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FILHOS DO PAPAI NOEL - CAPÍTULO 03

 


Escrita por: Mathias Vianna


Capítulo 3: O Peso das Expectativas


Os dias continuavam frios, e a contagem regressiva para o Natal tornava-se mais evidente. Luzes piscavam em janelas, vitrines exibiam decorações extravagantes e músicas natalinas ecoavam pelas ruas da cidade. Para alguns, o Natal era um lembrete de união e celebração. Para outros, um reflexo das ausências e daquilo que não poderiam ter. Naquele terceiro dia antes do Natal, as vidas de Pedro, Lucas e Sofia seguiam em suas rotinas, mas cada uma carregava sua própria tensão, seus próprios sonhos e os desejos que jamais seriam ditos em voz alta.


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Manhã Silenciosa na Mansão


Na mansão dos Delaroux, Lucas desceu as escadas vestindo seu uniforme escolar. Ele olhou para a árvore de Natal impecavelmente decorada e suspirou. Os presentes embaixo da árvore eram tão numerosos que ele sequer se lembrava de todos os que havia ganhado no ano anterior. Sua mãe, Larica, estava sentada à mesa, analisando uma lista interminável de tarefas antes da viagem que faria com o marido.


— Lucas, bom dia. Não vai tomar café? — perguntou ela sem levantar os olhos.


— Não estou com fome. — Ele hesitou, mas se sentou à mesa mesmo assim. — Vocês têm mesmo que viajar no Natal?


Larica suspirou, finalmente encarando o filho.


— É uma viagem importante, Lucas. Seu pai precisa estar presente, e eu também.


— Então, por que você não me deixa ir com vocês? — Ele tentou conter a frustração na voz, mas falhou.


Larica ajeitou o cabelo loiro perfeitamente arrumado e respondeu, com um tom que misturava cansaço e culpa:


— É uma viagem de trabalho, meu amor. Não teria nada divertido pra você.


Lucas abaixou a cabeça, encarando o prato vazio à sua frente. Queria dizer que o Natal com eles seria mais divertido do que qualquer outra coisa, mas sabia que seria inútil. Quando a conversa acabou, ele saiu apressado pela porta da frente, deixando Larica sozinha com seus pensamentos. Ela olhou para a árvore de Natal, onde ainda estava a carta do filho, e pela primeira vez, questionou as prioridades que havia escolhido para sua família.


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Pedro e o Cheiro da Simplicidade


Na casa de Pedro, o cheiro de pão assado preenchia o ar. Dona Lourdes levantou-se antes do amanhecer para preparar algo especial para o filho antes de sair para o trabalho. Pedro, sentado à mesa, devorava o café da manhã com entusiasmo.


— Tá gostoso, filho? — perguntou ela, sorrindo apesar do cansaço evidente no rosto.


— Tá ótimo, mãe! Você é a melhor cozinheira do mundo. — respondeu com a boca cheia.


Ela riu, sentindo um calor no peito que há tempos não experimentava. Apesar de tudo, ainda havia momentos em que podia dar algo bom a ele, mesmo que fosse apenas um pedaço de pão quente.


Enquanto ele terminava de comer, ela arrumava sua bolsa e pegava o avental que usava na mansão dos Delaroux.


— Hoje vou sair um pouco mais tarde do trabalho, mas não se preocupe, tá? Tem comida pronta na geladeira.


Pedro assentiu, mas a preocupação era visível em seu olhar.


— Você não trabalha demais, mãe?


Ela parou por um instante, surpresa pela pergunta. Aproximou-se do filho e colocou a mão em seu ombro.


— Trabalho porque preciso, meu amor. Mas faço isso por nós dois, pra que você tenha tudo o que merece.


Ele sorriu, tentando acreditar, mas não conseguia esquecer o cansaço constante nos olhos dela. Quando Lourdes saiu para o trabalho, Pedro ficou por alguns minutos na cozinha, olhando pela janela. O cheiro de pão ainda estava no ar, mas para ele, parecia que faltava algo.


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O Natal de Sofia e os Sonhos de Seu Pai


Na casa de Sofia, o Natal era uma mistura de alegria e preocupação. Seu pai, Roberto, passava as manhãs revisando contas e calculando o orçamento, enquanto tentava encontrar uma maneira de dar às filhas algo que elas realmente merecessem.


— Pai, você vai trabalhar hoje? — perguntou Sofia, sentando-se à mesa com uma xícara de café que ela mesma havia preparado.


— Vou, mas só até o meio-dia. Quero aproveitar o tempo com vocês hoje. — respondeu ele, sorrindo.


— Você tá preocupado com o Natal, né? — Sofia inclinou a cabeça, estudando o rosto dele.


Roberto suspirou, mas não tentou esconder.


— Um pouco, filha. Só queria que fosse especial pra vocês.


Ela colocou a mão sobre a dele e sorriu.


— Já vai ser especial. Você tá aqui com a gente. Isso é o que importa.


Ele sorriu de volta, mas a sensação de insuficiência continuava pesando em seus ombros. Depois que Sofia saiu para a escola, Roberto ficou na cozinha, olhando para o modesto presépio que elas haviam montado juntas. Lembrou-se de como a vida era mais fácil quando sua esposa ainda estava viva, e uma onda de tristeza percorreu seu coração.


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Na Escola: Conversas e Confissões


No pátio da escola, Pedro, Lucas e Sofia encontraram-se no mesmo banco de sempre. A grama estava molhada do orvalho, e o ar carregava um cheiro fresco de chuva.


— Vocês acham que Papai Noel realmente lê nossas cartas? — perguntou Pedro, quebrando o silêncio.


— Eu espero que sim. — respondeu Sofia, olhando para o céu. — Mas acho que ele só pode fazer algumas coisas, sabe? Tipo, ele não pode mudar tudo.


Lucas, que estava sentado com as mãos nos bolsos, finalmente falou:


— Às vezes, acho que ele não pode fazer nada.


Sofia e Pedro o olharam com curiosidade.


— Por que você acha isso? — perguntou Sofia.


Lucas deu de ombros.


— Porque eu pedi uma coisa que ele não pode trazer. Meus pais sempre viajam no Natal. Mesmo que eu peça pra eles ficarem, não adianta.


Pedro ficou em silêncio, mas sentiu um nó na garganta. Ele sabia como era querer algo que parecia impossível.


Sofia tentou animar o grupo, mudando de assunto:


— E vocês, o que mais gostam no Natal?


Pedro sorriu.


— Da comida. Minha mãe faz um arroz com uva-passa que é o melhor do mundo!


Eles riram, mesmo que por um instante. O som da risada das crianças ecoou no pátio, um lembrete de que, apesar das dificuldades, ainda havia espaço para alegria.

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Reflexões Noturnas


Naquela noite, enquanto Pedro olhava para a árvore de Natal improvisada, Lucas encarava a mansão silenciosa e Sofia ajudava seu pai a arrumar a cozinha, cada um deles refletia sobre o que realmente significava o Natal.


Pedro desejava menos cansaço para sua mãe. Lucas queria que seus pais olhassem para ele como mais do que uma obrigação. Sofia, por sua vez, desejava força para seu pai, para que ele soubesse que estava fazendo o suficiente.


O Natal era diferente para cada um deles, mas em suas diferenças, eles encontravam algo em comum: a esperança. Mesmo quando parecia impossível, algo dentro deles ainda acreditava. Talvez fosse isso o que fazia o Natal especial.


O capítulo termina com as luzes de Natal piscando pelas ruas, como pequenos lembretes de que, apesar de tudo, o mundo ainda era cheio de possibilidades.





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