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LÁGRIMAS EM SILÊNCIO - Capítulo 14

 




Novela de Adélison Silva 

Personagens deste capítulo

JANA
LAURA
GIOVANA
RAVENA
MACIEL
RATO
CÁSSIA
BEATRIZ
KALEB
KIRA
VALDOMIRO


Participação Especial:
REPÓRTER, MÍRIAN, LEVI, DALILA, RENATO


CENA 01/ INT/ CASA DO MACIEL/ QUARTO/ TARDE

Maciel sai do banho, vestindo apenas uma toalha. Ele notou Laura olhando as fotos da maleta. Maciel, com uma expressão de surpresa e preocupação, se aproxima de Laura. Ela levanta o olhar, amedrontada, encontrando os olhos dele. Seus rostos se encaram por um momento, cheios de tensão e incerteza. Maciel nervoso, toma as fotos da mão de Laura com violência.

 

MACIEL

- Já lhe pedi pra não mexer nessa maleta!

 

LAURA

(com lágrimas nos olhos)

- O que é isso, hein Maciel? Quem são essas mulheres? De onde vieram essas fotos?...

(com voz trêmula)

- Que nojo! Cê é doente!

 

Maciel recolhe as fotos e as guarda de volta na maleta, seu rosto expressando nervosismo e uma tentativa de explicação. 

 

MACIEL

- Laura, sei que tu não tá entendendo nada. Mas posso lhe explicar.

 

LAURA

(encarando-o)

- Então, explique. Tô esperando.

 

MACIEL

- Isso são fotos aleatórias tiradas da internet, eu...

 

LAURA

(chorando)

- Isso não parece foto de internet. Foi cê que tirou essas fotos, não foi? Eu conheço algumas dessas mulheres, elas estavam no jornal que Giovana me mostrou. Elas estavam no protesto que a gente fez. Elas foram abusadas sexualmente... Meu Deus, que cê fez Maciel?

 

MACIEL

- Laura, por favor, não tire conclusões precipitadas.

 

LAURA

- Agora entendi essa sua fixação por essa maleta, e porque nunca permitisse que eu mexesse. Como cê pode Maciel? Tenho nojo de cê... Cê tem é que se tratar.

(passando a mão pelo seu corpo, como se limpasse)

- Como eu deixei cê me tocar?

 

MACIEL

- Deixa eu lhe explicar, meu amor. Não é bem assim!

 

 

Maciel se aproxima de Laura, tentando tocar nela, mas ela recua, mantendo uma distância segura entre eles.

 

 

LAURA

- Não toque em mim! Cê é podre, cê é nojento.

(gritando)

- Tenho nojo de você!

 

MACIEL

- Laura, não grite a gente pode conversar.

 

LAURA

(gritando)

- Eu grito sim! Tá com medo que alguém escute? Tá com medo que alguém descubra o seu segredo, seu tarado nojento?

 

 

Maciel, sentindo-se acuado, pressiona os braços de Laura e tapa sua boca para silenciá-la. Laura luta para se soltar, seus olhos cheios de medo e lágrimas.

 

 

MACIEL

- Para! Eu já disse pra tu parar de gritar!

(com ódio)

- Tu não vai falar nada sobre isso pra ninguém, muito menos pra aquela sua amiga sapatona. Senão eu acabo contigo, ouviu bem? Eu juro que mato cês duas.

 

 

Maciel cai em si, soltando um suspiro pesado enquanto olha para Laura com arrependimento. Laura fica trêmula e apavorada, levando as mãos ao peito, olhando com os olhos arregalados de medo para Maciel.

 

 

MACIEL

- Desculpe... Não deveria ter feito isso com cê.

 

 

Maciel retrocede, seus olhos refletindo culpa e desespero.

 

 

MACIEL

- Não me olha assim desse jeito.

 

 

Laura chora, sua voz trêmula de dor e decepção.

 

 

LAURA

- Não tem como lhe olhar de outra forma...

(soluçando)

- Por quê? Porque cê quer se casar comigo?

 

 

Maciel tenta se aproximar novamente, mas Laura se afasta, mantendo-se em guarda.

 

MACIEL

- Porque tu é o amor da minha vida. Porque nosso sentimento é limpo, cê é o oposto disso tudo. É por isso que eu preciso que tu fique do meu lado, Laura. Pra me sentir menos doente. Tu me torna mais digno, me torna mais humano.

(passando a mão no rosto)

- Mas que desgraça, véi! Oh Laura, cê é a melhor coisa que aconteceu em minha vida. Por favor, não desiste de mim não minha linda. Preciso de sua ajuda! Quando tô contigo, quando sinto o teu amor, eu fico forte diante disso tudo. Quando cê tá longe de mim, me sinto perdido. Aí me jogo nessa nojeira que tu tá vendo aqui.

 

 

Laura o encara, seus olhos cheios de tristeza e desconfiança.

 

LAURA

- Não me responsabiliza por isso. Não tenho nada a ver com isso.

 

MACIEL

(chorando)

- Oh Laura não me deixe, preciso de ti. Se cê me deixar, eu vou voltar a fazer tudo isso de novo.

 

 

Laura olha para ele, ainda trêmula, temerosa do que poderia acontecer a seguir.

 

 

LAURA

- Preciso ir embora, viu?

 

MACIEL

(preocupado)

- Tu vai embora pra onde?

 

LAURA

- Pra qualquer lugar Maciel. O que não posso mais é ficar aqui, né?

 

MACIEL

- Cê vai voltar pra casa daquela mulher?

 

 

Laura olha para Maciel com um misto de tristeza e raiva.

 

 

LAURA

- Aquela mulher é minha amiga... E se eu tivesse dado ouvido a ela não estaria passando por essa situação.

 

Maciel tenta se aproximar novamente, buscando conforto e uma reconciliação que parecia cada vez mais distante.

 

 

MACIEL

- Mas tu não vai falar nada sobre isso com ela, não é?

 

LAURA

- Eu não sei ainda o que vou fazer. O que cê fez é muito grave.

 

MACIEL

- Se tu contar eu não sei o que vai ser de mim.

 

LAURA

(com medo)

- Não se preocupe, por enquanto não vou dizer nada a ninguém.

 

Maciel segura o braço de Laura, desesperado para mantê-la ao seu lado.

 

MACIEL

- Cê jura?

 

Laura olha para Maciel, hesitante, e finalmente responde.

 

LAURA

- Juro. Agora me deixa ir, viu? Preciso pensar melhor sobre tudo isso que vi aqui.

 

 

Maciel soltou o braço de Laura.

 

 

MACIEL

(ameaçando)

- Se cê contar pra ela, vou até o inferno, mas lhe mato.

 

Laura fica assustada, e sai da casa de Maciel.

 

CORTE PARA CENA SEGUINTE

 

CENA 02/ INT/ CASA DA RAVENA/ SALA DE ESTAR/ NOITE

Ravena, com olhos preocupados e passos inquietos, caminha de um lado para o outro, enquanto Laura está sentada no sofá, abraçando suas próprias pernas com expressão de angústia. Os olhos de Ravena se enchem de lágrimas e suas mãos tremem de indignação. Ela se aproxima de Laura, colocando as mãos trêmulas sobre a boca, em um gesto de choque e desespero.

 

RAVENA

- Meu Deus Laura, isso que cê tá me contando é muito grave. Tanto que lhe aconselhei a ficar longe desse cara. Mas na sua cabeça, cê achou que eu tava fazendo isso simplesmente porque tô afim de você, né mesmo? Só que não era nada disso, meu amor.  Sempre lhe respeitei e cê há de concordar com isso.

 

 

Laura olha para Ravena, ainda incrédula, seus olhos marejados de lágrimas.

 

 

LAURA

- Não dá pra acreditar que Maciel fez isso, Ravena.

 

 

Ravena solta um suspiro de frustração, passando as mãos pelos cabelos em um gesto de nervosismo.

 

 

RAVENA

- Lembra que lhe falei sobre a cultura do estupro? Todo homem é um estuprador, se ainda não fez foi por falta de oportunidade. Vivemos em uma sociedade machista, onde o homem, pra provar que é homem, tem que ser galanteador e pegador de várias mulheres. Seja consensual da parte delas ou não. E quando eu digo que todo homem é um estuprador, não tô me referindo apenas ao sexo forçado e com violência. Tô me referindo também às cantadas de baixo calão, onde a mulher é tratada como um objeto sexual. Agora, seja sincera e me diga. Quantas vezes cê já se sentiu constrangida por receber cantadas desse tipo?

 

LAURA

(desapontada)

- Eu sei Ravena... Cê já me falou muito sobre tudo isso. Mas é difícil pra me acreditar que Maciel tenha feito tudo aquilo com aquelas mulheres. E ele guardou as fotos delas como se fosse uma medalha, um troféu das barbaridades que ele cometeu. Tô aqui perdida, nem sei o que fazer.

 

 

Ravena olha fixamente nos olhos de Laura, segurando suas mãos com firmeza.

 

RAVENA

- Como cê não sabe o que fazer? Cê vai na delegacia denunciar esse pervertido. Laura, pensa nas mulheres que sofreram nas mãos desse sujeito. Cê ainda vai querer conviver com um homem desses?

 

LAURA

- Não! Não tem mais condições de eu viver com Maciel. Mas tenho medo, entende? Eu tenho medo do que ele possa fazer contra mim, contra você.

 

RAVENA

- Sobre isso cê pode pedir uma medida protetiva. O que não pode é deixar esse sujeito impune.

 

 

Laura olha para Ravena, seus olhos cheios de medo e hesitação.

 

 

LAURA

- Mesmo assim tenho medo. Todas as vezes que ele me batia ele sempre ameaçava matar a mim e você.

 

RAVENA

(surpresa)

- É quê, moça? Esse cara lhee batia? E cê nunca me disse nada? A gente vai agora mesmo na delegacia.

 

 

Laura tenta acalmar Ravena, segurando seu braço suavemente.

 

 

LAURA

- Ravena calma, eu prometi a ele que não lhe contaria nada. Se ele souber que eu lhe contei ele vai ficar furioso.

 

 

Ravena solta um suspiro exasperado, afastando-se de Laura e começa a andar de um lado para o outro na sala.

 

RAVENA

- Quem tá agora furiosa sou eu. Escute bem, Laura, não vou permitir que esse homem toque mais em um só fio de cabelo seu. Levante, vamos logo na delegacia registrar uma queixa contra esse demônio.

 

 

Ravena estende a mão para Laura, esperando que ela se levante e segue com ela.


 

 

CENA 03/ INT/ CASA DO MACIEL/ SALA DE ESTAR/ NOITE

Maciel, com uma expressão preocupada, está sentado no sofá enquanto Rato, está em pé diante dele.

 

MACIEL

(olhando para o chão, com remorso)

- A Laura descobriu tudo...

 

Rato solta um grunhido de indignação e dá um passo em direção a Maciel, demonstrando sua raiva.

 

RATO

- Descobriu?... Descobriu o quê, pae? Tu não abriu o teu bico e contou pra aquela mina sobre trafico de queijo, né? Porque se tu fez isso, pode se considerar um homem morto.

 

MACIEL

- Te acalme! Te acalme que não é nada disso.

 

Maciel suspira, preparando-se para admitir seu segredo obscuro.

 

MACIEL

(olhando nos olhos de Rato)

- Eu sou Jack...

(chorando)

- Eu sou Jack, Rato!... Fui eu que abusei daquelas mulheres, entende? Sou eu o tarado que a polícia tá atrás. E Laura descobriu tudo, Rato... Ela encontrou as provas, as fotos, as mechas de cabelo que eu guardava... Tá tudo acabado pra mim.

 

 

Rato se senta boquiaberto com a revelação de Maciel.

 

 

RATO

- Olhe bicho, tu é doente, viu?... Tu sabe que Jack não se cria na cadeia, né? Se tu for preso, já era.

 

MACIEL

(com voz trêmula)

- Eu sei, eu sei... Fui um idiota, um doente. Tô desesperado por demais. Preciso fugir, desaparecer. E cê vai ter que me ajudar.

 

RATO

- Não me mete em teu rolo.

 

MACIEL

- Tenho um plano.

 

RATO

(desconfiado)

- Um plano? Epa! Olhe lá, viu Maciel? Que diabos tenho a ver com isso?

 

MACIEL

(cativante)

- Eu vou pra Venezuela. Cê tem que dá um jeito de me colocar dentro daquele caminhão. Vou ficar lá escondido dentro dele, misturado à carga. Lá em Venezuela, eu começo uma nova vida, longe de todo esse caos.

 

Rato franze a testa, ponderando as palavras de Maciel. Ele balança a cabeça, mostrando uma leve aceitação.

 

 

RATO

(ressentido)

- Tu é um imbecil, Maciel! Um abestalhado que merecia morrer. Tá sabendo? Cê pode azedar de vez o nosso esquema... Otário, pau no cu, é isso que cê é... Vou lhe ajudar. Mas escute bem, se a casa cair, cê nem me conhece, sacou?

 

MACIEL

(cheio de gratidão)

- Sabia que poderia contar contigo. Se preocupe, não, rei. Vou ficar tão imóvel naquele caminhão que vão até me confundi com os queijos.

 

RATO

- Boca de siri. É melhor que seu Valdomiro não saiba nada.

 

 

Os dois criminosos se olham por um momento, uma mistura de desconfiança e camaradagem no ar.

 

CENA 04/ EXT/ PLANO GERAL

A cena começa com o pôr do sol no Farol da Barra, mostrando sua majestosa posição à beira do oceano. Em seguida, destaca o Pelourinho à noite, com suas ruas coloridas e igrejas históricas iluminadas. A cena passa para o Dique do Tororó, com suas estátuas de orixás sob as luzes noturnas. Após uma transição suave, a tela exibe "Uma semana depois" e muda para um amanhecer em Salvador, com o sol surgindo e iluminando os locais mencionados, enquanto a cidade começa um novo dia.

 

CENA 05/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ SALA DA BEATRIZ/ DIA

Cássia entra na sala de Beatriz, segurando a agenda da médica em suas mãos. Beatriz está sentada atrás de sua mesa, com uma expressão séria enquanto examina alguns documentos. A sala está iluminada por uma luz suave que filtra pelas cortinas, criando uma atmosfera tranquila.

 

BEATRIZ

- Oh Cássia, obrigada. Deixe-me dá uma olhada.

 

 

Cássia sorri para Beatriz, esperando pacientemente enquanto a médica folhea a agenda.

 

CÁSSIA

(curiosa)

- Dra. Beatriz, posso lhe perguntar uma coisa? Se não quiser responder, tudo bem, mas fiquei curiosa.

 

 

Beatriz levantou o olhar e olha diretamente para Cássia.

 

 

BEATRIZ

(curiosa)

- Claro. O que cê quer saber?

 

 

Cássia hesitou por um momento, mas decidiu seguir em frente com sua pergunta.

 

 

CÁSSIA

- Como foi sua relação com Maurício?

 

Beatriz suspira levemente, sabendo que essa era uma questão delicada. Ela olhou para Cássia, ponderando sobre como responder.

 

BEATRIZ

- Na verdade entre eu e Maurício nunca houve de fato uma relação... Digo assim, a gente não chegou a namorar, entende? Maurício é uma pessoa maravilhosa. Inteligente, gentil e atencioso. E vivemos sim, uma experiência intensa e bonita, mas acabou não funcionando. Entre nós dois não tinha como dá certo.

 

CÁSSIA

(confusa)

- Mas por que não tinha como dá certo? Cê sabe que ele ainda é completamente apaixonado pela senhora, né mesmo?

 

BEATRIZ

(compreensiva)

- Sei. Confesso que, tem momentos que nem sei como lidar com isso. Gosto muito de Maurício... Mas cê me conhece, não sou de me apegar a ninguém, gosto de sexo, gosto de conhecer novas pessoas e me entregar ao prazer. Já Maurício é demissexual, né? Duas realidades totalmente oposta.

 

CÁSSIA

(perplexa)

- Demissexual? Oxente! Desculpe Dra. Beatriz... Mas o que isso significa exatamente?

 

BEATRIZ

(com paciência)

- Ser demissexual significa que a atração sexual de Maurício é desencadeada pela formação de um vínculo emocional. Ele não sente atração sexual puramente com base em aparência física ou atração inicial. É necessária uma conexão profunda pra que ele se sinta atraído dessa forma.

 

 

CÁSSIA

(pensativa)

- Pera aí, a senhora falou um monte de coisa que não entendi foi nada, viu? O que cê quer dizer é que Maurício precisa se apaixonar antes de sentir atração sexual? É isso mesmo?

 

BEATRIZ

- Exatamente isso.

 

CÁSSIA

- Agora eu acho que consigo entender algumas coisas.

 

BEATRIZ

- Mas a melhor pessoa para te explicar tudo isso, seria o próprio Maurício.

 

CÁSSIA

- Obrigado Dra. Beatriz.

 


Beatriz sorri gentilmente para Cássia, apreciando sua curiosidade e interesse genuínos.

 

 

BEATRIZ

- Pode mandar entrar a paciente.

 

 

CENA 06/ INT/ BOUTIQUE DA RAVENA/ DIA

No televisor, uma reportagem exibe imagens da casa de Maciel sendo invadida pela polícia, enquanto o repórter narra os acontecimentos.

 

REPÓRTER

(na televisão)

- (...) A polícia agiu com rapidez após a denúncia de abuso contra Maciel. No entanto, o suspeito não foi encontrado em sua residência. As investigações continuam para localizá-lo e levá-lo à justiça.

 

Laura, ao ouvir a notícia, leva a mão ao peito, sentindo um aperto no coração.

 

 

LAURA

(com lágrimas nos olhos)

- Eles invadiram a casa do Maciel, Ravena. A polícia... Mas eles não o encontraram. Ele desapareceu!

 

RAVENA

- Cê achava que ele iria ficar esperando a polícia na casa dele? Óbvio que ele iria fugir, né mesmo? Vamos ver se desta vez a polícia faz o trabalho dela e encontra essa desgraça.

 

 

Laura leva as mãos ao rosto, sentindo-se tonta e enjoada. Ela parece pálida e frágil, como se estivesse prestes a desabar.

 

RAVENA

(observando Laura atentamente)

- Laura, cê tá bem? Parece que tá passando mal.

 

 

Laura se afasta da televisão e tenta se recompor, apoiando-se em uma prateleira próxima.

 

 

LAURA

(tremendo)

- Não sei, Ravena... Tô me sentindo tão fraca e enjoada ultimamente. Acho que tudo isso tá me afetando.

 

RAVENA

(sussurrando)

- Eu tenho uma suspeita, já vi isso outra vez... Cê pode tá grávida.

 

LAURA

(em choque)

- O quê? Não pode ser... Isso não.

 

 

Ravena pegou a mão de Laura gentilmente.

 

 

RAVENA

- Fique calma, primeiro vamos fazer um teste para ter certeza. A gente vai dá um jeito nessa situação.

 

 

CENA 07/ INT/ LOJA DE QUEIJO/ DEPÓSITO/ DIA

Rato entra apressadamente, olhando em volta, e chama por Maciel, que estava escondido em um canto escuro do depósito.

 

RATO

(sussurrando)

- Maciel! Maciel cadê você?

 

Maciel se levanta rapidamente, mostrando um misto de ansiedade e determinação em seu rosto.

 

RATO

- O caminhão vai sair ainda hoje. É melhor tu se preparar. Temo que sair daqui o mais rápido possível.

 

MACIEL

(com urgência)

- Certo... Tô pronto pra partir.

 

RATO

- Lembra, se a casa cair tu assume o B.O. sozinho, tá sabendo? Porque se tu me ferrar, juro que dou um jeito de lhe matar. Agora, vamo!...

 

 

Antes que pudessem se afastar, Valdomiro entra no depósito, surpreendendo Rato e Maciel.

 

 

VALDOMIRO

(irritado)

- O que cês dois tão fazendo aqui? A polícia tá na tua cola, Maciel. Tu deveria tá longe.

 

RATO

- Calma, Seu Valdomiro. Nós já tamo saindo. Vou dá um jeito de Maciel fugir. Não se preocupe, vamos fazer tudo certinho. Não vai sobrar pro senhor.

 

 

Valdomiro olha desconfiado para Rato.

 

 

VALDOMIRO

- Pera aí!... O que cês dois tão tramando, diga aí?

 

RATO

- Maciel vai fugir no caminhão com os queijos.

 

VALDOMIRO

(se alterando)

- Cês tão malucos? Quer ferrar com tudo é isso?... Pelo o amor de Deus! Cê tem noção do que é fugir daqui pra Venezuela em um caminhão lotado de queijo?

 

MACIEL

- Tô desesperado seu Valdomiro, não posso ser preso.

 

VALDOMIRO

- É barril, viu véi? Cês são dois abestalhados. Os queijos vão em um ambiente frio. Cê vai morrer congelado, infeliz.

 

RATO

- Já pensamo nisso. Providenciamos uma roupa térmica, e o motorista é Renato, sempre que possível ele vai parar pra dá assistência Maciel. O cara só precisa fugir seu Valdomiro.

 

VALDOMIRO

(desconfiado)

- Não gosto disso. Cês tão sempre arrumando confusão. Presta atenção, faça o que tem que fazer. Só não me coloquem em problemas. Se a corda arrebentar me inclui fora dessa.

 

RATO

(com sinceridade)

- Se preocupe não, viu? Nosso amiguinho aqui tá avisado. Se ele ferrar com nós, é o pescoço dele que tá na guilhotina.

 

VALDOMIRO

(resignado)

- Vá bem, então. Vão logo, que a polícia tá rondando Calabar em peso.

 

 

Maciel e Rato trocam um olhar rápido de gratidão e alívio. Enquanto Valdomiro observa desconfiado, Maciel e Rato se preparam para seguir adiante com seu plano de fuga, sabendo que o caminho pela frente não seria fácil.

 

CENA 08/ EXT/ LOJA DE QUEIJO/ FRENTE/ DIA

Rato e Maciel saem apressadamente da loja de queijo e se aproximam de um carro estacionado nas proximidades. Rato tira as chaves do bolso e destrava o veículo.

 

RATO

(apressado)

- Vamos, Maciel! Temos que partir antes que a polícia nos encontre!

 

Maciel entra no carro e Rato rapidamente assume o volante. O motor ronca enquanto o carro arranca com velocidade, deixando para trás a loja de queijo.

 

CENA 09/ INT/ BOUTIQUE DA RAVENA/ DIA

Ravena está ocupada organizando algumas roupas em cabides próximos ao balcão de atendimento da boutique. O movimento na loja está fraco naquele momento. A manhã está calma, apenas alguns poucos murmúrios de clientes do lado de fora que passam ocasionalmente pela vitrine, mas não entram. Enquanto organiza as roupas, Ravena olha preocupada para o a porta do banheiro. Laura sai do banheiro soluçando, as lágrimas escorrendo por seu rosto. Seu olhar desesperado encontra o de Ravena, que está preocupada ao vê-la naquele estado.

 

RAVENA

- O que foi, minha linda? Diga logo?

 

 

Laura segura o exame de gravidez trêmula e o mostra para Ravena, incapaz de falar por causa do choro.

 

RAVENA

- Não acredito nisso, tudo de novo.

 

 

Sem hesitar, Ravena caminha até Laura, abraçando-a com carinho. Laura continua chorando, desabafando toda sua angústia e tristeza nos braços reconfortantes de Ravena.

 

LAURA

- Quero morrer! Não consigo lidar com isso de novo.

 

 

Ravena segura o rosto de Laura delicadamente, olhando em seus olhos com determinação.

 

 

RAVENA

- Não, não diga isso, meu amor. A gente vai dar um jeito, vamo encontrar uma saída.

 

LAURA

(voz embargada)

- Tomando aquele remédio de novo?

 

RAVENA

(suspirando)

- Não tem outra saída, né Laura? Infelizmente nesse país de merda não temos clínica especializadas para esse tipo de coisa. Ou cê quer arriscar em uma clínica clandestina?

 

LAURA

- Não sei, Ravena. Tenho muito medo, não sei qual é pior.

 

RAVENA

- Eu sei, meu amor. Tanto que eu lhe alertei que esse cara não prestava e cê insistia em ficar na cola dele.

 

LAURA

- Porque sou uma burra, me deixei levar pela a paixão que sentia por ele.

 

RAVENA

- Sentia? Não sente mais não?

 

LAURA

- Sinto. Infelizmente ainda sinto. Mas vou arrancar ele de dentro de mim.

 

RAVENA

- Vai sim, e vai começar pela raiz, tirando essa semente podre que ele depositou em você. Vamos em uma clínica.

 

LAURA

- Clandestina?

 

RAVENA

- Infelizmente, né meu amor? Cê ainda tá no início da gravidez, eles vão fazer apenas uma raspagem. Não deve ser algo tão complicado. Vamos pra casa pro cê tomar um banho, se arrumar, e então iremos juntas.

 

 

CENA 10/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ TARDE

Estão Cássia e Jana posicionadas atrás do balcão da clínica enquanto conversam.

CÁSSIA

(desabafando)

- Dra. Beatriz falou que Maurício é dimessexual. Ou seja, ele não sente tesão em fazer sexo casual. Tem que haver sentimento pra ele se entregar sexualmente a uma pessoa. E isso explica muita coisa, né Jana? Por isso que aquele dia do cinema lá em casa, não rolou. Claro, ele não se sente a vontade comigo. Como ele pode ficar comigo se ele é apaixonado por Dra. Beatriz?

 

JANA

(compreensiva)

- Situação difícil essa, hein? Venha cá Cássia, cê tá gostando mesmo do Dr. Maurício?

 

CÁSSIA

(inserta)

- Não sei... É tudo tão confuso pra mim. Tem Lucas, né?... Como lhe falei, gosto de tá com Lucas, rola uma química muito boa entre a gente. Rola aquela pegada boa, aquele sexo gostoso... Só que nega, desta última vez não foi tão bom. Era nele que eu pensava, no Maurício. Com Maurício, é diferente. É mais romântico, como se tivéssemos todo o tempo do mundo, sem pressa. Valorizamos mais o toque, os olhares, o beijo é mais delicado...

 

Cássia para por um instante pensativa e confessa.

 

 

CÁSSIA

- Tô sim, Jana... Tô loucamente apaixonada por Maurício, é nele que penso o tempo todo.

 

JANA

- Então acho que chegou a hora de Lucas sair dessa história, né mesmo? Cês dois tem que conversar e por um ponto final. É preciso terminar o que cê tem com Lucas pra poder engatar nesse romance com Maurício.

 

CÁSSIA

(desanimando)

- Oxente, que romance, mulher? Tô falando aqui dos meus sentimentos, mas Maurício não sente o mesmo por mim. É Beatriz que ele ama. E agora tem essa questão da dimessexualidade dele... Não sei se vou saber lidar com isso.

 

JANA

- Sabe o que acho?

 

Cássia olha para Jana, esperando por sua opinião.

 

JANA

- Acho que o sexo tá sendo colocado muito em pauta aqui, viu? Assim como há pessoas que são movidas a sexo, ou seja, faz sexo o tempo todo, todo dia, sempre que pode. Também há pessoas que não dão tanta importância a isso. E se cê pretende viver algo com Dr. Maurício, esteja certa disso. O sexo nunca vai ser o foco dele.

 

CÁSSIA

- Nega, cê acha que conseguiria viver um relacionamento com uma pessoa assim?

 

JANA

- Ah, sei lá Cássia! Acho que sim, viu? Em uma relação tem tantas outras coisas que deve ser priorizada

 

 

CENA 11/ INT/ CLÍNICA CLANDESTINA/ RECEPÇÃO/ TARDE

Ravena e Laura entram na clínica com certa cautela, olhando ao redor para se certificarem de que não estão sendo seguidas. O lugar é discreto, com uma pequena porta de vidro que revela apenas um letreiro discreto com o nome da clínica. A luz fraca no interior do estabelecimento cria uma atmosfera sombria e intimista, refletindo o caráter sigiloso do local. A clínica é composta por uma pequena sala de recepção modesta. Atrás do balcão de atendimento, Kira, está sentada, concentrada em preencher alguns formulários. Há papéis espalhados e uma agenda aberta, sugerindo que o lugar é frequentado por outras pessoas. O ambiente é limpo e organizado, mas a decoração simples e sem extravagâncias reforça a necessidade de passar despercebido. Ao ver a chegada de Ravena, Kira interrompe suas atividades, revelando uma expressão de surpresa e alegria ao mesmo tempo.

 

KIRA

- Oxe, mas é Ravena! E aí nega, que cê faz aqui?

 

 

Ravena sorriu e se aproxima do balcão.

 

 

RAVENA

- Oi Kira, tudo bem com cê?

 

KIRA

- Estou bem e cê? Pensei que lhe veria no protesto de ontem.

 

RAVENA

- Eu até fui, mas ela me ligou tive que voltar logo pra casa.

 

KIRA

- Entendi. Mas diga aí, o que faz aqui? Não vai me dizer que...

 

RAVENA

(interrompendo)

- Não, Deus me livre. Sem essa de macho em minha vida, né meu bem?

(apresentando)

- Essa é minha amiga, Laura.

 

 

Laura, um pouco nervosa, cumprimenta Kira timidamente.

 

 

LAURA

- Prazer!

 

KIRA

- Então essa é a famosa Laura. O prazer é todo meu, viu minha linda?

 

LAURA

(surpresa)

- Famosa?

 

KIRA

- Sim, Ravena fala muito do cê.

 

RAVENA

- Laura tá precisando dos serviços do Dr. Orlando.

 

KIRA

- Humm! E já tá com quanto tempo?

 

LAURA

(confusa)

- Acho que dois meses ou três. Não sei ao certo.

 

KIRA

- Depois que Dr. Orlando examinar direitinho, ele descobrirá. Mas cês terão que esperar um pouco, pois algumas meninas tão na frente.

 

RAVENA

- Tá certo, a gente espera.

 

LAURA

(preocupada com medo)

- Mas ele já vai fazer a retirada hoje?

 

KIRA

- Primeiro ele vai lhe examinar. Depois a gente ver como faz.

 

 

Ravena, tentando acalmar Laura, segura sua mão com carinho.

 

RAVENA

- Vai dá tudo certo meu amor.

 

Enquanto conversam, Kira termina de preencher alguns formulários e organiza os papéis. A clínica tinha um clima de sigilo e discrição, com poucas pessoas circulando pela recepção naquele momento.

 

CENA 12/ INT/ IGREJA CAJADO DA FÉ/ TARDE

Giovana está sentada em uma sala da igreja, cercada por um grupo de jovens. As cadeiras estão dispostas em círculo, refletindo a atmosfera de debate acalorado.

 

KALEB

(apontando com convicção)

- A gente não pode ficar brincando de ser cristão. A Palavra de Deus nos diz que tem que ser quente ou frio, pois morno vomita. Olha o exemplo de Laura, gente. Filha do pastor Moisés, cresceu aqui dentro da igreja, mas preferiu viver no pecado.

 

MÍRIAM

(franzindo o cenho)

- Mainha me disse que ela vivia com uma mulher, uma sapatona masculina. Ela se afastou completamente dos princípios bíblicos.

 

LEVI

(indeciso)

- Oxe, mas ela não fugiu não foi com um homem? O pastor Moisés mesmo disse que ela virou puta.

 

 

Giovana sente o peso das palavras e ergue as mãos, buscando acalmar os ânimos.

 

GIOVANA

(fazendo um gesto de apaziguamento)

- Irmãos, devemos lembrar que todos nós somos pecadores e precisamos da graça de Deus, né?  Não é nosso papel condenar Laura, mas sim orar por ela e estender a mão caso ela queira buscar o caminho da redenção. Né pra isso que serve a igreja?

 

Dalila levanta as mãos para o alto e olha com desdém.

 

DALILA

- Tô é salva pela graça de Deus. Leio a Bíblia todos os dias, oro e me dedico ao culto. Laura, por outro lado, já sabemos que ela tá destinada ao inferno.

 

 

Kaleb, com as mãos firmemente apoiadas na bíblia que está em seu colo, tenta trazer equilíbrio à discussão.

 

 

KALEB

- Te acalme, minha gente! Não podemos dizer também que Laura vai pro inferno. Que isso? Ela pode se arrepender e aceitar Jesus como seu único salvador. Ainda há tempo. E sabemos bem que quem corrompeu Laura foi o feminismo. A Bíblia diz que a mulher deve ser submissa ao homem. O feminismo vai contra os princípios da nossa fé. O feminismo ensina as mulheres a odiar os homens.

 

 

Giovana, sente-se impulsionada a expressar sua opinião, se levanta e dá alguns passos em direção ao centro do círculo.

 

GIOVANA

(energética)

- Com licença, mas não posso simplesmente ouvir tudo isso calada. Não vamos confundi, viu? Primeiro ponto, precisamos entender que feminismo não é sobre odiar os homens ou querer superioridade. É sobre buscar igualdade de direitos, respeito e liberdade para todas as mulheres. Segundo ponto, o que Laura queria era apenas a sua liberdade de ser quem ela é.

(olhando para Kaleb)

- E principalmente a liberdade de escolher o seu parceiro, viu Kaleb?

 

DALILA

(suspirando e olhando Kaleb de rabo de olho)

- Ó pai! E tem parceiro melhor que Kaleb? Um rapaz dedicado, estudioso, temente a Deus...

                                 

Giovana não se deixa intimidar e mantem-se firme em sua posição.

 

GIOVANA

- Se cê tá tão interessada assim, por que cê mesma não casa com ele, Dalila?

 

DALILA

(arqueando uma sobrancelha)

- Tô orando nessa intenção, viu? Se for da vontade de Deus.


KALEB

(sem graça)

- Vamos manter a calma, e voltar ao foco. Temos que entender bem, a palavra de Deus nos diz lá em coríntios, “o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher foi criada por causa do homem”. E isso não é um pensamento machista,não viu? Isso é bíblico. Mas o feminismo vem contra tudo aquilo que a palavra de Deus nos ensina.

 

GIOVANA

(com convicção)

- Olhe, eu entendo o que a Bíblia diz, mas acredito que nossa interpretação precisa evoluir. Não podemos usar a religião para justificar a opressão das mulheres. Precisamos repensar essas questões.

 

LEVI

- Kaleb começou falando em ser quente ou frio, não ser morno. E na minha opinião é o que Giovana tá sendo. Ela tá em cima do muro, não sabe ser é cristã ou se é do mundo.

 

MÍRIAM

- Também acho, viu Giovana. Cê deveria seguir o exemplo de sua mãe, que sempre foi fervorosa.

 

 

A discussão continua acalorada, mas Giovana decide se retirar. Ela pega suas coisas, visivelmente perturbada, e sai da sala da igreja.

 

LEVI

- A tia Eliete é fogo, né não gente? Ali o inimigo tem vez não.

 

 

A discussão continua conforme Giovana sai da sala. Kaleb olha e resolveu ir atrás de Giovana.

                                              

 

CENA 13/ EXT/ IGREJA CAJADO DA FÉ/ PORTA/ TARDE

Kaleb encontra Giovana sentada na porta da igreja. Ele se aproxima com cautela, com uma expressão preocupada.

 

KALEB

- Tudo bem? Posso me sentar aqui do seu lado?

 

 

Giovana levanta o olhar e força um sorriso. Ela move-se um pouco para o lado, dando espaço para que Kaleb se sentasse ao seu lado.

 

 

GIOVANA

(suspira)

- Claro, se aconchega aí!

 

Kaleb se senta ao lado de Giovana, mantendo uma postura atenta.

 

KALEB

(compreensivo)

- Quer compartilhar o que tá acontecendo? Tô aqui pra lhe ouvir.

 

GIOVANA

(com sinceridade)

- Kaleb, às vezes acho que sou ateia, viu?

 

KALEB

- Oxe menina, não fale besteira!

 

GIOVANA

- Não sei mais se consigo acreditar nesse Deus vingativo que a igreja tanto prega. Tantas vezes ouvi sobre o inferno, sobre condenação, sobre um Deus que pune e castiga. Mas ondé que tá o Deus amoroso, misericordioso e compassivo que também é falado na bíblia? Quando venho à igreja, é esse Deus que busco encontrar. Mas parece que aqui, as pessoas se sentem salvas apenas pelo fato de ocuparem um banco no culto dominical. E sobre os mandamentos, amar a Deus sobre todas as coisas, amor o próximo como a si mesmo? Eu quero ouvir falar de amor, e não de vingança.

 

 

Kaleb fica em silêncio por um momento, processando as palavras de Giovana. Em um gesto de apoio, ele coloca a mão sobre a mão de Giovana.

 

 

KALEB

(com compaixão)

- Olhe Giovana, eu credito que a fé é uma jornada individual. É normal questionar e ter dúvidas. Realmente nem sempre as representações que a igreja faz de Deus, refletem a verdadeira essência do divino. Laura me falou uma coisa uma vez que me deixou refletivo. Ela me perguntou se não achava humilhante ter que forçar uma mulher pra poder me casar? E de fato é humilhante. Como posso querer como esposa, uma mulher que me acha um banana?

 

Giovana ri suavemente diante do comentário de Kaleb. Ela afasta um pouco a mão, mas mantém o contato visual com Kaleb.

 

 

GIOVANA

- Cê é um cara bacana, viu Kaleb. Cê só não pode se tornar um fanático como seu pai, minha mãe e pastor Moisés.

 

 

Kaleb se levanta rapidamente, sentindo-se levemente ofendido.

 

KALEB

(defensivo)

- Eles não são fanáticos, Giovana. Apenas têm uma fé fervorosa. Cê ainda não se tornou uma cristã de caminhada, por isso não entende. Mas tenho fé que cê vai ser uma grande pregadora, quem sabe até uma pastora. Deus tem me revelado...

 

 

Giovana se levantou de forma abrupta, interrompendo Kaleb. Ela se afasta alguns passos, olhando fixamente para Kaleb antes de se virar para partir.

 

GIOVANA

(decidida)

- Vamos parando a nossa conversa por aqui. Quando a frase começa com "Deus tem me revelado...", eu já sei que não vem nada que se aproveita, viu? Ouço isso todos os dias lá em casa. Sabe Kaleb, foi bom esse tempo que passei dentro da igreja. Tive a oportunidade de me aproximar mais da minha espiritualidade. Mas também me fez entender que aqui ainda não é o lugar pra mim. Eu não encontrei aqui o amor e o acolhimento que procurava, só encontrei dedos apontando os meus erros. Tenha uma boa tarde, mas pra mim já deu.

 

 

Kaleb se sente inquieto e desapontado, mas respeita a decisão de Giovana, fica apenas a observando enquanto ela se afasta.

 

CENA 14/ INT/ CLÍNICA CLANDESTINA/ RECEPÇÃO/ TARDE

 

Laura está sentada, esperando ser atendida. Ravena está ao seu lado, preocupada com a expressão pensativa de Laura. Enquanto esperam, Laura começa a passar a mão pela barriga, perdendo-se em lembranças.

 

 

[FLASHBACK ON]

 

CAP 04/ CENA 04/ BOUTIQUE DA RAVENA/ DIA

 

Estão Laura e Maciel próximos ao balcão de atendimento.

 

LAURA

- E vai ser sempre assim, cê sempre vai tá enrolado. Porque vive fazendo coisa que não deve.

 

MACIEL

- Não mais. Tô dando um jeito na minha vida. Vou encontrar um emprego, vou voltar a estudar. E aí minha linda, a gente vai casar, vamos morar juntos. E finalmente poder ter quantos filhos a gente quiser.

 

LAURA

- Como eu queria acreditar nisso, viu Maciel?

 

MACIEL

- Mas não acredita por quê? O que lhe digo é a verdade, e vou provar pra ti.

 

[FLASHBACK OFF]

 

 

Continuação da CENA 14/ INT/ CLÍNICA CLANDESTINA/ RECEPÇÃO/ TARDE

 

A cena retorna para a clínica, onde Laura está profundamente pensativa. Ravena percebe a expressão preocupada de Laura e a abraça carinhosamente.

 

 

RAVENA

- Cê tá bem?

 

Laura suspira e olhou para Ravena.

 

 

LAURA

- Só com um pouco de medo.

 

RAVENA

- Vai ficar tudo bem. Isso aqui tá demorando.

 

 

Ravena compreendeu a preocupação de Laura e se levanta.

 

 

RAVENA

- Vou lá ver com Kira quantas ainda tem na sua frente.

 

 

Laura segura o braço de Ravena.

 

 

LAURA

- Não, espere!

 

 

Ravena se senta novamente, preocupada com a mudança de comportamento de Laura.

 

RAVENA

- O que é? Cê tá sentindo alguma coisa?

 

 

Laura olha fixamente nos olhos de Ravena, determinada.

 

 

LAURA

- Não vou mais tirar essa criança.

 

RAVENA

(surpresa)

- Oxe Laura? Cê tem ideia da responsabilidade de ter um filho.

 

LAURA

(decidida)

- Não tenho a mínima ideia. Mas sei que posso criá-lo. Nós podemos criar. Cê não disse que gosta de mim? Pois então! Vamos ficar juntas e criar essa criança, como se ela tivesse saído de nós duas. Assume meu filho, Ravena?

 

 

Ravena fica emocionada com a proposta de Laura.

 

 

RAVENA

- Cê tá falando sério? É isso mesmo que cê quer?

 

LAURA

(sorrindo)

- Sim, é isso que quero. Vamos criar essa criança do nosso jeito. Longe de todo preconceito, de todo machismo, de toda homofobia. Cê aceita ser a segunda mãe de meu filho?

 

 

Ravena, emocionada, segura o rosto de Laura com as mãos.

 

 

RAVENA

- Eu aceito sim, meu amor. Com todo meu coração, eu aceito.

 

 

As duas se olham com ternura e se beijam apaixonadamente, selando a decisão de criar o filho juntas. Ao longe Kira ver aquela cena e sorri.

 

 

CENA 15/ EXT/ POSTO DE GASOLINA/ NOITE

Rato e Maciel chegam a um posto de gasolina movimentado durante a noite. O ar está carregado de tensão e urgência. Rato olha ao redor, procurando pelo caminhão de queijo que está prestes a partir.

 

RATO

(conspirando)

- Maciel, presta atenção. Esse é o lugar. Renato já deve tá chegando com o caminhão. A roupa térmica que lhe falei, tá com ele. Temos duas. Enquanto cê vai tá usando uma, a outra vai tá esquentando. Sempre que possível, ele vai parar o caminhão para lhe dá assistência. Morre congelado desgraça, mas não faça barulho por nada. Tá entendendo?

 

MACIEL

(ansioso)

- Tranquilo, Rato. Pode deixar que lá dentro não vou mexer um músculo. Só quero chegar logo em Venezuela.

 

RATO

(entregando uma mochila)

- Aqui! Coloquei alguns mantimentos na mochila. Não podemos levar muito, mas pelo menos terá algo pra comer durante a viagem.

 

Maciel pega a mochila, agradece por essa pequena provisão.

 

MACIEL

- Valeu mesmo, vou ser sempre grato a você. Tu não tem ideia o quanto isso significa pra mim.

 

RATO

(olhando ao redor)

- Tá... Tá bom. Não temos tempo a perder. Renato tá chegando.

 

 

Os dois homens se movem rapidamente em direção ao caminhão de queijo estacionado no posto de gasolina. O motorista, Renato, é um homem corpulento com uma expressão séria, os observa com cautela.

 

RATO

(aproximando-se do Renato)

- Tá tudo pronto?

 

RENATO

(confirmando)

- Sim, tá tudo certo. Maciel vai ficar bem escondido no meio da carga. Ninguém vai suspeitar de nada.

 

MACIEL

(determinado)

- Vou fazer tudo o que for preciso pra sair dessa. Obrigado mesmo por me ajudar, viu meu brother?

 

 

RENATO

(sério)

- Relaxa man, e se cuide lá dentro. A viagem vai ser longa e perigosa. E não se preocupe, quando estivermos em Venezuela a gente se acerta, viu pae?

 

Maciel se despede de Rato com um abraço rápido, sentindo uma mistura de emoções. Ele se aproxima do caminhão. Os olhares de Rato e Maciel se encontram por um breve momento, transmitindo confiança e desejo de sucesso. Maciel sobe no caminhão e se esconde na carga de queijos, enquanto Rato observa. Com a porta do caminhão se fechando, Rato e Renato trocam um aceno de cabeça, confirmando que tudo está em ordem. O caminhão parte lentamente, deixando Rato para trás, olhando-o se afastar.






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