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LÁGRIMAS EM SILÊNCIO - Capítulo 18

 



Novela de Adélison Silva 

Personagens deste capítulo

JANA
LAURA
GIOVANA
GENIVALDO
ELIETE
PAULO
RAIMUNDA
RAVENA
MACIEL
RATO
CÁSSIA
PANDORA
BILL


Participação Especial:
POLICIAIS, DETENTOS, CARCEREIROS


CENA 01/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ DIA

Jana e Cássia estão atrás do balcão, aguardando a chegada de pacientes.

 

JANA

- Sabe, Cássia, depois que Maria nasceu, a nossa vida sexual meio que esfriou. É compreensível, né? Afinal, temos uma nova responsabilidade... Mas sinto tanta falta daqueles momentos a sós com Paulo, da intimidade que tínhamos antes. Entende?

 

Cássia ouve atentamente e pensa por um momento antes de sugerir algo.

 

CÁSSIA

- Oh, Jana, já pensou em fazer uma viagem a sós com Paulo? Sem Maria. Nem precisam ir pra longe, um fim de semana aqui por perto mesmo. Vocês poderiam aproveitar esse tempo pra se reconectar, reacender a chama da paixão.

 

JANA

(animada)

- Oxente, sabia que cê tá certa? Uma viagem a dois seria maravilhosa. Estamos precisando muito disso. Vou até pesquisar uns lugares, hotéis... Acho que Paulo vai gostar. Poxa, desde que a gente reatou nunca tivemos um momento só nosso, sem filho.

 

 

CÁSSIA

- Pois então, menina! Cês merecem esse momento juntos. E se precisar de alguém pra ficar com Maria, pode contar comigo.

 

JANA

(mandando beijo)

- Oh nega, cê é maravilhosa! Vou ver direitinho e vou falar com Paulo.

 

 

CENA 02/ EXT/ PRESIDIO/ PÁTIO/ TARDE

Maciel está no pátio do presídio, sozinho, quando Rato se aproxima.

 

RATO

- Fala pivete!

 

Maciel vira-se na direção de Rato e responde com um tom cauteloso.

 

MACIEL

- E aí, Rato!

 

RATO

- Tem um negócio bom aí pra tu.

 

Maciel franze a testa, intrigado.

 

MACIEL

- Que tipo de negócio, diga aí?

 

Rato olha ao redor, verificando se estão sendo observados, antes de se aproximar mais de Maciel.

 

RATO

- Se liga pivete! Tão armando uma fuga. Se tu não quiser apodrecer aqui, tem jogo.

 

MACIEL

(se interessando)

- Ah é!Dá ideia?

 

Rato começa a sussurrar, mantendo a conversa confidencial.

 

 

RATO

- Levei um lero com Bill pra tentar livrar seu lado. Inventei pra ele que cê tem uma grana escondida. Daquela grana que a gente lucrou nos esquemas do queijo. O Valdomiro acabou escapando com toda a grana, mas sua parte cê deu um jeito de esconder.

 

MACIEL

- Sei! Olhe aqui Rato, tu sabe que não tenho grana nenhuma, né?

 

RATO

- Sei bem disso, pangaré! Se liga! Foi a forma que encontrei pra eles facilitar pra gente. Tu confirma que tem grana escondida, não me deixa de caozeiro não. Depois que a gente cair pra fora, a gente dá um jeito de dá um perdido nele e ganhar o mundo. Tá sabendo?

 

Maciel respira fundo, sentindo a gravidade da situação. Ele está dividido entre a oportunidade de escapar e o medo das consequências.

 

MACIEL

(apreensivo)

- Rato, cê tem noção do que acabou de fazer? Bill é um assassino frio, mano véi. Ele não vai hesitar em nos matar se descobrir que mentimos pra ele.

 

RATO

- Quando ele descobrir, já vamo tá longe.

 

Maciel reflete por um momento, ponderando as opções. Ele sabe que está arriscando, mas também sente a urgência de fugir da prisão.

 

MACIEL

(respirando fundo)

- Está bem, Rato. Vamos fazer do seu jeito. Pode falar com Bill que tô dentro.

 

Rato sorri confiante, pronto para encarar o desafio que se aproxima.

 

RATO

- Tá certo, então!

 

Os dois se olham com determinação.

 

 

CENA 03/ EXT/ RUA/ PRAÇA/ TARDE

Raimunda caminha lado a lado com Eliete pela movimentada praça.

 

RAIMUNDA

- Tô tão angustiada, irmã Eliete. Sinto um vazio em meu coração, não sabe? Preciso ir lá ver minha filha, até hoje ainda não tive a oportunidade de conhecer minha neta. Acredita? Moisés me proibiu de ter qualquer contato com Laura.

 

Eliete caminha com passos firmes, mantendo sua postura rígida enquanto ouve Raimunda. Seus olhos transmitem convicção em cada palavra que proferia.

 

ELIETE

- Olhe irmã Raimunda, ouça pastor Moisés, pois ele é um homem sábio. Infelizmente, Laura escolheu a própria sorte. Eu mesma fui com Pastor Moisés atrás de Laura, a senhora sabe bem disso. Lembra também que Pastor Moisés a trouxe de volta para o rebanho, mas ela resolveu se desgarrar de novo. Precisamos lembrar que temos o livre arbítrio, irmã, e Laura optou pelo caminho mais largo.

 

Raimunda sente-se dividida entre o amor que nutre por sua filha e a fidelidade que tinha à sua religião.

 

RAIMUNDA

(com voz trêmula)

- Eu só queria poder tá com minha filha novamente, ajudá-la a cuidar de minha neta. Agora que ela se tornou mãe, talvez sua perspectiva tenha mudado. Seria o momento certo pra resgatá-la. Mas Moisés nem mesmo se interessou em conhecer sua própria neta.

 

ELIETE

(resoluta)

- Irmã Raimunda, a senhora tá se deixando enfraquecer pelo amor mundano, mas devemos lembrar de amar a Deus acima de todas as coisas. A criança que Laura gerou foi fruto de uma relação pecaminosa, ela não possui alma. Foi gerada pelo demônio, em um laboratório.

 

Raimunda sente-se atordoada, uma onda de choque percorre seu corpo diante das palavras de Eliete.

 

RAIMUNDA

- Meu Deus, irmã Eliete, isso não pode ser verdade!

 

ELIETE

- Duas mulheres são capazes de gerar um filho, irmã Raimunda? A filha de Laura foi fabricada em laboratório, por mãos humanas. Deus não se alegra com isso. Eu sei que é difícil e doloroso aceitar essa verdade, mas é a mais pura realidade. E para ser franca com a senhora, também tô preocupada com Giovana, viu? Até hoje ela não demonstrou interesse por nenhum homem. Tenho medo de que, influenciada por Laura, minha filha também escolha esse caminho desviado, e resolve virar sapatona.

 

As duas mulheres continuam caminhando pela praça.


 

 

CENA 04/ EXT/ PRESIDIO/ PÁTIO/ TARDE

Bill está reunido em uma roda com outros detentos, engajados em uma conversa intensa. Rato e Maciel se aproximam cautelosamente, mantendo certa distância do grupo. Rato fez um sinal discreto e Bill prontamente se aproxima, olhando-os com expressão séria.

 

RATO

- Maciel dá dentro, no esquema da fuga.

 

BILL

- Tá certo, tudo certinho... Fiquei sabendo que minha putinha tem uma grana escondida lá fora. Tô certo disso, ou nosso amigo Rato tá de caô.

 

Maciel respira fundo, visivelmente nervoso, e para por um momento antes de falar.

 

MACIEL

- Sim, tenho. Consegui moitar minha parte da primeira venda dos queijos.

 

Bill sorri maliciosamente, deixando claro o poder que exerce naquele ambiente.

 

BILL

- Aí sim, pae! Tá ligado que essa grana agora é toda minha, né? Caso contrário...

 

Bill faz um gesto de morte, passando o polegar pelo pescoço em um aviso silencioso.

 

RATO

- Vai dá certo, viu Bill? Já conversei com Maciel e ele vai lhe passar a grana.

 

MACIEL

- Pra sair desse inferno, topo qualquer negócio.

 

BILL

- Ótimo! Vou ali levar um lero com os companheiros, depois passo o que é pra fazer na hora. Falou?

 

Bill dá um sorriso cínico e se afasta lentamente dos dois.

 

 

CENA 05/ INT/ CASA DA RAVENA/ QUARTO DA PANDORA/ TARDE

Pandora está sentada no chão, brincando com suas bonecas. Ela segura uma boneca Barbie e um boneco Ken, fazendo-os se beijarem e planejando um casamento fictício.

 

PANDORA

- Cês dois vão se casar e vão ter um monte de filhinhos.

 

Ravena, se aproxima do quarto e observa a cena. Ela se posiciona ao lado da filha.

 

 

RAVENA

(carinhosa)

- Oi filha!

 

Pandora olha para Ravena e sorri.

 

 

PANDORA

- Oi mainha! Tô brincando. A Barbie e o Ken vão se casar, sabia?

 

RAVENA

- Tô vendo. Só que tem algo errado nessa sua brincadeira, viu Pandorinha? Barbie e Ken não vão se casar. Porque os homens não prestam meu amorzinho. Nenhum homem presta.

 

PANDORA

- Mas porque mainha?

 

RAVENA

- Porque fazem parte da natureza deles. Os homens são machos, e como todos os outros machos só querem usar as fêmeas. Mas cê ainda é muito novinha pra entender isso.

 

PANDORA

- Então não vai ter mais casamento?

 

RAVENA

- Vai sim. Mas Barbie vai casar é com Suzy. Ken vai ser o motorista das duas.

 

PANDORA

- Assim como cê e mainha Laura?

 

RAVENA

- Isso mesmo. É assim que tem que ser.

 

 

CENA 06/ EXT/ PRESIDIO/ PÁTIO/ TARDE

Maciel e Rato estão conversando, planejando a fuga, enquanto Bill anda de um lado para o outro, aparentando inquietude. Bill se aproxima discretamente de Rato, mostrando uma faca que está escondida em suas calças. Os dois cochicham, finalizando os detalhes do plano. Em seguida, Bill se aproxima de Maciel e o empurra, começando a forjar uma discussão.

 

MACIEL

(incrédulo)

- O que cê tá fazendo, Bill?

 

BILL

(fingindo irritação)

- Cala a boca, desgraça! Já tô cansado de cê, viu? Acabou pae, agora a conversa é outra. Tá sabendo?

 

Os carcereiros, alertados pela confusão, se aproximam rapidamente. Nesse momento, Bill aproveita a oportunidade e pega um dos carcereiros como refém, colocando a faca em seu pescoço. Rato grita para os outros detentos agirem, incitando uma rebelião.

 

RATO

(gritando)

- Peguem os outros carcereiros! Vamos mostrar quem manda nessa porra!

 

Há um tumulto no pátio, com os detentos se rebelando contra os carcereiros. Os policiais de plantão, armados, rapidamente chegam ao local, mas são surpreendidos pela situação caótica. Bill manté o carcereiro como refém.

 

BILL

(ameaçador)

- Joguem as armas e deitem no chão! Qualquer movimento em falso, ele morre!

 

Os policiais, percebendo a gravidade da situação, obedecem às ordens de Bill. Enquanto isso, outros detentos aproveitam o momento para render os demais policiais e tomar suas armas, aumentando ainda mais a tensão. Rato e Bill se movem em direção ao portão de saída, levando os policiais rendidos como reféns. Eles exigem que os portões fossem abertos para permitir a fuga. No entanto, os responsáveis pela segurança do presídio resistem em ceder.

 

BILL

(ameaçando)

- Tá ouvindo não desgraça? Abram esses portões agora, ou isso aqui vai virar uma verdadeira chacina!

 

Os carcereiros, temendo pelas suas vidas e a dos reféns, acabam cedendo à pressão e abrem os portões. Assim que os portões se abrem, os detentos fogem em meio a uma grande troca de tiros com os policiais. O cenário se torna caótico, com tiros ecoando por todo o pátio do presídio.

A cena termina com os detentos se dispersando e fugindo enquanto enfrentam os policiais em uma batalha frenética pela liberdade.

 

CENA 07/ INT/ CASA DA RAVENA/ QUARTO DO CASAL/ TARDE

Laura está arrumando algumas roupas no armário. Ravena entra no quarto e pega uma pasta com alguns documentos. O quarto do casal está iluminado pela suave luz da tarde. Laura está absorta em arrumar algumas roupas no armário, dobrando-as com cuidado e organizando-as. Nesse momento, Ravena entra no quarto, trajando uma blusa casual e jeans, segurando uma pasta em mãos. Ela caminha até a escrivaninha próxima ao armário, onde tem alguns documentos a serem guardados.

 

LAURA

(erguendo a cabeça)

- Deixou a boutique sozinha?

 

RAVENA

(recostando-se na escrivaninha)

- Rayane tá lá. Aquela garota que contratei. Vim aqui rápido só pegar um documento.

 

LAURA

- Oxente, mas que documento tão importante é esse?

 

RAVENA

- Nada demais não meu amor, apenas nota fiscal de umas coisas que comprei.

 

Laura fecha o armário e se volta para Ravena com um olhar questionador.

 

LAURA

- Hummm!... Estava brincando com Pandora e ela me falou que Barbie tem que se casar com Suzy e não com Ken. Ela disse que cê foi quem falou isso pra ela. O que cê quis com isso, Ravena?

 

Ravena para por um instante e dá uma olhada para Laura.

 

RAVENA

(defensiva)

- O que é, hein Laura? Apenas falei a verdade pra Pandora, de que os homens não prestam. É bom que ela aprenda isso desde cedo.

 

Laura suspira, preocupada com o impacto dessas ideias na mente da filha. Ela se aproxima de Ravena.

 

LAURA

- Meu amor, não é bem assim, né? Não é de hoje que vejo cê querendo influenciar Pandora. E se nossa filha for hétero e preferi os garotos? Pandora precisa ter a liberdade de escolher e viver sua sexualidade de forma natural. Não acha?

 

RAVENA

(decidida)

- Acho não, viu? Não vou permitir que Pandora se envolva com nenhum homem, Laura. Eles só trazem sofrimento e desilusões. Não quero que ela passe pelo que muitas mulheres passam nas mãos desses homens. Cê mesma é testemunha disso, né verdade?

 

LAURA

- Oxente Ravena, ó paí? Não podemos privar Pandora de suas escolhas. Ela precisa aprender e crescer por conta própria. E principalmente em relação sua sexualidade, viu?

 

RAVENA

(firme)

- Não é possível que cê ainda não aprendeu, Laura. Homem nenhum presta, põe isso na sua cabecinha.

 

LAURA

- Cê tá generalizando. Tem muito homem que presta, sim.

 

RAVENA

- Quem? Se painho, que saiu arrastando cê pelas ruas como se cê fosse uma propriedade, uma escrava dele? Ou aquele traste com quem cê convivia, que até lhe batia? Ou talvez aquele outro da igreja. Como é mesmo o nome? Kaleb. O que queria casar com cê à força. E então, Laura, qual desses cê vai dizer que presta?

 

A lembrança dessas situações dolorosas deixa Laura momentaneamente sem palavras.

 

RAVENA

- Oh minha linda, os homens são como animais, eles aprenderam desde cedo que são eles quem comandam. Minha filha não vai ser dominada por homem nenhum.

 

Ravena coloca o documento dentro da pasta com decisão e sai do quarto, deixando Laura com seus pensamentos e um sentimento de preocupação.

 

 

CENA 08/ EXT/ RUA/ TARDE

Caos e desespero preenchem o ar enquanto os presidiários correm pelas ruas em fuga. As sirenes da polícia soam ao longe, ecoando a aproximação das autoridades. O trio formado por Bill, Maciel e Rato conseguem manter-se à frente dos agentes, evitando serem recapturados. Enquanto avançam, alguns de seus companheiros de fuga são interceptados e levados de volta à prisão. Enquanto correm desesperadamente, avistam uma casa próxima, onde roupas estão penduradas em um varal. Sem pensar duas vezes, eles decidem roubar as roupas para se disfarçarem e se misturarem à população.

 

BILL

(apontando para a casa)

- Ó paí, ó, Vamo pegar essas roupas! Precisamos nos livrar desses fardamentos da penitenciária.

 

RATO

(acenando afirmativamente)

- É a chance da gente não chamar atenção. Bora rápido!

 

Os três correm até o varal e agarram as peças de roupa, abandonando seus uniformes laranjas de prisioneiros. Rapidamente, trocam suas vestimentas, cada movimento é urgente e cauteloso. Enquanto se afastam da casa, adentram um matagal próximo, buscando um esconderijo temporário.

 

 

RATO

(ofegante)

- A gente conseguiu despistar a polícia, mas é preciso ficar ligeiro. Nós ainda tamo na mira deles.

 

BILL

- Venha cá, véi! Cês tão esquecendo de nada, não?

 

RATO

- Qualé Bill, deixa a gente se arranjar primeiro, tá entendendo? O pivete aqui é pelo certo. A grana tá lá em Calabar, a gente vai lá pegar.

 

BILL

- Massa, tô confiando, né? Agora se tiver de migué já sabe né, pae?

 

Bill aponta a arma em direção à cabeça de Maciel, mostrando que não toleraria traição.

 

MACIEL

(nervoso)

- Ninguém aqui tá te enganando, não Bill!

 

BILL

(guardando a arma na cintura)

- Assim espero, viu pivete.

 

O som distante da sirene policial corta o ar, alertando-os sobre a proximidade do perigo.

 

BILL

- Agora bora dá um zig, que a polícia tá rondando.

 

Os três presidiários adentram mais profundamente no matagal, desaparecendo entre a vegetação, enquanto a polícia continuava sua busca nas ruas, inconsciente da fuga bem-sucedida de Bill, Maciel e Rato.

 

CENA 09/ EXT/ PLANO GERAL

A cena começa com uma densa mata tropical sob a luz da tarde, e a câmera se move suavemente revelando o bairro de Brotas ao lado do Dique do Tororó. À medida que o sol se põe, as luzes na área se acendem, criando uma transição mágica do dia para a noite

 

 

CENA 10/ INT/ CASA DA JANA/ QUARTO DO CASAL/ NOITE

Paulo entra no quarto do casal após colocar Maria para dormir. Ele está contente e se aproxima da cama onde Jana está sentada mexendo no notebook.

 

 

PAULO

(sorrindo)

- Nossa filha é incrível, né, Jana? Ela tá crescendo tão rápido!

 

JANA

(sorrindo)

- Sim, Maria é maravilhosa! Venha cá, senta aqui do meu lado. Tava aqui pensando, viu? Que cê acha da gente fazer uma viagem só nós dois? Vamos pra muito longe, não. Pode ser aqui no Morro de São Paulo, pertinho.

(empolgada)

- Lembra aquela vez que a gente foi? Foi perfeito. Que tal fazermos uma viagem como aquela?

 

PAULO

(pensativo)

- Uma viagem só nós dois? Bem, acho que seria legal fazer uma viagem em família, com Maria também, né? Ela iria adorar!

 

JANA

(insistindo)

- Paulo, cê não entendeu. Estava pensando em algo mais íntimo, só pra nós. Um momento pra gente namorar, entende? Maria ficaria bem com Giovana, ela adora passar tempo com a tia. E também se for o caso Cássia disse que poderia ficar com ela.

 

PAULO

- Ah, mas... Poxa, já fizemos tanta viagem só nós dois. Nunca fizemos nada assim com Maria. Agora temos uma filha, né? Tem que pensar que é sempre nós três.

 

JANA

(tentando convencer)

- Oxe, amo Maria, cê sabe bem disso. Não tô excluindo ela de nada não. Mas meu amor, também temos que cuidar de nosso relacionamento. Podemos planejar outra viagem em família depois. Mas desta vez eu queria que fosse só nós dois. A gente tá precisando né Paulo? Não podemos deixar nossa relação esfriar.

 

PAULO

(cedendo)

- Vá bem, Jana. Se isso é importante pro cê. Mas, quando voltarmos, vamos planejar algo especial pra toda a família, certo?

 

Jana sorri, feliz por ter convencido Paulo, e o abraça carinhosamente.

 

JANA

(emocionada)

- Mas Claro. Faremos muitas viagens nós três juntos.

 

Paulo retribui o abraço e beija Jana com carinho.

 

JANA

(mostrando no computador)

- Humm! Dê uma olhada aqui, vamos fazer a reserva na pousada.

 

 

CENA 11/ EXT/ MATAGAL/ NOITE

Maciel, Bill e Rato avançam com dificuldade pelo matagal, desgastados e suados. Finalmente, em um ponto isolado, decidem parar para conversar e recuperar o fôlego. O luar fraco e as sombras das árvores criam uma atmosfera tensa ao redor do trio.

 

BILL

(irritado)

- Pera aí! Vamo parar por quê? Quero a minha grana, não temos tempo a perder.

 

RATO

(nervoso)

- Te acalma, viu Bill? Não podemos dar bandeira. Já lhe falamo que a grana tá escondida na casa de Maciel. Mas é lá em Calabar, moço.

 

BILL

(alterando)

- Então vamo em Calabar, tá esperando o quê?

 

MACIEL

- Porra Bill, andamo muito, moço. Vamos dá uma aquietada, né?

 

RATO

- Também tô morrendo de cede, pivete. Temos que achar água.

 

Bill olha desconfiado para Maciel e Rato, sentindo-se pressionado pela demora. Ele se aproxima, encarando-os com um olhar penetrante.

 

BILL

- Tô sentindo que cês tão me enrolando. Pega a visão, que vou ficar na cola. Agora se confirmar que tô sendo passado pra trás, pode ter a certeza que queimo os dois.

 

Maciel e Rato trocam olhares preocupados, cientes das consequências graves caso algo desse errado. Maciel coça a cabeça, procurando as palavras certas para acalmar a situação.

 

MACIEL

- Fica frio, Bill. Nós dois não queremos confusão, certo? A grana tá lá, nós vamos lhe entregar, mas precisamos fazer tudo com calma, ou vai dar ruim.

 

RATO

(assentindo)

- É isso aí, pivete. A gente tá no mesmo barco, viu? Só precisamos agir com inteligência.

 

BILL

- Massa, tudo certo então. Mas não me testem. Quando chegar lá, quero tudo certinho, viu? Ou o bicho vai pegar.

 

Maciel e Rato concordam com a cabeça, conscientes de que qualquer deslize poderia ser fatal. A lua se esconde por trás das nuvens, tornando o ambiente ainda mais sombrio, mas os três sabem que precisam seguir em frente para alcançar o destino. Com um aceno de cabeça mútuo, eles se preparam para retomar a caminhada, unidos por um objetivo, mas cada um ciente de que um movimento errado poderia lhes custar caro.

 

 

CENA 12/ INT/ CASA DOS FERNADES/ QUARTO DA GIOVANA/ NOITE

Genivaldo entra no quarto de Giovana, que está concentrada em seus estudos. Ele se aproxima, com uma expressão preocupada, mas carinhosa ao mesmo tempo.

 

GENIVALDO

- E aí, minha linda!

 

GIOVANA

- Oi painho!

 

GENIVALDO

- Como sempre concentrada nos estudos, né?

 

GIOVANA

- Essa semana vai ter prova na faculdade. Tem que tirar boas notas.

 

GENIVALDO

- Tenho muito orgulho de cê, viu meu amor? Filha, queria conversar com cê um instante.

 

Giovana ergue o olhar para o pai, percebendo sua expressão séria, e coloca seu material de estudo de lado, demonstrando interesse na conversa.

 

GIOVANA

(claramente curiosa)

- Que foi, meu pai? Aconteceu alguma coisa?

 

Genivaldo senta-se ao lado de Giovana, buscando as palavras certas.

 

GENIVALDO

- Bem, filha, eu queria falar com cê sobre algo importante. Sua mãe veio conversar comigo, sobre um assunto que me deixou um pouco curioso... Ela insinuou que cê pudesse gostar de meninas, por esse motivo nunca nos apresentou nenhum rapaz.

 

GIOVANA

- Minha mãe, sempre minha mãe. Mania que tem de ser meter na vida dos outros, né?

 

GENIVALDO

- Desculpe meu amor, não quero ser invasivo. Se não quiser responder, vou lhe entender.

 

GIOVANA

- Seria algum problema pro Senhor se eu gostasse de meninas?

 

GENIVALDO

- Não, claro que não. Só quero que cê seja feliz, né?

 

Giovana olha para o pai, um tanto surpresa, mas também compreensiva.

 

GIOVANA

- Olhe meu pai, não sei ao certo sobre minha sexualidade. Nunca senti atração por ninguém, não importa o gênero. Acho que sou diferente. Entende?

 

 

GENIVALDO

(com carinho)

- Giovana, ser diferente não é algo ruim. Tem muita coisa que não compreendo, tem certas coisas que sou muito arcaico. Mas uma coisa já compreendi, a sexualidade é algo muito individual. Não se pressione pra se encaixar em rótulos, apenas seja cê mesma e se permita explorar seus sentimentos.

 

GIOVANA

(orgulhosa)

- Oh painho! Cê é o melhor pai do mundo, viu? É reconfortante saber que posso contar com senhor.

 

GENIVALDO

(abraçando Giovana)

- Cê sempre terá meu amor e apoio, independentemente de quem cê seja ou quem cê ame. Vou tá aqui sempre pra você, minha linda.

 

A cena termina com pai e filha abraçados.

 

 

CENA 13/ EXT/ CALABAR/ SALVADOR/ NOITE

Os três bandidos, Bill, Rato e Maciel, correm em silêncio pelas ruas de Salvador, seguindo por becos escuros e ruas secundárias para evitar chamar a atenção. Estão exaustos e ofegantes, mas a urgência do momento os impulsiona a continuar. Chegam finalmente a um beco estreito em Calabar.

 

RATO

(recuperando o fôlego)

- Calma aí Bill, já tô cansado negão. Vamos com calma, né?

 

MACIEL

- E também não podemos dá bandeira, né mesmo? A policia pode tá rondando por aqui.

 

BILL

(impaciente)

- Qualé de cês? Diga lá? Agora que tamos perto cês tão querendo afrouxar? Diga aí, Maciel, ondé tua casa?

 

RATO

- Pô negão, já lhe falei que o pivete aqui é pelo o certo...

 

Bill se irrita com a falta de informações precisas e aponta a arma para Rato, pressionando-o.

 

BILL

- Cala tua boca, pois já tô sentindo que cês tão me enrolando!

 

MACIEL

(assustado)

- Pera aí, Bill, fica frio! Vamo subir a escada aqui pelo o beco, a gente já sai lá em cima, e corta direto pra minha casa.

 

BILL

- Tá certo, então. Puxa a fila Rato.

 

Rato sobe a escada na frente, Bill no meio com a arma encostada na costela de Rato e Maciel subindo atrás de Bill. No beco escuro, a noite esconde os contornos dos prédios e o som dos passos ecoa de forma discreta. Bill e Rato caminham juntos, Rato na frente e Bill com a arma apontada para ele. Porém, desatentos, em um determinado ponto da escada, Maciel pula para outro beco. Ao olhar para trás Bill percebe que Maciel escapou.

 

BILL

(irritado)

- Olha aí a desgraça, que porra véi!

 

Bill rapidamente agarra Rato pelo pescoço, pressionando-o com força e mantendo a arma apontada para sua cabeça.

 

RATO

- Calma aí negão, tenho nada a ver com isso não,viu?

 

BILL

- Pelo o certo, né mesmo? Bora subir que tu vai me levar até a casa desse otário.

 

RATO

- Te levo lá meu brother, mas baixa essa arma pelo o amor de Deus.

 

BILL

(firme)

- Daqui ela só sai se eu apertar o gatilho. Acho bom cê ficar na miúda, tá me entendendo?

 

RATO

- Tá certo, tá certo, pae! Mas te acalma, viu Bill?

 

Rato, pressionado por Bill, guia o caminho até a casa de Maciel. A tensão é palpável no ar, enquanto eles continuam a trajetória pelas ruas escuras de Calabar.

 

CORTA PARA:

CENA 14/ EXT/ CALABAR/ NOITE

Maciel, com os olhos arregalados e o coração acelerado, desce rapidamente por uma rua escura e estreita no bairro Calabar, iluminada apenas pela luz tênue dos postes. A CAM mostra o Cemitério Campo Santo à distância, com suas lápides iluminadas pela luz fraca das lanternas. De repente, uma viatura da polícia se aproxima da esquina da rua, suas sirenes silenciosas aumentando a tensão. Maciel, em pânico, põe o capuz da jaqueta e se esconde disfarçadamente atrás de um velho muro de tijolos, sua respiração ofegante. Corta para um close em seu rosto tenso. Ele engole em seco, sabendo que precisa agir com cuidado para não ser visto.

A CAM volta para mostrar a viatura passando pela rua, seus faróis iluminando o caminho, enquanto Maciel permanece imóvel, com a mão na cintura. Corta para um plano detalhe da mão de Maciel revelando a arma, brilhando sob a luz fraca da rua. Um ângulo aéreo mostra o bairro Calabar à noite, com suas casas humildes e vielas escuras, enquanto a adrenalina corre nas veias de Maciel.

Maciel toma uma decisão rápida e, com passos silenciosos e precisos, se afasta do muro, procurando um lugar seguro para se esconder. A CAM acompanha cada movimento furtivo de Maciel, mostrando sua agilidade e destreza. Ele finalmente encontra um beco escuro que leva ao interior do Cemitério Campo Santo e se afasta da rua, desaparecendo nas sombras do cemitério, onde o silêncio é quebrado apenas pelo farfalhar das folhas e o som distante de corujas.Parte superior do formulário

 


CENA 15/ EXT/ CASA DO MACIEL/ NOITE

A CAM posicionada do lado de dentro foca na porta da casa sendo violentamente arrombada. A porta é forçada e finalmente cede, permitindo a entrada de Bill e Rato. Bill entra na casa, visivelmente furioso, mantendo sua arma apontada diretamente para Rato, que está claramente amedrontado. 

 

BILL

(irritado)

- Vasculhe cada canto dessa casa, viu Rato? Até encontrar o maldito dinheiro. Senão lhe queimo aqui mesmo, será só mais um pra minha conta.

 

Rato engole em seco, suando frio diante da ameaça de Bill. Ele tenta inventar uma desculpa, buscando uma maneira de sair daquela situação perigosa.

 

RATO

(gaguejando)

- Oh negão, juro que... Pô, Bill! Não sei onde o dinheiro tá não, véi. Talvez Maciel tenha escondido em outro lugar, eu... é... Ele não me falou nada donde o dinheiro tá...

 

Mas Bill, furioso e convencido de que está sendo enganado, não aceita as palavras de Rato como verdade. Seu rosto se contorce em raiva e ele aponta a arma diretamente no rosto de Rato, aumentando a tensão da cena.

 

BILL

(furioso)

- Tu acha mesmo que tô comprando essa ideia, desgraça? Cê tá de baratino pra cima de mim, e tô sabendo. Te liga, pivete. Se tu não encontrar essa grana agora mesmo, lhe transformo em peneira, lhe deixo todo furadinho. Tá me entendendo?

 

Rato, acuado, se ajoelha pedindo clemência, suas mãos tremendo de medo.

 

RATO

- Calma aí, pae, também não é assim. Vou dá a real, tem dinheiro nenhum não, viu? Maciel inventou essa história e eu embarquei na dele...

 

BILL

(franzindo a testa)

- Porque será que não tô surpreso?

 

RATO

- O pivete tava desesperado, Bill. Ele sabia que cê não iria incluir ele na fuga. Só quis ajudar.

 

BILL

- Com o arrombado do Maciel, me entendo depois. O negócio aqui agora é contigo, né mesmo? Se não tem grana, não vejo utilidade nenhuma pro cê.

 

Rato arregala os olhos, suando e respirando frio.

 

RATO

- Pera aí, faz isso não moço. Tamo junto nessa!

 

Bill, sem hesitar, dispara sua arma contra Rato, que cai no chão, sem vida. O som do disparo ecoa pela periferia, misturando-se com o silêncio da noite. Bill olha para o corpo inerte de Rato, com raiva em seu olhar.

 

CENA 16/ INT/ PRÉDIO ABANDONADO/ NOITE

Maciel entra sorrateiramente no pequeno prédio abandonado, cujas paredes estão marcadas pelo tempo e as janelas quebradas permitem que a fraca luz da lua penetre no ambiente sombrio. Com um último olhar apreensivo para trás, Maciel adentra o lugar deserto, pisando cuidadosamente para evitar fazer barulho. Ele se esconde nos cantos escuros e empoeirados do local, utilizando a escuridão a seu favor. O vento sopra pelos vãos das paredes do prédio, criando uma atmosfera inquietante.

 

MACIEL

(falando consigo mesmo)

- Não dá pra continuar fugindo, preciso encontrar um lugar seguro pra ficar. Oh meu Senhor do Bonfim, que faço agora, hein? Sem dinheiro não vou longe.

 

Maciel senta-se em um canto. Ele passa a mão pela cabeça em um gesto de nervosismo, buscando soluções para sua difícil situação.

 

MACIEL

- Se eu voltar pra Calabar, Bill me pega. Se eu ficar vacilando pelas ruas, a polícia me cata.

 

Ouvindo atentamente os ruídos ao seu redor, Maciel pensa por um instante, sua mente trabalhando freneticamente em busca de uma saída.

 

MACIEL

(recordando)

- Laura... Preciso encontrar Laura... Só ela pode me ajudar agora. Acho que sei onde é a casa da sapatona que ela tá morando.

 

Um brilho de esperança surge nos olhos de Maciel enquanto ele lembra do endereço da casa de Laura. Ele se levanta com determinação, percebendo que essa pode ser sua única chance de se salvar.






 

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