreende-se] - O que foi que vosmecê descobriu? Diga vicente!
[Neste momento, começam a ouvir gritos, os capangas de incendiar as tendas do acampamento e a atirarem.]
LEONORA: - O que está acontecendo? [Assusta-se].
VICENTE: - Precisamos sair do acampamento agora…
LEONORA: - Não, sem saber o que está acontecendo. Até a Ana Catarina está acá, começo a ficar com medo.
ANTÔNIO: - O que disse? Ana Catarina está lá fora? Eu preciso salvá-la… [Diz ao começar a se aproximar da saída da tenda].
ZEFERINO: [Entra na tenda apontando uma arma] - Onde pensa, que vai Antônio?
VICENTE: - Saiam, deixe que eu me resolvo com ele.
LEONORA: - Foi a Carlota que te mandou acá, não foi? Ela mandou vosmecê nos matar?
ANTÔNIO: [Avança em Zeferino e os dois começam a brigar pela arma].
LEONORA: [Aterroriza-se] - Não… Meu filho! [Grita].
ZEFERINO: [Derruba Antônio e a arma cai longe].
VICENTE: [Grita] - Fuja, Leonora. Fuja! [Grita].
LEONORA: [Sai da tenda e corre aos gritos, em busca de socorro].
[Antônio e Zeferino trocavam socos, quando o capitão do mato levou a melhor e conseguiu recuperar a arma.]
ZEFERINO: - Perdeu! Io nunca gostei de vassuncê mesmo, agora faço questão de terminar o que comecei. [Aponta a arma para Antônio]. - Pode começar a rezar, Antônio.
[Leonora corria pelo acampamento, em meio a confusão instaurada, quando por fim conseguiu se aproximar de Vladimir e Ana Catarina.]
LEONORA: - Vladimir, vosmecê precisa ajudar seu pai e seu irmão, eles estão em perigo. Zeferino vai matá-los!
VLADIMIR: [Corre em direção a tenda].
ANA CATARINA: [Desespera-se] - Antônio!
LEONORA: - Não vá, Ana Catarina. É perigoso!
ANA CATARINA: - Eu não vou ficar de braços cruzados, vou ajudá-lo. [Corre seguindo Vladimir].
[No interior da tenda, Zeferino continuava apontando a arma para Antônio.]
ZEFERINO: - Pode rezar, que a sua alma tá encomendada. [Aperta o gatilho].
VICENTE: - Meu filho! [Grita, jogando-se na frente de Antônio, sendo atingido à queima roupa no peito].
ANTÔNIO: [Grita] - Pai!
VICENTE: [Cai no chão após ser baleado].
VLADIMIR: [Entra bruscamente na tenda] - O que está acontecendo acá?
ANTÔNIO: - Seu desgraçado! [Corre na direção de Zeferino].
ZEFERINO: [Ergue a arma na direção de Antônio e atira mais uma vez, agora atingindo-lhe na cabeça];
ANTÔNIO: [Leva as mãos à cabeça e ensanguentado, cai no chão em seguida].
[Ao se aproximar da tenda, Ana Catarina ouviu o segundo disparo.]
ANA CATARINA: - Antônio! [Sussurra desesperada].
[A imagem congela focando em Ana Catarina parada em meio ao caos no acampamento, surge um efeito de uma pintura envelhecida e o capítulo se encerra].
Dia 16 de janeiro, estreia a parte final de #Vilarejo, até lá!
TRILHA SONORA OFICIAL
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