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O PREÇO A SE PAGAR - Capítulo 14

 



Cena 01/Casa Rufino/Escritório/Int/Dia

Continuação da cena 09- cap 13.


 Rufino conversa com o Arcebispo. 


Rufino - (tel.) O que o senhor me responde?... Não estaria ocupando seu tempo se não soubesse da influência que o senhor tem sobre a cúria, que vai escolher e decidir o nome do novo padre que vai assumir a igreja de Jandaia. Mas uma coisa eu posso garantir pro senhor: padre Januário ficaria muito satisfeito se meu filho, quem ele batizou, fez a primeira comunhão, viu crescer e se tornar padre, ficasse no seu lugar! 

Arcebispo - (tel.)  O falecido Januário tinha me dito que o senhor é um prefeito muito ativo nas causas da igreja, em prol dos necessitados. Generoso, que contribuiu sem pensar duas vezes. 


Cena 02/Casa Rufino/Sótão/Int/Dia

Eva continua rezando, concentrada. 


Eva - (voz) Me perdoa, padre Januário... eu podia ter evitado sua morte, se eu tivesse coragem de enfrentar o Rufino. Evitando assim tantas dores, tragédias... O senhor merecia mais do que eu estar vivo, já que vai fazer falta pra muita gente. Ao contrário de mim! 


Cena 03/Igreja/Int/Dia

 Zinha está perto do caixão, se acabando de chorar, fazendo maior escândalo, chamando atenção de todos. 


Zinha - O que será dessa cidade sem padre Januário. Sem o nosso pastor, pra nos conduzir, guiar, em direção ao céu. Livre do pecado, da tentação que nos ronda a todo momento...


Zinha apoia sua cabeça no corpo de Januário, balançando o caixão, de uma forma cômica, nesse momento triste. Todos ficam muito apreensivos. 


Zinha - Por que, meu Deus?! Por quê?! 


Narcisa - Ele descansou, Zinha. Mas vai estar sempre vivo nos nossos corações, nas nossas lembranças... 

Meirinho - Alguém tem que fazer alguma coisa. Se não é capaz dela jogar o corpo do padre no chão! 


Patrício se aproxima de Zinha, tentando lhe acalmar. 


Patrício - A senhora precisa se acalmar. 

Zinha - Me solta. Não preciso me acalmar. Estou bem... eu nem sei o que o senhor está fazendo aqui. Volta pra sua igreja, pro seu culto... 

Patrício - Não é porque eu e padre Januário somos de religiões diferentes, que eu deixaria de comparecer na sua despedida. Tenho uma grande admiração por ele.

Lívia - Todas as religiões só levam a um caminho, dona Zinha. O caminho pra Deus! 

Zinha - Eu só quero me despedir de padre Januário. Pois ninguém gostava mais dele, nessa cidade, do que eu!

Vladimir - Se quer aparecer, fazer show, vai pro circo! 

Zinha - Me deixa com a minha dor, seu louco! 

Moisés - Todos gostávamos muito do padre Januário. Vai fazer falta pra todos nós. E a dor da senhora não é diferente da nossa. 

Rebeca - Gente, pelo amor de Deus! Não vamos brigar aqui no velório do nosso querido padre Januário, pra ver quem gostava mais dele. Cada um de nós, do seu jeito, tinha uma ligação com esse homem tão bom e que agora está lá no céu, olhando pela gente. 

Isabel - Falou a puritana. Santinha do pau oco! 


Rebeca encara Isabel. 


Zinha - Você é a última pessoa do mundo que tem o direito de falar alguma coisa, sua pecadora. Foi atrás de um homem preste a se tornar padre, pra tenta-lo, querendo fazer com ele desistisse de assumir sua vocação, pra se refestelar com ele. 

Rebeca - Eu só não te respondo a altura, dona Zinha, porque estamos em uma igreja, num velório, e pela sua idade. 

Zinha - Mas não estou mentindo. Você foi atrás do Pedro, pra impedir que ele se tornasse padre. Achando que assim ficariam juntos. Não é verdade? Quero que um raio me parta ao meio se estou falando alguma mentira, algo que não seja a mais pura e vergonhosa verdade! 

Jeferson - Chega! Cala boca sua velha linguaruda! 


Rebeca fica incomodada com tudo o que escuta e caminha. Passa por Isabel. 


Isabel - A verdade dói né, querida! 

Jeferson - (p/Zinha) Um dia a senhora morre com seu veneno, dona Zinha. Eu torno pra que a senhora possa sentir na pele o que é ser julgada e condenada pelos outros, como a senhora faz com tanta gente sem nenhuma dó e compaixão! 

Zinha - Sou uma mulher pura e imaculada. Não tenho nada pra esconder de ninguém, ao contrário de muitas pessoas, que deviam ter vergonha de sair de casa... 


Jeferson vai atrás de Rebeca. Zinha continua chorando, voltando a lamentar pela morte de Januário. 


Cena 04/Casa Rufino/Escritório/Int/Dia

Rufino continua conversando com Arcebispo. 


Rufino - (tel.) Fico esperando ansioso pela decisão que os senhores vão tomar, quanto a escolha do novo padre de Jandaia.

Arcebispo - (off) Pode deixar que não vou esquecer nossa conversa. Principalmente quanto a gentileza que o senhor vai demonstrar...


Rufino - (tel.) Assim eu espero! Foi um prazer falar com Vossa Eminência... 


Rufino desliga, satisfeito pela conversa. 


Rufino - (feliz) Em breve você assumirá o posto que lhe cabe nessa cidade! 


Cena 05/Casa Licurgo/Ateliê/Int/Dia

Licurgo está muito agitado, nervoso. Em fúria, quebra todos os santos que já fez e vários outros objetos. 


Licurgo - Não quero ir preso... não posso ir preso. Lá é ruim, ruim, ruim... 


Licurgo escuta passos se aproximando. 


Licurgo - Quem tá aí?


Rufino aparece. 


Rufino - Sou eu, Licurgo... seu amigo Rufino! 


Licurgo abraça Rufino, que lhe consola e acalma. 


Rufino - Tá tudo bem, Licurgo. Deus está muito feliz com o que você fez. Com a missão bem sucedida que realizou. 

Licurgo - Padre Januário está com Deus?

Rufino - Pertinho dele. E está muito mais feliz agora que está lá no paraíso. 

Licurgo - O que vai acontecer comigo agora. Vou preso? Não quero ir preso.  

Rufino - Você cumpriu a vontade de Deus, Licurgo. A justiça dos homens não atinge quem cumpre a vontade divina. (t) Sua recompensa será maior, algo tão superior que virá de uma forma menos esperada. Pode ter certeza disso, Licurgo. Pode confiar em mim! 






Cena 06/Jandaia/Praça/Ext/Dia

Rebeca está sentada no banco, observando o jardim. Jeferson se aproxima dela e senta do seu lado. 


Jeferson - Não liga pro que aquela velha beata disse, Rebeca. O que importa é que existe entre nós dois. 

Rebeca - As palavras dela pesaram em mim... 

Jeferson - Eu acredito no nosso amor, na nossa união! 

Rebeca - Vou te fazer muito feliz, Jeferson. Te amar, como você merece! 

Jeferson - É uma pena que padre Januário tenha morrido, antes de realizar nossa cerimônia. 

Rebeca - Podemos nos casar no terreiro da umbanda. Posso falar com o Marinho. É uma cerimônia tão linda... e depois de sentir e ver Iemanjá me salvando, me liguei ainda mais a todos os ritos. 

Jeferson - Eu faço questão de nos casar na igreja, Rebeca. Com tudo o que temos direito... sou muito tradicional e faço questão de cada detalhe. 

Rebeca - Tudo bem então. 

Jeferson - Temos só esperar o novo padre chegar e acertar com ele a nossa cerimônia!


Cena 07/Jandaia/Ruas/Ext/Dia

O táxi onde Basileu está, vem seguida pelas ruas da cidade. 


Cena 08/Táxi/Int/Dia

Basileu estranha a cidade vazia, sem movimento. 


Basileu - O que aconteceu? Cadê todo mundo?

Taxista - O pároco da cidade morreu essa madrugada. 

Basileu - (abalado) Padre Januário morreu? 


Cena 09/Casa Turíbio/Quarto casal/Int/Dia

Filipa usa um vestido preto bem justo e decotado. 


Filipa - Linda... maravilhosa! 


Dá uma última ajeitada na frente do espelho, antes de sair. 


Cena 10/Casa Turíbio/Frente/Ext/Dia

O táxi estaciona. O taxista saí, indo pegar a bagagem. Basileu saí do carro, pega sua carteira e paga o taxista. 


Basileu - Pode ficar com o troco. 


Basileu pega sua bagagem. Dá uma olhada na cidade. 


Basileu - Cheguei justo nesse dia triste... 


O taxista vai embora. Quando Basileu se prepara pra bater na porta, Filipa saí e se assusta com Basileu. Nesse momento, acaba perdendo o equilíbrio do seu salto e caí em cima de Basileu, que lhe segura, evitando que ela se esborrache no chão. Os dois se olham. Momento. Filipa levanta e os dois se ajeitam. 


Filipa - (surpresa) Basileu? É você mesmo? 

Basileu - Quanto tempo, Filipa! Você não mudou nada!

Filipa - Ao contrário de você, que mudou muito. 


Filipa olha Basileu dos pés à cabeça, avaliando o belo exemplar de homem parado na sua frente, sem conseguir disfarçar muito a atração imediata que sentiu por ele. 


Basileu - Cadê todo mundo?

Filipa - Seu pai não disse nada que você iria chegar. 

Basileu - Não avisei... quis fazer uma surpresa. 

Filipa - E que surpresa! Pena que você chegou em um dia tão triste. 

Basileu - Já fiquei sabendo da morte do padre Januário. 

Filipa - Uma perda lastimável. Tá todo mundo lá na igreja. Pra onde eu ia, quando nós tivemos esse belo encontro... (sorri) 

Basileu - Vou com você, então. Quero me despedir do padre Januário e assim aproveito e vejo todos. 


Basileu pega sua mala. Filipa abre a porta. Filipa fica no caminho, fazendo com quem Basileu passe esfregando por ela, pra conseguir entrar na casa. Quando Basileu entra, Filipa fica se abanando com as mãos. 


Filipa - Até esquentou! 


Basileu volta.


Basileu - Vamos?


Filipa fecha a casa, pega no braço de Basileu, que estranha, mas não fala nada. Os dois seguem em direção a igreja. 


Cena 11/Igreja/Frente/Ext/Dia

Rufino vem caminhando em direção a entrada da igreja. Vladimir aparece na sua frente. 


Rufino - Posso passar? 


Vladimir encara Rufino. 


Vladimir - O senhor não devia estar aqui. 

Rufino - Quem é o senhor pra me impedir de entrar na casa de Deus! 

Vladmir- Eu sei que foi você! 

Rufino - Do que está falando, seu louco? Biruta! 

Vladimir - Foi você quem matou padre Januário.


FIM DO CAPÍTULO 14





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