JANA
LAURA
GIOVANA
RAVENA
MACIEL
RATO
CÁSSIA
BEATRIZ
KALEB
KIRA
VALDOMIRO
Participação Especial:
REPÓRTER, MÍRIAN, LEVI, DALILA, RENATO
CENA 01/ INT/
CASA DO MACIEL/ QUARTO/ TARDE
Maciel sai do banho, vestindo apenas uma
toalha. Ele notou Laura olhando as fotos da maleta. Maciel, com uma expressão
de surpresa e preocupação, se aproxima de Laura. Ela levanta o olhar,
amedrontada, encontrando os olhos dele. Seus rostos se encaram por um momento,
cheios de tensão e incerteza. Maciel nervoso, toma as fotos da mão de Laura com
violência.
MACIEL
- Já lhe pedi pra não mexer
nessa maleta!
LAURA
(com lágrimas nos olhos)
- O que é isso, hein Maciel?
Quem são essas mulheres? De onde vieram essas fotos?...
(com voz trêmula)
- Que nojo! Cê é doente!
Maciel recolhe as fotos e as guarda de volta na maleta, seu rosto expressando nervosismo e uma tentativa de explicação.
MACIEL
- Laura, sei que tu não tá
entendendo nada. Mas posso lhe explicar.
LAURA
(encarando-o)
- Então, explique. Tô
esperando.
MACIEL
- Isso são fotos aleatórias
tiradas da internet, eu...
LAURA
(chorando)
- Isso não parece foto de
internet. Foi cê que tirou essas fotos, não foi? Eu conheço algumas dessas
mulheres, elas estavam no jornal que Giovana me mostrou. Elas estavam no protesto
que a gente fez. Elas foram abusadas sexualmente... Meu Deus, que cê fez
Maciel?
MACIEL
- Laura, por favor, não tire
conclusões precipitadas.
LAURA
- Agora entendi essa sua
fixação por essa maleta, e porque nunca permitisse que eu mexesse. Como cê pode
Maciel? Tenho nojo de cê... Cê tem é que se tratar.
(passando a mão pelo seu corpo, como se limpasse)
- Como eu deixei cê me tocar?
MACIEL
- Deixa eu lhe explicar, meu
amor. Não é bem assim!
Maciel se aproxima de Laura, tentando tocar
nela, mas ela recua, mantendo uma distância segura entre eles.
LAURA
- Não toque em mim! Cê é
podre, cê é nojento.
(gritando)
- Tenho nojo de você!
MACIEL
- Laura, não grite a gente
pode conversar.
LAURA
(gritando)
- Eu grito sim! Tá com medo
que alguém escute? Tá com medo que alguém descubra o seu segredo, seu tarado
nojento?
Maciel, sentindo-se acuado, pressiona os braços
de Laura e tapa sua boca para silenciá-la. Laura luta para se soltar, seus
olhos cheios de medo e lágrimas.
MACIEL
- Para! Eu já disse pra tu
parar de gritar!
(com ódio)
- Tu não vai falar nada sobre
isso pra ninguém, muito menos pra aquela sua amiga sapatona. Senão eu acabo contigo,
ouviu bem? Eu juro que mato cês duas.
Maciel cai em si, soltando um suspiro pesado
enquanto olha para Laura com arrependimento. Laura fica trêmula e apavorada,
levando as mãos ao peito, olhando com os olhos arregalados de medo para Maciel.
MACIEL
- Desculpe... Não deveria ter
feito isso com cê.
Maciel retrocede, seus olhos refletindo culpa e
desespero.
MACIEL
- Não me olha assim desse
jeito.
Laura chora, sua voz trêmula de dor e decepção.
LAURA
- Não tem como lhe olhar de
outra forma...
(soluçando)
- Por quê? Porque cê quer se casar
comigo?
Maciel tenta se aproximar novamente, mas Laura
se afasta, mantendo-se em guarda.
MACIEL
- Porque tu é o amor da minha
vida. Porque nosso sentimento é limpo, cê é o oposto disso tudo. É por isso que
eu preciso que tu fique do meu lado, Laura. Pra me sentir menos doente. Tu me
torna mais digno, me torna mais humano.
(passando a mão no rosto)
- Mas que desgraça, véi! Oh Laura,
cê é a melhor coisa que aconteceu em minha vida. Por favor, não desiste de mim
não minha linda. Preciso de sua ajuda! Quando tô contigo, quando sinto o teu
amor, eu fico forte diante disso tudo. Quando cê tá longe de mim, me sinto
perdido. Aí me jogo nessa nojeira que tu tá vendo aqui.
Laura o encara, seus olhos cheios de tristeza e
desconfiança.
LAURA
- Não me responsabiliza por
isso. Não tenho nada a ver com isso.
MACIEL
(chorando)
- Oh Laura não me deixe, preciso de ti. Se cê me deixar, eu vou voltar
a fazer tudo isso de novo.
Laura olha para ele, ainda trêmula, temerosa do
que poderia acontecer a seguir.
LAURA
- Preciso ir embora, viu?
MACIEL
(preocupado)
- Tu vai embora pra onde?
LAURA
- Pra qualquer lugar Maciel. O
que não posso mais é ficar aqui, né?
MACIEL
- Cê vai voltar pra casa
daquela mulher?
Laura olha para Maciel com um misto de tristeza
e raiva.
LAURA
- Aquela mulher é minha
amiga... E se eu tivesse dado ouvido a ela não estaria passando por essa
situação.
Maciel tenta se aproximar novamente, buscando
conforto e uma reconciliação que parecia cada vez mais distante.
MACIEL
- Mas tu não vai falar nada
sobre isso com ela, não é?
LAURA
- Eu não sei ainda o que vou
fazer. O que cê fez é muito grave.
MACIEL
- Se tu contar eu não sei o
que vai ser de mim.
LAURA
(com medo)
- Não se preocupe, por
enquanto não vou dizer nada a ninguém.
Maciel segura o braço de Laura, desesperado
para mantê-la ao seu lado.
MACIEL
- Cê jura?
Laura olha para Maciel, hesitante, e finalmente responde.
LAURA
- Juro. Agora me deixa ir,
viu? Preciso pensar melhor sobre tudo isso que vi aqui.
Maciel soltou o braço de Laura.
MACIEL
(ameaçando)
- Se cê contar pra ela, vou até o
inferno, mas lhe mato.
Laura fica assustada, e sai da casa de Maciel.
CORTE
PARA CENA SEGUINTE
CENA 02/ INT/
CASA DA RAVENA/ SALA DE ESTAR/ NOITE
Ravena, com olhos preocupados e passos
inquietos, caminha de um lado para o outro, enquanto Laura está sentada no
sofá, abraçando suas próprias pernas com expressão de angústia. Os olhos de
Ravena se enchem de lágrimas e suas mãos tremem de indignação. Ela se aproxima
de Laura, colocando as mãos trêmulas sobre a boca, em um gesto de choque e
desespero.
RAVENA
- Meu Deus Laura, isso que cê tá
me contando é muito grave. Tanto que lhe aconselhei a ficar longe desse cara.
Mas na sua cabeça, cê achou que eu tava fazendo isso simplesmente porque tô
afim de você, né mesmo? Só que não era nada disso, meu amor. Sempre lhe respeitei e cê há de concordar com
isso.
Laura olha para Ravena, ainda incrédula, seus
olhos marejados de lágrimas.
LAURA
- Não dá pra acreditar que Maciel
fez isso, Ravena.
Ravena solta um suspiro de frustração, passando
as mãos pelos cabelos em um gesto de nervosismo.
RAVENA
- Lembra que lhe falei sobre a
cultura do estupro? Todo homem é um estuprador, se ainda não fez foi por falta
de oportunidade. Vivemos em uma sociedade machista, onde o homem, pra provar
que é homem, tem que ser galanteador e pegador de várias mulheres. Seja
consensual da parte delas ou não. E quando eu digo que todo homem é um
estuprador, não tô me referindo apenas ao sexo forçado e com violência. Tô me
referindo também às cantadas de baixo calão, onde a mulher é tratada como um
objeto sexual. Agora, seja sincera e me diga. Quantas vezes cê já se sentiu
constrangida por receber cantadas desse tipo?
LAURA
(desapontada)
- Eu sei Ravena... Cê já me falou
muito sobre tudo isso. Mas é difícil pra me acreditar que Maciel tenha feito
tudo aquilo com aquelas mulheres. E ele guardou as fotos delas como se fosse
uma medalha, um troféu das barbaridades que ele cometeu. Tô aqui perdida, nem
sei o que fazer.
Ravena olha fixamente nos olhos de Laura,
segurando suas mãos com firmeza.
RAVENA
- Como cê não sabe o que
fazer? Cê vai na delegacia denunciar esse pervertido. Laura, pensa nas mulheres
que sofreram nas mãos desse sujeito. Cê ainda vai querer conviver com um homem
desses?
LAURA
- Não! Não tem mais condições
de eu viver com Maciel. Mas tenho medo, entende? Eu tenho medo do que ele possa
fazer contra mim, contra você.
RAVENA
- Sobre isso cê pode pedir uma
medida protetiva. O que não pode é deixar esse sujeito impune.
Laura olha para Ravena, seus olhos cheios de
medo e hesitação.
LAURA
- Mesmo assim tenho medo.
Todas as vezes que ele me batia ele sempre ameaçava matar a mim e você.
RAVENA
(surpresa)
- É quê, moça? Esse cara lhee
batia? E cê nunca me disse nada? A gente vai agora mesmo na delegacia.
Laura tenta acalmar Ravena, segurando seu braço
suavemente.
LAURA
- Ravena calma, eu prometi a
ele que não lhe contaria nada. Se ele souber que eu lhe contei ele vai ficar
furioso.
Ravena solta um suspiro exasperado, afastando-se
de Laura e começa a andar de um lado para o outro na sala.
RAVENA
- Quem tá agora furiosa sou eu. Escute bem, Laura, não vou
permitir que esse homem toque mais em um só fio de cabelo seu. Levante, vamos
logo na delegacia registrar uma queixa contra esse demônio.
Ravena estende a mão para Laura, esperando que
ela se levante e segue com ela.
CENA 03/
INT/ CASA DO MACIEL/ SALA DE ESTAR/ NOITE
Maciel, com uma expressão preocupada, está
sentado no sofá enquanto Rato, está em pé diante dele.
MACIEL
(olhando para o chão, com remorso)
- A Laura descobriu tudo...
Rato solta um grunhido de indignação e dá um
passo em direção a Maciel, demonstrando sua raiva.
RATO
- Descobriu?... Descobriu o quê,
pae? Tu não abriu o teu bico e contou pra aquela mina sobre trafico de queijo,
né? Porque se tu fez isso, pode se considerar um homem morto.
MACIEL
- Te acalme! Te acalme que não é
nada disso.
Maciel suspira, preparando-se para admitir seu
segredo obscuro.
MACIEL
(olhando nos olhos de Rato)
- Eu sou Jack...
(chorando)
- Eu sou Jack, Rato!... Fui eu que
abusei daquelas mulheres, entende? Sou eu o tarado que a polícia tá atrás. E
Laura descobriu tudo, Rato... Ela encontrou as provas, as fotos, as mechas de
cabelo que eu guardava... Tá tudo acabado pra mim.
Rato se senta boquiaberto com a revelação de
Maciel.
RATO
- Olhe bicho, tu é doente, viu?...
Tu sabe que Jack não se cria na cadeia, né? Se tu for preso, já era.
MACIEL
(com voz trêmula)
- Eu sei, eu sei... Fui um idiota,
um doente. Tô desesperado por demais. Preciso fugir, desaparecer. E cê vai ter
que me ajudar.
RATO
- Não me mete em teu rolo.
MACIEL
- Tenho um plano.
RATO
(desconfiado)
- Um plano? Epa! Olhe lá, viu
Maciel? Que diabos tenho a ver com isso?
MACIEL
(cativante)
- Eu vou pra Venezuela. Cê tem que
dá um jeito de me colocar dentro daquele caminhão. Vou ficar lá escondido
dentro dele, misturado à carga. Lá em Venezuela, eu começo uma nova vida, longe
de todo esse caos.
Rato franze a testa, ponderando as palavras de
Maciel. Ele balança a cabeça, mostrando uma leve aceitação.
RATO
(ressentido)
- Tu é um imbecil, Maciel! Um
abestalhado que merecia morrer. Tá sabendo? Cê pode azedar de vez o nosso
esquema... Otário, pau no cu, é isso que cê é... Vou lhe ajudar. Mas escute bem,
se a casa cair, cê nem me conhece, sacou?
MACIEL
(cheio de gratidão)
- Sabia que poderia contar contigo.
Se preocupe, não, rei. Vou ficar tão imóvel naquele caminhão que vão até me
confundi com os queijos.
RATO
- Boca de siri. É melhor que seu
Valdomiro não saiba nada.
Os dois criminosos se olham por um momento, uma
mistura de desconfiança e camaradagem no ar.
CENA 04/
EXT/ PLANO GERAL
A cena
começa com o pôr do sol no Farol da Barra, mostrando sua majestosa posição à
beira do oceano. Em seguida, destaca o Pelourinho à noite, com suas ruas
coloridas e igrejas históricas iluminadas. A cena passa para o Dique do Tororó,
com suas estátuas de orixás sob as luzes noturnas. Após uma transição suave, a
tela exibe "Uma semana depois" e muda para um amanhecer em Salvador,
com o sol surgindo e iluminando os locais mencionados, enquanto a cidade começa
um novo dia.
CENA 05/ INT/
CLÍNICA BIO IN VITRO/ SALA DA BEATRIZ/ DIA
Cássia entra na sala de Beatriz, segurando a
agenda da médica em suas mãos. Beatriz está sentada atrás de sua mesa, com uma
expressão séria enquanto examina alguns documentos. A sala está iluminada por
uma luz suave que filtra pelas cortinas, criando uma atmosfera tranquila.
BEATRIZ
- Oh Cássia, obrigada. Deixe-me dá
uma olhada.
Cássia sorri para Beatriz, esperando pacientemente
enquanto a médica folhea a agenda.
CÁSSIA
(curiosa)
- Dra. Beatriz, posso lhe perguntar
uma coisa? Se não quiser responder, tudo bem, mas fiquei curiosa.
Beatriz levantou o olhar e olha diretamente
para Cássia.
BEATRIZ
(curiosa)
- Claro. O que cê quer saber?
Cássia hesitou por um momento, mas decidiu
seguir em frente com sua pergunta.
CÁSSIA
- Como foi sua relação com Maurício?
Beatriz suspira levemente, sabendo que essa era
uma questão delicada. Ela olhou para Cássia, ponderando sobre como responder.
BEATRIZ
- Na verdade entre eu e Maurício
nunca houve de fato uma relação... Digo assim, a gente não chegou a namorar,
entende? Maurício é uma pessoa maravilhosa. Inteligente, gentil e atencioso. E
vivemos sim, uma experiência intensa e bonita, mas acabou não funcionando.
Entre nós dois não tinha como dá certo.
CÁSSIA
(confusa)
- Mas por que não tinha como dá
certo? Cê sabe que ele ainda é completamente apaixonado pela senhora, né mesmo?
BEATRIZ
(compreensiva)
- Sei. Confesso que, tem momentos
que nem sei como lidar com isso. Gosto muito de Maurício... Mas cê me conhece,
não sou de me apegar a ninguém, gosto de sexo, gosto de conhecer novas pessoas
e me entregar ao prazer. Já Maurício é demissexual, né? Duas realidades
totalmente oposta.
CÁSSIA
(perplexa)
- Demissexual? Oxente! Desculpe
Dra. Beatriz... Mas o que isso significa exatamente?
BEATRIZ
(com paciência)
- Ser demissexual significa que a
atração sexual de Maurício é desencadeada pela formação de um vínculo emocional.
Ele não sente atração sexual puramente com base em aparência física ou atração
inicial. É necessária uma conexão profunda pra que ele se sinta atraído dessa
forma.
CÁSSIA
(pensativa)
- Pera aí, a senhora falou um monte
de coisa que não entendi foi nada, viu? O que cê quer dizer é que Maurício precisa
se apaixonar antes de sentir atração sexual? É isso mesmo?
BEATRIZ
- Exatamente isso.
CÁSSIA
- Agora eu acho que consigo
entender algumas coisas.
BEATRIZ
- Mas a melhor pessoa para te explicar
tudo isso, seria o próprio Maurício.
CÁSSIA
- Obrigado Dra. Beatriz.
Beatriz sorri gentilmente para Cássia, apreciando sua curiosidade e interesse
genuínos.
BEATRIZ
- Pode mandar entrar a paciente.
CENA 06/ INT/
BOUTIQUE DA RAVENA/ DIA
No televisor, uma reportagem exibe imagens da
casa de Maciel sendo invadida pela polícia, enquanto o repórter narra os
acontecimentos.
REPÓRTER
(na televisão)
- (...) A polícia agiu com rapidez
após a denúncia de abuso contra Maciel. No entanto, o suspeito não foi
encontrado em sua residência. As investigações continuam para localizá-lo e
levá-lo à justiça.
Laura, ao ouvir a notícia, leva a mão ao peito,
sentindo um aperto no coração.
LAURA
(com lágrimas nos olhos)
- Eles invadiram a casa do Maciel,
Ravena. A polícia... Mas eles não o encontraram. Ele desapareceu!
RAVENA
- Cê achava que ele iria ficar
esperando a polícia na casa dele? Óbvio que ele iria fugir, né mesmo? Vamos ver
se desta vez a polícia faz o trabalho dela e encontra essa desgraça.
Laura leva as mãos ao rosto, sentindo-se tonta
e enjoada. Ela parece pálida e frágil, como se estivesse prestes a desabar.
RAVENA
(observando Laura atentamente)
- Laura, cê tá bem? Parece que tá
passando mal.
Laura se afasta da televisão e tenta se
recompor, apoiando-se em uma prateleira próxima.
LAURA
(tremendo)
- Não sei, Ravena... Tô me sentindo
tão fraca e enjoada ultimamente. Acho que tudo isso tá me afetando.
RAVENA
(sussurrando)
- Eu tenho uma suspeita, já vi isso
outra vez... Cê pode tá grávida.
LAURA
(em choque)
- O quê? Não pode ser... Isso não.
Ravena pegou a mão de Laura gentilmente.
RAVENA
- Fique calma, primeiro vamos fazer
um teste para ter certeza. A gente vai dá um jeito nessa situação.
CENA 07/
INT/ LOJA DE QUEIJO/ DEPÓSITO/ DIA
Rato entra apressadamente, olhando em volta, e
chama por Maciel, que estava escondido em um canto escuro do depósito.
RATO
(sussurrando)
- Maciel! Maciel cadê você?
Maciel se levanta rapidamente, mostrando um
misto de ansiedade e determinação em seu rosto.
RATO
- O caminhão vai sair ainda hoje. É
melhor tu se preparar. Temo que sair daqui o mais rápido possível.
MACIEL
(com urgência)
- Certo... Tô pronto pra partir.
RATO
- Lembra, se a casa cair tu assume
o B.O. sozinho, tá sabendo? Porque se tu me ferrar, juro que dou um jeito de lhe
matar. Agora, vamo!...
Antes que pudessem se afastar, Valdomiro entra
no depósito, surpreendendo Rato e Maciel.
VALDOMIRO
(irritado)
- O que cês dois tão fazendo aqui? A
polícia tá na tua cola, Maciel. Tu deveria tá longe.
RATO
- Calma, Seu Valdomiro. Nós já tamo
saindo. Vou dá um jeito de Maciel fugir. Não se preocupe, vamos fazer tudo certinho.
Não vai sobrar pro senhor.
Valdomiro olha desconfiado para Rato.
VALDOMIRO
- Pera aí!... O que cês dois tão
tramando, diga aí?
RATO
- Maciel vai fugir no caminhão com
os queijos.
VALDOMIRO
(se alterando)
- Cês tão malucos? Quer ferrar com
tudo é isso?... Pelo o amor de Deus! Cê tem noção do que é fugir daqui pra
Venezuela em um caminhão lotado de queijo?
MACIEL
- Tô desesperado seu Valdomiro, não
posso ser preso.
VALDOMIRO
- É barril, viu véi? Cês são dois
abestalhados. Os queijos vão em um ambiente frio. Cê vai morrer congelado,
infeliz.
RATO
- Já pensamo nisso. Providenciamos
uma roupa térmica, e o motorista é Renato, sempre que possível ele vai parar
pra dá assistência Maciel. O cara só precisa fugir seu Valdomiro.
VALDOMIRO
(desconfiado)
- Não gosto disso. Cês tão sempre
arrumando confusão. Presta atenção, faça o que tem que fazer. Só não me
coloquem em problemas. Se a corda arrebentar me inclui fora dessa.
RATO
(com sinceridade)
- Se preocupe não, viu? Nosso
amiguinho aqui tá avisado. Se ele ferrar com nós, é o pescoço dele que tá na
guilhotina.
VALDOMIRO
(resignado)
- Vá bem, então. Vão logo, que a
polícia tá rondando Calabar em peso.
Maciel e Rato trocam um olhar rápido de
gratidão e alívio. Enquanto Valdomiro observa desconfiado, Maciel e Rato se
preparam para seguir adiante com seu plano de fuga, sabendo que o caminho pela
frente não seria fácil.
CENA 08/
EXT/ LOJA DE QUEIJO/ FRENTE/ DIA
Rato e Maciel saem apressadamente da loja de
queijo e se aproximam de um carro estacionado nas proximidades. Rato tira as
chaves do bolso e destrava o veículo.
RATO
(apressado)
- Vamos, Maciel! Temos que partir
antes que a polícia nos encontre!
Maciel entra no carro e Rato rapidamente assume
o volante. O motor ronca enquanto o carro arranca com velocidade, deixando para
trás a loja de queijo.
CENA 09/ INT/
BOUTIQUE DA RAVENA/ DIA
Ravena está ocupada organizando algumas roupas
em cabides próximos ao balcão de atendimento da boutique. O movimento na loja
está fraco naquele momento. A manhã está calma, apenas alguns poucos murmúrios
de clientes do lado de fora que passam ocasionalmente pela vitrine, mas não
entram. Enquanto organiza as roupas, Ravena olha preocupada para o a porta do
banheiro. Laura sai do banheiro soluçando, as lágrimas escorrendo por seu
rosto. Seu olhar desesperado encontra o de Ravena, que está preocupada ao vê-la
naquele estado.
RAVENA
- O que foi, minha linda?
Diga logo?
Laura segura o exame de gravidez trêmula e o
mostra para Ravena, incapaz de falar por causa do choro.
RAVENA
- Não acredito nisso, tudo de
novo.
Sem hesitar, Ravena caminha até Laura,
abraçando-a com carinho. Laura continua chorando, desabafando toda sua angústia
e tristeza nos braços reconfortantes de Ravena.
LAURA
- Quero morrer! Não consigo
lidar com isso de novo.
Ravena segura o rosto de Laura delicadamente,
olhando em seus olhos com determinação.
RAVENA
- Não, não diga isso, meu amor.
A gente vai dar um jeito, vamo encontrar uma saída.
LAURA
(voz embargada)
- Tomando aquele remédio de
novo?
RAVENA
(suspirando)
- Não tem outra saída, né Laura?
Infelizmente nesse país de merda não temos clínica especializadas para esse
tipo de coisa. Ou cê quer arriscar em uma clínica clandestina?
LAURA
- Não sei, Ravena. Tenho muito
medo, não sei qual é pior.
RAVENA
- Eu sei, meu amor. Tanto que
eu lhe alertei que esse cara não prestava e cê insistia em ficar na cola dele.
LAURA
- Porque sou uma burra, me deixei
levar pela a paixão que sentia por ele.
RAVENA
- Sentia? Não sente mais não?
LAURA
- Sinto. Infelizmente ainda
sinto. Mas vou arrancar ele de dentro de mim.
RAVENA
- Vai sim, e vai começar pela raiz,
tirando essa semente podre que ele depositou em você. Vamos em uma clínica.
LAURA
- Clandestina?
RAVENA
- Infelizmente, né meu amor?
Cê ainda tá no início da gravidez, eles vão fazer apenas uma raspagem. Não deve
ser algo tão complicado. Vamos pra casa pro cê tomar um banho, se arrumar, e
então iremos juntas.
CENA 10/ INT/
CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ TARDE
Estão Cássia e Jana posicionadas atrás do
balcão da clínica enquanto conversam.
CÁSSIA
(desabafando)
- Dra. Beatriz falou que Maurício é
dimessexual. Ou seja, ele não sente tesão em fazer sexo casual. Tem que haver sentimento
pra ele se entregar sexualmente a uma pessoa. E isso explica muita coisa, né
Jana? Por isso que aquele dia do cinema lá em casa, não rolou. Claro, ele não
se sente a vontade comigo. Como ele pode ficar comigo se ele é apaixonado por
Dra. Beatriz?
JANA
(compreensiva)
- Situação difícil essa, hein? Venha
cá Cássia, cê tá gostando mesmo do Dr. Maurício?
CÁSSIA
(inserta)
- Não sei... É tudo tão confuso pra
mim. Tem Lucas, né?... Como lhe falei, gosto de tá com Lucas, rola uma química
muito boa entre a gente. Rola aquela pegada boa, aquele sexo gostoso... Só que
nega, desta última vez não foi tão bom. Era nele que eu pensava, no Maurício. Com
Maurício, é diferente. É mais romântico, como se tivéssemos todo o tempo do
mundo, sem pressa. Valorizamos mais o toque, os olhares, o beijo é mais
delicado...
Cássia para por um instante pensativa e
confessa.
CÁSSIA
- Tô sim, Jana... Tô loucamente
apaixonada por Maurício, é nele que penso o tempo todo.
JANA
- Então acho que chegou a hora de
Lucas sair dessa história, né mesmo? Cês dois tem que conversar e por um ponto
final. É preciso terminar o que cê tem com Lucas pra poder engatar nesse
romance com Maurício.
CÁSSIA
(desanimando)
- Oxente, que romance, mulher? Tô
falando aqui dos meus sentimentos, mas Maurício não sente o mesmo por mim. É
Beatriz que ele ama. E agora tem essa questão da dimessexualidade dele... Não
sei se vou saber lidar com isso.
JANA
- Sabe o que acho?
Cássia olha para Jana, esperando por sua opinião.
JANA
- Acho que o sexo tá sendo colocado
muito em pauta aqui, viu? Assim como há pessoas que são movidas a sexo, ou
seja, faz sexo o tempo todo, todo dia, sempre que pode. Também há pessoas que
não dão tanta importância a isso. E se cê pretende viver algo com Dr. Maurício,
esteja certa disso. O sexo nunca vai ser o foco dele.
CÁSSIA
- Nega, cê acha que conseguiria
viver um relacionamento com uma pessoa assim?
JANA
- Ah, sei lá Cássia! Acho que sim,
viu? Em uma relação tem tantas outras coisas que deve ser priorizada
CENA 11/ INT/
CLÍNICA CLANDESTINA/ RECEPÇÃO/ TARDE
Ravena e Laura entram na clínica com certa
cautela, olhando ao redor para se certificarem de que não estão sendo seguidas.
O lugar é discreto, com uma pequena porta de vidro que revela apenas um
letreiro discreto com o nome da clínica. A luz fraca no interior do
estabelecimento cria uma atmosfera sombria e intimista, refletindo o caráter
sigiloso do local. A clínica é composta por uma pequena sala de recepção
modesta. Atrás do balcão de atendimento, Kira, está sentada, concentrada em preencher
alguns formulários. Há papéis espalhados e uma agenda aberta, sugerindo que o
lugar é frequentado por outras pessoas. O ambiente é limpo e organizado, mas a
decoração simples e sem extravagâncias reforça a necessidade de passar
despercebido. Ao ver a chegada de Ravena, Kira interrompe suas atividades,
revelando uma expressão de surpresa e alegria ao mesmo tempo.
KIRA
- Oxe, mas é Ravena! E aí
nega, que cê faz aqui?
Ravena sorriu e se aproxima do balcão.
RAVENA
- Oi Kira, tudo bem com cê?
KIRA
- Estou bem e cê? Pensei que
lhe veria no protesto de ontem.
RAVENA
- Eu até fui, mas ela me ligou tive
que voltar logo pra casa.
KIRA
- Entendi. Mas diga aí, o que faz
aqui? Não vai me dizer que...
RAVENA
(interrompendo)
- Não, Deus me livre. Sem essa de macho em minha vida, né meu bem?
(apresentando)
- Essa é minha amiga, Laura.
Laura, um pouco nervosa, cumprimenta Kira
timidamente.
LAURA
- Prazer!
KIRA
- Então essa é a famosa Laura. O prazer é todo meu, viu minha linda?
LAURA
(surpresa)
- Famosa?
KIRA
- Sim, Ravena fala muito do cê.
RAVENA
- Laura tá precisando dos serviços do Dr. Orlando.
KIRA
- Humm! E já tá com quanto tempo?
LAURA
(confusa)
- Acho que dois meses ou três.
Não sei ao certo.
KIRA
- Depois que Dr. Orlando
examinar direitinho, ele descobrirá. Mas cês terão que esperar um pouco, pois
algumas meninas tão na frente.
RAVENA
- Tá certo, a gente espera.
LAURA
(preocupada com medo)
- Mas ele já vai fazer a
retirada hoje?
KIRA
- Primeiro ele vai lhe
examinar. Depois a gente ver como faz.
Ravena, tentando acalmar Laura, segura sua mão
com carinho.
RAVENA
- Vai dá tudo certo meu amor.
Enquanto conversam, Kira termina de preencher
alguns formulários e organiza os papéis. A clínica tinha um clima de sigilo e
discrição, com poucas pessoas circulando pela recepção naquele momento.
CENA 12/ INT/
IGREJA CAJADO DA FÉ/ TARDE
Giovana está sentada em uma sala da igreja,
cercada por um grupo de jovens. As cadeiras estão dispostas em círculo,
refletindo a atmosfera de debate acalorado.
KALEB
(apontando com convicção)
- A gente não pode ficar brincando
de ser cristão. A Palavra de Deus nos diz que tem que ser quente ou frio, pois
morno vomita. Olha o exemplo de Laura, gente. Filha do pastor Moisés, cresceu
aqui dentro da igreja, mas preferiu viver no pecado.
MÍRIAM
(franzindo o cenho)
- Mainha me disse que ela vivia com
uma mulher, uma sapatona masculina. Ela se afastou completamente dos princípios
bíblicos.
LEVI
(indeciso)
- Oxe, mas ela não fugiu não foi
com um homem? O pastor Moisés mesmo disse que ela virou puta.
Giovana sente o peso das palavras e ergue as
mãos, buscando acalmar os ânimos.
GIOVANA
(fazendo um gesto de apaziguamento)
- Irmãos, devemos lembrar que todos
nós somos pecadores e precisamos da graça de Deus, né? Não é nosso papel condenar Laura, mas sim orar
por ela e estender a mão caso ela queira buscar o caminho da redenção. Né pra
isso que serve a igreja?
Dalila levanta as mãos para o alto e olha com
desdém.
DALILA
- Tô é salva pela graça de Deus.
Leio a Bíblia todos os dias, oro e me dedico ao culto. Laura, por outro lado,
já sabemos que ela tá destinada ao inferno.
Kaleb, com as mãos firmemente apoiadas na bíblia
que está em seu colo, tenta trazer equilíbrio à discussão.
KALEB
- Te acalme, minha gente! Não podemos
dizer também que Laura vai pro inferno. Que isso? Ela pode se arrepender e
aceitar Jesus como seu único salvador. Ainda há tempo. E sabemos bem que quem
corrompeu Laura foi o feminismo. A Bíblia diz que a mulher deve ser submissa ao
homem. O feminismo vai contra os princípios da nossa fé. O feminismo ensina as
mulheres a odiar os homens.
Giovana, sente-se impulsionada a expressar sua
opinião, se levanta e dá alguns passos em direção ao centro do círculo.
GIOVANA
(energética)
- Com licença, mas não posso
simplesmente ouvir tudo isso calada. Não vamos confundi, viu? Primeiro ponto, precisamos
entender que feminismo não é sobre odiar os homens ou querer superioridade. É
sobre buscar igualdade de direitos, respeito e liberdade para todas as
mulheres. Segundo ponto, o que Laura queria era apenas a sua liberdade de ser
quem ela é.
(olhando para Kaleb)
- E principalmente a liberdade de
escolher o seu parceiro, viu Kaleb?
DALILA
(suspirando e olhando Kaleb de rabo de olho)
- Ó pai! E tem parceiro melhor que
Kaleb? Um rapaz dedicado, estudioso, temente a Deus...
Giovana não se deixa intimidar e mantem-se
firme em sua posição.
GIOVANA
- Se cê tá tão interessada assim,
por que cê mesma não casa com ele, Dalila?
DALILA
(arqueando uma sobrancelha)
- Tô orando nessa intenção, viu? Se for da vontade de Deus.
KALEB
(sem graça)
- Vamos manter a calma, e voltar ao
foco. Temos que entender bem, a palavra de Deus nos diz lá em coríntios, “o
homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher foi criada por
causa do homem”. E isso não é um pensamento machista,não viu? Isso é bíblico.
Mas o feminismo vem contra tudo aquilo que a palavra de Deus nos ensina.
GIOVANA
(com convicção)
- Olhe, eu entendo o que a Bíblia
diz, mas acredito que nossa interpretação precisa evoluir. Não podemos usar a
religião para justificar a opressão das mulheres. Precisamos repensar essas
questões.
LEVI
- Kaleb começou falando em ser
quente ou frio, não ser morno. E na minha opinião é o que Giovana tá sendo. Ela
tá em cima do muro, não sabe ser é cristã ou se é do mundo.
MÍRIAM
- Também acho, viu Giovana. Cê
deveria seguir o exemplo de sua mãe, que sempre foi fervorosa.
A discussão continua acalorada, mas Giovana
decide se retirar. Ela pega suas coisas, visivelmente perturbada, e sai da sala
da igreja.
LEVI
- A tia Eliete é fogo, né não
gente? Ali o inimigo tem vez não.
A discussão continua conforme Giovana sai da
sala. Kaleb olha e resolveu ir atrás de Giovana.
CENA 13/ EXT/
IGREJA CAJADO DA FÉ/ PORTA/ TARDE
Kaleb encontra Giovana sentada na porta da
igreja. Ele se aproxima com cautela, com uma expressão preocupada.
KALEB
- Tudo bem? Posso me sentar aqui do
seu lado?
Giovana levanta o olhar e força um sorriso. Ela
move-se um pouco para o lado, dando espaço para que Kaleb se sentasse ao seu
lado.
GIOVANA
(suspira)
- Claro, se aconchega aí!
Kaleb se senta ao lado de Giovana, mantendo uma
postura atenta.
KALEB
(compreensivo)
- Quer compartilhar o que tá
acontecendo? Tô aqui pra lhe ouvir.
GIOVANA
(com sinceridade)
- Kaleb, às vezes acho que sou
ateia, viu?
KALEB
- Oxe menina, não fale besteira!
GIOVANA
- Não sei mais se consigo acreditar
nesse Deus vingativo que a igreja tanto prega. Tantas vezes ouvi sobre o
inferno, sobre condenação, sobre um Deus que pune e castiga. Mas ondé que tá o
Deus amoroso, misericordioso e compassivo que também é falado na bíblia? Quando
venho à igreja, é esse Deus que busco encontrar. Mas parece que aqui, as
pessoas se sentem salvas apenas pelo fato de ocuparem um banco no culto
dominical. E sobre os mandamentos, amar a Deus sobre todas as coisas, amor o
próximo como a si mesmo? Eu quero ouvir falar de amor, e não de vingança.
Kaleb fica em silêncio por um momento,
processando as palavras de Giovana. Em um gesto de apoio, ele coloca a mão
sobre a mão de Giovana.
KALEB
(com compaixão)
- Olhe Giovana, eu credito que a fé é uma jornada individual. É
normal questionar e ter dúvidas. Realmente nem sempre as representações que a
igreja faz de Deus, refletem a verdadeira essência do divino. Laura me falou
uma coisa uma vez que me deixou refletivo. Ela me perguntou se não achava
humilhante ter que forçar uma mulher pra poder me casar? E de fato é humilhante.
Como posso querer como esposa, uma mulher que me acha um banana?
Giovana ri suavemente diante do comentário de
Kaleb. Ela afasta um pouco a mão, mas mantém o contato visual com Kaleb.
GIOVANA
- Cê é um cara bacana, viu Kaleb. Cê só não pode se tornar um
fanático como seu pai, minha mãe e pastor Moisés.
Kaleb se levanta rapidamente, sentindo-se
levemente ofendido.
KALEB
(defensivo)
- Eles não são fanáticos, Giovana. Apenas têm uma fé fervorosa.
Cê ainda não se tornou uma cristã de caminhada, por isso não entende. Mas tenho
fé que cê vai ser uma grande pregadora, quem sabe até uma pastora. Deus tem me
revelado...
Giovana se levantou de forma abrupta, interrompendo
Kaleb. Ela se afasta alguns passos, olhando fixamente para Kaleb antes de se
virar para partir.
GIOVANA
(decidida)
- Vamos parando a nossa conversa por aqui. Quando a frase começa
com "Deus tem me revelado...", eu já sei que não vem nada que se aproveita,
viu? Ouço isso todos os dias lá em casa. Sabe Kaleb, foi bom esse tempo que
passei dentro da igreja. Tive a oportunidade de me aproximar mais da minha
espiritualidade. Mas também me fez entender que aqui ainda não é o lugar pra
mim. Eu não encontrei aqui o amor e o acolhimento que procurava, só encontrei
dedos apontando os meus erros. Tenha uma boa tarde, mas pra mim já deu.
Kaleb se sente inquieto e desapontado, mas
respeita a decisão de Giovana, fica apenas a observando enquanto ela se afasta.
CENA 14/ INT/
CLÍNICA CLANDESTINA/ RECEPÇÃO/ TARDE
Laura está sentada, esperando ser atendida.
Ravena está ao seu lado, preocupada com a expressão pensativa de Laura.
Enquanto esperam, Laura começa a passar a mão pela barriga, perdendo-se em
lembranças.
[FLASHBACK ON]
CAP 04/
CENA 04/ BOUTIQUE DA RAVENA/ DIA
Estão Laura e Maciel próximos ao balcão de
atendimento.
LAURA
- E vai ser sempre
assim, cê sempre vai tá enrolado. Porque vive fazendo coisa que não deve.
MACIEL
- Não mais.
Tô dando um jeito na minha vida. Vou encontrar um emprego, vou voltar a
estudar. E aí minha linda, a gente vai casar, vamos morar juntos. E finalmente
poder ter quantos filhos a gente quiser.
LAURA
- Como eu
queria acreditar nisso, viu Maciel?
MACIEL
- Mas não
acredita por quê? O que lhe digo é a verdade, e vou provar pra ti.
[FLASHBACK OFF]
Continuação
da CENA 14/ INT/ CLÍNICA CLANDESTINA/ RECEPÇÃO/ TARDE
A cena retorna para a clínica, onde Laura está
profundamente pensativa. Ravena percebe a expressão preocupada de Laura e a abraça
carinhosamente.
RAVENA
- Cê tá bem?
Laura suspira e olhou para Ravena.
LAURA
- Só com um pouco de medo.
RAVENA
- Vai ficar tudo bem. Isso
aqui tá demorando.
Ravena compreendeu a preocupação de Laura e se
levanta.
RAVENA
- Vou lá ver com Kira quantas
ainda tem na sua frente.
Laura segura o braço de Ravena.
LAURA
- Não, espere!
Ravena se senta novamente, preocupada com a
mudança de comportamento de Laura.
RAVENA
- O que é? Cê tá sentindo
alguma coisa?
Laura olha fixamente nos olhos de Ravena,
determinada.
LAURA
- Não vou mais tirar essa
criança.
RAVENA
(surpresa)
- Oxe Laura? Cê tem ideia da
responsabilidade de ter um filho.
LAURA
(decidida)
- Não tenho a mínima ideia.
Mas sei que posso criá-lo. Nós podemos criar. Cê não disse que gosta de mim? Pois
então! Vamos ficar juntas e criar essa criança, como se ela tivesse saído de nós
duas. Assume meu filho, Ravena?
Ravena fica emocionada com a proposta de Laura.
RAVENA
- Cê tá falando sério? É isso mesmo
que cê quer?
LAURA
(sorrindo)
- Sim, é isso que quero. Vamos
criar essa criança do nosso jeito. Longe de todo preconceito, de todo machismo,
de toda homofobia. Cê aceita ser a segunda mãe de meu filho?
Ravena, emocionada, segura o rosto de Laura com
as mãos.
RAVENA
- Eu aceito sim, meu amor. Com
todo meu coração, eu aceito.
As duas se olham com ternura e se beijam
apaixonadamente, selando a decisão de criar o filho juntas. Ao longe Kira ver
aquela cena e sorri.
CENA 15/ EXT/
POSTO DE GASOLINA/ NOITE
Rato e Maciel chegam a um posto de gasolina
movimentado durante a noite. O ar está carregado de tensão e urgência. Rato
olha ao redor, procurando pelo caminhão de queijo que está prestes a partir.
RATO
(conspirando)
- Maciel, presta atenção. Esse é o
lugar. Renato já deve tá chegando com o caminhão. A roupa térmica que lhe
falei, tá com ele. Temos duas. Enquanto cê vai tá usando uma, a outra vai tá
esquentando. Sempre que possível, ele vai parar o caminhão para lhe dá
assistência. Morre congelado desgraça, mas não faça barulho por nada. Tá
entendendo?
MACIEL
(ansioso)
- Tranquilo, Rato. Pode deixar que
lá dentro não vou mexer um músculo. Só quero chegar logo em Venezuela.
RATO
(entregando uma mochila)
- Aqui! Coloquei alguns mantimentos
na mochila. Não podemos levar muito, mas pelo menos terá algo pra comer durante
a viagem.
Maciel pega a mochila, agradece por essa
pequena provisão.
MACIEL
- Valeu mesmo, vou ser sempre grato
a você. Tu não tem ideia o quanto isso significa pra mim.
RATO
(olhando ao redor)
- Tá... Tá bom. Não temos tempo a
perder. Renato tá chegando.
Os dois homens se movem rapidamente em direção
ao caminhão de queijo estacionado no posto de gasolina. O motorista, Renato, é um
homem corpulento com uma expressão séria, os observa com cautela.
RATO
(aproximando-se do Renato)
- Tá tudo pronto?
RENATO
(confirmando)
- Sim, tá tudo certo. Maciel vai
ficar bem escondido no meio da carga. Ninguém vai suspeitar de nada.
MACIEL
(determinado)
- Vou fazer tudo o que for preciso
pra sair dessa. Obrigado mesmo por me ajudar, viu meu brother?
RENATO
(sério)
- Relaxa man, e se cuide lá dentro.
A viagem vai ser longa e perigosa. E não se preocupe, quando estivermos em
Venezuela a gente se acerta, viu pae?
Maciel se despede de Rato com um abraço rápido,
sentindo uma mistura de emoções. Ele se aproxima do caminhão. Os olhares de
Rato e Maciel se encontram por um breve momento, transmitindo confiança e desejo
de sucesso. Maciel sobe no caminhão e se esconde na carga de queijos, enquanto
Rato observa. Com a porta do caminhão se fechando, Rato e Renato trocam um
aceno de cabeça, confirmando que tudo está em ordem. O caminhão parte
lentamente, deixando Rato para trás, olhando-o se afastar.
Obrigado pelo seu comentário!