Escrita por: Mathias Vianna
Capítulo 2: Faltam Alguns Dias para o Natal
As manhãs estavam mais geladas, e o céu permanecia encoberto por nuvens cinzentas que ameaçavam uma chuva fina. O cheiro de terra úmida misturava-se ao aroma de bolos recém-assados que escapava pelas janelas das casas. O Natal estava se aproximando, mas os dias ainda carregavam a melancolia de quem esperava algo que talvez nunca viesse. Em três lares diferentes, o espírito natalino manifestava-se de formas distintas, refletindo os sonhos e as dificuldades de cada família.
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O Lar de Pedro: Entre Sonhos e Realidade
A pequena casa de Pedro estava impecavelmente arrumada. Dona Lourdes, mesmo exausta, sempre dava um jeito de deixar tudo limpo e organizado, como se isso pudesse mascarar as dificuldades financeiras que enfrentavam. Pedro, sentado no sofá desgastado da sala, olhava fixamente para a árvore de Natal improvisada com galhos secos que ele mesmo havia pintado de branco. Embaixo dela, estava a carta que ele havia escrito na noite anterior.
O menino fechou os olhos por um instante, lembrando o que havia escrito. Não pediu brinquedos, nem roupas novas. Seu desejo era simples: queria mais tempo com sua mãe, que vivia ocupada com o trabalho para sustentá-los.
Dona Lourdes entrou na sala, secando as mãos no avental.
— Pronto pra escola, meu filho? — perguntou, com um sorriso cansado.
Pedro olhou para ela, hesitou por um momento e respondeu:
— Tô, mãe. Mas... você acha que Papai Noel vai mesmo ouvir o que eu pedi?
Lourdes se abaixou, ficando na altura do menino, e segurou seu rosto com as mãos ásperas pelo trabalho.
— Eu acredito que ele ouve todos os corações sinceros, Pedro. E o seu é um dos mais bonitos que eu já vi.
Pedro sorriu, levantou-se e pegou a mochila. Antes de sair, deu uma última olhada para a carta.
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O Lar de Lucas: Riquezas e Vazio
Na mansão da família de Lucas, o clima era diferente. A decoração natalina era digna de uma revista de luxo: luzes douradas, uma árvore de quase três metros repleta de enfeites sofisticados e presentes que já enchiam o chão ao redor dela. Lucas, porém, não parecia impressionado.
Ele estava sentado no chão da sala, segurando sua carta. Larica, sua mãe, entrou apressada com o celular na mão, organizando detalhes de uma viagem que faria com o marido para fora do país no dia 23 de dezembro.
— Lucas, já colocou sua carta na árvore? — perguntou sem tirar os olhos da tela.
— Ainda não, mãe. — Ele hesitou por um momento antes de continuar. — Será que Papai Noel pode trazer coisas que não são brinquedos?
Larica parou e finalmente olhou para o filho.
— Claro que pode, querido. O que você pediu?
Lucas abaixou a cabeça e murmurou:
— Que você e o papai fiquem mais tempo comigo.
Larica engoliu em seco, mas antes que pudesse responder, o celular tocou. Ela atendeu rapidamente, encerrando a conversa com Lucas.
Ele levantou-se, colocou a carta embaixo da árvore e saiu para a escola, sentindo o mesmo vazio de sempre.
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O Lar de Sofia: Entre Sonhos e Lutas
Na casa simples de Sofia, o dia começava com o barulho das crianças correndo pela sala. A árvore de Natal era modesta, enfeitada com laços vermelhos que ela mesma havia feito. Sofia, como sempre, acordou antes de todos para terminar de organizar suas coisas antes da escola.
Ela pegou sua carta, cuidadosamente dobrada, e a colocou debaixo da árvore. Não tinha grandes expectativas, mas algo dentro dela ainda acreditava na magia do Natal.
— Sofia! Você vai ajudar a gente a decorar o quintal depois da escola? — perguntou sua irmã mais nova, segurando uma fita dourada.
— Vou, sim. Prometo. — respondeu com um sorriso.
Sofia sabia que sua família estava passando por dificuldades financeiras, mas também sabia que seu pai faria de tudo para que o Natal fosse especial.
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A Caminho da Escola
Os três amigos encontraram-se na esquina, como faziam todos os dias. Pedro carregava sua mochila velha, Lucas vinha com o uniforme impecável e Sofia trazia o sorriso que sempre iluminava o grupo.
— O que vocês pediram pro Natal? — perguntou Sofia, quebrando o silêncio.
— Pedi algo simples. — disse Pedro, olhando para os cadarços desamarrados.
— E você, Lucas? — Sofia insistiu.
Lucas hesitou, mas respondeu:
— Eu só queria que meus pais passassem mais tempo comigo.
Pedro olhou para ele com surpresa.
— Sério? Mas você tem tudo, Lucas. Por que pedir isso?
Lucas deu de ombros.
— Porque às vezes parece que eu não tenho nada.
Sofia sorriu, tentando mudar o clima.
— E eu pedi algo bem grande. Mas é segredo!
Eles riram e continuaram o caminho até a escola, onde o pátio já estava cheio de crianças.
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As Vidas dos Pais
Enquanto isso, Dona Lourdes estava trabalhando na mansão de Lariça. Ela limpava os quartos com cuidado, enquanto Lariça andava de um lado para o outro, organizando a viagem.
— Dona Lourdes, você vai fazer algo especial no Natal? — perguntou Lariça.
— Só passar com meu filho. É tudo o que ele tem, e tudo o que eu posso dar.
Lariça parou por um momento, refletindo.
— Às vezes, acho que o Natal perdeu o sentido pra mim. É tudo tão corrido...
Lourdes olhou para ela e respondeu com calma:
— Natal nunca perde o sentido, dona Lariça. A gente que esquece o que é importante.
Na outra parte da cidade, o pai de Sofia estava sentado na mesa da cozinha, organizando contas. Ele queria comprar algo especial para as crianças, mas o dinheiro estava curto.
— O que você acha, filha? Um jantar bem bonito já tá bom? — perguntou ele a Sofia, quando ela chegou da escola.
— Tá ótimo, pai. O que importa é estarmos juntos.
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