CENA 01: RUA. EXTERIOR. NOITE
Continuação imediata do capítulo anterior. Celso abre a porta do carro e deixa o veículo, ficando de frente para Helena. Os dois se encaram, deslumbrados.
CELSO – Eu não posso acreditar que eu estou te vendo depois de trinta anos… é você mesmo?
HELENA – (Ri) É claro que sou eu. Você não está acreditando, muito menos eu.
CELSO – Por onde você andou durante todos esses anos?
HELENA – Eu estive aqui esse tempo todo. E você?
CELSO – Depois que a gente "terminou", eu fui embora para a Espanha. Até voltei algumas vezes para o Brasil durante esse tempo, mas nada definitivo.
HELENA – E agora é definitivo?
CELSO – É. O que eu mais quero no momento é ficar aqui no Brasil.
Helena fica feliz em saber disso, esboçando um leve sorriso. Celso ainda está deslumbrado.
CELSO – Meu Deus, não dá pra acreditar… Você continua a mesma. Agora com as marcas do tempo, mas que só ressaltam a sua beleza.
HELENA – (lisonjeada) E você continua o mesmo galanteador, não é?
CELSO – Apenas sei elogiar uma bela mulher. (P) Mas, vem cá, você tá com seu telefone aí?
HELENA – Estou…
CELSO – Me dá ele desbloqueado.
Helena estranha, mas faz o que ele pede. Celso passa um tempo digitando e, logo depois, entrega o celular de volta para ela.
CELSO – Pronto. Agora você tem o meu número salvo! Me manda uma mensagem para a gente marcar de encontrar qualquer hora, colocar o papo em dia… Acredito que temos muito assunto para conversar.
HELENA – (galanteada) Eu vou mandar sim…
CELSO – Me dá um abraço?
(Música de fundo: Nada Sério - Joanna)
Helena fica sem jeito com o pedido, mas acaba indo de encontro aos braços do homem, ficando completamente envolvida em um abraço que ela esperou por trinta anos. Os dois se separam após um tempo e encaram-se novamente.
HELENA – Eu estou muito feliz em te reencontrar.
CELSO – Pode ter certeza que eu também estou.
HELENA – Bom, agora eu tenho que entrar, já está tarde. Se você puder tirar o carro da frente da garagem, eu agradeço. (Ri)
CELSO – (Ri) É claro. Estou de saída.
HELENA – A propósito, o que você está fazendo em frente ao meu prédio? Que coincidência.
CELSO – Pois é. (P) Eu vim visitar uma pessoa, mas acho que ela não está muito afim de visitas.
HELENA – Ah, sim.
Ela sorri para ele, se despedindo e volta na direção de seu carro. Antes de entrar, encara o homem pela última vez e acena.
CELSO – Bom te ver, Helena.
HELENA – Bom te ver, Celso.
Ambos entram em seus carros. Celso retira o carro da frente da garagem e buzina para ela, indo embora. Helena, no carro, respira fundo, e dirige na direção da garagem. (Música encerra)
CENA 02: APARTAMENTO DE ILANA. INTERIOR. NOITE
Ilana e Vicente estão sentados no sofá da sala, frente a frente, em uma conversa que já perdura por um tempo.
ILANA – E é basicamente isso, Vicente. Eu quero fazer uma espécie de "monólogo" sobre a minha própria vida pós-separação, só que com todo o espírito teatral. Os desafios da mulher tradicional de se desprender dessa realidade que há cercou durante a vida toda, para entrar em outra completamente diferente de tudo o que ela viveu e que foi ensinada. Entende onde eu quero chegar?
Vicente parou no tempo ouvindo ela falar. O homem começa a bater palmas ao Ilana terminar de falar.
VICENTE – Bravo, Ilana!
ILANA – Você gostou mesmo?
VICENTE – Eu amei! Essa ideia é genial. Você é genial! Você teve a ideia de transformar a sua realidade em arte. Isso é lindo. A vida é isso, a vida é arte!
ILANA – Com esses elogios todos, eu fico até sem graça…
VICENTE – Você tem que ser elogiada, você merece! Tudo que você me falou durante essa nossa conversa, só encheu ainda mais meus olhos sobre você. E olha que ainda nem te vi atuando.
ILANA – Muito obrigada, Vicente. Você tem sido muito importante para mim. (P) Nossa, eu fiquei pensando agora, nem o Fernando, meu próprio marido, já havia me elogiado assim. Mas também, ele nunca se importou em saber nada sobre mim…
(Música de fundo: Futuros Amantes - Chico Buarque)
Vicente sorri para ela e segura na mão da mulher, que é pega desprevenida, mas também sorri.
VICENTE – Nossa parceria vai longe, Ilana. Eu tenho certeza disso. Você ainda vai ser uma das maiores atrizes desse país!
ILANA – Será?
VICENTE – Eu tenho certeza.
Os dois se encaram felizes e um clima surge entre eles. Ambos sentem sensações que ainda não conseguem discernir. (Música encerra)
CENA 03: CASA DE ROSE. INTERIOR. NOITE
André e Rose estão frente a frente, ambos visivelmente nervosos.
ANDRÉ – Eu quero começar pedindo desculpas pelo que aconteceu na companhia.
ROSE – Eu que tenho que te pedir desculpas pelo que fiz você passar no restaurante.
ANDRÉ – Mas isso não me dava o direito de te expor ali na frente de todo mundo, no seu ambiente de trabalho. Foi um erro e eu reconheço.
ROSE – Não te julgo, André. Você ainda é jovem e eu sei como é difícil lidar com as próprias emoções, mas uma hora a gente aprende… ou não. Como é o caso dessa mulher toda errada que você está vendo na sua frente.
ANDRÉ – Também não estou aqui para te julgar, mãe. Eu não faço a menor ideia do que você passou, do que a minha gestação foi para você, mas eu quero saber. Eu quero te entender. Meu maior desejo é poder construir uma boa relação com você.
ROSE – Por mais que não pareça, também é o meu desejo, André. O que eu fiz te deixou marcas irreparáveis, e não dá pra voltar atrás. Mas, eu estou disposta a tentar recuperar o tempo perdido. Só não sei como.
ANDRÉ – Quer aprender como fazer isso comigo?
ROSE – É claro que eu quero, meu filho.
(Música de fundo: Se Essa Rua Fosse Minha - Ana Carolina)
ANDRÉ – Você pode começar me dando um abraço, mãe. Isso já me faria um bem enorme.
Os dois estão visivelmente emocionados. Rose, com lágrimas rolando por seu rosto, respira fundo e abraça fortemente o filho, que também chora de dor e emoção, ao mesmo tempo.
ANDRÉ – Eu esperei por isso a vida toda.
ROSE – Me perdoa, André. Me perdoa. Daqui pra frente, a gente vai seguir juntos, meu filho.
ANDRÉ – Muito obrigado por isso.
CAM foca no abraço emocionado dos dois. Rose sente parte de sua culpa indo embora, e André sente uma parte dele voltando a si. (Música encerra)
CENA 04: COBERTURA DE HELENA. INTERIOR. NOITE
Helena sobe as escadas da cobertura, chegando ao segundo andar. Ela para no corredor, não consegue parar de pensar em Celso, está fascinada em ter reencontrado o amor de sua vida.
(Música de fundo: Girls Just Want To Have Fun - Cyndi Lauper)
FLASHBACK ON
Helena (25) está se bronzeando na praia. O dia é ensolarado e o céu está completamente limpo. Ao fundo, visualizamos as belas águas do mar, onde várias pessoas divertem-se. Celso (25) vai se aproximando de Helena, ele está com um coco em mãos.
CELSO – Aceita uma água de coco?
HELENA – (estranhando) Te conheço?
CELSO – Não. Mas pode conhecer agora.
HELENA – Abusado…
Helena vira o rosto para ele. Celso, insistente, senta ao lado dela. Helena irrita-se.
HELENA – Você não vai me deixar em paz?
CELSO – Só quando você me der pelo menos uma moral…
HELENA – Ih, moleque, não tem outra pra você estressar não?
CELSO – Até tem. Várias. Mas você é a mais bonita entre elas!
HELENA – Eita, meu Deus…
Helena tenta ignorá-lo, mas ele continua a puxar papo. Em um corte, ela já está envolvida na conversa e encarando ele com outro olhar. Ao final, já está anoitecendo, os dois estão aos beijos na areia da praia.
FLASHBACK OFF
(Música encerra) Helena está com um sorriso bobo no rosto. Ela respira fundo e continua o caminho. Passando em frente ao quarto de Ana, percebe a porta entreaberta e a luz ligada. Ao entrar, sua filha está deitada de qualquer jeito na cama, adormecida. Helena se esforça para ajustá-la na cama, pega um cobertor, cobrindo-a e, na sequência, liga o ar condicionado. Ao final, senta ao lado da filha na cama e dá um beijo na testa dela.
HELENA – Te amo mais do que a mim mesma.
Ela encara a filha dormindo por algum tempo, com brilho no olhar. Em seguida, levanta e vai até a saída, apagando a luz do quarto e fechando a porta.
(Música de fundo: Chega de Saudade - Tom Jobim)
CENA 05: RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA
Amanhece na cidade maravilhosa. CAM circula pelo bairro do Leblon e corta para a fachada de um prédio.
CENA 06: APARTAMENTO DE RENATA. COZINHA. INTERIOR. DIA
Renata abre a geladeira, pega presunto e queijo e os coloca em cima da mesa, ao lado do pão. A campainha toca e ela vai até a porta para atender. (Música encerra)
RENATA – Caio? Oi, bom dia, entra. Quer tomar café?
CAIO – Não. Cadê a Jéssica?
RENATA – Acho que ela ainda tá dormindo, deve ter ficado até tarde acordada.
CAIO – Renata, eu tenho que te contar. Eu vi a Jéssica e a Gabriela ontem aos beijos.
RENATA – Que? Como assim? Isso não é possível.
CAIO – É tão possível que eu vi, e com os meus próprios olhos.
RENATA – Não acredito nisso! Eu vou lá agora mesmo e tirar satisfação com essa tal de Gabriela. Isso é um absurdo!
Renata pega sua bolsa e vai embora. Caio permanece no apartamento.
ABERTURA:
CORTE:
CENA 07: CASA ROSADA. ESCRITÓRIO DE HELENA. INTERIOR. DIA
Gabriela anda até o escritório de Helena e percebe que a porta está aberta, Gabriela entra.
GABRIELA – Bom dia, Helena. A porta estava aberta.
Helena responde Gabriela um pouco distraída, digitando no computador e olhando para ela ao mesmo tempo.
HELENA – Ah, bom dia. Acho que alguém deve ter esquecido de fechar.
GABRIELA – Hm, ok. Eu vim porque queria falar sobre o que aconteceu ontem.
Helena para de digitar e olha fixamente para Gabriela, com um olhar sério.
GABRIELA – Eu só queria dizer que se você quiser me demitir pela confusão eu vou entender totalmente.
HELENA – Para com isso, Gabi. Eu jamais faria isso, você para mim é da minha família.
GABRIELA – Ai, Helena. Você não sabe o quão feliz eu fico com isso.
HELENA – Porém quem tem que deixar a agência é a Jéssica. Ela e a família dela já trouxeram problemas demais para a agência e para a sua vida, continuar vendo eles vai trazer mais, me entende?
GABRIELA – Sim, entendi. Você está certa.
CENA 08: APARTAMENTO DE RENATA. SALA. INTERIOR. DIA
Jéssica abre a porta do seu quarto, já arrumada para sair, vai até a sala e se depara com Caio sentado no sofá.
CAIO – Bom dia, bela adormecida.
JÉSSICA – Que isso? Você tá fazendo o que aqui? Cadê a minha mãe?
CAIO – Você é bem mal educada, ein? Mas eu vou contar. Eu contei para ela que você beijou a Gabriela. Uma hora dessas ela já deve ter armado o maior barraco na agência.
JÉSSICA – O que? Você é maluco! Não tinha nenhum direito de fazer isso!
Revoltada, Jéssica começa a bater em Caio e sai correndo do apartamento para ir à agência.
CENA 09: RUA. PONTO DE ÔNIBUS. EXTERIOR. DIA
No ponto estão algumas pessoas esperando pelo transporte, de longe se vê ele chegando. Jéssica aparece correndo até o ponto e o ônibus para, abre a porta e todas as pessoas disputam a entrada. Jéssica é empurrada e é a última a subir. Jéssica se aproxima do motorista.
JÉSSICA – Oi moço, boa tarde. O senhor sabe se esse ônibus para no ponto de ônibus da Rua Paulina Camila Santos de Oliveira?
MOTORISTA – Sim, vai parar lá.
JÉSSICA – Ai, muito obrigada.
MOTORISTA – Que nada…
CENA 10: RUA. FACHADA CASA ROSADA. EXTERIOR. DIA
Renata chega na frente da Casa Rosada e tenta entrar.
SEGURANÇA – Desculpa senhora, eu nunca a vi aqui. Tem algum registro ou autorização para entrar?
RENATA – Como assim registro? Eu sou mãe de uma das modelos e tenho direito de entrar!
SEGURANÇA – Sem ter o nome registrado no nosso sistema é impossível te liberar senhora, a dona fez isso porque estava entrando muita gente desconhecida aqui.
(Música de fundo: Instrumental - Brigas e Discussões)
Renata começa a falar com o tom de voz elevado, aos gritos.
RENATA – Ah então eu quero que você chame aqui pra fora a Gabriela! Chama aí. Aquela sapatona vai me ouvir! Diz que é a mãe da Jéssica.
O segurança olha desconfiado para Renata.
SEGURANÇA – Minha senhora, eu não vou chamar ninguém. Você está muito alterada e se algo acontecer a culpa é minha.
RENATA – Inútil, incompetente! Gabriela! Gabriela! Vem aqui agora! Aparece se você é mulher!
Gabriela sai da Casa Rosada e se aproxima de Renata.
GABRIELA – Quem é você? O que está acontecendo?
RENATA – Você não me conhece mas conhece muito bem minha filha, né? Inclusive, você fica por aí aos beijos com ela, não é verdade?
SEGURANÇA – Gabriela, quer que eu tire ela daqui?
GABRIELA – Não. Deixa que eu resolvo, obrigada.
RENATA – É, agora tem que mostrar que tem coragem mesmo. Mas pra destruir o relacionamentos dos outros você não mostra a cara!
GABRIELA – Que? Eu não destruí relacionamento de ninguém.
RENATA – Destruiu sim! Cínica. Se a Jéssica terminou com o Caio, a culpa foi toda sua! Convida pra jantar, fica tirando fotos, eu não quero nem imaginar o que você faz com essas fotos…
GABRIELA – Senhora, por favor. Você está ficando paranóica!
RENATA – Eu sou uma burra! Já deveria ter imaginado. Isso de vocês duas é desde quando?
GABRIELA – Eu não preciso falar minhas intimidades para você, além do mais eu e a Jéssica não temos nada. Eu já pedi para parar de ser fotógrafa dela.
RENATA – Se não tem nada porque o meu genro viu vocês duas se beijando?
GABRIELA – Eu não beijei ninguém, a Jéssica me beijou. Você deveria estar gritando com ela, não comigo.
Renata fica sem palavras. (Instrumental encerra)
CENA 11: PADARIA. INTERIOR. DIA
Celso está sentado em uma das mesas da padaria, aguardando. Ana chega ao local e logo acha o homem, indo até ele. Celso vê ela chegando e se levanta, os dois se encaram.
CELSO – Ainda bem que você chegou, pensava que não vinha. Será que pode me explicar o que está acontecendo com você?
ANA – Celso, a gente precisa ter uma conversa séria. Será que podemos ir para outro lugar?
CELSO – Não, Ana. Eu não irei a lugar nenhum. Nossa conversa será aqui e agora.
ANA – Eu quero terminar com você!
Celso é pego de surpresa e recua para trás. Ana está nervosa e insegura de sua decisão.
CENA 12: ÔNIBUS. INTERIOR. DIA
Jéssica está sentada em uma cadeira alta. Há uma quantidade significativa de pessoas no ônibus, mas não está cheio, com todos os passageiros sentados tranquilamente.
JÉSSICA – Ai que demora…
O motorista para em uma parada e dois homens sobem, pulando a catraca. Algumas pessoas, desconfiadas, seguram de modo mais firme suas bolsas. Um dos homens fica na catraca e outro vai para o fundo, que está vazio. O motorista olhou pelo retrovisor, estranhando a ação. O homem que está no fundo faz sinal para o da catraca, que tira sua arma do bolso. As pessoas se espantam.
(Música de fundo: Instrumental - Tenso)
HOMEM 1 – Shhh! Todo mundo quietinho, senão o pau vai torar! Isso aqui é um assalto!
Um passageiro, que está sentado em uma cadeira próxima, tenta se aproximar do homem da catraca para tentar derrubar a arma. O homem que está no fundo do ônibus percebe, rapidamente saca sua arma e dispara certeiramente na cabeça do passageiro, que cai no chão e jorra sangue. Todos se abaixam, apavorados.
HOMEM 2 – Isso aqui não é brincadeira não! Quero todo mundo quietinho e passando tudo o que tem!
O homem da catraca pula para a área do motorista, e começa a fazê-lo de refém. O celular do motorista está jogado no chão, escondido e com o visor ligado. Podemos visualizar que está em chamada com o 190. CAM corta para o homem da parte dos passageiros, que começa a saqueá-los. Corte para o corpo do passageiro estirado no chão e corte final em Jéssica, que está com os olhos arregalados, tremendo de medo.
ENCERRAMENTO (com trilha):
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