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Débora - Capítulo 43 (Antepenúltimo Capítulo)


Débora
CAPÍTULO 43
Antepenúltimo Capítulo

uma novela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

baseada nos capítulos 3 a 5 do livro de Juízes

CENA 1: EXT. QUEDES – RUA – NOITE
Maravilhado, contemplativo e extasiado, Baraque, caído de joelhos no meio da rua vazia, olha para a estrela brilhante no céu.
DEUS
Baraque.
BARAQUE
(trêmulo) Estou aqui, Senhor...
DEUS
Vá, Baraque, e leve gente ao monte Tabor. Tome contigo dez mil homens dos filhos de Naftali e dos filhos de Zebulom.
Baraque continua a encarar a estrela.
DEUS
E, no ribeiro de Quisom, levarei a ti Sísera, capitão do exército de Jabim, com os seus carros e com a sua multidão; e o darei na tua mão.
A estrela então começa a desaparecer. Baraque levanta as mãos.
BARAQUE
Senhor, espere! Como devo fazer isso?! Como vou--
Ele se interrompe; a estrela se foi. Baraque começa a respirar ofegante... Está abalado.
Por fim faz força e põe-se de pé; encara o nada, está pensativo e afetado. É quando a porta da casa se abre e Renê e Abinoão saem apressados.
RENÊ
Baraque!
ABINOÃO
Baraque?!
Ele pisca... e olha devagar para eles.
RENÊ
(sorridente) Baraque, Sara acordou!
Ele começa a voltar a si... Pisca bastante e abre a boca tentando falar.
BARAQUE
Acordou?...
ABINOÃO
Venha, meu filho! Venha vê-la!
O curandeiro então sai ali fora.
CURANDEIRO
Estavam falando de Sara?
RENÊ
Agora mesmo.
CURANDEIRO
Eu realmente não sei o que aconteceu... Amanhã bem cedo venho fazer alguns testes, mas ela de fato está bem.
Renê e Abinoão franzem a testa com o jeito de Baraque.
ABINOÃO
Baraque, está tudo bem?!
Devagar, Baraque olha para o pai.



CENA 2: EXT. MEROZ – RUA – NOITE
Agachado na rua, Elói abre o pequeno baú e seus olhos brilham diante da quantidade de moedas de ouro que há ali. Todo o povo ao redor se aproxima para contemplar tamanha beleza.
Elói então pega as moedas, levanta-as na altura de seus olhos e, sorrindo maravilhado, deixa-as cair devagar de volta ao baú. Todos ali estão alegríssimos.

CENA 3: INT. TENDA DE JAEL – SALA – NOITE
Enquanto Jael termina de preparar a comida, Sísera e Héber conversam e bebem sentados à mesa.
HÉBER
Senhor Sísera, queira me perdoar por não termos preparado coisas melhores para servi-lo... Não sabíamos que teríamos a honra de receber outra visita sua.
SÍSERA
Não se preocupe com o jantar, Héber. Vim apenas para beber com você.
Sísera bate na costa de Héber, que ri. Apesar de referenciá-lo, Sísera olha é para Jael e o movimento do seu corpo enquanto trabalha. Mas rapidamente volta o olhar para Héber.
HÉBER
E então, senhor? Como estão as coisas lá em Hazor?
SÍSERA
Indo... Essa tensão com Israel... Com Débora... Se esses malditos ainda fossem escravos, não estariam cobrando impostos como o Elói está.
HÉBER
Quem diria que os hebreus não mais são escravos...
JAEL
Menos mal.
Sísera olha para ela.
SÍSERA
“Menos mal”? Por que acha isso, Jael?
Jael para e vira para ele.
JAEL
Porque acredito que todos têm direito à liberdade. Homens e mulheres não nasceram para serem escravos. E além disso, sinto grande asco por tiranos.
Toda essa fala irrita profundamente Sísera, que então não tira seus olhos flamejantes de Jael. Percebendo, Héber, totalmente desconfortável, olha para a esposa.
HÉBER
Jael! Não vê que suas opiniões incomodam nosso visitante?! Por favor, cuide aí da comida!
Jael vira para as suas coisas. Apesar da raiva contida, Sísera dá uma olhada em Héber e toma mais um gole de vinho. E Héber olha para Sísera preocupado em não desagradá-lo.

CENA 4: INT. CASA DE GADI E LAÍS – QUARTO – NOITE
Gadi e Laís dormem...
Mas as pálpebras dele estão um pouco trêmulas... Os olhos lá dentro parecem virar de um lado para o outro constantemente...
De repente Gadi abre os olhos e vê: um rosto sorridente em cima dele com uma mão segurando uma faca em posição de ataque! Ele grita e senta na cama subitamente. O vulto então corre e se esconde na penumbra do quarto. Nisso Laís também acorda.
LAÍS
Gadi! O que foi?! Por que você gritou?!
Ele olha para a penumbra.
GADI
Fique aqui.
Gadi se levanta e se aproxima um pouco do canto escuro.
GADI
Micaela... Micaela, é você? Venha aqui, Micaela.
LAÍS
Micaela está aqui?!
Conforme se aproxima, Gadi consegue notar, em meio à penumbra, a pequena figura de Micaela em pé e com a faca na mão. Ela parece grunhir...
GADI
Micaela... Venha aqui tranquilamente...
De repente ela tenta correr para a porta, mas Gadi a agarra e consegue tomar a faca. A menina, no entanto, continua agressiva. Tenta se soltar dos braços dele arranhando-o e até mordendo-o.
LAÍS
(apavorada) Gadi!
Com certa dificuldade Gadi consegue conter a menina e leva-la para o corredor. Laís, assustada, vai até a porta. Logo Gadi volta.
GADI
Eu a prendi em seu quarto.
Eles ouvem um barulho alto vindo do outro quarto. Laís encara o marido já desesperada.
LAÍS
Gadi, ela tentou te atacar enquanto dormia?!
Ele hesita, mas a olha e faz que sim.
LAÍS
Gadi!... Gadi, eu não vou conseguir dormir!...
GADI
Ela está trancada...
LAÍS
Mesmo assim, não dá!
GADI
Amanhã eu a levarei aos curandeiros.
Laís continua aflita e muito assustada...

CENA 5: INT. TENDA DE JAEL – SALA – NOITE
As horas se passam...
Na mesa, Sísera percebe que Héber finalmente adormeceu em sua cadeira após beber muito. E, do outro lado, Jael está bem acordada, porém olha para baixo.
Constrangida por ser a única acordada com Sísera, ela se levanta.
JAEL
Com licença.
Jael retira os pratos e vasilhas e os carrega para a cozinha, divida da sala por uma cortina.
Sísera, mal-intencionado, dá mais uma olhada em Héber, conferindo se continua a dormir... Continua. Então, em silêncio, ele se levanta e caminha silenciosamente para a cozinha...

CENA 6: INT. TENDA DE JAEL – COZINHA – NOITE
Sísera passa pela cortina e para. Ao nota-lo, Jael se assusta e para de limpar os pratos imediatamente; vira-se para ele.
JAEL
Senhor...
SÍSERA
Shh...
JAEL
Senhor... Não é bom que estejamos aqui a sós...
SÍSERA
Também não é bom que você abra a sua boca para opinar, mas ainda assim o faz.
Jael começa a se afligir mais.
JAEL
Senhor, por favor--
Jael é interrompida pois Sísera, que avança, agarra-a com uma mão e tampa sua boca com a outra. Estão de frente um para o outro...
SÍSERA
Shh... Quietinha... (cheirando-a) Tem que ficar quietinha, Jael... Bem quietinha...
O ato de cheirá-la se transforma em lambidas no pescoço, mas, mediante o grito abafado dela, Sísera para, arranca seu punhal e mostra-o a ela bem próximo de seu olho.
SÍSERA
É bom você ficar bem calada, está entendendo?! Não quero um pio!
Sempre mantendo uma mão na boca dela, a outra ele desce por seu corpo sobre a veste até lá embaixo, onde enfia a mão dentro do vestido. Jael, presa, chora, e Sísera vai subindo a mão por entre as coxas dela... Ela se desespera... Ele vai subindo... Ela chora mais forte na mão dele... E um barulho!
Sísera paralisa e olha para trás... Tenta ouvir algo mais... Então olha para ela.
SÍSERA
Se falar a verdade, eu mato você e ele!
E a joga com força no chão. Nesse instante a cortina se abre e Héber entra ali.
HÉBER
O que está acontecendo?
Sem que Héber perceba, Sísera guarda o punhal. Olha de Jael caída para Héber, embriagado e confuso.
SÍSERA
Você adormeceu na mesa, Héber. Em seguida Jael retirou a mesa e eu fiquei lá, bebendo e meditando... Foi quando ouvi um barulho de queda vindo aqui da cozinha... Um barulho feio. Ainda o chamei para que fosse conferir se sua esposa estava bem, mas você estava num sono pesado demais. Então vim aqui e encontrei Jael caída... Pensei que fosse mais grave, mas ela apenas tropeçou em uma vasilha que não percebeu que estava caída... Não é, Jael?
Jael os encara.
JAEL
Sim...
SÍSERA
Pois bem. Ainda bem que você veio, Héber. Ajude sua esposa, homem.
Héber franze a testa, mas se aproxima e ajuda Jael a se pôr de pé.
SÍSERA
(sorrindo) Não pensou mal de mim aqui com sua esposa, pensou, Héber?
Héber sorri para agradar.
HÉBER
Não, meu senhor, é claro que não! Sei que é um homem honrado.
Sísera faz que sim.
SÍSERA
Bem... Já está tarde, vou embora. Pode me acompanhar até a saída, Héber?

CENA 7: INT. PALÁCIO – CASA – SALA – NOITE
Sísera chega em casa e encontra Najara sentada à mesa e mordiscando um biscoito.
SÍSERA
Mãe?
NAJARA
Hum.
Sísera se aproxima e também senta à mesa.
SÍSERA
Preocupada?
Najara respira fundo.
NAJARA
Na verdade eu estou pensando... Na verdade eu gostara de saber... como a filha de Nira conseguiu envenenar meu leite.
SÍSERA
Estou investigando se houve alguma falha no processo desde a ordenha até o servir.
NAJARA
Eu confio em Eloá e Danilo...
SÍSERA
Eu não confio em ninguém, só na senhora. E dia desses já dei um aviso bom pra esses dois. Se forem culpados, serão severamente punidos.
Najara faz que sim devagar.

CENA 8: EXT. HAROSETE – RUA – DIA
A noite passa e amanhece.
Gadi e Laís arrastam pelo braço Micaela. Agressiva, ela tenta se soltar, mas eles insistem.
Chegam numa casa grande, e sobem a escada para a porta principal; batem.

CENA 9: INT. CASA DOS CURANDEIROS – SALÃO - DIA
Pouco depois, Gadi e Laís terminam de contar para o Curandeiro-Chefe tudo o que aconteceu envolvendo a menina. Essa, por sua vez, se recusa a olhar nos olhos do homem.
GADI
O acontecido de ontem foi o que nos deixou mais abalados...
LAÍS
E o que nos fez trazê-la aqui.
MICAELA
Me soltem! Me soltem!!!
O homem então franze a testa e se ajeita para olhar direito o rosto dela.
CURANDEIRO-CHEFE
(suspeitando) Esperem só um momento...
Gadi segura o rosto da filha e o vira para o curandeiro, que, ao vê-la, se afasta de uma vez; está assustado.
LAÍS
Senhor, o que foi?!...
GADI
Por que reagiu assim?!
Ele olha para ela.
CURANDEIRO-CHEFE
Ela... não é quem vocês pensam que é.
Laís franze a testa.
GADI
Quê?!
CURANDEIRO-CHEFE
Essa pessoa aqui... sofre de uma doença rara, mas que já se ouviu falar na Babilônia e nas longínquas terras do Oriente. Trata-se de uma doença... que não deixa a criança crescer e se desenvolver, ficando com aspecto de criança... para o resto da vida.
Gadi e Laís o olham completamente abalados. Micaela, agora quieta, olha apenas para baixo.
CURANDEIRA-CHEFE
Micaela... é, na verdade... uma mulher de mais de 25 anos.
De repente Micaela se solta da mão de Gadi, arranca uma faca do bolso da veste e a crava na barriga de Laís.
GADI
Não!!!
Ela arranca a faca e tenta correr. Laís cai. Gadi, desesperado, corre atrás de Micaela e a agarra antes de ela alcançar a porta. Porém, ela o arranha tentando se soltar, e até morde seu braço. Mas logo outros homens que ali trabalham se aproximam e conseguem segurá-la e prendê-la; eles a levam para dentro.
Gadi então corre até Laís, caída e sangrando.
CURANDEIRO-CHEFE
Aqui!!! Urgente, tragam uma maca!!!
GADI
Laís! Laís, Laís, Laís!
CURANDEIRO-CHEFE
Senhor, tenha calma! Ela está muito ferida, mas está viva! Vamos cuidar dela!
Logo outros curandeiros chegam ali, colocam Laís na maca e a levam.

CENA 10: EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
Débora termina de atender dois irmãos.
DÉBORA
Fico feliz que tenham se reconciliado.
IRMÃO 1
Graças a senhora.
IRMÃO 2
Que Deus a abençoe.
DÉBORA
(sorrindo) Amém.
Nisso, um moço chega ali na tenda.
MOÇO
Débora, líder de Israel?
Débora franze a testa.
DÉBORA
Sim.
MOÇO
Sou mensageiro, e trago um recado de Jabim, rei de Hazor.
Débora estranha e se ajeita. Os dois irmãos viram totalmente para o moço.
MOÇO
Assim diz o soberano de Canaã: “Jabim, rei de Hazor, a Débora, líder de Israel. Seu sacerdote, aquele que chamam de ancião, está em nossa posse”.
Nisso, os dois irmãos intentam avançar contra o moço.
DÉBORA
Não! Deixem-no.
Eles olham para ela.
DÉBORA
Não se ataca portadores de mensagens.
MOÇO
“Se tanto preza pela vida de seu sacerdote, venha busca-lo em Harosete, Débora. E traga todos os hebreus, pois a segurança da cidade foi reforçada”.
Débora escuta preocupada...

CENA 11: EXT. HAROSETE – ARREDORES – DIA
Todos os 900 carros de ferro estão do lado de fora de Harosete e, conduzidos por um soldado cada, são estacionados um ao lado do outro, de costa para a muralha da cidade e de frente para o deserto, de modo a formar um perímetro circular de carros e cavalos externamente à muralha. Fica livre apenas a passagem do portão.

CENA 12: EXT. PALÁCIO – TOPO DA ESCADA – DIA
Jabim e Sísera, escoltados no topo da escada, assistem as manobras de estacionamento dos carros e cavalos com um brilho no olhar e um ar de satisfação.
JABIM
O mensageiro que enviei ontem depois da festa já deve ter chegado em Betel. (esperançoso) Quem sabe até amanhã ela e os seus não estejam aqui...
Sísera faz que sim.

CENA 13: EXT. PALÁCIO – ARENA DE TREINO – DIA
Trata-se de um pátio ao ar livre cujo chão é em areia. Dezenas de objetos para treino dos soldados estão espalhados por ali, entre eles bonecos rústicos, lanças, toras de madeira...
Najara, segurando um arco e uma flecha, está acompanhada de Darda.
DARDA
Senhora Najara... Desculpe perguntar, mas a senhora por acaso está receosa com a tal filha de Nira?
Najara respira fundo. Então, olhado para o arco e a flecha, faz que sim.
NAJARA
Sim... Essa maldita conseguiu abalar o meu emocional.
Darda esconde o prazer em seu olhar.
NAJARA
Sempre fui boa no manuseio de punhais, mas acho que está na hora de treinar combate à distância. Nunca se sabe quais são as habilidades físicas dessas pessoas...
Então ela encaixa a flecha no arco, mira o alvo a algumas dezenas de metros... e atira. A flecha não acerta o centro do alvo, mas bem próximo.
DARDA
Essa foi excelente.
Darda então pega um arco ali perto.
NAJARA
Ei!!!
Ela se assusta e olha para Najara.
NAJARA
Largue isso e coloque onde achou!
Darda então devolve o arco ao lugar.
NAJARA
Só eu mexo com essas coisas aqui, entendeu?!
DARDA
Sim, senhora. Desculpe-me.
Najara prepara outra flecha, e o olhar de Darda não desgruda do arco que acabou de tocar...
Então, depois do tiro de Najara, Darda parece ter uma ideia.
DARDA
Senhora, agora que já treinou bastante, o que acha de beber?
Najara considera.
NAJARA
Não é uma má ideia... Hum, então vamos.
Najara guarda seu arco com a flecha e as duas vão.

CENA 14: EXT. CASA DE BARAQUE – FRENTE – DIA
Ali na frente da sua casa, Baraque amarra sacos de pano, porém seu olhar é perdido, está pensativo...
De tanto divagar, suas mãos chegam a parar o serviço que vinha fazendo. Sara então sai de dentro da casa e se aproxima por trás dele.
SARA
Baraque? Está tudo bem, meu amor?
Baraque parece sair de seu transe.
BARAQUE
Sim, sim...
SARA
(estranhando) Certeza?
BARAQUE
Sim...
SARA
Baraque, você não tem nada pra me contar?
Um pouco confuso, ele a olha.
BARAQUE
Não. Estou apenas... aliviado por você ter sido... milagrosamente salva.
Sara, sorrindo, faz que sim.
SARA
Foi graças a Deus.
Baraque então dá uma olhada nas pessoas caminhando ali pela rua. Os homens, os jovens, os mais fortes, os mais idosos, os mais alegres, os mais cansados...
BARAQUE
Sara... Você acha que o povo estaria preparado para lutar?
Sara franze a testa e pensa...
SARA
Bom... As espadas são escassas... Escudos inexistentes... Lanças nunca se viu por aqui... Só estaria preparado se fosse por Deus, mesmo...
Baraque, entendendo, faz que sim.
SARA
Você está muito estranho, sabia?
BARAQUE
Hum...
SARA
Bom, vou fazer meus serviços. Pense bem se não quer conversar.
Sara vira e volta para dentro de casa. Baraque, sem saber direito como agir, respira fundo.

CENA 15: EXT. BETEL – PRAÇA – DIA
A praça e as ruas em volta estão abarrotadas de gente. Todo o povo de Betel e mais gente de fora estão ali. No centro, Débora, em cima de um palco de madeira improvisado, discursa a todos.
DÉBORA
E foi isso o que o mensageiro me falou. Infelizmente, o senhor Aliã está mesmo em posse dos hazoritas.
Um burburinho surge entre o povo e cresce rapidamente.
DÉBORA
Eu vou ficar em constante oração! A fim de que Deus me diga o que devemos fazer, se é que devemos fazer algo. E peço encarecidamente a todos que me ajudem em oração! Peçam a Deus que revele o Seu querer! (pequena pausa) Que Deus abençoe a todos, Shalom.

CENA 16: EXT. TENDA DE JAEL – CURRAL – DIA
Atrás da tenda, onde há um pequeno cercado para as ovelhas, Héber alimenta os animais. Jael chega ali.
JAEL
Héber...
HÉBER
Sim?
Jael se apoia no cercado e respira fundo.
JAEL
Héber, ontem à noite algo muito grave aconteceu...
HÉBER
Você tropeçou na própria vasilha?
JAEL
Isso... foi apenas a justificativa daquele homem.
HÉBER
Olha como fala de Sísera... Ele é o Capitão de Hazor, um homem honrado.
JAEL
Esse homem honrado... se aproveitou de mim.
Héber para e a olha.
JAEL
Foi até a cozinha, onde eu estava enquanto você dormia na mesa, me agarrou... e passou suas mãos nojentas pelo meu corpo... Por muito pouco não foi pior.
Héber, com um semblante de estranheza, apenas a encara por alguns instantes...
Então dá de ombros e continua a cuidar das ovelhas.
HÉBER
Ah, Jael, por favor! Inventando histórias?!
JAEL
Não estou inventando, Héber! Por que faria isso?! É tudo verdade! Sísera me tratou como se eu fosse uma prostituta!
HÉBER
Não gostar do homem tudo bem, mas criar esse tipo de coisa?!
Héber nem mesmo a olha, parece se recusar a enxergar a verdade.
Jael, ressentida, o encara...
JAEL
Então é assim que me trata... Você não se importa comigo.
Jael vira as costas e sai brava. Héber a olha... Sabe que pode sim haver algo de verdadeiro naquilo.

CENA 17: INT. PALÁCIO – CASA – SALA – DIA
Najara e Darda estão sentadas à mesa, e ambas bebem. Najara, já tendo bebido bastante vinho, ri muito com algo que acabaram de conversar. Darda, no entanto, parece mais estar fingindo que bebeu muito.
DARDA
Ah, senhora, nunca imaginei esse tipo de coisa...
NAJARA
Pois é, nem eu poderia, na época...
DARDA
E o senhor Sísera?
Najara bebe.
NAJARA
Ah, o Sísera foi um pouco diferente... Sabe, em quase tudo ele se diferencia do restante... Esse meu filho só me orgulha, Darda. E tudo o que ele se tornou foi graças a mim.
Darda faz que sim.
NAJARA
Aliás, tudo em sua pessoa veio de mim, e tenho muito orgulho de dizer isso. Falo de boca cheia!
DARDA
Ele é parecido com o pai?
Najara abaixa o olhar e apenas saboreia o gosto de vinho em sua boca.
NAJARA
Eu não gosto de falar sobre isso...
DARDA
Eu já ouvi pelos corredores... outras servas falando sobre o pai de Sísera... um tal Jeboão.
NAJARA
Rum... Dia desses eu corto fora a língua dessas servas. Mas elas nem sabem de nada...
DARDA
O que quer dizer, senhora?
NAJARA
Jeboão... Esse estrupício... Ele não é o verdadeiro pai de Sísera.
Darda franze a testa e sua boca se abre um pouco involuntariamente.
DARDA
Não?!
Najara faz que não.
NAJARA
Sísera não sabe disso, e jamais pode saber... Mas ele é filho de um homem do povo... Plebeu... Um homem chamado Anate... meu amante.
Darda escuta impressionada...
NAJARA
(nostálgica) Ah, Anate... Que saudade de nossas tórridas noites em sua cama... Na época, eu estava há meses sem me encontrar com Jeboão, se é que me entende... Então Sísera só pode ser filho de Anate.
DARDA
Sísera... é um...
NAJARA
Bastardo... Sim.
Darda encara a mesa, ainda surpresa. Najara olha para ela.
NAJARA
(apontando o dedo) Não conte isso a ninguém.
DARDA
Claro...

CENA 18: INT./EXT. DIVERSOS LUGARES – DIA
O dia vai passando...
Débora, na tenda sob a palmeira, ora a Deus quase constantemente...
Em sua casa, Baraque parece cada vez mais aflito. Apesar de saber bem o que deve fazer, não consegue nem mesmo contar à família...
Héber passa por Jael dentro da tenda e fora, mas ela não o olha e se afasta quando ele se aproxima.
Na casa dos curandeiros, Gadi se aflige cada vez mais com Laís, ferida e inconsciente na maca. Os curandeiros continuam a cuidar dela...
A noite cai.

CENA 19: INT. CASA DOS CURANDEIROS – QUARTO – NOITE
Micaela, totalmente acordada, está amarrada na maca de um dos quartos.
Uma curandeira abre a porta e Gadi, com semblante de raiva, entra e se aproxima; senta-se ao lado.
GADI
Por que fez aquilo?
Micaela sorri.
GADI
Você foi tão bem recebida... Nós fize--
Gadi, inconformado, se interrompe e muda de pergunta.
GADI
Por que você finge ser uma criança?!
Micaela então olha para o teto.
MICAELA
Quando eu era mais jovem... o povo zombava de mim... Eram muitos os que faziam isso, mas, principalmente os soldados. Os malditos soldados. Não podia andar na rua sem que um grupo deles me apontassem os dedos, rissem, gesticulassem como se estivessem segurando um bebê, sem que fizessem apostas sobre minha idade... Cansada e sem ninguém, resolvi ir para um abrigo de órfãos... Decidi que iria esperar por um soldado que fosse adotar uma criança e faria minha vingança. Mas esses malditos são vigorosos, conseguem fazer a esposa gerar mesmo se ela não puder... Então eu nunca demonstrava vontade de ir com as famílias que ali iam, mas quando o vi chegar com Laís, percebi que era a minha hora, e demonstrei vontade de ter você e ela como meus papais...
Micaela ri. Gadi apenas a observa com uma expressão de surpresa e raiva.
MICAELA
Minha intenção era mata-lo. Matar os dois!
Nesse instante o curandeiro-chefe entra ali e a olha rindo.
CURANDEIRO-CHEFE
Senhor Primeiro Oficial, a mente dessa mulher é completamente bagunçada.
GADI
(para Micaela) Garantirei que você fique presa para sempre.
Gadi sai para fora do quarto, e o curandeiro-chefe o segue. Ali fora eles se encontram.
GADI
Senhor... E minha esposa?
CURANDEIRO-CHEFE
Não vou mentir, Gadi, a situação não é fácil. Ela já devolveu muito e houve alguns sangramentos intensos no local... Mas estamos tentando mantê-la.
Gadi, preocupadíssimo, faz que sim.
GADI
Faço tudo o que for possível.
O homem faz que sim.
CURANDEIRO-CHEFE
Com licença.
Ele sai. Gadi fica ali... Aflito, respira fundo.

CENA 20: EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
Os dias se passam...
Débora, apesar de muito orar, nada sente sobre o caso de Aliã.
Grupos de hebreus se juntam na tenda e a cobram sobre isso.
DÉBORA
Nós todo precisamos ter paciência sobre isso, meus irmãos! Eu ainda não senti nada! Se Deus não falou, é porque ainda não é hora! Por favor, vamos apenas esperar e continuar buscando!

CENA 21: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
Sísera se aproxima do trono de Jabim.
SÍSERA
Mandou me chamar, soberano?
JABIM
Sim... Sísera, eu não sei o que está acontecendo. Débora não reage!
SÍSERA
É mesmo muito esquisito. Se é uma estratégia, não vejo objetivo concreto nisso.
JABIM
É por esse motivo que enviei um mensageiro a ela dizendo que o tal sacerdote está morto.
SÍSERA
Morto? Disse isso?
Jabim faz que sim.
SÍSERA
O senhor acha que agora ela virá?
JABIM
Se não vir, já vou providenciar que venha.
SÍSERA
Outro plano?...
JABIM
Sim. Sísera, eu quero uns 10 hebreus aqui no palácio. E 2 deles devem ser os pais de Débora. Entre esses também quero alguns de Quedes. É uma cidade grande e próxima a Hazor.
Sísera sorri.
SÍSERA
Mas que ótimo, meu senhor! Providenciarei isso e enviarei os soldados agora mesmo!

CENA 22: EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
Centenas de pessoas estão ali ao redor da tenda de Débora, entre elas Tamar, Elian e Lapidote. Ela está cantando com o povo... Um cântico que fala sobre fé e esperança.
Ao terminar, ela nota alguém passando com dificuldade pelo povo e se aproximando. Quando chega ali, ela vê que é o mensageiro.
DÉBORA
Trouxe uma mensagem de Jabim?
MOÇO
Sim.
DÉBORA
Pois bem. Diga de uma vez.
MOÇO
O que o rei Jabim me pediu que lhe dissesse é que...
Ele dá uma olhada no povo ao redor.
MOÇO
É que o seu sacerdote... está morto.
Débora não consegue ocultar a tristeza em seu semblante. Os murmúrios aumentam exponencialmente, e as pessoas da frente intentam atacar o moço e linchá-lo.
DÉBORA
CHEGA!!!
O povo silencia.
DÉBORA
Isso é tudo?
O moço faz que sim.
DÉBORA
Vá embora. (para o povo) E estão todos proibidos de tocar nesse moço!
MOÇO
Débora, não devo levar nenhum recado seu ao rei Jabim?
DÉBORA
Não.
Ele faz que sim. Ainda receoso, vira e passa por entre as pessoas, que lhe lançam olhares de ódio.
HEBREU 1
Por que Deus deixou que isso acontecesse ao senhor Aliã?!
HEBREU 2
O ancião merecia sofrer?! Não poderia ser livrado?! Precisava sofrer a dor pelas mãos desses incircuncisos?!
HEBREU 3
Desses idólatras?!
DÉBORA
Deus não tem compromisso algum com a carne! Mas com a alma. Pode nos parecer cruel, mas, por maior que seja o sofrimento aqui nessa terra, nunca se comparará à infinitude dos prazeres que sentiremos quando estivermos no santuário das maravilhas de Deus!
O povo a escuta atento.
DÉBORA
Agora o ancião Aliã está descansando nos braços do Senhor. Ele está bem... está em paz.
HEBREU 1
Senhora Débora, não podemos avançar contra Hazor e atacá-los de uma vez?
DÉBORA
Não, não podemos! Já disse e volto a dizer: agiremos apenas quando Deus ordenar!
O povo se aquieta, mas ainda parecem ansiosos...

CENA 23: EXT. CASA DOS CURANDEIROS – SANTUÁRIO – DIA
Gadi, prostrado diante de várias estátuas de deuses, ora fervorosamente em prol da cura de Laís...

CENA 24: EXT. QUEDES – RUA – DIA
Andando sem muita expressão no semblante, Baraque observa o povo que passa por ele.
Então para. Está diante de várias pessoas que anda por ali. Encara-as como se fosse finalmente discursar... Abre a boca... Mas nada sai.
Sem forças, ele abaixa a cabeça.

CENA 25: INT. CASA DE ADÉLIA – LOJA – DIA
Setur, em uma das mesas, sorri agradecendo para Laila, que acabou de lhe servir.
LAILA
Esses já não têm o ingrediente fatídico.
Setur, no entanto, observa Adélia, cabisbaixa do outro lado do balcão.
SETUR
Laila... Sua irmã está bem? Ela é quem sempre me atende, e toda alegre...
Laila dá uma olhada em Adélia e de volta para Setur.
LAILA
Bem... A verdade, Setur... É que toda aquela confusão com o ingrediente... foi porque ela estava tentando... (olha rapidamente para Adélia) criar um bolo do amor, que fizesse você... se apaixonar por ela. Foi tudo por você.
Setur fica admirado.
SETUR
Mesmo?! (pequena pausa) Laila, chame-a aqui, por favor.
Adélia fica surpresa e um pouco constrangida, mas vai até ele.
ADÉLIA
Pois não?...
SETUR
Sente-se, Adélia.
Ela estranha, mas senta; encara-o.
SETUR
Adélia... Tudo aquilo, o ingrediente, as receitas... você fez tudo isso por mim?
Adélia parece ficar em choque. Mas logo quebra isso: constrangida e com raiva de Laila, ela se levanta.
SETUR
Espere!
Ela para.
SETUR
Isso que fez... foi admirável... foi bonito.
Ela o olha surpresa.
SETUR
Nunca vi uma atitude assim de uma moça... Você não se aquietou, foi à luta. Mas não agiu como um homem. Tentou de toda forma com recursos bem elaborados... Uma atitude incrível.
Adélia, corada, mal sabe o que dizer.
SETUR
Confesso que, nos últimos dias, tenho pensado mais em você... Não da forma que pode estar parecendo, é porque você sempre me atendeu tão bem, tão alegre e cheia de vida! Mas agora... acho que a estou vendo de uma forma mais diferente... Adélia, o que você acha de--
ADÉLIA
(interrompendo) Namorar com você?!
Ele para e a encara; sorri.
SETUR
Bom, não exatamente isso, mas... ia propor para que nos conheçamos melhor. Quem sabe uma saída...
Adélia deixa escapar um genuíno sorriso.
ADÉLIA
Ai... Obrigada, Setur. Eu... aceito sim!
SETUR
Que bom!
Ele pega os doces, se levanta e se aproxima dela.
SETUR
Eu tenho que ir, comerei no caminho. Porém... voltarei para combinarmos nosso passeio.
Ele então pega a mão dela e a beija suavemente. Caminha para a porta e vai embora.
Ainda sem entender direito o que aconteceu, Adélia vira para a irmã no balcão... respira ofegante...
LAILA
(com as mãos na boca) Adélia!...
Então Adélia grita e vai até a irmã pulando! Elas se abraçam.

CENA 26: EXT. TENDA DE JAEL – FRENTE – DIA
Jael amarra uma das cordas da tenda à uma estaca que se soltou do chão. Nisso, Héber, constrangido, se aproxima.
HÉBER
Jael...
Ela nada diz, apenas martela a estaca usando o maço. Ele se aproxima mais.
HÉBER
Jael, meu amor... Já tem tempo que você só me ignora... Isso  não está legal.
Ela então larga as ferramentas, põe-se de pé e vira para ele.
JAEL
Ainda finge que não sabe?! É cínico, Héber?!
HÉBER
Está bem... Eu sei que errei. Não devia ter tratado seu relato daquela forma...
Ela continua olhando-o.
HÉBER
É por essa razão que eu peço desculpas...
Ela hesita, mas faz que sim devagar.
JAEL
Tudo bem.
HÉBER
E, para prevenirmos que aquilo se repita, sempre que Sísera vier buscar as goculemas, você ficará distante. Não precisará nos servir nada.
Jael respira fundo.
HÉBER
Não tenho o que fazer numa situação dessa, Jael. Se negarmos a atendê-los com as goculemas, podem nos fazer mal...
Ele se aproxima e passa a mão no rosto dela.
HÉBER
Fique tranquila. Nós lidaremos com isso.
Ela nada diz.

CENA 27: EXT. BETEL – RUAS – DIA
O dia passa.
Dezenas de soldados se aproximam à cavalo de Betel. Ao vê-los, o povo corre desesperado. A comitiva hazorita se divide: uma parte vai para o campo, e a maior parte segue para dentro da cidade.
A confusão é total. Os soldados vão agarrando pessoas aleatórias que encontram. Homens tentam fechar suas lojas, mas são puxados de dentro. Barracas são viradas e casas invadidas...
Pouco depois, os cavaleiros saem da cidade levando 5 hebreus, homens e mulheres.

CENA 28: EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
Em sua tenda Débora está com Lapidote e Elian. Eles estão se despedindo dela; Lapidote com um beijo e Elian com um abraço e um beijo no rosto. É aí que eles são surpreendidos pelos cavaleiros, que saem do meio das árvores pouco depois do som dos cascos dos cavalos os denunciarem.
LAPIDOTE
Meu Deus!
DÉBORA
Lapidote, leve meu pai para a cidade! Rápido!!!
LAPIDOTE
E você?!
DÉBORA
Eu vou depois! Vá!!!
Lapidote e Elian correm da tenda, mas logo dois cavalos se aproximam: um soldado chuta Elian. O outro segura Lapidote. Débora corre até eles, mas o soldado agarra Elian e o coloca em cima do cavalo. Lapidote tenta se desvencilhar do soldado; consegue aplicar-lhe uma cotovelada no rosto. O homem cai e Lapidote corre para alcançar o outro, mas o cavalo é rápido demais.
DÉBORA
PAI!!!
Débora então se aproxima do soldado caído, mas ele, percebendo-a, se levanta e saca sua espada; aponta para ela.
SOLDADO
Fique longe!!!
Ela ainda intenta se aproximar...
SOLDADO
LONGE!!!
O homem rapidamente sobe em seu cavalo.
DÉBORA
Por que estão fazendo isso?!
O soldado a ignora. Bate as rédeas, sai a toda disparada e some entre as árvores.
As pessoas ali ao redor estão em choque. Tamar de repente chega ali.
TAMAR
(chorando) Débora! O seu pai! O seu pai, Débora! Estavam vindo quando os vi! Eles o pegaram! Eles pegaram o seu pai!
DÉBORA
Calma, mãe, calma...
Débora a abraça. Lapidote chega ali.
DÉBORA
Calma, tenha calma...
Apesar de sua fala, Débora está muito preocupada.

CENA 29: INT. CASA DE BARAQUE – SALA – DIA
Baraque, desconfortável, está à mesa, porém nem sentado, nem de pé; apoia-se na cadeira com apenas um joelho e inclinado sobre a mesa. Em sua mão, uma taça de vinho pela metade...
BARAQUE
Por que eu?!... Por que não Débora?! Será... Será que foi um delírio? Será que...
Está aflito demais, não sabe o que pensar...

CENA 30: INT. CASA DE DÉBORA – QUARTO – DIA
Sozinha em seu quarto e em silêncio, Débora se abaixa e abre um baú. Tira algumas coisa de cima e, lá embaixo, ela encontra: a espada na bainha. Leva a mão e a pega.
Seus olhos lacrimejam com tudo o que acabou de acontecer... Então ela tira a espada da bainha e a analisa de ambos os lados. É quando Lapidote chega ali na porta e a flagra com a espada e chorando. Ele entra e se aproxima devagar...
LAPIDOTE
Sei o que está pensando...
Ela arqueia as sobrancelhas e olha para ele.
DÉBORA
É uma tentação, Lapidote... Mas não cairei.
Ela então coloca a espada na bainha e a guarda no fundo do baú.
DÉBORA
Deus não me quer usando isso. Vamos confiar que seremos salvos da forma que Ele quer.
Lapidote faz que sim. Débora então coloca as coisas de volta no baú e o fecha.

CENA 31: EXT. BETEL – PRAÇA – DIA
Débora está novamente diante de centenas e centenas de hebreus que se espremem ali na praça e nas ruas ao redor.
Sem perder tempo, ela cobre sua cabeça e se ajoelha; o povo faz o mesmo.
DÉBORA
Senhor! Nosso eterno Deus! Estamos diante da Sua presença para, dessa vez, pedir por um sinal! Pois não entendemos, Senhor, o que deve ser feito! Por favor, mostre-nos um sinal, Senhor!
Débora espera de olhos fechados... De repente, um vento bate contra ela... Ela se impressiona... Está recebendo algo...
Então o vento cessa.
Débora respira fundo. Abre os olhos. Põe-se de pé, está séria.
DÉBORA
Um mensageiro, por favor!
Logo um homem se voluntaria erguendo o braço.
DÉBORA
Vá até a cidade de Quedes e chame Baraque, filho de Abinoão, imediatamente. Vá à cavalo.
MENSAGEIRO
Sim, senhora!
O homem corre dali. O povo não entende e murmura.
DÉBORA
Tenham paciência! Deus já está tomando os caminhos.

CENA 32: EXT. QUEDES – ARREDORES – DIA
Uma parte do dia se passa...
Sama, com Melissa ao lado brincando, lava roupas no riacho.
Perto dali, vindo da cidade, Jaziel para ao nota-las.
JAZIEL
(bravo) De novo?! Por que somos sempre empurrados um ao outro se não deve haver nada entre nós?!
É nesse momento que Jaziel houve um barulho estranho: as folhagens o impedem de ver direito, então caminha para o lado. Um grito! Ele corre... Finalmente consegue ver: um soldado hazorita empurra Melissa, que cai, e agarra Sama; coloca-a em cima do cavalo.
JAZIEL
Não!!!
Jaziel dispara, mas o soldado monta e parte dali.
JAZIEL
Desgraçado!!!
Jaziel para derrapando ao lado de Melissa, que chora caída ali na margem do riacho.
JAZIEL
Melissa! Melissa!...
Ele a levanta e confere se ela não está machucada.
JAZIEL
Melissa, calma, calma...
Então Jaziel a abraça...
JAZIEL
Estou com você...
Apesar de assustado, ele tenta acalmá-la...
Pouco depois, Jaziel chega perto da entrada de Quedes. Ele se impressiona, pois aqueles mesmos cavaleiros saem da cidade levando mais gente. E lá dentro, Baraque observa o caos da cidade com um aperto no coração e um aparente sentimento de culpa.
Jaziel nada pode fazer. Apenas segura Melissa firmemente em seu colo e observa a nuvem de poeira que fica para trás dos cavalos.

CENA 33: INT. PALÁCIO – CELA – DIA
Sísera chega à cela, onde está um soldado.
SOLDADO
Senhor, 12 hebreus.
Entre os 12 hebreus está Elian em um lado e Sama no outro.
SOLDADO
(apontando Elian e uma mulher ao lado) Os pais de Débora.
Sísera sorri e se aproxima deles. É aí que Sama parece perceber que seu tio Elian está ali.
ELIAN
Ela não é minha mulher.
SÍSERA
Não importa. Apenas pelo pai, Débora virá.
ELIAN
Você... é Sísera, não é? Você não sabe nada sobre minha filha.
Sísera então abre a mão e dá uma bofetada forte no rosto de Elian.
Elian se recupera da agressão e olha para Sísera.
ELIAN
Débora virá... apenas se Deus mandar. E, se tivermos que morrer... vai ser assim. Eu aprendi... que não são vocês hazoritas que decidem o nosso futuro.
Sísera ri bastante.
SÍSERA
Sou justamente eu quem decide o futuro de todos vocês. Decido quem vive e quem morre. E acabei de decidir que todos vocês serão chicoteados.
Sísera se afasta e faz sinal para o soldado, que pega um chicote e sai distribuindo chicotadas em todos. Gritos de dor... Sama tenta se proteger com o rosto entre os braços...

CENA 34: EXT. QUEDES – RUA – DIA
Jaziel, carregando a chorosa Melissa, se aproxima de Baraque, agachado, arrasado e sozinho no meio da rua.
JAZIEL
Ei, amigo... Você...
Baraque o olha sem entender.
JAZIEL
Você... não é aquele rapaz... que uma vez foi em Betel atrás de um tesouro...
Baraque se levanta.
BARAQUE
Sou eu. Baraque.
JAZIEL
Lembra-se de mim? Jaziel. Amigo de Débora.
Baraque arqueia as sobrancelhas.
BARAQUE
Mesmo?
JAZIEL
Sei que não é o melhor momento para isso, mas... Estou há dias aqui e só agora te vi... Precisamos nos unir contra isso.
BARAQUE
Como? Para quê? Já aconteceu...
Nisso, um cavalo entra ali na cidade. Algumas pessoas se assustam, mas é apenas o mensageiro vindo de Betel.
MENSAGEIRO
Baraque, filho de Abinoão! Baraque!
BARAQUE
Aqui!
O mensageiro o localiza e se aproxima; desce do cavalo e vai até eles.
MENSAGEIRO
Baraque... A juíza Débora o chama. Ela quer a sua presença imediata em Betel.
BARAQUE
A juíza?!...
Impressionado, Baraque olha para Jaziel...

CENA 35: EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
O dia cai, a noite passa e chega o dia seguinte.
Muita gente está ali perto da tenda de Débora... Então o mensageiro, acompanhado de Baraque, se aproxima. Todos os olham com certa curiosidade.
Ao nota-los, Débora para e os espera.
MENSAGEIRO
Senhora, eis aqui Baraque, filho de Abinoão.
Débora encara Baraque com uma expressão séria.
BARAQUE
Senhora Débora... Há quanto tempo.
Débora não responde, apenas o encara.
BARAQUE
Senhora... O que fiz de errado para que me olhe dessa forma?
DÉBORA
Porventura o Senhor Deus de Israel não deu ordem a você dizendo: “Vá, Baraque, e leve gente ao monte Tabor. Tome contigo dez mil homens dos filhos de Naftali e dos filhos de Zebulom”?
Baraque arregala os olhos e empalidece.
DÉBORA
“E, no ribeiro de Quisom, levarei a ti Sísera, capitão do exército de Jabim, com os seus carros e com a sua multidão; e o darei na tua mão”.
BARAQUE
(impressionado) Senhora!... Foi... exatamente isso. Porém... não posso fazer isso sozinho. O povo não sabe quem eu sou, não confiarão em mim para colocarem suas vidas em risco contra o exército mais poderoso de que já ouviram falar.
DÉBORA
Se Deus te mandou, apenas faça!
BARAQUE
Não... Não dessa forma.
Débora franze a testa.
BARAQUE
Se for comigo, irei. Porém, se não for comigo... não irei.
DÉBORA
Baraque, Deus não me mencionou! A missão é sua! Vá, obedeça a Deus!
BARAQUE
O povo confia em você, Débora! Se for junto, eles se sentirão mais fortes e mais confiantes!
DÉBORA
A fé em Deus deveria bastar! Se Ele mandou fazer isso é porque estará conosco nessa batalha.
BARAQUE
Débora... Por favor...
Débora então faz que sim.
DÉBORA
Muito bem, Baraque. Muito bem. (respira fundo) Certamente irei com você, porém não será tua a honra pela jornada que fará. Pois à mão de uma mulher o Senhor entregará Sísera.
BARAQUE
Você?...
Débora o olha por alguns segundos, então se afasta, olha para todo o povo que está ali e anuncia a todos o que Deus mandou Baraque fazer e o que eles farão.
HOMEM
Mas nós não sabemos lutar, Débora!
DÉBORA
Deus é quem lutará essa guerra por nós! Paus e espadas rústicas serão como a própria mão do Senhor!
O povo conversa entre si.
DÉBORA
Vocês todos não confiam em mim?!
POVO
Sim!
DÉBORA
Pois devem confiar 70 vezes 7 mais em Deus, que é Quem nos dará a vitória!
O povo parece ficar um pouco mais confiante. Débora vira para Baraque.
DÉBORA
Vamos. Partiremos para Quedes e convocaremos as tribos de Naftali e Zebulom. A hora de enfrentarmos nossos opressores chegou.
Baraque faz que sim. No semblante determinado de Débora, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No penúltimo capítulo: Elian, Sama e os outros hebreus sequestrados são humilhados em Hazor.  Débora e Baraque reúnem 10.000 homens. Sísera convoca todo o seu exército e avança contra os hebreus. A batalha final entre o bem e o mal.

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