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Débora - Capítulo 22


Débora
CAPÍTULO 22

uma novela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

baseada nos capítulos 3 a 5 do livro de Juízes

poesia de clamor e adoração adaptada do capítulo 10 do livro de Salmos

 No capítulo anterior: O exército hazorita ataca as cidades de Israel e anuncia aos hebreus que agora serão escravos. Em Betel, Sísera diz ao povo que qualquer ato de desrespeito e insatisfação será combatido com chicote e espada. 20 anos se passam e Débora acorda com uma suposta voz dizendo seu nome. Débora e Jaziel treinam antes do amanhecer. Ele não luta bem e a amiga chama sua atenção. Ele reclama sobre Sama ter seguido em frente e ele continuar apenas sendo capacho dos hazoritas. Débora o aconselha a se desarraigar disso. Ele ainda revela estar pensando em sair em viagem para tentar curar seu emocional. Débora experimenta a nova receita de Adélia. Na sapataria de Lapidote, um homem pede a ajuda de Débora com sua situação financeira, e ela o aconselha sabiamente. Ainda diz ao marido que não sabia que o povo já estava falando sobre ela. Em sua cama, Sísera acorda no meio de mais de 10 mulheres e as manda embora. No desjejum, ele confessa insatisfação com o projeto do rei envolvendo crianças, e sua mãe Najara o recomenda a apenas obedecer. Ela fica brava com as mulheres passando pela sala para irem embora. Sísera pergunta à mãe se ela acharia que ele, como rei, faria um bom reinado e ela responde perguntando retoricamente “E o que é que nós não podemos fazer bem, hum?”. Débora, sua mãe Tamar e outras mulheres servem água aos trabalhadores hebreus no campo. Um capataz importuna uma delas. Ao notar o olhar revoltado de Débora, se aproxima dela e lhe pede água. Ele ainda tenta tocá-la com malícia, mas ela se afasta e diz que não o servirá mais. Furioso, ele faz uma mulher de refém e pede que ela lhe entregue o copo. Débora cede e entrega. Após se refrescar, o capataz joga o copo nela e sai dando chicotadas nos trabalhadores. Débora desconta sua raiva no treino seguinte com Jaziel e o derrota; ele confessa a superioridade da amiga. À noite, ela se deita e dorme. Então sonha com imagens pouco nítidas: campo, água, luz... Débora abre o olho no momento em que ouve “Débora”.
FADE IN:

CENA 1: INT. CASA DE DÉBORA – QUARTO – NOITE
Débora, um tanto ofegante, encara o nada preocupada. Logo Lapidote se mexe, percebe-a acordada e se senta.
LAPIDOTE
Amor... Ainda não dormiu?
Ela olha para ele.
DÉBORA
É o sonho... Agora eu tenho certeza de que ouvi meu nome. A voz... disse o meu nome.
LAPIDOTE
Tem certeza?
DÉBORA
Parecia estar aqui mesmo, no quarto...
Ele franze a testa. Ela então se ajeita e põe-se de pé. Sob o olhar confuso de Lapidote, vai até a janela, abre-a e olha lá fora. As ruas, fracamente iluminadas pelas chamas das tochas penduradas nas paredes, estão completamente vazias.
Então ela fecha e volta. Mas uma ideia grandiosa parece passar pela mente de Lapidote.
LAPIDOTE
Meu amor... E se...?
Ela o encara; entendeu exatamente o que ele pensou.
DÉBORA
Vou falar com o ancião sobre isso!


CENA 2: INT. CASA DE ADÉLIA – SALA – NOITE
LAILA (25 anos), sentada à mesa, toma chá em seu copo de barro. Então a porta se abre e Adélia, com seu cesto pendurado ao pescoço, entra.
ADÉLIA
Shalom, minha irmã...
LAILA
Shalom, Adélia. Hoje você chegou mais tarde...
Adélia fecha a porta, tira o cesto e o coloca na mesa.
ADÉLIA
Foi, Laila. Tentei ficar mais um pouco na rua para ver se conseguia vender tudo. A praça ainda tinha um pouquinho de movimento.
LAILA
Mas não é necessário vender tudo.
ADÉLIA
Eu faço questão. Você sabe. Quando consigo vender todos os doces e bolos eu volto bem pra casa. Me sinto até mais leve... Tenho certeza de que emagreço um pouquinho.
Elas riem..
LAILA
Hum...
ADÉLIA
Ai, Laila, está sendo um sucesso!
LAILA
(sorrindo) Eu imagino, irmãzinha. Você faz essas receitas com tanto carinho... É natural que as pessoas amem.
ADÉLIA
Carinho e uma pitadinha de amor!
LAILA
(rindo) Sim, você e a sua pitadinha de amor.
Adélia respira fundo e se despreguiça.
ADÉLIA
Você não quer vir me ajudar na rua não, Laila? Seria bom nós duas juntas! Podemos conversar, o tempo até passa mais rápido...
LAILA
Adélia, me desculpe, mas eu não tenho paciência para andar o dia todo de rua em rua.
ADÉLIA
Laila! Olhe para mim! Toda cheinha! E ando por aí tudo com muito vigor!
LAILA
Eu sou diferente, Adélia. Sou... toda estranha, sempre fui assim... Você sabe.
ADÉLIA
Ai, você é exagerada, isso sim. Não precisaria ser dessa forma. Na verdade... eu até prefiro que fosse...
LAILA
Ah, claro... A tal loja.
ADÉLIA
(animada) Sim!
Mas se contém ao ver o semblante de desânimo no rosto da irmã.
ADÉLIA
Eu não entendo essa sua rejeição à ideia da loja. Até a Débora, mulher do sapateiro Lapidote, me recomendou isso hoje cedo.
LAILA
Adélia... Essa é a casa que o papai e a mamãe deixaram para nós... Sempre fomos tão zelosas com essa casa... Não me agrada a ideia de tanta gente frequentando aqui.
ADÉLIA
AS pessoas serão cuidadosas, organizadas... Pegarão os doces, sentarão e depois sairão. Simples, irmã.
Laila, um pouco menos desanimada, levanta as sobrancelhas enquanto pensa.
ADÉLIA
Laila, minha irmã, imagine também a quantidade de moços que poderia se reunir aqui! É isso! Quem sabe não está  a forma de finalmente arranjarmos um bolinho fofo de tâmaras pra nos casarmos, hummm...
LAILA
Adélia, você já é vista em toda a cidade.
ADÉLIA
Mas aqui é melhor! Tem mais conforto... Eles virão por esse motivo. E então seremos vistas. E finalmente conseguiremos arranjar um marido!
Laila controla a tentação.
LAILA
Hum... Eu vou pensar na ideia.
ADÉLIA
Pois pense com cuidado, hum?

CENA 3: INT. CASA DO AMOR – QUARTO – NOITE
Em um dos quartos da Casa do Amor, Sísera e HANNA (48 anos) se beijam na cama segurando taças de vinho
HANNA
Hummm... Sísera...
SÍSERA
(beijando o pescoço dela) Cale a boca...
HANNA
Sísera... Por favor... Me ajude...
Sísera então a olha nos olhos.
SÍSERA
Isso é hora?!
HANNA
Eu preciso, Sísera! Estou necessitada! O que te custa me ajudar?! Preciso pagar essa dívida o mais rápido possível!
SÍSERA
Não é minha função nesse negócio salvar seus investimentos fracassados. Sou apenas o seu sócio.
HANNA
Sócios se ajudam.
SÍSERA
Eu não tenho culpa se você não soube administrar a sua parte! E quer saber?! Todo esse seu falatório me deu vontade de ir atrás de uma de suas meninas.
HANNA
Minhas meninas podem ser mais novas, mas eu te garanto que não dão o prazer que eu dou. Pois fui eu quem as ensinou tudo o que sabem.
SÍSERA
Pelo menos elas ficam quietas e simplesmente me obedecem! E está na hora de você aprender com elas e fazer o mesmo!
Enquanto ele vira seu vinho, ela se aproxima mais.
HANNA
Se você não me ajudasse, bem que eu poderia, num dia desses, tropeçar no palácio e denunciar ao rei que um dos oficiais estaria envolvido na compra e administração de uma casa de meretrizes.
Sísera então larga a taça vazia e segura Hanna pelos ombros.
SÍSERA
Você é só uma prostituta. Nunca passará pelos portões do palácio. Agora vire-se!
Sísera a vira de costa para ele com força e a empurra, deixando-a de quatro.
SÍSERA
Conversaremos sobre negócios depois.
E abaixa a sua roupa.

CENA 4: EXT. BETEL – TEMPLO – PÁTIO – DIA
A noite passa e amanhece.
Débora e o ancião ALIÃ (80 anos) conversam sentados à sombra de uma grande figueira. Ela acabou de lhe contar sobre os seus sonhos e a voz, e ele está impressionado.
ALIÃ
Que interessante!... Não há dúvidas de que há algo aqui para ser observado com muita atenção.
DÉBORA
Eu não quero ser apressada e nem tender a uma interpretação específica, mas, depois desses sonhos, confesso que não paro de pensar no que o falecido juiz Sangar me disse em minha mocidade. Ele disse que via em mim... um brilho diferente. E não se admiraria caso Deus me escolhesse... como juíza de Israel. O senhor acredita? Juíza...
Aliã sorri.
ALIÃ
Só de pensar na possibilidade de você ocupar um cargo de destaque em nossa nação, o meu coração já se enche de alegria!
DÉBORA
O senhor não estranha o fato de o juiz Sangar ter dito isso para... uma mulher?
ALIÃ
Débora, eu apenas me alegro, pois você tem o dom da profecia.
Interessada, Débora presta atenção.
ALIÃ
Dom esse da parte de Deus. Um dom com o qual nasceu. Não é?
Débora está um pouco confusa.
DÉBORA
Acho que sim... Algumas pessoas me procuram para que eu possa resolver seus casos. Vêm até mim em busca de ajuda... E é como se eu me ligasse ao Senhor Deus, como se a resposta aparecesse em forma de imagem em minha mente. É algo divino, sim, é algo do Senhor. Mas nunca vi como um dom... Dom da profecia. Então muitos hebreus poderiam ter esse dom se também buscassem a Deus como eu busco. Ao menos é o que tento recomendar ao povo... Não são muitos, mas já há gente buscando ao Senhor. No entanto, para esses sonhos que tenho, não recebo nenhuma interpretação.
Aliã sorri alegre.
ALIÃ
Minha filha, sobre esses sonhos, busque ao Senhor e tente mais uma vez usar de seu dom para ouvir de Deus qual é a vontade Dele para a sua vida. Qual é o seu chamado. Pois precisamos buscar e também estar desejosos de ouvir o que o Senhor quer de nós. Com o coração aberto. Seja lá o que Ele tenha a nos dizer.
Débora, já decidida, faz que sim.

CENA 5: INT. PALÁCIO – SALÃO DE REFEIÇÕES – DIA
Sísera e Jabim desjejuam sentados diante de uma mesa repleta de preparados.
SÍSERA
Que comida maravilhosa, meu rei. Pelos deuses... Mais uma vez agradeço pelo convite. É uma imensa honra desjejuar com meu soberano.
Jabim faz um aceno com a cabeça e levanta uma taça de vinho para Sísera. Após os dois beberem, Jabim olha para ele.
JABIM
Sísera, também o chamei aqui porque quero que visite a Fortaleza e me traga um relatório completo de como anda o meu projeto.
SÍSERA
Assim será feito, soberano. Mas, se me permite uma contestação, gostaria de saber se o rei não acha que esse projeto é uma tarefa arriscada.
JABIM
(arrancando um pedaço de carne com o dente) E qual seria o risco?
SÍSERA
Crias são o que motivam qualquer ser vivo na face da Terra.
JABIM
Você teme uma rebelião dos hebreus, Capitão? Logo você, o homem que comanda 900 carros de ferro?
SÍSERA
Perdão, senhor, mas qualquer movimento daqueles malditos pode nos atrasar, diferente das tarefas comuns que controlamos com certa facilidade.
JABIM
Você é quem é o Capitão. Portanto garanta que tudo saia certo e que nada se atrase. Só isso que eu quero.
Acatando, Sísera faz que sim.

CENA 6: EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
Débora chega à palmeira pela qual tem tanto afeto com um sorriso tranquilo. Por um momento sente a brisa contra seu rosto... Então abre os olhos, se aproxima da árvore e se ajoelha ao lado dela.
Ela respira fundo. Se prepara para falar com o Senhor... Engole em seco, fecha os olhos e vira o rosto para cima.
DÉBORA
Senhor Deus... Criador dos Céus e da Terra... Deus de Abraão, Isaque e Jacó... Meu bom Pai... Entro à Sua Santíssima presença... para abrir o meu coração. Pois há tempos... venho tendo sonhos que penso ser da Sua parte... e uma voz... que penso ser a Sua poderosa voz, meu Senhor. E todos os dias busco-o incansavelmente, com todo o prazer da minha alma. Sinto que sou usada por Ti, recebendo divina sabedoria, para ajudar e aconselhar os meus irmãos, o Teu povo. Porém... com esses sonhos... eu sinto que o Senhor requer algo a mais de mim. Algo maior... Faça-me entender qual é a Sua vontade para a minha vida, Senhor. Faça-me saber... Pois o meu coração se alegra em servi-Lo e fazer o que me pede. Estou aqui, aos Seus pés, unicamente para servi-Lo de todo o meu coração, de toda a minha alma e por toda minha vida!
Ela abre os olhos molhados e encara o céu por alguns instantes. Então os fecha novamente.
DÉBORA
Buscarei por Sua resposta incessantemente. Amém.
Ela então se levanta, se escora no caule da palmeira, respira fundo e aprecia a paisagem relvada cheia de palmeiras e os montes e morros ao redor.
DÉBORA (NAR.)
Uma habilidade que desenvolvi durante aqueles anos, e essa provavelmente não se tratava de um dom, foi o canto. Talvez tenha sido a escravidão que a despertou em mim, como uma forma de buscar alento na beleza de Deus em tempos tão difíceis e sombrios. Ainda que às vezes tratava-se mais de uma poesia criada e declamada na mesma hora.
Encostada ali na palmeira, Débora começa a declamar. Não é uma canção, em função da falta de melodia, mas há uma sutil musicalidade com tons melancólicos.
DÉBORA
Por que te conservas longe, Senhor? Por que te escondes nos tempos de angústia? Os ímpios, na sua arrogância, perseguem furiosamente o pobre... e blasfema do Senhor. Por causa do seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus. Os seus caminhos são sempre atormentadores: os teus juízos estão longe dele... trata com desprezo os seus adversários. Diz em seu coração: Não serei abalado, porque nunca me verei na adversidade. A sua boca está cheia de enganos e de astúcia; debaixo da sua língua há malícia e maldade. Nos lugares ocultos mata o inocente. Arma ciladas em esconderijos, como o leão no seu covil... Encolhe-se, abaixa-se, para que os pobres caiam em suas fortes garras.
Débora limpa as lágrimas que brotam de seus olhos. Um soldado hazorita chega ali perto e a nota; sorri... Então aproxima-se devagar, mas ela não o vê.
DÉBORA
Levanta-te, Senhor! Oh! Deus, levanta a tua mão; não te esqueças dos necessitados! O Senhor é Rei eterno; da sua terra serão desarraigados os gentios. Senhor, tu ouvistes os desejos dos mansos; confortarás os seus corações; os teus ouvidos estarão abertos para eles; Para fazeres justiça ao órfão e ao oprimido, a fim de que o homem, que é da terra, não prossiga mais em usar da violência... para com os Teus.
O soldado para perto dela. Débora o percebe e, assustada, vira para ele, que sorri.
SOLDADO
O que está fazendo, escrava?
DÉBORA
Apenas cantando...
SOLDADO
Eu ouvi... Essas palavras... parecem de adoração ao Deus invisível.
DÉBORA
É exatamente o que elas são.
Ele sorri e se aproxima mais dela.
SOLDADO
O Deus invisível... Aquele que abriu o Mar Vermelho... Que interrompeu as águas do Jordão... Que é o centro de tantos causos... Cadê Ele? Onde está? Por que não aparece e salva novamente o Seu povo?
DÉBORA
Você não entenderia.
Ele então ri, ri bastante na frente dela.
SOLDADO
Uma mulher... (ri) falando isso para mim... E uma rata hebreia, escrava, ainda por cima!
Débora nada diz enquanto encara o soldado rindo.
Quando se recupera das risadas, ele se ajeita e a olha com descontração.
SOLDADO
Escute... Eu vou te dar um tapa bem no seu rosto. E vai doer.
Débora permanece parada. O soldado então abre a mão e desfere uma forte bofetada no rosto dela, que se segura na palmeira para não cair.
SOLDADO
(rindo) Aproveite que está mandando adoração ao seu Deus e peça para que preste mais atenção em você, porque parece que Ele não foi rápido o suficiente. E olhe que eu avisei que te bateria... Ainda assim, nada te impediu de levar um bom tapa.
Débora se recupera da agressão e se endireita.
SOLDADO
O que foi? Não vai dizer nada? Para uma cantora você está muito quieta.
DÉBORA
Com licença. Tenho muito o que fazer ainda.
SOLDADO
Será mesmo? Pois vi você aqui bem tranquila enquanto cantava...
DÉBORA
Aproveitei apenas um momento para descansar. (saindo) Mas agora preciso ir.
O soldado faz que sim.
SOLDADO
Antes, preciso fazer algo.
Ela para e olha para ele.
De repente ele levanta a mão e desfere outra forte bofetada no rosto de Débora, que cai no chão.
Com um sorriso no rosto, ele a olha caída.
Débora então se esforça e, devagar, põe-se de pé.
SOLDADO
Agora sim você pode ir, escrava.
Débora sai dali...
Em outra parte do campo, ali perto, Débora encontra Isabel.
ISABEL
Prima?
DÉBORA
Isabel...
ISABEL
Prima, você está bem?
DÉBORA
Sim, estou sim.
ISABEL
Pois eu não. Éder não para de reclamar, de se lamentar... É só chegar em casa que começa!
DÉBORA
O que aconteceu?
ISABEL
Bem... É complicado. É uma questão de um pedaço de terra... Já estou cansada, não sei mais como resolver aquilo. E esse estresse está sendo passado para o Mireu... Coitado do meu filho. Pelo menos ele é maduro, mais do que Éder e eu juntos. Débora, por que seu rosto está vermelho? Tem certeza de que está tudo bem?
DÉBORA
Sim, tudo bem, prima.
Nesse momento uma mulher, passando ali perto com um menino de uns 5 anos, nota Débora.
MULHER
Ah, ali está ela!
Débora e Isabel olham para a mulher e o menino, que vão até elas.
MULHER
(um tanto desesperada) Você é Débora, filha de Elian, mulher de Lapidote, o sapateiro?!
DÉBORA
Sim... Sou eu.
MULHER
Ouvi sobre a sua fama de ser uma mulher de Deus... Mulher profetisa...
Débora fica meio sem jeito e Isabel olha curiosa para a prima.
MULHER
É verdade?! É verdade que conseguiu resolver a disputa de dois irmãos por uma herança? Que com conselhos conseguiu unir um casal que vivia em brigas? Que resolveu--
DÉBORA
(interrompendo) Sim. (sorri suavemente) É verdade.
MULHER
Este... é meu filho. Está febril, sente dores nos braços, nas pernas, nos olhos... Devolve tudo o que come e sua pele descasca nas regiões íntimas. Já procurei os curandeiros, mas não conseguem descobrir o que ele tem... Por favor, Débora, faça algo por ele. Ao menos diga que enfermidade o meu menino tem!
DÉBORA
Senhora... Eu não sou curandeira.
MULHER
Mas eu confio na senhora! Use do mesmo dom que usou para com os outros e ajude o meu filho! Eu lhe imploro!
Débora então faz que sim e se ajoelha na frente do menino. Olhando-o nos olhos, sorri. Ele parece tranquilo. Carinhosamente ela passa as mãos no rosto do menino.
DÉBORA
Qual é o seu nome?
MENINO
Eliéber.
DÉBORA
Eliéber. É um lindo nome.
Débora passa as mãos nos braços do menino. Depois segura a mão esquerda dele e coloca sua própria sobre a cabeça de Eliéber. Fecha os olhos e começa a orar a Deus em silêncio, enquanto apenas seus lábios se mexem. A mãe do menino observa apreensiva. Olha para Isabel, que assiste com curiosidade e certa ansiedade.
Por fim, Débora abre os olhos e encara o nada por alguns segundos.
MULHER
E então?!
Débora respira fundo e se levanta.
DÉBORA
Eu senti que há nesse menino uma grave enfermidade no sangue.
A mulher empalidece.
MULHER
No sangue?!... Como curá-lo, senhora?!
Débora olha para um lado... para o outro... e aponta para uns arbustos.
DÉBORA
Prima... Por favor, pegue um pouco daquelas ervas.
Isabel olha para onde Débora aponta e de volta para ela.
ISABEL
Aquelas? Mas são só mato...
DÉBORA
Aquelas mesmas. Por favor, pegue um pouco e traga.
Estranhando, Isabel vai até lá e arranca um pouco do mato. A mulher observa com ansiedade. Isabel volta carregando as folhas.
DÉBORA
Faça um chá com essas folhas e dê a ele. Sinto em meu coração que é isso que a senhora deva fazer para curá-lo. Se fizer com fé, a doença sairá e nunca mais voltará.
Estranhando, a mulher pega as folhas das mãos de Isabel.
MULHER
Senhora... Chá de mato?
DÉBORA
Foi o que eu senti em meu coração ao orar ao Senhor. Faça assim, ore a Deus também e dê a ele.
Olhando para o mato que segura, a mulher faz que sim.
MULHER
Tudo bem. Farei conforme a senhora me disse. Vamos, Eliéber. Shalom, senhoras.
DÉBORA, ISABEL
Shalom.
A mulher sai apressada puxando o filho.
ISABEL
Prima, o que foi isso?
Débora olha para Isabel.
DÉBORA
Não foi coisa minha, mas dos Céus. Foi dessa forma que o meu coração sentiu de fazer. Sei que é da parte de Deus.
ISABEL
Mas e se não der certo?
Débora apenas a olha e sai. Um tanto preocupada, Isabel aperta o passo e a alcança.

CENA 7: EXT. BETEL – PLANTAÇÃO – DIA
Em uma das plantações, ÉDER (45 anos, alto, magro e loiro) e alguns homens, entre eles Jaziel, conversam enquanto trabalham na colheita.
HOMEM
É o que dizem...
JAZIEL
Então é mesmo verdade?
HOMEM
Não tem como saber, mas...
HOMEM 2
Muitos estão falando... Crianças sumindo por toda a fronteira, principalmente ao norte. É bem provável que seja verdade.
ÉDER
Tenho certeza de que isso tem a ver com os malditos.
JAZIEL
E por que os hazoritas iriam roubar nossas crianças?
ÉDER
Não sei. Os malditos fazem de tudo para nos destruir. O que der na cabeça do Capitão Sísera, Jabim aceita.
HOMEM
(olhando para os capatazes) Fale baixo, homem.
CAPATAZ
Vocês aí! Estão com muita conversa! Trabalhando!!!
ÉDER
Rum.
Eles ficam quietos e continuam a trabalhar.
Pouco tempo depois começa um burburinho entre os trabalhadores. Algum capataz manda eles se calarem, mas logo Jaziel, Éder e seus companheiros percebem que outros homens ali na plantação estão olhando e apontando para o horizonte. Eles então olham e veem uma grande fumaça escura no horizonte, como se algo atrás dos morros ardesse em chamas.
JAZIEL
O que é aquilo?!
Os hazoritas também olham com estranheza, mas não demoram a mandar os hebreus voltarem ao trabalho por meio de gritos e chicotadas.
CAPATAZ
Quem ficar olhando não vai para casa! Vai passar a noite toda aqui!
Disfarçando enquanto mexe na terra, Jaziel vira apenas os olhos para a fumaça negra.
JAZIEL
É na direção do vilarejo...
Os homens olham disfarçadamente para ele, sem entender.
JAZIEL
O vilarejo mais próximo de Betel... Parece ser lá...
Também um tanto preocupados, os outros dão uma olhada para a fumaça, mas logo tentam se concentrar em seu trabalho. Jaziel permanece preocupado.

CENA 8: EXT. HAZOR – OBRA – DIA
Sísera, escoltado por 2 soldados e acompanhado de um homem, o arquiteto, passa supervisionando uma obra sendo construída por hebreus e vigiada por capatazes hazoritas e soldados em posição.
Quando ele se aproxima, os homens hebreus param de trabalhar e abaixam a cabeça.
SÍSERA
(observando a obra) Até que os selvagens estão fazendo um bom trabalho.
ARQUITETO
É verdade, Capitão. Pena que isso acontece apenas sob a sombra do chicote.
Com um leve sorriso, Sísera faz que sim.
SÍSERA
Muito bem. Vam--
Um barulho o interrompe e faz todos olharem: um dos hebreus fugiu da obra e corre para longe dali.
SÍSERA
Mas o que é isso?!
Soldados o perseguem e não demoram a captura-lo. Metem-lhe um soco no estômago e o carregam até a presença do furioso Sísera.
SÍSERA
O que foi isso?! O que estava fazendo, escravo?! Como ousa se mexer diante da minha presença, em minha visita?!
O homem, segurado pelos soldados, começa a chorar.
HEBREU
Senhor... É o meu filho... Meu pequeno está desaparecido há quase um mês!...
SÍSERA
Nós estamos investigando esses desaparecimentos, e vocês já foram avisados sobre isso! Por que insistem em nos desobedecer quando deveriam estar tranquilos diante da melhor investigação que esse caso poderia ter?!
HEBREU
(chorando) Eu queria... procurar o meu filho...
SÍSERA
Acha que a sua busca é mais eficiente que a comandada por mim?
HEBREU
Não, meu senhor... Eu só--
SÍSERA
(interrompendo) Acha que nós hazoritas estamos com o seu filho?
O homem chora mais...
HEBREU
Sim...
Sísera não gosta do que ouve. Então faz sinal para os soldados soltarem o homem, e assim eles o fazem. O hebreu, surpreso, olha para o Capitão.
SÍSERA
Você quer o seu filho?
HEBREU
Sim!... Claro, meu senhor...
SÍSERA
Pois então olhe para trás.
O homem então olha para trás, mas não há nada ali. Quando vira de volta para Sísera, esse mete-lhe um soco no rosto e ele cai.
Sob os olhares tensos dos soldados, e dos assustados hebreus da obra, Sísera monta em cima do homem e começa a lhe aplicar uma série de socos no rosto. Um atrás do outro, sem parar. O sangue espirra e ele continua. Alguns dos trabalhadores, aflitos, viram o rosto.
Por fim, ofegante, com as mãos ensanguentadas e o rosto respingado, Sísera se levanta e olha para os soldados.
SÍSERA
Queimem a carcaça.
Ele limpa as mãos na água que outro soldado traz e sai dali escoltado. O arquiteto observa soldados ateando fogo no corpo.
A obra e o fogo vão ficando para trás enquanto Sísera se afasta mantendo seu olhar maligno. Nisso, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:


No próximo capítulo: A misteriosa Darda chega à casa de Sísera em busca de vingança. E Jaziel chama Débora e Lapidote para irem averiguar secretamente o vilarejo supostamente queimado.

 

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