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O PREÇO A SE PAGAR - 2° CAPÍTULO

 





Cena 01/Posto de saúde/Consultório Rebeca/Int/Dia

Continuação da última cena do capítulo anterior. Rebeca e Mary. 


Mary — Acertei? 

Rebeca concorda com a cabeça.

Rebeca — Foi ele quem me deu essa poema... (T) Só queria entender porque não ficamos juntos. Uma explicação pra Deus ter sido tão cruel com nós dois, fazendo o que fez. Nos afastando dessa forma tão definitiva. 

Mary — Um padre não pode se apaixonar. Faz os votos pra se livrar de qualquer tentação e oportunidade de cometer o pecado original. 

Rebeca — Tem vezes que eu me pego, pensando, em como seria nossa vida se o maldito do pai dele não o tivesse obrigado a ir pro seminário e ter virado padre. 

Mary — Eu sempre penso assim, Rebeca: tudo acontece, porque tinha que acontecer.

Rebeca — Não é a primeira pessoa que me fala isso. 


Insert da cena 08, do capítulo 01. 

Narcisa — (voz) Escute o que vou te dizer agora: tudo só acontece, porque tinha que acontecer. Tudo na vida já está escrito e se for pra você e o Pedro ficarem juntos, isso, em algum momento da vida de vocês vai acontecer!

Fim do insert.


Mary — Aposto que foi do padre Januário que ouviu isso. Acertei?

Rebeca — Não. Foi da Narcisa. A governanta da casa do Rufino. (T) Ela me disse isso no dia em que o Pedro foi embora e nunca mais nos vimos. 

Mary — O que você faria se ele aparecesse na sua frente, agora, nesse momento? 

Rebeca — Que pergunta mais besta, mulher. Sei lá... acho que... não, não sei o que faria. 

Mary — Sabe, só não quer me dizer. 

Rebeca levanta, ajeita seu jaleco. 

Rebeca — O papo está muito bom, mas vamos trabalhar?

Mary — Coitada da dona Cotinha. Deve estar cansada de ficar te esperando já. 

Rebeca — Manda ela entrar então. Não quero fazer uma senhora tão boazinha, que faz um delicioso bolo de laranja, ficar esperando mais. 

Mary — É pra já! 


Mary vai buscar a paciente. 


Rebeca — Vamos trabalhar, Rebeca. Trabalhar muito, como você vem fazendo durante todos esses anos pra tentar esquecer o Pedro... 


Dona Cotinha entra, ajuda por Mary. Rebeca lhe recebe e as duas começam a conversar, já sem áudio. 


Cena 02/Igreja/Int/Dia

Pedro e Januário estão sentados no banco.  


Januário — Trouxe geleia de jabuticaba, das que eu faço, como você tanto gosta. 

Pedro — Que delícia, padre Januário. Desde pequeno vivia me lambuzando com potes e mais potes que comia. 

Januário — Precisava ter essa conversar com você, Pedro. No caminho pra cá vim pensando nas palavras certas pra te dizer. 

Pedro — Aconteceu alguma coisa com meu pai? Com alguém da cidade? 

Januário — Não. Estão todos bem. (T) Meu assunto é sobre você!


Pedro reage. 


Pedro — O senhor está me deixando preocupado com esse suspense...

Januário — A ordenação de você e dos outros seminaristas será amanhã. E eu quero saber de você se sente-se preparado pra essa etapa da sua vida que está por vir. 

Pedro — Não estou entendendo onde o senhor quer chegar com essa conversa.

Januário — Quero saber se ser padre é o que você quer pra sua vida, Pedro. (t) Eu sei de sua história, sei que o Rufino quem te trouxe pra cá, não por sua vontade própria, mas sim por imposição dele. E eu tenho um carinho particular com você e me preocupe, em saber se é esse mesmo o caminho que você deseja pra sua vida. Você sabe que um novo Pedro vai renascer a partir de amanhã. E tudo o que aconteceu no passado, vai ficar no passado. 

Pedro — Eu demorei muito a entender e aceitar essa imposição que meu pai colocou na minha vida. Mas ele me fez ver que era esse o meu caminho. A santidade é algo que em mim brotou como a semente de uma planta. Que nasceu, cresceu e floresceu.

Januário — Só espero que seu caminho seja esse mesmo, Pedro. E que não se arrependa da sua decisão. 

Pedro — Eu agradeço pela preocupação que o senhor tem comigo. O senhor vai vir pra minha ordenação, não vem?

Januário — É claro que sim, Pedro. Faço questão de estar aqui presente nesse momento tão importante pra você. (T) Mas antes de ir embora, quero te perguntar uma última coisa. 

Pedro — O que foi? 

Januário — Rebeca. O que ela ainda representa pra você?


Pedro levanta e vai até o altar e observa a imagem. 


Pedro — Um passado. (T) Foi bonito o que aconteceu entre nós dois. Mas não era pra ser. Nosso destino não era ficarmos juntos, como queríamos. E hoje tenho um grande carinho por ela. Carinho esse que vou levar pro resto da minha vida. 

Januário — É isso que se passa no seu coração, Pedro? 


Pedro concorda. Januário levante e dá um leve toque no ombro de Pedro, confortando-o. 


Januário — É o que eu espero, Pedro. E lembre-se, se você está mentindo, não é pra mim que está fazendo isso. Mas sim pra Deus, nosso Senhor, que tudo sabe e tudo vê. Pense nisso! 


Januário saí. Pedro sente o peso da mentira que acabou de dizer. Volta seu olhar pro altar e sente-se muito envergonhado e ajoelha. Começa a chorar copiosamente. Estende o braço, abaixa seus olhos e fala: 


Pedro — Perdão... perdão! 


Cena 03/Seminário/Pátio/Int/Dia

Januário conversa com um dos padres, quando vê Pedro passando, caminhando apressado, de cabeça baixa e fica preocupado. 


Cena 04/Seminário/Cela de Pedro/Int/Dia

Pedro pega uma foto de Rebeca, ainda adolescente, e passa a mão na imagem, como se estivesse tocando em seu rosto. 


Pedro — Não posso mais continuar com isso... 


Pedro caminha até o pequeno e simplório altar, onde tem uma imagem de São Francisco e aproxima a foto da vela, que está acesa. A foto começa a pegar foto. Pedro deixa o fogo consumir a foto, dentro de um vaso e fica ali observando.


 Corta para

 Pedro sem camisa, em frente ao espelho. Pedro pega um pequeno chicote de açoite, que está em cima da cama. Nas suas costas é possível ver cicatrizes, dos ferimentos que ele provocou. Pedro olha pra imagem de São Francisco. 


Pedro — Eu pequei em ato e pensamento e preciso me purificar... 


Pedro se prepara para usar o chicote. Respira fundo. Lágrimas começam a rolar pelo seu rosto, que está fixo na imagem do santo no altar. 


Cena 05/Seminário/Corredor das celas/Int/Dia

Januário vem caminhando, até chegar na cela de Pedro. Ele para e fica ali escutando os gritos abafados de Pedro, no momento em que usa o chicote. Januário fica visivelmente incomodado e triste, diante do que está acontecendo. Ameaça bater na porta, querendo pôr um fim naquilo, mas desiste e vai embora. 


Cena 06/Seminário/Igreja/Int/Dia

Januário está ajoelhado em frente ao altar, de cabeça posta, concentrado, rezando. Até que eleva seu olhar pro altar. 


Januário  — (voz) Ajude o Pedro nesse momento tão confuso em sua vida. Faça com que amanhã ele escolha seu caminho com consciência de que sua atitude será sem volta.


Cena 07/Consultório Rebeca/Int/Dia

Rebeca acaba de atender um paciente. Leva-o até a porta e senta-se de volta em sua cadeira, quando tem uma sensação estranha. 


Rebeca — Pedro! 






Cena 08/Jandaia/Posto de Saúde/Frente/Ext/Dia

Rebeca acaba de sair do posto. Olha pro céu, ainda incomodada com sensação que teve. Mary aproxima-se dela.


Mary — O que foi, Rebeca? 

Rebeca — Um aperto, uma sensação estranha. Precisava respirar ar puro...

Mary — Vou almoçar... 

Mary segue seu caminho.

Rebeca — Alguma coisa aconteceu com o Pedro. 


Rebeca olha pra casa de Rufino, pega a chave do seu carro no jaleco, entra nele e segue pra lá. 


Cena 09/Prefeitura de Jandaia/Frente/Ext/Dia

Corta para:


Cena 10/Prefeitura/Gabinete de Rufino/Int/Dia

Rufino está assinando alguns papeis, que Zinha lhe dá. 


Zinha — Só mais esse e pronto.

Rufino — Cancele tudo o que tenho pra hoje e amanhã. 

Zinha — Sim senhor. 

Rufino — Vou viajar hoje mesmo, pra ver a ordenação do meu Pedro, amanhã. 

Zinha — Posso imaginar a emoção do senhor. Ter um filho padre é o que todo pai cristão, temente a Deus, sonha em ter. 

Rufino — É sim, dona Zinha, a realização de um sonho. Um sonho adormecido, mas que finalmente vai se cumprir amanhã. 

Zinha — Manda minhas felicidades pro Pedro e fala pra ele voltar logo. (SAINDO) Com licença. 

Rufino — E isso vai acontecer logo. A volta do meu filho, em uma ocasião muito especial. 


Cena 11/Jandaia/Igreja/Int/Dia

Rufino está sentado no banco, olhando pro altar. Licurgo, de algum ponto da igreja, observa Rufino. 


Rufino — (voz) Amanhã é o grande dia. A consagração do meu filho, que finalmente vai se tornar padre. Realizando meu grande sonho. Um sonho que cultivei, desde que passei a entender que era essa minha vocação, minha realização. Mas que por culpa daquela pecadora, devassa, acabou não se concretizando. Mas o Senhor me deu a oportunidade de fazer com que meu filho, carne da minha carne, sangue do meu sangue, que foi concebido através do pecado, fosse purificado. Que ele ocupasse o lugar que o Senhor reservou pra mim, como seu sacerdote. E em breve, Pedro vai se tornar o novo padre dessa cidade, cheia de pecadores, que merecem conhecer um padre de verdade, que não seja complacente com tanta coisa imoral e fora dos bons costumes que vem acontecendo. Só assim Jandaia será uma cidade de fies que vão conseguir reservar seus lugares no céu, assim como eu já tenho o meu. 


Rufino se benze, levanta e vai embora. Licurgo saí de onde ele estava e vai até a porta. 


Cena 12/Jandaia/Igreje/Frente/Ext/Dia

Licurgo fica observando Rufino entrar no carro, cuja porta foi Jofre quem abriu, fechando-a em seguida e partindo. 


Licurgo — Não gosto dele... não gosto! 


Cena 13/Jandaia/Centro/Ext/Dia

Jofre conduz o carro de Rufino, quando Vladimir aparece na frente, inesperadamente. Jofre freia bruscamente. 


Jofre — Seu louco! 

Rufino — Toca logo essa carro. É só não dá confiança pra esse louco, que devia está internado num hospício. 

Jofre — Deve tá nas crises dele. 


Vladimir caminha em direção a janela de Rufino e fica-o encarando.


Rufino — (bravo)Que foi? Perdeu alguma coisa aqui? 

Vladimir — (dispara) Você é ruim. É um homem ruim. Tem pacto com o capeta, com o coisa ruim. Você é irmão dele, eu sei disso... Vai arder no inferno, queimar no caldeirão. Pagar por tudo o que fez e por tudo o que vai fazer ainda... 

Rufino — Vai se tratar, seu louco. Sou um homem de Deus, ao contrário de você, que fica desse jeito, por não ter Nosso Senhor em seu coração. 


Rufino fecha o vidro. Vladimir continua gesticulando, falando, sem áudio. 


Rufino — (p/motorista) Vamos embora. E se ele entrar na frente de novo, passa por cima. 


Jofre liga o carro e eles vão embora. 


Cena 14/Casa Rufino/Sala/Int/Dia

Narcisa acaba de abrir a porta. É Rebeca. 


Narcisa — (surpresa) Rebeca? O que você está fazendo aqui? (preocupada) O seu Rufino pode chegar a qualquer momento, pro almoço. 

Rebeca — Eu vim pra... pra perguntar sobre... o Pedro!

Narcisa — Depois de todo esse tempo, Rebeca?

Rebeca — A senhora mais do que ninguém sabe que não consegui esquecer o Pedro. 

Narcisa — Mas você vai se casar com o Jeferson. E tudo o que aconteceu com o Pedro era página virada na sua vida? 

Rebeca — Um amor de verdade. Profundo e intenso não se esquece assim, Narcisa. Pode passar o tempo que for, que não apaga o que aconteceu.

Narcisa — Amanhã é o dia da ordenação do Pedro. Ele vai se tornar padre, como o pai dele quis. E tanto fez que consegui. 

Rebeca — Mas não era ser padre o que o Pedro queria. 

Rufino aparece por trás de Rebeca. 

Rufino — E como você sabe disso, garota petulante? 


FIM DO CAPÍTULO 02







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