Type Here to Get Search Results !

Marcadores

LÁGRIMAS EM SILÊNCIO - Capítulo 15

 




Novela de Adélison Silva 

Personagens deste capítulo

JANA
LAURA
GIOVANA
ELIETE
RAVENA
MACIEL
RATO
CÁSSIA
MAURÍCIO
JORGE
ROSENO
FÁTIMA
BILL
VALDOMIRO


Participação Especial:
POLICIAIS, RENATO, LUCAS, MULHER que está com Lucas, TRAFICANTE, DETENTOS, MÉDICO


CENA 01/ INT/ CASA DA RAVENA/ QUARTO DE LAURA/ NOITE

A decoração do quarto é simples. As paredes são pintadas em tons de azul escuro, porém já desgastadas. Ao centro, uma cama de solteiro com um edredom floral delicado. Próximo à janela, encontra-se um antigo guarda-roupa de madeira com detalhes entalhados, emitindo uma sensação de nostalgia. Laura está sentada na beirada da cama, preocupada, enquanto Ravena se movimenta pelo quarto com animação, inspecionando cada detalhe. 

 

RAVENA

(entusiasmada)

- Vamos tirar essa cama daqui, esse guarda roupa também vai sair. Pintar essas paredes dá um tom mais alegre. O que cê acha? Compraremos um berço, e outro guarda roupa,né? Esse tá muito velho serve pro nosso filho não...

 

 

Laura sorri levemente, mas ainda demonstrando preocupação. Ravena percebe isso e se aproxima dela.

 

 

RAVENA

(preocupada)

- O que foi, meu amor? Cê tá certa da decisão que tomou? Se cê quiser, ainda dá tempo de voltarmos à clínica.

 

LAURA

(respira fundo)

- Não... Não, é isso. Foi a melhor escolha que fizemos. Eu quero criar essa criança com cê, construir uma família juntas... É só que tudo mudou tão rapidamente, ainda tô me adaptando. Nós duas juntas, tendo um filho. Ainda tô processando tudo em minha mente. Cê entende?

 

 

Uma expressão de tristeza aparece no rosto de Ravena.

 

 

RAVENA

- Construir uma família comigo, não era algo que fazia parte dos seus planos, né é mesmo?

 

 

Laura hesita por um momento antes de responder.

 

 

LAURA

- Não. Nada disso fazia parte dos meus planos. As coisas mudaram completamente de curso. Mas talvez, os meus planos não fosse o melhor pra mim, o melhor pra mim sempre foi tá ao seu lado.

 

 

Ravena se agachou em frente a Laura.

 

 

RAVENA

(afetuosa)

- Laura, eu não quero que cê se sinta pressionada a nada. Nós não precisamos tá juntas pra criar essa criança. Tanto cê quanto ela terão um lugar garantido aqui em casa. Se esse é seu medo, pode ficar tranquila. Independentemente de qualquer coisa, estarei aqui pra te ajudar. Se cê decidir que deve tirar, pois ainda não tá pronta para ser mãe, tô aqui também pra te apoiar. Agora se cê decidir que devemos ficar juntas, tô aqui cheia de amor pra lhe compartilhar.

 

 

Laura olha nos olhos de Ravena, passa a mão pelo o seu rosto, com determinação brilhando em seu olhar.

 

 

LAURA

- Mas eu quero. Eu quero me apaixonar por cê cada dia mais. Cê me faz tão bem, Ravena. Desculpe se tô um pouco confusa, mas tudo isso é muito novo pra mim. Nunca havia olhado pra você com esse olhar que tô olhando agora. Como minha mulher, minha companheira. Tenho certeza de que seremos muito felizes juntas.

 

RAVENA

(com sorrido radiante)

- Oh, Laura, cê não faz ideia do quanto isso significa pra mim. Estarei aqui ao seu lado, viu? Juntas, enfrentaremos qualquer desafio que surgir. Seremos felizes, os três: eu, você e nosso filho.

 

 

As duas mulheres se olham nos olhos, sentindo a intensidade do momento. Ravena desliza suavemente as mãos pelo rosto de Laura, admirando-a com ternura. Um sorriso compartilhado se forma entre elas, expressando a conexão profunda que compartilham. Ravena se levanta e em um gesto afetuoso, começa a beijar Laura. Laura fecha os olhos enquanto sente o beijo de Ravena. Ravena se agacha novamente, pega o pé de Laura e começa a beijar, fazendo um rastro de beijo indo em direção a coxa. Laura usa um vestido florido que desce até a altura do joelho. Ravena delicadamente vai subindo o vestido de Laura com a mão e acompanhando com os seus beijos. As duas a todo tempo mantém um contato visual transmitindo o prazer que sentem. Laura começa a alisar os seus peitos enquanto Ravena se aproxima da altura de sua genitália. Ravena afasta o rosto e vai puxando a calcinha de Laura. As duas trocam um sorriso, e Laura abre a boca e revira os olhos de prazer. Ravena aproxima novamente e afundou a cabeça fazendo sexo oral. Laura alisa a cabeça de Ravena e lhe aperta contra a sua genitália. Ravena olha para Laura com a cabeça entre as suas pernas.

Pela a primeira vez as duas se entregam ao prazer, Ravena se sacia por finalmente ter em seus braços aquela que ela tanto desejava.

 

CENA 02/ EXT/ PLANO GERAL

A cena começa com um pôr do sol deslumbrante na Praia de Stella Maris, destacando suas dunas de areia branca e coqueiros. Em seguida, mostra a Praia do Flamengo à noite, com esportes aquáticos e a lua no céu estrelado. A cena se desloca para o Morro do Cristo no bairro de Barra, com a estátua do Cristo Redentor iluminada à noite. Há uma transição suave da noite para o dia, com o nascer do sol sobre as praias e o Morro do Cristo, revelando sua beleza sob a luz da manhã.

 

 

CENA 03/ EXT/ BR/ DIA

O caminhão avança pela rodovia, cortando a paisagem em alta velocidade. Maciel se encontra escondido entre os queijos, encolhido, com a mochila ao lado e envolto em uma roupa térmica, tentando se proteger do frio intenso que permeia o ambiente. Seu rosto revela medo e ansiedade.

 

 

MACIEL

(sussurrando para si mesmo)

- Frio... É tão frio aqui. Esse frio tá me consumindo. Ah meu Deus, será que vou conseguir chegar lá?

 

 

Maciel se encolhe ainda mais, tentando se aquecer com o pouco calor que consegue gerar em seu corpo. O barulho constante do motor do caminhão e o movimento das rodas ecoam ao seu redor, adicionando uma sensação de claustrofobia. O vento sopra pelas frestas do caminhão, trazendo consigo o som da estrada e a sensação de liberdade. Maciel fecha os olhos por um momento, imaginando o futuro que o aguardava.

 

 

 

MACIEL

(resoluto)

- Preciso aguentar. Preciso seguir em frente. Vai passar, tudo isso vai passar. Vou voltar meu amor, vou voltar Laura pra lhe buscar.

 

 

Enquanto o caminhão continua a percorrer a estrada, Maciel tenta encontrar conforto em meio a toda aquela situação.

 

CENA 04/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ DIA

Cássia está atrás do balcão, folheando alguns formulários, enquanto Maurício está em frente, examinando-os atentamente.

 

MAURÍCIO

(olhando para cima, dos formulários)

- O que cê pretende fazer depois que sair daqui?

 

CÁSSIA

(apoiada no balcão)

- Nada em mente, só ir pra casa mesmo. Por quê? Afim de ir ao cinema de novo?

 

MAURÍCIO

(sorrindo)

- Hoje o convite seria diferente. Tem uma peça que será apresentada hoje no teatro municipal, de uma companhia que amo. Gostaria muito de assistir, e se possível, na sua companhia é claro. Mas vou entender se cê tiver compromisso com seu namorado.

 

CÁSSIA

(olhando para baixo, hesitante)

- Não, o Lucas disse que vai trabalhar até mais tarde. Até tinha planos de sair com ele. Mas infelizmente não vai ser possível.

 

MAURÍCIO

(levantando uma sobrancelha)

- Então isso seria um sim?

 

 

Cássia pensa por um momento, ponderando suas opções.

 

 

CÁSSIA

(sorrindo maliciosamente)

- Claro. Vou adorar ir ao teatro com cê. Mas primeiro, quero ir pra casa, tomar banho e trocar de roupa. Pode ser?

 

MAURICIO

(assentiu com a cabeça)

- Tranquilo, tá certinho. Lhe pego lá as oito.

 

CÁSSIA

(sorrindo)

- As oito, então. Estarei a sua espera.

 

Os dois trocam um olhar de cumplicidade e voltam às suas tarefas.

 

 


CENA 05/ INT/ CASA DOS FERNANDES/ QUARTO DA GIOVANA/ DIA

Giovana está sentada em sua escrivaninha, folheando um livro com expressão pensativa. Eliete entra no quarto, fechando a porta atrás de si, e fica parada por um momento, com os braços cruzados, observando Giovana com uma expressão séria.

 

GIOVANA

- Oxente, que foi minha mãe? Aconteceu alguma coisa?

 

 

Eliete se aproxima lentamente, mantendo o olhar fixo em Giovana.

 

 

ELIETE

- Estive conversando com irmão Osvaldo, e ele me perguntou o que aconteceu com cê. Ele disse que Kaleb contou a ele que cê falou barbaridades no grupo de jovens. Até disse que não era mais cristã, pois não acreditava em um Deus negativo. Minha filha, cê tava tão bem na igreja o que tá acontecendo?

 

 

Giovana fechou o livro e olhou nos olhos de Eliete, respirando fundo antes de responder.

 

 

GIOVANA

- Olhe minha mãe, é até difícil conversar sobre isso com a senhora. Eu tentei encontrar minha fé. Eu quis me dedicar às coisas da igreja. Tentei me encontrar ali naquele meio. Mas a verdade é que, quanto mais eu tentava me encontrar, mais me perdia, não sabe? Todos na igreja só julgam, condenam, não procuram nos ouvir. A discussão começou quando foi citado o caso de Laura. Sinceramente, eu não gostei da forma como pastor Moisés conduziu o caso de Laura. Ele queria obrigar a filha a casar com uma pessoa que ela não queria. Sério mesmo que cês acham que isso é correto?

 

 

Eliete leva uma mão ao peito, visivelmente preocupada, enquanto olha Giovana com tristeza.

 

 

ELIETE

- Oh minha filha, cê tava indo tão bem. Deus tem me revelado coisas maravilhosas sobre você. Eu sonhei... Giovana, sonhei que cê seria uma pregadora cheia de fogo...

 

 

Giovana começa a se alterar, levantando-se da cadeira e andando de um lado para o outro no quarto.

 

GIOVANA

- Oh mainha, chega! Pelo amor de Deus, sem essa de "Deus tem me revelado". Oxe, porque mesmo que Deus só revela coisas sobre os outros? Ele não revela coisas sobre a senhora também, não? Deus também tem me revelado, viu? Tem me revelado que a senhora tá tão preocupada com a salvação dos outros que tá perdendo a sua própria salvação!

 

Eliete fica chocada com as palavras de Giovana, colocando uma mão trêmula sobre a boca.

 

 

ELIETE

(excomungando)

- Vai de retro, satanás! As palavras que vêm de você não vêm de Deus, e sim do Coisa Ruim. Pelo amor de Jesus Cristo, Giovana, minha filha, quanta blasfêmia! Cê só pode tá possuída pelo demônio, não tem outra explicação.

 

Nesse momento, Genivaldo entra no quarto, percebendo a tensão no ambiente.

 

 

GENIVALDO

- Mas que diacho tá acontecendo aqui? Que gritaria é essa?

 

GIOVANA
- O que houve é que não aguento mais mainha. Ela acha que pode mandar e controlar a vida de todo mundo.

 

ELIETE

- A nossa filha tá possuída, Genivaldo.

(levantando as mãos para o alto em súplica)

- Meu Deus, por que me abandonaste? Eu que sempre fui uma serva fiel? Vou conversar com pastor Moisés, vamos ter que fazer uma sessão de descarrego.

 

GENIVALDO

(gritando)
- Chega, Eliete! Deixa a menina em paz!

 

 

Eliete se afasta de Genivaldo, olhando-o com incredulidade.

 

ELIETE

(ameaçando)

- O dia do juízo tá chegando. E todos vocês vão ter que prestar conta. Deus sabe o quanto tenho me esforçado pra converter essa família. Ele há de me agraciar. Tenho pena de cês no dia que o Filho do Homem vier sobre as nuvens. Vão brincando com coisa séria, viu?

 

 

Eliete sai do quarto com passos rápidos, deixando um clima pesado para trás. Genivaldo e Giovana se entreolham, compartilhando um entendimento silencioso, enquanto balançam a cabeça negativamente.

 

 

CENA 06/ EXT/ BR/ TARDE

O caminhão continua avançando pela estrada, com Renato, o motorista, no comando. A tarde está ensolarada, e a paisagem ao redor revela sinais de que a fronteira está se aproximando. Maciel está escondido entre os queijos, quando sente o caminhão parar e a porta traseira se abrir.

 

RENATO

(sorrindo)

- Tudo bem aí meu brother? Aproveite pra descer um pouco, esticar as canelas. Aqui costuma ser tranquilo, não costumam ter muita fiscalização policial.

 

 

Maciel olha surpreso para Renato, se levanta cuidadosamente, se certificando de não fazer barulho, e desce do caminhão.

 

MACIEL

(agradecido)

- Brigadão mesmo, viu véi? Tava mesmo precisando esticar as pernas. Cê não tem noção como aqui atrás é desconfortável.

 

RENATO

- Oxente, e cê queria o quê? Primeira classe? O Rato me falou o que cê aprontou. Lhe garanto que na cadeia será muito mais desconfortável, viu? Lá os cara não perdoa, jack.

 

 

Maciel fica assustado ao pensar na possibilidade de ser preso. Os dois se afastam um pouco do caminhão, encontrando um local discreto próximo à vegetação às margens da rodovia. Maciel aproveita o momento para urinar.

 

MACIEL

(curioso)

- Já estamos chegando na fronteira?

 

RENATO

(confirmando)

- Sim. Estamos a poucos quilômetros de lá. Estamos fazendo um bom progresso. Antes de amanhecer capaz que a gente chega em Venezuela.

 

 

Maciel tira alguns alimentos da mochila para fazer um lanche rápido.

 

 

MACIEL

- Faz tempo que cê trabalha com queijo.

 

RENATO

- Não trabalho com queijo, trabalho com tráfico. Os queijos é apenas uma camuflagem.

 

MACIEL

- A outra carga também foi cê que levou?

 

RENATO

- Não. Geralmente fico na fábrica, pra garantir que os queijos temperados vão junto. Entende? Mas desta vez a carga era especial, né mesmo? Poderia arriscar não.

 

MACIEL

- Entendi. Oh Renato, venha cá me diga uma coisa. Qual foi o acordo que Rato fechou contigo pra me deixar em Venezuela? Quanto que ele tá lhe pagando?

 

RENATO

- Rato? Rato não tá me pagando nada.

(olhando fixo para Maciel)

- Quem vai me pagar é você, assim que a gente pisar em terra venezuelana. Mas relaxe viu, essa conversa a gente vai ter é lá. Fim de intervalo, viu meu rei? Hora de embarcar de novo, que o caminho ainda é longo.

 

 

Maciel fica um pouco assustado pois não sabia do que se tratava o pagamento. Ele pega sua mochila e retorna ao caminhão, enquanto Renato fecha a porta traseira. O motor do veículo ronrona novamente, sinalizando o recomeço da jornada em direção à fronteira.

 

 

CENA 07/ EXT/ PLANO GERAL

 

A cena começa com um foco detalhado no Elevador Lacerda, destacando seus cabos e plataformas de observação. Em seguida, a câmera se move para o Mercado Modelo, exibindo sua arquitetura e barracas coloridas de artesanato à medida que a noite cai. Depois, a CAM percorre a Ladeira da Barra, mostrando sua rua íngreme e as vistas espetaculares do oceano à medida que o céu escurece. A Casa do Rio Vermelho é revelada, com suas luzes destacando a beleza arquitetônica durante a noite. A cena termina com a fachada iluminada do Teatro Solar Boa Vista.

 

 

CENA 08/ EXT/ RUA/ EM FRENTE AO TEATRO/ NOITE

Cássia e Maurício saem do teatro, caminhando lado a lado. Ambos estão com um sorriso no rosto, animados pela peça que acabaram de assistir.

 

CÁSSIA

(animada)

- Ave Maria, achei tudo incrível, viu? O enredo, os atores, tudo estava perfeito! Cê acredita que essa é a primeira vez que vou ao teatro?

 

MAURÍCIO

(surpreso)

- Não acredito. Pois sempre que possível eu venho. Podemos combinar e vim outras vezes.

 

CÁSSIA

- Eu vou adorar.

 

Enquanto conversam, Cássia olha ao longe e ver Lucas beijando outra mulher. Seu rosto se transforma em uma expressão de choque e tristeza. Ela para bruscamente, deixando Maurício confuso e preocupado.

 

MAURÍCIO

- Que foi, Cássia?

 

CÁSSIA

(com voz embargada)

- É Lucas!

(uma lágrima escorreu em seu rosto)

- Ele tá com outra.

 

 

Maurício segue o olhar de Cássia e percebe a cena dolorosa. Lucas nota a presença de Cássia e Maurício e se afasta rapidamente da outra mulher. Ele se aproxima de Cássia, tentando se explicar.

 

 

LUCAS

(nervoso)

- Cássia, posso lhe explicar, viu? Aquela mulher... Ela não significa nada pra mim. Meu amor, tenha a gentileza de me ouvir.

 

CÁSSIA

(furiosa)

- Não quero ouvir nada, Lucas! Vamos facilitar as coisas, né? Sabemos bem o que aconteceu aqui. Cê me traiu, Lucas, é isso! Cê inventou que iria trabalhar pra poder sair com ela. O que mais cê tem a me dizer?

 

LUCAS

- Cássia, por favor! Meu amor, vamos conversar...

 

 

Lucas tenta agarrar o braço de Cássia, buscando uma reconciliação, mas ela se afasta, soluçando de tristeza e frustração.

 

CÁSSIA

(entre soluços)

- Vá embora, Lucas!

 

MULHER

(chamando)

- Lucas...!

 

Lucas olha para trás e depois retorna o olhar para Cássia.

 

 

CÁSSIA

- É melhor assim, Lucas. Acabou, não vamos insisti no que não vale mais a pena. Nossa relação já não fazia mais sentido.

 

 

Lucas olhou para Cássia com pesar e depois se afasta lentamente, deixando-a sozinha na rua. Maurício se aproxima, envolvendo-a com um abraço reconfortante.

 

 

MAURÍCIO

(suave)

- Tudo vai ficar bem. Tô aqui para o que precisar.

 

 

Cássia olha para Maurício, com seus olhos marejados, e lhe agradece com um sorriso.

 

CÁSSIA

(ainda com a voz embargada)

- Obrigada. É estranho, mas agora me sinto até mais leve. A minha história com Lucas já havia acabado, isso só serviu pra confirmar.

 

 

Os olhos de Maurício encontram os de Cássia, repletos de empatia. Em um gesto delicado, ele limpa uma lágrima que escorre pelo rosto dela.

 

 

MAURÍCIO

(com ternura)

- Às vezes, o fim é apenas o começo de algo melhor.

 

CÁSSIA

(olhando bem nos olhos de Maurício)

- Exatamente! E é o que quero, viver algo bem melhor.

 

 

Cássia se sente reconfortada pela presença de Maurício e, impulsionada pelo momento e pela vulnerabilidade compartilhada, ela se aproxima dele e seus lábios se encontram em um beijo suave, cheio de ternura.

 

 

CENA 09/ EXT/ FRONTEIRA/ NOITE

Há uma blitz policial na fronteira, com vários carros da polícia parando veículos para inspeção. O caminhão carregado com queijos se aproxima lentamente da blitz. Renato está visivelmente apreensivo, enquanto Maciel, esconde entre as caixas de queijo, fica cada vez mais nervoso. Os policiais se aproximam do caminhão, com suas lanternas brilhando na escuridão. Renato tenta disfarçar sua ansiedade enquanto a polícia se aproxima.

 

 

POLICIAL 1

(falando para Renato)

- Boa noite, senhor. Precisamos fazer uma inspeção de rotina nos veículos. Poderia abrir o caminhão, por favor?

 

RENATO

(nervoso)

- Claro. Mas é só queijos, não tem nada de errado aqui.

 

 

Renato desce do caminhão e tenta ganhar tempo, conversando com os policiais. Enquanto isso, Maciel se encolhe em seu esconderijo, sentindo a tensão aumentar a cada segundo.

 

 

POLICIAL 1

(insistindo)

- Precisamos verificar todos os veículos, senhor. Por favor, abra o caminhão imediatamente.

 

 

POLICIAL 2

- Vamos lá, rápido! Temos outros veículos para inspecionar.

 

 

Renato, percebendo que não poderia mais evitar, cede à pressão e abre as portas traseiras do caminhão. A luz das lanternas dos policiais iluminam o interior do veículo. Os policiais vasculham os queijos, movendo caixas e examinando cada uma delas. Até que, finalmente, eles alcançam o lugar onde Maciel está escondido.

 

 

POLICIAL 1

(gritando)

- Tem alguém aqui dentro! Saia agora, com as mãos para cima!

 

 

Maciel emerge de seu esconderijo, com o olhar derrotado e resignado. Ele levanta as mãos em rendição, sabendo que não há escapatória.

 

 

POLICIAL 2

(surpreso)

- Mas o que temos aqui?

 

 

Os policiais algemam Maciel, conduzindo-o para fora do caminhão. A expressão em seu rosto é uma mistura de tristeza e remorso. Renato também algemado olha para Maciel com um olhar de ódio.

 

 

CENA 10/ INT/ LOJA DE QUEIJO/ DEPÓSITO/ NOITE

Rato está ocupado organizando caixas e mercadorias quando seu telefone celular toca. Ele pega o telefone e seu rosto se transforma em preocupação ao reconhecer a voz de Maciel do outro lado da linha.

 

RATO

(preocupado)

- Fala, Maciel? O que aconteceu?

 

MACIEL

(OFF)

(nervoso)

- Rato, fui preso, cara! Preciso de sua ajuda, por favor! Seu Valdomiro é advogado, vê se ele não pode me tirar daqui.

 

 

Rato fecha os punhos, sentindo a raiva e a frustração crescerem dentro dele. Ele olha para o telefone, como se estivesse olhando diretamente para Maciel, apertando os dentes.

 

RATO

(irritado)

- Desgraça, Maciel! Cê é idiota, filho da puta?  Que cê tá fazendo? Falei pra não me procurar se a casa caísse. Cê não me conhece, desgraça. Te vira, assume o teu B.O.

 

MACIEL

(off)

- Rato pelo o amor de Deus, cê não pode me deixar sozinho nessa!

 

Rato rapidamente desliga o telefone e o guarda no bolso. Valdomiro, com uma expressão intimidadora, se aproxima, percebendo a tensão no rosto de Rato.

 

 

VALDOMIRO

(desconfiado)

- Diga aí, o que aconteceu?

 

 

Rato solta um suspiro pesado e olha para Valdomiro, seus olhos transmitem frustração e preocupação.

 

 

RATO

- Era Maciel. A polícia parou o caminhão em uma blitz. Maciel está preso.

 

 

Valdomiro observa Rato por um momento, analisa a situação. Ele dá um tapa forte na mesa próxima, fazendo Rato se assustar.

 

 

VALDOMIRO

(furioso)

- Foda-se o Maciel! Que ele queria lhe ligando?... Me dê seu telefone.

 

RATO

(sem entender)

- É o quê?

 

 

Valdomiro estende a mão, exigindo que Rato lhe entregasse o telefone.

 

 

VALDOMIRO

(firme)

- Me dê a porra desse telefone, man!

 

 

Rato hesita por um momento, mas finalmente cede, entregando o aparelho. Valdomiro rapidamente vasculha o depósito em busca de algo. Ele encontra um martelo de ferro próximo a uma prateleira e o pega.

 

 

RATO

(preocupado)

- Oxe, que tá fazendo?

 

 

Valdomiro coloca o celular em uma superfície e desfere um golpe forte com o martelo, quebrando-o em pedaços. O som de estilhaços ecooa pelo depósito, enquanto Rato observa a cena desesperado.

 

 

RATO

- Tá azuado? Meu telefone é novo, nem terminei de pagar ainda.

 

 

Valdomiro lança um olhar penetrante para Rato.

 

 

VALDOMIRO

(sério)

- Presta atenção, seu idiota! Aquele caminhão tava lotado de queijo recheado de drogas. Não vai demorar muito pra polícia conseguir lhe rastrear. Tá na hora de limpar a casa e fugir. A casa caiu não foi só pra Maciel, não. Vai sujar pra todo mundo.

 

 

Rato fica visivelmente abalado com as palavras de Valdomiro, seu corpo tenso enquanto tenta assimilar a gravidade da situação.

 

 

CENA 11/ INT/ DELEGACIA/ CELA/ NOITE

A cela é um ambiente sombrio e claustrofóbico, com paredes de concreto e grades de ferro. Maciel está sentado em um canto, o olhar perdido no chão frio e sujo, quando um bandido chamado Bill se aproxima dele, curioso e com um sorriso malicioso. Bill encara Maciel de cima abaixo, estudando-o atentamente.

 

 

BILL

- Carne nova! Dá ideia, o que tu fez pra vim parar aqui?

 

 

Maciel sente um nó se formar em sua garganta, sabendo que precisa manter seu segredo oculto a todo custo.

 

 

MACIEL

(nervoso)

- Eu... Eu tô de boa cara, só quero ficar aqui sozinho.

 

BILL

(sorrindo maliciosamente)

- Ele quer ficar sozinho!

 

 

Bill arqueia uma sobrancelha e continua encarando Maciel, como se pudesse ler seus pensamentos. Maciel sente um medo avassalador consumindo-o, mas tenta se manter firme.

 

 

BILL

- Desembucha, qual foi o artigo?

 

MACIEL

(evitando o olhar)

- Artigo trinta e três.

 

Bill sorri de maneira maliciosa, intensificando a sensação de desconforto em Maciel. Que teme que suas palavras não fossem suficientes para convencer o bandido.

 

 

BILL

(curioso)

- Tráfico? Olhe a história não bate, viu? Me disseram que cê foi pego dentro de um caminhão, lotado de queijo recheado de drogas. O que cê tava fazendo lá? Tava fugindo de quê? Diga aí!

 

O suor escorre pela testa de Maciel, seu coração bate acelerado. Ele olha ao redor da cela, temendo o que poderia acontecer caso seu segredo fosse descoberto.

 

MACIEL

(implorando)

- Por favor, man, não mexe comigo. Não sou ninguém importante, só quero cumprir minha pena e seguir em frente.

 

 

Bill se diverte com o desconforto de Maciel, mas decide deixá-lo em paz por enquanto.

 

BILL

(rindo)

- Tudo bem, tá certinho viu meu brother? Vou lhe deixar em paz... Por enquanto. Mas fique esperto, aqui dentro todos têm um passado. E se tu tá escondendo algo sério, mais cedo ou mais tarde alguém vai descobrir.

 

 

Bill se afasta, deixando Maciel em sua angústia e temor. Maciel se recolhe em seu canto, consciente de que seu segredo estava sempre à espreita, ameaçando ser revelado a qualquer momento.

 

CENA 12/ EXT/ PLANO GERAL

 

A cena apresenta uma sequência de paisagens de Salvador, incluindo a Praia do Porto da Barra, o Pelourinho, a Praia de Itapuã e a Baía de Todos os Santos, sob um céu ensolarado. Em seguida, um letreiro com a mensagem "Semanas depois" marca a passagem do tempo.

 

 

CENA 13/ INT/ OFICINA DO JORGE/ DIA

Roseno está concentrado trabalhando em um carro na oficina. O ambiente ao redor é repleto de ferramentas, peças e veículos em diferentes estágios de conserto. Jorge entra na oficina, acompanhado por Fátima, uma mulher desconhecida para Roseno. FÁTIMA, de 31 anos, ela tem a pele de tom escuro, cabelos negros e crespos trançados. Seus olhos são castanhos, e um sorriso cativante. Ela veste um vestido midi de tecido leve e fluido, com uma estampa delicada e cores suaves. O corte clássico do vestido se ajusta sutilmente às suas curvas. Um cinto fino marca sua cintura, definindo sua silhueta. Nos pés, ela usa um sapato de salto médio. Seus acessórios são refinados, com brincos pequenos e discretos, um colar delicado e uma pulseira fina.

 

 

JORGE

(sorrindo)

- Roseno, meu amigo! Deixe-me apresentar Fátima, minha namorada.

 

 

Roseno, surpreso, para o que está fazendo e olha para Jorge e Fátima.

 

 

ROSENO

(surpresa)

- Na... Namorada? Mas como assim? Oxente, pensei que...

 

JORGE

(interrompendo)

- Se pensou, pensou errado. Fátima é uma mulher incrível, ela sabe me entender, sabe me respeitar. A gente tá curtindo muito tá junto. Não é meu amor?

 

 

Fátima sorri docemente para Jorge, confirmando suas palavras.

 

FÁTIMA

(beijando Jorge)

- Com certeza, meu lindo!

 

JORGE

(animado)

- Viu? Eu sou o lindo dela!

 

 

Roseno tenta disfarçar sua surpresa, mas seus olhos mostram curiosidade.

 

 

ROSENO

(rindo sem graça)

- Legal!

 

 

Fátima se aproxima de Roseno, estendendo a mão para cumprimentá-lo.

 

 

FÁTIMA

(com simpatia)

- É um prazer lhe conhecer, viu Roseno? Jorge sempre fala muito bem de você.

 

 

Roseno aperta a mão de Fátima, tentando se recompor.

 

 

ROSENO

- Ah, sim, claro! É um prazer lhe conhecer também, Fátima, né? Jorge nunca tinha mencionado que tinha uma namorada... Mas fico feliz por cês.

 

 

Jorge sorri, orgulhoso, enquanto observa a interação entre Fátima e Roseno.

 

 

JORGE

(olhando para Roseno)

- Sei que pode ser uma surpresa pro cê, meu amigo, mas o coração tem seus próprios caminhos.

 

Fátima, com uma expressão envergonhada, interrompe a conversa.

 

 

FÁTIMA

- Meu amor, eu poderia usar o banheiro? Tô um pouco apertada.

 

JORGE

- Claro, lhe levo lá!

 

 

Jorge acompanha Fátima para o banheiro e dá uma olhada rápida para trás, sussurrando para Roseno.

 

 

JORGE

- Lá tem papel?

 

 

Roseno balança a cabeça, sinalizando que sim. Jorge acompanha Fátima até o banheiro e logo volta.

 

 

ROSENO

(ao ver Jorge se aproximando)

- Me sintoniza que tô perdido. Até ontem cê tava todo babão com Dra. Beatriz. Como assim, do nada cê me aparece namorando com outra mulher?

 

JORGE

- Ah, Beatriz! Beatriz quer ficar comigo e com a torcida do Flamengo e Corinthians juntas. Cê acha que vou ficar com uma mulher assim, “corrimão”, onde todo mundo passa a mão.

 

ROSENO

- Oxe! Mas cê também não sai por aí pegando geral?

 

JORGE

- É diferente, né, Roseno? Sou homem. Quer comparar? Fátima não, Fátima é só minha.

 

 

Jorge dá uma olhada rápida para o lado, verificando se Fátima não estava voltando.

 

 

JORGE

- Ela iria ser freira. Nunca tinha...

(fazendo gesto com a mão)

 - Cê sabe. Entendeu, né? O pae aqui foi quem ensinou. Aí já viu, né? A nega gamou.

 

ROSENO

(surpreso)

- É não, rapaz! Sério?

 

JORGE

- Tô lhe falando!

 

 

 

Nesse momento, um barulho de peido estrondoso ecooa pela oficina, interrompendo a conversa. Os dois se entreolham assustados.

 

 

ROSENO

(sério)

- Se entupir o vaso, já sabe. Cê que vai desentupir.

 

JORGE

(incrédulo)

- Vala me Deus, que essa mulher comeu?

 

 

Os dois não conseguem conter o riso diante da situação inesperada, e a atmosfera na oficina se torna mais descontraída.

 

 

CENA 14/ EXT/ CALABAR/ TARDE

Rato está em uma viela, empurrando um pacote de cocaína dentro da mochila que já está lotada. O ar pesado e tenso é cortado pelo som do helicóptero da polícia sobrevoando o morro. Ele olha para o alto, preocupado, ao mesmo instante em que outro traficante surge, subindo a escada ofegante.

 

 

TRAFICANTE

- Sujou, a polícia tá subindo! Se pequi, neguim!

 

 

Rato fica apreensivo, mas não perde o foco.

 

RATO

- Cadê seu Valdomiro?

 

TRAFICANTE

(ofegante)

- Quem sabe de seu Valdomiro? Ele já deu no pé, porra!

 

 

Ouvi-se tiros ecoando pela favela. Os dois bandidos descem correndo pela viela, serpenteando entre as casas, desviando de obstáculos com agilidade. O traficante sobe por outra viela, enquanto Rato segue reto. Porém, ao virar a esquina, dá de cara com um policial que prontamente aponta sua arma em sua direção.

 

POLICIAL

- Parado! Põe a mochila no chão e não tente nenhuma gracinha!

 

 

Rato arregala os olhos, aterrorizado, dá meia volta tentando fugir pela mesma viela de onde veio. Mas sua tentativa é interrompida por mais dois policiais que surgem trazendo o traficante que havia conseguido fugir. Sem escapatória, Rato coloca a mochila no chão e levanta os braços em rendição.

 

 

RATO

- Sou trabalhador, senhor!

 

POLICIAL

(irônico)

- Trabalhador? É o que veremos.

 

 

O policial examina a mochila de Rato e, ao encontrar o pacote de droga, troca um olhar significativo com seus companheiros.

 

 

POLICIAL

- Cê vai explicar direitinho sobre seu trabalho, lá na delegacia.

 

 

Rato, visivelmente abalado, é detido pelos policiais, que o conduzem pelos becos do Calabar, chamando a atenção dos moradores que observam a cena com curiosidade e certo alívio. Enquanto isso, Valdomiro, observa a operação de um ponto estratégico, percebe que sua chance de ser capturado era iminente. Aproveitando a confusão e com uma agilidade surpreendente, ele escapa entre as vielas estreitas e sinuosa, desaparecendo no labirinto urbano.

 

 

CENA 15/ INT/ CLINICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ DIA

Jana está concentrada digitando no computador quando, ao olhar para o lado, viu Cássia toda sorridente, com os olhos fixos no celular.

 

JANA

(curiosa)

- Que sorriso bobo é esse, viu algum passarinho verde, foi?

 

CÁSSIA

(mostrando o celular para Jana)

- Olhe só que fofo o torpedo que Maurício me enviou.

 

 

Jana esboça um sorriso de cumplicidade.

 

 

JANA

- Gente, tô boba. Então o lance entre cês tá ficando sério, hein?

 

CÁSSIA

(assentindo)

- Ai nega, acho que tô apaixonada. Estamos nos curtindo muito, sabe?

 

JANA

(sorrindo)

- Ah, que legal, Cássia! Fico feliz por cês. E sobre aquela questão, como cê tá lidando?

 

 

Cássia suspira, mostrando um pouco de hesitação.

 

 

CÁSSIA

- Bem, na verdade, ainda não transamos. Nossa relação tem sido mais sobre assistir filmes, ir ao teatro, trocar carícias, beijos, abraços... É como se me lembrasse da minha pré-adolescência, quando tive meu primeiro namorado.

 

Jana sorri, interessada na conversa.

 

JANA

(curiosa)

- E cê tá bem com isso? É algo que cê também tá confortável em esperar?

 

CÁSSIA

- Acredita que sim? Não que eu não sinta falta, entende? Sexo é muito bom, e em todas as minhas outras relações, era algo bastante focado. Mas mesmo assim, tô tranquila. Na verdade, acho admirável a forma como Maurício valoriza a conexão emocional em um relacionamento. Estamos nos conhecendo melhor, compartilhando momentos, confidências. Com ele, me sinto à vontade pra falar sobre coisas que nunca falei pra outros namorados. Acho que, quando colocamos muito o sexo em foco, esquecemos de dar valor a outras coisas na relação. Com Maurício, é diferente. Vivemos o nosso momento. Se o sexo acontecer, será no momento certo.

 

JANA

- Isso é maravilhoso, Cássia. Fico muito feliz em ver cês dois se dando bem assim.

 

CÁSSIA

(rindo)

- Quem diria, né?

 

JANA

- Pois não é! E Dra. Beatriz?

 

CÁSSIA

- Ele ainda gosta dela. Isso é notável, não precisa nem dizer. O simples fato de não ter acontecido nada entre a gente é uma resposta a isso. Sendo dimessexual, Maurício só se sentirá à vontade pra transar comigo quando estiver apaixonado. E essa paixão só acontecerá quando ele se desligar do que sente pela Dra. Beatriz. Mas sou paciente, eu espero.

Parte superior do formulário

 

 

CENA 16/ INT/ CASA DA RAVENA/ TARDE

 

Laura está sentada no sofá, assistindo TV quando Ravena vai abrir a porta ao ouvir a campainha. Ela volta acompanhada por Giovana, que entra na sala sorridente.

 

RAVENA

(sorrindo)

- Olhe só quem estava na porta.

 

 

Giovana acena animadamente para Laura.

 

 

GIOVANA

- Oi, oi! Como cês tão?

 

LAURA

(surpresa)

- Oi Gih, que surpresa agradável. Já é de casa, nem precisava tocar a campainha.

 

 

Giovana se aproximou de Laura, abraçando-a com carinho.

 

 

GIOVANA

- Passei na boutique, estava fechada. Então vim aqui ver vocês.

 

LAURA

- Que bom! Hoje decidimos não abrir e ficar em casa mesmo.

 

RAVENA

- Tô preparando um café. Cê vai querer?

 

GIOVANA

- Ah, quero sim! Adoro café, dispenso não.

 

RAVENA

- Ótimo! Vou lá passar o café, já volto.

 

Ravena se dirige à cozinha.

 

 

LAURA

- Que bom que veio. Sente-se, vamos conversar.

 

 

Giovana se senta no sofá, ao lado de Laura, e mostra um jornal para ela, visivelmente preocupada.

 

 

GIOVANA

- Laura, cê precisa ver isso... Não sei se cê já tá sabendo.

 

LAURA

- O quê é?

 

GIOVANA

- Maciel foi preso.

 

Laura olha para Giovana, surpresa e com uma mistura de emoções estampadas em seu rosto.

 

LAURA

- Deixa eu ver esse jornal.

 

 

Ela estende a mão para pegar o jornal que Giovana está segurando e começa a ler a notícia. Seu rosto demonstra uma mistura de choque e tristeza.

 

GIOVANA

- Graças a Deus, né, Laura? Depois de tudo o que esse homem fez.

 

LAURA

- Aqui tá falando que ele foi pego em uma blitz fugindo pra Venezuela.

(sem entender)

- Tráfico? Maciel foi preso acusado de tráfico. E as mulheres que ele abusou?

 

 

GIOVANA

- Ele também foi acusado disso, tá no final da notícia.

 

 

Laura olha para o jornal por mais alguns instantes, sentindo um nó na garganta. Ela fecha os olhos e respira fundo, tentando processar a revelação.

 

 

LAURA

(com a voz embargada)

- É tão difícil de acreditar... Eu nunca imaginei que ele pudesse fazer uma barbaridade dessas. Eu... eu me sinto tão confusa, tão traída. Eu estava cega. Como eu não enxergava isso?

 

 

Giovana acaricia as costas de Laura, tentando transmitir conforto e compreensão.

 

GIOVANA

(com compaixão)

- Lhe entendo, nega. Descobrir algo assim sobre alguém em quem confiávamos é sempre doloroso, né? Mas saiba que não é culpa sua. Cê não poderia ter previsto isso.

 

 

Laura olha para Giovana, seus olhos cheios de lágrimas.

 

 

LAURA

(com voz fraca)

- Poderia sim. Pior que tinha como prever, Giovana. Eu sempre soube que Maciel fazia coisa errada. Pequenos furtos, usuário de droga, sempre fugindo da polícia... O meu mal que sempre acreditei que ele pudesse mudar. O pior ainda, sempre acreditei que eu pudesse mudá-lo. Sonhava tanto em construir uma vida com ele.

 

GIOVANA

(com ternura)

- Sei como se sente, viu Laura? Mas a vida lhe deu uma nova oportunidade. Cê e a Ravena agora não tão juntas?

 

 

Nesse momento, Ravena retorna com a bandeja de café, interrompendo a conversa.

 

 

RAVENA

- Olha o café!

 

 

Ravena serve as xícaras de café, distribuindo para cada uma delas.

 

 

GIOVANA

- Que delicia!

 

RAVENA

- Ouvir a conversa de cês. Espero que esse cara apodreça atrás das grades.

 

LAURA

(jogando o jornal para o lado)

- Maciel é passado, não quero mais ficar falando sobre isso.

 

GIOVANA

- Isso mesmo, amiga!

 

RAVENA

- Cê já contou a novidade pra ela?

 

GIOVANA

- Que novidade? Me conte tudo, não me esconda nada.

 

LAURA

(passa a mão na barriga)

- A gente vai ter um filho.

 

Giovana coloca sua xícara de café na mesinha de centro e se aproxima de Laura, abraçando-a com carinho.

 

 

GIOVANA

- Mentira! Que máximo!

 

Giovana para por um instante, ainda emocionada, e depois fez uma pergunta curiosa.

 

 

GIOVANA

- Mas é filho de Maciel?

 

 

Ravena e Laura se entreolham rapidamente, preocupadas em manter o segredo.

 

 

RAVENA

- É nosso filho, meu e de Laura. A gente fez inseminação.

 

 

Giovana sorri, feliz com a notícia, sem suspeitar de nada.

 

 

GIOVANA

- Que tudo, gente! Tô muito feliz por cês duas.

 

 

CENA 17/ INT/ PRESIDIO/ CELA/ TARDE

Maciel está sentado em sua cela, visivelmente preocupado e tenso. O ambiente é sombrio e repleto de tensão, com outros detentos circulando pelas celas. Bill se aproxima de Maciel, olhando-o de maneira ameaçadora.

 

BILL

(encarando Maciel)

- Tráfico de drogas! Estava pensando... Sabe o que não faz sentido? Porque um traficante vai fugir no fundo de um caminhão lotado de drogas? Ou ele é muito burro, ou ele tá fugindo de algo mais sério.

 

 

Maciel engole em seco, seu rosto demonstra medo e ansiedade. Ele se levanta e se afasta um pouco de Bill.

 

 

MACIEL

(nervoso)

- Do que tu tá falando? Por favor, man, só quero ficar de boa no meu canto, viu?

 

 

 

O bandido sorri de forma maliciosa, aproximando-se ainda mais de Maciel.

 

 

BILL

(ameaçador)

- Sabe qualé o mal da cadeia? Que aqui a noticia corre, nada fica oculto... Jack!

 

 

Maciel olha assustado para Bill e recua, percebendo que está em perigo. Ele tenta se afastar, mas é imobilizado pelos outros detentos ao redor, que se unem à ameaça.

 

 

MACIEL

(com voz trêmula)

- Por favor, me soltem! Cês não entendem!

 

 

Maciel está imobilizado pelo os outros detentos e Bill em sua frente fuma um cigarro com um olhar ameaçador.

 

MACIEL

(chorando em pânico)

- Me soltem! Pelo o amor de Deus, que cês vão fazer comigo?

 

BILL
- Elas também imploraram quando tu estuprou elas, hein?

(baforando com a fumaça do cigarro na cara de Maciel)

- Hã? Diga aí! O que tu fez quando elas lhe imploraram?

 

MACIEL

- Eu tô arrependido, sou doente, cara! Não queria ter feito aquilo. Pelo o amor de Deus, não faz anda comigo não.

 

Bill se aproxima ainda mais de Maciel, encarando-o com um olhar ameaçador. Em um gesto de pura crueldade, segura o cigarro aceso em sua mão e o pressiona contra a testa de Maciel. Provocando-lhe um grito de dor, misturado com medo e desespero. Bill, retira o cigarro da testa de Maciel, deixando uma pequena ferida no local.

 

 

BILL

(ríspido)

- Tu acha mermo, que alguém aqui tá se importando com tuas desculpas? As suas palavras não vão apagar o que cê fez. Tu merece pagar pelo que fez com aquelas mulheres. E a gente vai cobrar na mesma moeda. Né mesmo minha gente?

(ordenando)

- Tirem a calça dele, hoje a gente vai se divertir meus amigos.

(com um sorriso sádico)

- Mas já digo logo, viu? Vou ser o primeiro, já tô ficando aqui daquele jeito.

 

MACIEL

(suplicando)

- Por favor, não faça isso! Não aguentarei... Oh véi, já me arrependi, juro pro cê!

 

 

Os outros detentos ignoram os apelos de Maciel e começam a arrancar suas calças enquanto o violenta. Bill avança rapidamente, segurando Maciel com violência e empurra-o contra a grade da cela.

 

 

BILL

(com ódio)

- Arrependimento? Isso não muda nada. Cê merece é sofrer, assim como elas sofreram.

(com ironia)

- Mas relaxa, cê vai é gostar, viu seu viado?

 

 

Bill com uma mão abaixa sua calça, enquanto com a outra pressiona o rosto de Maciel contra a grade. É visto apenas a expressão de horror no rosto de Maciel enquanto ele é violentado por Bill. Os demais detentos permanecem ao redor esperando a vez de reversar. Os gritos de Maciel ecoam pelo presídio, reforçando a gravidade e o drama da situação.

 

CENA 18/ EXT/ PLANO GERAL

A cena apresenta várias paisagens de Salvador, incluindo o Farol da Barra, a Praia do Flamengo, o Forte de São Marcelo e o Pelourinho, sob o brilho do sol. Em seguida, um letreiro com a inscrição "Quatro meses depois" indica uma passagem de tempo significativa.

 

 

CENA 19/ INT/ HOSPITAL/ SALA DE PARTO/ DIA

A sala de parto é iluminada, com equipamentos médicos ao redor. Jana está deitada na maca, com expressões de dor e esforço enquanto os médicos e enfermeiros se preparam para o parto. As mãos de Jana estão firmemente agarradas às grades da maca, seu rosto coberto de suor, revelando a intensidade da situação. O médico de plantão se aproxima, incentivando-a com palavras encorajadoras.

 

MÉDICO

(com voz calma)

- Vamos lá, Janaína. Cê tá fazendo um ótimo trabalho, viu? Respire fundo e continue empurrando.

 

JANA

(gritando, ofegante)

- Ahh!... Eu não sei se consigo mais...

 

MÉDICO

(encorajando)

- Cê está indo muito bem. Continue respirando fundo e empurre com todas suas forças. Cê está quase lá! Já coroou. Já consigo ver Maria.

 

JANA

(gritando emocionada)

- Minha Maria! Eu... eu consigo! Vamos, meu amor! A sua mainha lhe espera!

 

 

Jana fecha os olhos, concentrando-se em seu objetivo. Ela inspira profundamente e, com toda a força que lhe restava, empurra com determinação. Após mais alguns momentos de esforço, o choro de um recém-nascido preenche a sala. O médico segura o bebê, limpando-o e cortando o cordão umbilical. Jana está deitada, ofegante e emocionada. Seus olhos se enchem de lágrimas enquanto observa o médico trazer o bebê em direção a ela. O médico segura a pequena Maria nos braços e sorri, mostrando-a a Jana.

 

 

MÉDICO

(com alegria)

- Parabéns, mainha! Cê conseguiu, viu? Aqui tá sua linda Maria.

 

Jana olha para o bebê, exausta, mas com uma expressão de felicidade e amor. Lágrimas de emoção escorrem pelo seu rosto enquanto ela estende os braços para segurar Maria.

 

JANA

(sussurrando, com lágrimas nos olhos)

- Bem-vinda ao mundo, minha Maria.  Meu amor, finalmente cê está aqui. Eu esperei tanto por esse momento.

 

Maria, o recém-nascido, olha para Jana com os olhos curiosos, como se reconhecesse a voz da mãe. Um sorriso radiante se espalha no rosto de Jana, revelando uma felicidade genuína e indescritível. A vida de Jana finalmente se completa, depois de uma longa jornada de espera e desejo.











Postar um comentário

0 Comentários
* Please Don't Spam Here. All the Comments are Reviewed by Admin.