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ESPERANÇA - CAPÍTULO 08




ESPERANÇA

Capítulo 08

Novela criada e escrita por

Wesley Franco

 

CENA 1. EXT. DELEGACIA – DIA

Afrânio chega à delegacia, ele está vestindo um terno escuro, está de óculos escuro e carrega uma maleta. Ao se aproximar da entrada, ele para de forma abrupta, seus olhos se fixam no muro da delegacia.

AFRÂNIO – O que é isso agora?

Ele se aproxima do muro e lê a frase “Afrânio, pau mandado” escrita com tinta. O rosto dele se contorce em raiva e constrangimento.

AFRÂNIO (GRITANDO) – Quem fez isso? Quem teve a audácia de me desonrar dessa forma?

Os policiais olham um para o outro, visivelmente nervosos. Um deles, soldado José, tenta falar.

SOLDADO JOSÉ – Desculpe, delegado, mas não sabemos quem fez isso. A cidade virou uma pólvora desde que saiu a edição do jornal de hoje.

AFRÂNIO (SEM ENTENDER) – Jornal? Que jornal?

Outro soldado entrega a Afrânio uma edição do jornal, ele pega o jornal e de cara lê a manchete “O ABUSO DE PODER DO CORONEL ALMEIDA E DO DELEGADO AFRÂNIO: QUANDO A JUSTIÇA É CALADA”. Afrânio fica surpreso com o que acaba de ler, sua raiva fica ainda maior.

AFRÂNIO – Isso não pode ficar assim! Esse tipo de desrespeito deve ser tratado com seriedade. Alguém vai pagar por isso!

Afrânio amassa o jornal e joga no chão.

AFRÂNIO – Quem eles pensam que são? A cidade pode achar que pode me menosprezar, mas eu sou delegado! Vou descobrir quem fez essa pintura no muro da delegacia e irei punir com o rigor da lei.

Afrânio se afasta do muro, ainda olhando com desprezo. Ele entra na delegacia, seu semblante está tenso.

                                                         CORTA PARA:

CENA 2. INT. CASA DE CANDOCA – COZINHA – DIA

Angislanclécia, Chandra Dafni, Hismeria e Candoca estão sentadas ao redor de uma na cozinha, tomando café. Sobre a mesa, a edição mais recente do jornal o amigo do povo está aberta, mostrando o artigo que expõe os abusos do Coronel Almeida.

CHANDRA DAFNI (FOLHEANDO O JORNAL) – Angislanclécia, você e o Eriberto foram corajosos. Esse artigo é uma bomba! Denunciar o Coronel Almeida assim, não é para qualquer um.

ANGISLANCLÉCIA – Alguém tinha que falar. Não podemos mais ficar calados vendo as injustiças. A prisão do Matteo é só mais uma entre tantas.

HISMERIA (CONCORDANDO) – E vai colocar pressão no prefeito, com certeza. Eu mesma vou falar com ele. Ele não pode se manter neutro enquanto o Coronel manda e desmanda na cidade.

CANDOCA (PREOCUPADA, OLHANDO PARA ANGISLANCLÉCIA) – Mas vocês pensaram nas consequências? O Coronel Almeida não é homem de aceitar afrontas sem retaliação. Isso pode ser perigoso para você e o Eriberto.

ANGISLANCLÉCIA – Tia, eu entendo sua preocupação, mas não podemos viver com medo. Alguém precisava tomar uma posição. E se não formos nós, quem será?

CHANDRA DAFNI – Exato, é assim que se luta por justiça. O Coronel pode ser poderoso, mas o poder dele acaba quando o povo começa a se levantar. E ele não está acima de Deus, e Deus está vendo esses abusos que ele está cometendo, e aí de nos ajudar.

CANDOCA – Que Deus nos proteja da ira daquele homem!

Angislanclécia toma um gole de café com um semblante firme.

                                                         CORTA PARA:

CENA 3. INT. CASA DE HOMERO – ESCRITÓRIO – DIA

No luxuoso escritório de Homero, com móveis de mogno e uma grande janela com vista para a cidade. Homero está sentado atrás de sua mesa, conversando com seu advogado, que segura uma pasta com documentos.

ADVOGADO – A ação para a execução da dívida da família Bellini já está nas mãos do juiz. Agora é só uma questão de tempo para ele autorizar, e a fazenda irá a leilão.

HOMERO (SORRINDO MALICIOSAMENTE) – Perfeito. O Coronel Almeida vai ficar muito satisfeito, ele quer aquela fazenda para si o quanto antes. Agradeço seu empenho nisso.

ADVOGADO – Sempre as ordens, senhor Homero. Qualquer novidade, eu aviso.

O advogado se despede e sai do escritório. Pouco depois, Fernando entra no escritório.

FERNANDO (CURIOSO) – Pai, já tão cedo? O que seu advogado estava fazendo aqui?

HOMERO – Assuntos do banco, meu filho. Coisas importantes, mas nada que você precise se preocupar.

Fernando hesita, mas logo muda de assunto.

FERNANDO – Eu queria falar sobre a mãe...o estado dela não melhora. O Dr. Romeo disse que não há mais nada que se possa fazer, mas eu ainda acredito que ela pode vencer essa doença.

Homero suspira, desviando o olhar.

HOMERO (CANSADO) – Fernando, eu sei que é difícil para você, mas o médico já nos alertou que o quadro da sua mãe é irreversível, é uma questão de tempo para ela nos deixar. Eu também gostaria que as coisas fossem diferentes, mas precisamos ser realistas.

FERNANDO (INSISTINDO) – Seja realista, pai, mas pelo menos vá vê-la. Você passa dias fora, passa o dia todo no banco ou enfunado dentro desse escritório, mal entra no quarto dela. Ela ainda está viva, ela ainda sente, ela ainda precisa de você.

HOMERO – Você tem razão. Eu tenho deixado o trabalho consumir todo o meu tempo e me dedicado menos a ela. Prometo que vou rever isso, vou passar mais tempo com ela. Me desculpa por isso, filho.

FERNANDO (FRIO) – Você não deve desculpas a mim, deve a ela.

Fernando sai do escritório, deixando Homero sozinho e pensativo, em silêncio, enquanto o peso da culpa parece cair sobre ele.

                                                         CORTA PARA:

CENA 4. INT. CASA DE MARTINA – SALA – DIA

Martina está na sala, abrindo gavetas e procurando algo. Jerônimo desce lentamente as escadas, segurando o véu preto nas mãos.

JERÔNIMO (COM UM SORRISO SUAVE) – Procurando isso?

MARTINA (ALIVIADA) – Ah, Jerônimo! Onde você encontrou? Eu já estava ficando desesperada, não posso chegar atrasada à missa.

Jerônimo entrega o véu para Martina.

MARTINA (GUARDANDO NA BOLSA) – Obrigada, vou à missa agora. Deixei o Rodolfo brincar um pouco lá fora, e a Isabella está dormindo. Ela não está se sentindo bem, disse que está com dor de cabeça.

JERÔNIMO – Eu só vou para o escritório mais tarde. Vou passar a manhã lendo aqui em casa.

MARTINA (SORRINDO) – Então, aproveite o seu tempo. Até mais tarde.

Martina dá um beijo rápido no rosto de Jerônimo e sai. Jerônimo aguarda alguns instantes e então sobe as escadas lentamente. Ele entra no quarto de Isabella, que está dormindo e a observa em silêncio. Jerônimo tem um olhar malicioso sobre Isabella, ele se aproxima devagar da cama e acaricia as pernas dela com bastante cautela.

                                                         CORTA PARA:

CENA 5. INT. SEDE DO JORNAL O AMIGO DO POVO – DIA

Coronel Almeida entra na sede do jornal acompanhado de seu capanga Ezequiel. Eriberto, que estava atrás de sua mesa, se levanta assustado ao ver Almeida segurando uma edição do jornal.

ALMEIDA (FIRME) – Eriberto, desta vez eu vim apenas dar um recado.

Almeida se aproxima da mesa de Eriberto, jogando a edição do jornal sobre ela com força.

ALMEIDA – Se mais um artigo como esse sair, a próxima coisa que você verá será o fogo consumir o seu jornal, e talvez você sinta o calor do fogo porque estará preso aqui dentro.

Eriberto, visivelmente abalado com a ameaça que acaba de ouvir, tenta manter a calma, mas seu olhar revela o medo.

ERIBERTO (GAGUEJANDO) – Não há motivo para violência, Coronel. Nós apenas publicamos o que...

ALMEIDA (INTERROMPE COM RAIVA) – Você sabe muito bem que esse jornal não passa de um veneno contra a minha autoridade nesta cidade. Sua intenção é me desmoralizar diante do povo, e eu não vou admitir que isso aconteça. Da próxima vez, Eriberto, eu não hesito, eu toco fogo nesse jornal com você e aquela sua jornalista imensa de gorda dentro.

Almeida observa uma pilha de jornais em cima da mesa.

ALMEIDA – Ezequiel, leve essa pilha de jornais e queime todos. Quem não leu essa edição ainda, não irá ler mais, e saia recolhendo de todas as bancas de jornais da cidade.

Ezequiel obedece e pega a pilha de jornais, enquanto Almeida, com um sorriso de desprezo, vira algumas mesas, derrubando-as no chão.

ALMEIDA (OLHANDO FIXAMENTE PARA ERIBERTO) – Fique avisado.

Almeida e Ezequiel saem, deixando a sede do jornal um caos. Eriberto, ainda abalado, observa a destruição na redação de seu jornal.

                                                        CORTA PARA:

CENA 6. INT. PREFEITURA – SALA DO PREFEITO – DIA

Hismeria entra no escritório do Prefeito Fontes, após ser chamada. O prefeito está sentado atrás de sua mesa, revisando papéis.

FONTES – Hismeria, pode me passar a agenda do dia?

HISMERIA (ENTREGANDO A AGENDA) – Aqui está, prefeito. Temos uma reunião com o comitê às 11h, e o almoço com as lideranças dos bairros às 13h.

Hismeria hesita por um momento, mas resolve questionar.

HISMERIA – Prefeito, eu queria perguntar sobre um assunto. A prisão do Matteo está causando muito alvoroço na cidade. A população está protestando, e o jornal denunciou a arbitrariedade da prisão. Não acha que o senhor deveria se posicionar.

O prefeito Fontes fecha a agenda com um suspiro pesado, evitando olhar diretamente para Hismeria.

FONTES – Eu não posso me meter nesse assunto, isso é um problema que envolve o Coronel Almeida e ele é meu aliado, meu fiador político. Se eu tomar partido contra o Coronel, ele acaba com minha carreira.

HISMERIA (DECEPCIONADA) – Mas senhor, o povo está falando. O senhor é o prefeito, tem responsabilidade diante deles também. Não pode ignorar isso.

FONTES – Hismeria, você é novata na cidade, não entende como as coisas funcionam por aqui. Eu só sou prefeito por causa do Coronel. Ninguém tem futuro político nesta cidade se for contra ele, eu lamento, mas não posso fazer nada a respeito.

                                                         CORTA PARA:

CENA 7. INT. FAZENDA ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – NOITE

Dorotéia e Eulália estão sentadas à mesa de jantar, aguardando Almeida para o almoço. O ambiente é silencioso, com a mesa posta, e a empregada Nina ao fundo, pronta para servir. Coronel Almeida entra pela porta e senta à mesa, calado e observando ao redor.

ALMEIDA – E Camila? Por que não está aqui?

DOROTÉIA (DESCONFORTÁVEL) – Ela disse que está indisposta, irá almoçar no quarto hoje.

ALMEIDA (SEVERO) – Indisposta? Vá chamá-la, Dorotéia. Eu quero minha filha sentada à mesa.

DOROTÉIA – Almeida, talvez seja melhor deixar que ela descanse hoje...

ALMEIDA (LEVANTANDO O TOM DE VOZ) – Dorotéia, eu disse que vá chamá-la. Isso é uma ordem!

Sem saída, Dorotéia se levanta e sai da sala, enquanto Eulália observa com um sorriso satisfeito.

EULÁLIA – É assim que se deve comandar uma família, meu filho. Você é um verdadeiro homem e sabe como impor respeito.

ALMEIDA – Alguém tem que manter as rédeas por aqui.

Pouco depois, Dorotéia retorna com Camila que entra contrariada e visivelmente irritada. Ela se senta á mesa de forma brusca. Nina começa a servir o almoço e o ambiente fica tenso.

ALMEIDA – Já que estamos todos aqui, Camila, você vai para o Rio Grande do Sul terminar seus estudos. Sua avó Eulália irá com você para cuidá-la, e você ficará lá até que eu decida que á a hora de voltar.

CAMILA (SURPRESA E REVOLTADA) – O quê? Eu não vou a lugar nenhum! Essa aqui é a minha casa, a minha cidade, eu quero terminar meus estudos aqui, ao lado dos meus amigos e da minha família.

ALMEIDA (FIRME) – Você pode ir por bem ou à força. A decisão é sua.

Camila faz menção de se levantar da mesa, revoltada, mas Almeida bate com força a mão na mesa.

ALMEIDA (GRITANDO) – Sente-se, Camila!

Camila hesita por um instante, mas obedece. Dorotéia, aflita, tenta apaziguar a situação.

DOROTÉIA – Camila, por favor, acalme-se.

ALMEIDA – Está decidido, você vai para o Rio Grande do Sul. Eu não tolero discordâncias nesta casa, aqui mando eu.

Camila abaixa a cabeça, furiosa. Eulália apenas sorri, satisfeita com o controle de Almeida.

                                                         CORTA PARA:

CENA 8. EXT. ESPERANÇA – DIA

SONOPLASTIA ON: LINDA FLOR (AI YÔ, YÔ) – FAFÁ DE BELÉM

Abre imagens da cidade de Esperança em um dia típico. Vemos o comércio local funcionando, crianças brincando nas ruas e alguns moradores cuidando de suas casas. Nas áreas rurais, é mostrado os vastos campos com plantações, cavalos correndo, e os trabalhadores colhendo nas plantações.

DIAS DEPOIS

                                                     SONOPLASTIA OFF

                                                         CORTA PARA:

CENA 9. INT. ESTAÇÃO DA LUZ – DIA

A movimentada Estação da Luz está cheia de passageiros desembarcando e embarcando. Ernesto, elegantemente vestido, aguarda na plataforma. O trem elétrico Santa Cruz vindo do Rio de Janeiro chega com seu habitual barulho de ferro. Entre os passageiros que descem, Flávio, carregando uma maleta, sorri ao ver seu filho.

FLÁVIO (SORRINDO) – Ernesto!

Ernesto responde com um aceno e se aproxima do pai. Os dois se encontram e se abraçam calorosamente.

FLÁVIO (RINDO) – Confesso que pensei que teria que pegar um carro de aluguel, não acreditei que você lembraria que tinha que me buscar hoje.

ERNESTO (RINDO) – Eu sempre cumpro com meus compromissos, pai, sempre, sempre.

Os dois saem da estação conversando descontraidamente, atravessando a plataforma movimentada e se dirigindo para o carro.

                                                         CORTA PARA:

CENA 10. EXT/INT. MANSÃO DE FLÁVIO – DIA

Ernesto dirige um luxuoso Ford Mercury preto pelas estradas arborizadas da cidade. Ao seu lado, Flávio observa a paisagem, pensativo. O carro passa pelos portões imponentes da mansão da família, onde o porteiro os recebe e abre o portão. Eles dirigem pelo vasto jardim até parar em frente à entrada principal, com uma grande fonte de água ao centro.

FLÁVIO (OLHANDO EM VOLTA) – Como é bom estar em casa.

Os dois descem do carro e entram na mansão. Logo na entrada, eles colocam seus chapéus no cabide de chapéus. Magali, a empregada, aparece para recebê-los.

MAGALI - Senhor Flávio, como foi a viagem?

FLÁVIO – Cansativa! O Rio de Janeiro está uma verdadeira loucura, não se fala em outra coisa a não ser nessas eleições convocadas pelo Vargas, mas a pior parte Magali foi a comida. Nada como estar de volta e comer sua comida.

MAGALI (SORRINDO) – Eu preparei um almoço delicioso. Sabia que o senhor não deve ter se alimentado bem na viagem, fiz aquele almoço caprichado.

Magali entrega uma carta a Flávio, que a observa com curiosidade.

MAGALI – Enquanto o senhor estava fora, chegou essa carta de Esperança.

Flávio abre a carta e começa a ler com atenção. À medida que lê, sua expressão muda para surpresa e choque. Magali e Ernesto o observam, preocupados.

ERNESTO – Pai, aconteceu alguma coisa?

FLÁVIO (SERÍSSIMO) – Francesca...Francesca morreu. A fazenda dos Bellini pegou fogo, e o Matteo está preso de forma injusta. Eu preciso viajar para Esperança, hoje mesmo.

FIM DO CAPÍTULO

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