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Débora - Capítulo 32


Débora
CAPÍTULO 32

uma novela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

baseada nos capítulos 3 a 5 do livro de Juízes

 No capítulo anterior: Débora tem uma conversa com Eloá e Danilo sobre confiança, mas eles acabam aceitando levá-la para o palácio; vão pelos fundos. Débora conta a eles de onde veio e fala sobre fé. Perguntam o que ela pretende fazer agora, e ela responde que encontrar Sísera e libertar seu povo. Sísera manda Bogotai a Betel para que mate a todos. Jaziel pergunta ao Capitão sobre a máscara de Bogotai, e Sísera explica tudo o que aconteceu. Por fim, ele e seus homens saem escoltando o hebreu. Darda vai à cozinha atrás de sementes e vê Débora. Eloá diz que é sua amiga, e que a senhora Najara permitiu sua vinda. Elisa percebe a presença de outra mulher na casa, e confessa admirar Débora. Darda recomenda-a a não dizer isso. Jaziel é jogado na cela. Débora pergunta se pode contar com Eloá e Danilo, e eles explicam que não concordam com a escravidão. Ainda perguntam se haveria lugar para eles em Israel, e ela diz que sempre haverá lugar para quem quer servir a Deus e cumprir os seus mandamentos. Sísera espanca Jaziel querendo que ele conte mais sobre Débora. Nisso revela o que mandou Bogotai fazer. Caído na cela, Jaziel se arrepende de tudo que revelou antes. Eloá pede que ela não faça o que quer fazer na frente deles. Ouvem Sísera falar com sua mãe na sala. Najara instrui o filho a se disfarçar de hebreu e dar ainda mais vinho para o capturado, pois foi o que funcionou até ali. Sísera vai para a cozinha fazer um preparado que, reagindo ao álcool, faz as pessoas ficarem suscetíveis a falar a verdade. Ao ver Débora, Sísera pergunta quem é ela, mas ela passa por eles e vai embora, atraindo-o para fora. Sísera a persegue. Quando o povo nas ruas conta ao Capitão que Débora está na cidade, ele junta os pontos e conclui que aquela é Débora. Jaziel ataca um soldado, rouba a chave e foge. Sísera manda fecharem o portão. Débora e Jaziel se encontram, e ele, depois de falar do seu erro, conta que Bogotai está a caminho de Betel. Débora faz um soldado de refém até Sísera chegar ali e a encarar. Os dois discutem, mas Débora manda ele abrir o portão. Diante dos colegas e da família do refém, Sísera é obrigado a mandar abrirem o portão; Débora e Jaziel fogem com o refém. Distante, liberam o hazorita, sobem em Pérola e viajam a noite toda. De manhã, Débora manda Jaziel ir proteger Betel que ela vai ao rio ver se Bogotai está lá. Assim ela o faz, até que o encontra e pega sua espada.
FADE IN:

CENA 1: EXT. BETEL – ARREDORES – DIA
Encarando Débora, que acabou de tirar sua espada das vestes e a segura em posição de combate, é possível perceber que Bogotai sorri com ironia, apesar da máscara.
DÉBORA (NAR.)
Bogotai. O Primeiro Oficial de Sísera. O homem responsável por centenas de mortes, dentre elas, de crianças. O perfeito exemplo daquilo que muitos chamariam de monstro. Naquele momento, porém, eu preferia tratá-lo apenas como mais um em minha extensa lista de inimigos derrotados.
BOGOTAI
Ao sacar essa espada você cometeu o maior erro de sua vida. Mas terei enorme prazer em ser o homem que destruiu a grande guerreira Débora.
Ela permanece em posição. Bogotai, diferente do que esperava Débora, também não se move. Então ela começa a andar bem devagar. Ele a imita e também dá alguns passos de encontro a ela. Débora aumenta a velocidade e ele, não se intimidando, igualmente aumenta a sua.
DÉBORA
Ahhh!!!
Débora gira a espada e o ataca com um golpe, porém ele segura a mão dela no cabo. Ela se desvencilha e o ataca múltiplas vezes, porém em todos os golpes Bogotai desvia ou guia o braço dela para o lado. Imediatamente Débora muda a estratégia, afasta os braços e tenta enfiar a espada no estômago dele. Rápido, Bogotai afasta o tronco para trás ao mesmo tempo em que bloqueia o golpe segurando o cabo da espada com as duas mãos por cima das mãos dela. Ela olha para ele surpresa, e ele a puxa para perto de si e mete um chute nela, que cai para trás.
BOGOTAI
Dado a sua fama e tudo o que contaram... eu esperava muito mais.
Débora então crava a espada no chão, faz força e se levanta.



CENA 2: INT. HAROSETE – ABRIGO DE ÓRFÃOS – DIA
Gadi bate na porta e sorri para sua esposa Laís. Os dois estão ansiosos. Logo alguém abre a porta, é uma mulher.
MULHER
Gadi e Laís?
GADI, LAÍS
Isso.
MULHER
Sejam bem-vindos. Por favor, entrem.
Eles entram.

CENA 3: INT. HAROSETE – ABRIGO DE ÓRFÃOS – DIA
Trata-se de um grande salão onde as crianças correm alegres de um lado para o outro.
MULHER
Eles são muito bem tratados. Estão acostumados com o melhor. Claro, na medida em que nosso abrigo tem condições. Mas estão todos muito bem.
LAÍS
Aquele... Atrás do que está agachado. O que acha, meu amor?
Gadi observa.
GADI
Parece ser quieto demais... Precisamos de vitalidade em nossa casa.
LAÍS
Tem razão.
Eles continuam observando as crianças.
LAÍS
E aquela menina? Veja, que linda...
GADI
Amor, o que falamos de loiras?
LAÍS
Hum, tudo bem... (olha para ele) Gadi, eu sei que nenhuma criança será como um filho de verdade. Um filho que eu te desse... se pudesse. Mas precisamos escolher... Todos terão defeitos, é assim que são as pessoas.
GADI
Eu sei, meu amor. Não se preocupe. E não precisa ficar relembrando do fato de que não pode gerar. Já conversamos muito sobre isso. Sabe muito bem que não me importo como pensa. Vamos adotar um e pronto. Seremos uma família feliz e completa.
Laís sorri e vira para as demais sem perceber que Gadi olha para o lado, bem próximo deles, onde há uma menina de pé aparentando ter uns 8 anos, parada e olhando para eles com um semblante de piedade.
GADI
Laís, veja...
LAÍS
Hum?
Laís olha e nota a garota.
LAÍS
Gadi... Ela está nos olhando...
GADI
É linda...
LAÍS
Parece simpática.
GADI
Mas... tem um brilho diferente no olhar. Uma força... uma força diferente... Não sei explicar.
LAÍS
Eu gostei dela, Gadi...
GADI
(curioso) É, eu também...
A mulher chega ali.
MULHER
E então, casal? Decidiram?
LAÍS
Acho que vamos querer essa.
A mulher olha e fica surpresa.
MULHER
A Micaela?! Estou surpresa...
GADI
Algum problema com ela?
MULHER
Não, nenhum! É só que ela não costuma fazer isso que está fazendo... Demonstrar vontade de ir com alguém. É sempre retraída... Acho que ela gostou mesmo de vocês.
LAÍS
(sorrindo) Ela nos escolheu. Não é, Micaela?
Micaela então corre e abraça os dois ao mesmo tempo. A mulher sorri. Mas a menina, com o rosto entre Laís e Gadi, encara o nada com um olhar diferente, mais sério que o esperado para uma garota da sua idade.

CENA 4: EXT. BETEL – ENTRADA – DIA
Jaziel chega à cidade de Betel, passa pelo portão aberto e, ali mesmo na entrada, dá de cara com Éder.
JAZIEL
Éder! Shalom!...
ÉDER
Ahn, aí está você! O que aconteceu, Jaziel?! Por que você fugiu esse tempo todo?! Para onde foi?!
JAZIEL
Éder, apenas me diga uma coisa: diga-me se um homem grande, musculoso e mascarado entrou na cidade.
ÉDER
Hum, eu não vi nada. Mas pode ter passado despercebido...
JAZIEL
Não. Se o tivesse visto certamente se lembraria.
ÉDER
E quem é esse sujeito?! E o que você fez esse tempo todo?! Tem a ver com a Débora?!
JAZIEL
Muitas perguntas, Éder. Não falarei nada, sinto muito.
Éder fica inconformado.
ÉDER
Então é melhor você se esconder que já, já os hazoritas estarão chegando.
Jaziel vira para trás, para o portão e fica ali, um tanto apreensivo.

CENA 5: EXT. HAROSETE – ARREDORES – DIA
Débora é ainda mais ofensiva, e ataca Bogotai de todas as maneiras. Porém, incrivelmente ele desvia ou se protege de todos os golpes. Furiosa, ela aponta a espada para o rosto dele e o ataca. Com a costa da mão Bogotai desvia a lâmina, desliza-a até o cabo e segura as duas mãos dela com sua única. Olha para Débora com desprezo.
BOGOTAI
Isso é tudo o que você tem?
E com a outra mão dá um soco nela, que cai para trás. Olhando-a caída, ele abre os braços como se a provocasse. Também não tem pressa alguma.
BOGOTAI
Você é muito jovem na arte da luta. Uma iniciante que alcançou a graça da sorte e se empolgou. Mas essa arte vai muito além de treinos e instruções. A arte da luta depende da história. E cada um tem sua história. Se soubesse mais sobre mim, Débora, nem colocaria os pés aqui, pois é impossível me parar.
Um tanto ofegante, ela acabou de se levantar e agora tenta se recuperar.
DÉBORA
Eu sei que você tem uma história... É a sua história de escravizar, de matar, de estuprar, de se divertir às custas do meu povo. Histórias dignas de um monstro!
Ela corre e, de surpresa, dá um chute nele. Depois mais golpes com a espada, e socos, empurrões... Débora parece estar no domínio do confronto e Bogotai finalmente sendo derrotado. Porém, ela muda a investida de forma que a espada corta o ar até parar no braço dele. Ambos olham e veem que, ao invés de um braço decepado, há no membro um mero corte, como se fosse um arranhão de espinho.
BOGOTAI
Agora é a minha vez.
Bogotai dá um soco em Débora, mais outro, gira o braço que tentava ataca-lo e dá uma cabeçada na testa dela. Ciente de sua dificuldade, ela corre para ali adiante, uma parte do terreno ainda mais alta. Bogotai vai até ela tranquilamente. Débora volta a ataca-lo usando a espada, mas com uma única mão Bogotai segura o movimento dela e, com a outra, dá vários socos em seu rosto. Ele então dá meia volta em torno dela e a empurra de volta para o terreno mais baixo, fazendo-a cair.
BOGOTAI
Que decepcionante...

CENA 6: INT. SAPATARIA DE LAPIDOTE – DIA
Lapidote abre sua loja. Porém não está animado como de costume, parece bastante preocupado...
Ele entra. De fato, não está nada bem.
LAPIDOTE
Espero apenas que você esteja bem, meu amor.
Respira fundo...
Angustiado, Lapidote resolve se ajoelhar e orar.

CENA 7: INT. PALÁCIO – CASA – COZINHA – DIA
Danilo acompanha Eloá, que prepara outra massa de pão de mel.
ELOÁ
Acho que vou experimentar a dica da Débora e colocar um pouco de cravo e canela.
DANILO
Será que presta? Ela nem sabia que existia pão de mel...
ELOÁ
Logo mais descobriremos se presta ou não. Se sim, servimos ao senhor Sísera.
DANILO
Ele já ama tanto pão de mel... Se gostar dessa, imagine só os presentes que poderíamos ganhar...
Nesse instante a porta se abre violentamente e eles olham: Sísera, furioso, desce a escadinha, atravessa a cozinha, arranca sua espada, agarra Eloá e Danilo, joga-os na parede e coloca a espada no pescoço de ambos.
SÍSERA
Vamos, seus traidores miseráveis! Digam agora mesmo! Não me façam de bobo! O que é que Débora estava fazendo nessa cozinha ontem à noite?! (para Eloá) E por que você disse que era sua amiga?!
Eloá e Danilo, apavoradíssimos, mal conseguem se manter de pé. No olhar de Sísera há apenas ódio, e ele não desgruda a lâmina afiada do pescoço do casal.

CENA 8: EXT. BETEL – ARREDORES – DIA
Parado e de pé, Bogotai observa Débora caída tentando se levantar.
BOGOTAI
A pior parte de lutar com você, Débora, é o fato de eu estar gastando meu tempo com uma mera escrava. Uma hebreia. O seu lugar é no chão, e apenas aí. Fique abaixada, é o melhor pra você.
Ela continua a se levantar.
BOGOTAI
A dor nunca é uma opção. E eu sei disso na prática.
Débora finalmente põe-se de pé e o encara.
DÉBORA
A dor da falta de liberdade é muito maior que a dor do corpo.
Então ela corre até ele segurando a espada de forma que pareça que pretende ataca-lo com ela. Mas, no último segundo, ela joga a espada para o lado e empurra-o com toda sua força e seu peso, fazendo-o cair para trás. Débora, dominando, desfere um soco no rosto de Bogotai, na parte não coberta pela máscara. E outro soco. E outro. E mais outro. E mais um. Então leva a mão para pegar a espada jogada ao lado, mas ele aproveita esse meio-tempo para agarrar os ombros dela e lhe dar uma forte cabeçada; em seguida joga-a para o lado e se levanta.
Débora não perde tempo: pega a espada e tenta enfiá-la em Bogotai, mas ele desvia, prende os dois braços dela ao mesmo tempo e a chuta na altura do estômago, fazendo-a cambalear para trás e cair.
Bogotai então circula por ali como se tomasse um ar.
Débora, caída na grama, com muita dificuldade encara o céu, mais precisamente o sol, que brilha como uma esperança imponente lá em cima.
DÉBORA
Senhor... Me ajude... Por favor...
BOGOTAI
(irônico) Oh, o Deus único... É incrível até onde o seu povo consegue ir mantendo suas fantasias.
Débora, quase gritando, faz muita força e... mais uma vez se coloca de pé.
DÉBORA
Não fale do meu Deus! (correndo) AAAHHH!!!
Ela o ataca e eles voltam a lutar, ela com a espada e ele sem arma alguma. Golpes, desvios, empurrões, socos... De repente Bogotai agarra Débora pelo pescoço, levanta-a e a leva até a árvore, onde bate ela de costa, solta-a e desfere vários socos, ao que ela tenta se defender colocando os braços na frente de si. Então ele a agarra e a joga com força no chão.
BOGOTAI
Onde está o seu Deus, Débora?
Um tanto debilitada, ela se agarra no caule da árvore tentando se levantar.

CENA 9: INT. PALÁCIO – CASA – COZINHA – DIA
Eloá e Danilo continuam com a espada do furiosíssimo Sísera em seus pescoços.
SÍSERA
VAMOS!!! ME RESPONDAM!!!
ELOÁ
Foi Débora!!!
Sísera a encara.
ELOÁ
Foi Débora, senhor! Débora me obrigou! Débora nos encontrou na rua e nos ameaçou! Se não a trouxéssemos para o palácio, ela cortaria nossos pescoços! Ela me obrigou a dizer que era uma amiga minha!
Angustiada e tremendo, Eloá fecha os olhos esperando pelo efeito de sua fala. Sísera olha para Danilo que, tremendo, faz que sim, confirmando o que disse a esposa.
DANILO
Não víamos a hora de o senhor chegar... Foi um alívio sem igual quando o senhor abriu essa porta...
Sísera, ainda muito bravo, abaixa a espada.
SÍSERA
Se eu souber que vocês dois estão mentindo para mim, vou tirar a sorte e fazer um cozinhar a carne do outro nessas panelas. E, depois que comer, o vivo será enforcado.
Os dois ainda tremem diante do Capitão.
SÍSERA
Por ora, para não correr o risco de estarem me fazendo de bobo...
Então Sísera dá um forte soco no rosto de Danilo e, em seguida, no rosto de Eloá. Encara-os caídos...
Depois vira, atravessa a cozinha e sai.
Danilo, desesperado, se arrasta até Eloá.
DANILO
Meu amor! Eloá! Eloá, meu amor, você está bem?!
Apesar de assustada e machucada, ela tenta acalmar o marido.
ELOÁ
Estou... Fique calmo, estou bem...
Ele a ajuda a se levantar...

CENA 10: EXT. BETEL – ARREDORES – DIA
Vendo Débora, aos seus pés, tentando se levantar agarrando-se à árvore, Bogotai faz que não com a cabeça e se afasta um pouco dali.
BOGOTAI
Não se levante, Débora. Morra como uma mulher. Como uma escrava... uma hebreia: caída diante de seu superior. Acredite: lhe trará muito maior honra.
Ela faz os últimos esforços e consegue ficar de pé.
Segurando a espada mais firme que nunca, ela corre gritando e o ataca. Está desesperada para acertá-lo e, a cada erro, sua raiva aumenta e fica ainda mais motivada. Porém, nada resolve. Bogotai é rápido para desviar e, quando não bloqueia os golpes, parece ser quase imune ao corte da lâmina.
Quando ela tenta feri-lo frontalmente, ele segura o cabo por cima da mão dela, ao que ela coloca a outra mão para empurrar a espada, e ele também coloca sua outra mão. Ambos fazem força, mas, devagar, ele arranca os dedos dela... segura o cabo... e o puxa. Débora arregala os olhos ao perder sua espada. Bogotai então segura o cabo com uma mão, a lâmina com a outra e faz força... A lâmina se parte pouco acima do cabo!
Aproveitando que ela está estupefata com o que ele fez com a espada, Bogotai joga todo o peso de seu corpo nela, fazendo-a ser arremessada para trás e cair secamente.
DÉBORA
Meu Senhor... (chorando) Por favor... Eu imploro... Não... Não me... abandone... Não deixe a Sua serva... ser humilhada... Não pode... ser assim...
Bogotai, encarando a paisagem, parece quase alheio a Débora.
BOGOTAI
Sabe, Débora... Estou pensando no que eu vou acabar quebrando primeiro: a sua fé... ou os seus ossos.
Caída, Débora respira com dificuldade...

CENA 11: INT. CASA DE GADI E LAÍS – SALA – DIA
A porta se abre e Gadi deixa livre a passagem.
GADI
Podem entrar.
Laís e Micaela – a nova filha do casal - entram e ele fecha a porta.
GADI
Micaela, seja muito bem-vinda à sua nova casa.
Micaela, com um olhar tranquilo, observa a sala toda.
LAÍS
Venha aqui, vamos ver a cozinha. Talvez você nunca tenha visto a do abrigo, mas é lá que preparamos a comida.
Eles a levam até a porta da cozinha e ela observa.
GADI
Gostou?
Micaela, apesar de atenta, não responde. Laís olha para o marido, mas ele faz um discreto sinal para ela ter paciência.
GADI
(voltando para a sala) Micaela, nós queremos que você sinta-se à vontade. Nossa casa é o lugar em que devemos ser felizes. Você poderá circular por todos os cômodos livremente.
Micaela continua a observar a casa.
LAÍS
Você não é de falar muito...
GADI
Algumas pessoas são assim mesmo.
LAÍS
Eu também era assim, Micaela.
Micaela olha para Laís.
LAÍS
Mas conforme a gente vai crescendo isso vai mudando.
GADI
Micaela, o que você acha de ver o seu quarto?
É quando a menina olha para ele, faz que sim e sorri suavemente. Gadi e Laís riem.
GADI
Ela reagiu...
LAÍS
Viu? Já está crescendo.
GADI
Pois bem. Vamos lá agora mesmo.
Gadi e Laís, levando Micaela, vão para a escada e sobem.

CENA 12: EXT. BETEL – ENTRADA – DIA
Parado na entrada da cidade, Jaziel encara as árvores distantes com muita ansiedade. Seus lábios estão brancos de tanto se apertarem, seu corpo se mexe repetidamente, as palmas de sua mão estão suadas e suas unhas arranham umas às outras.

CENA 13: EXT. BETEL – ARREDORES – DIA
Bogotai, encarando as árvores, parece pensar distante... Então ouve Débora, ao seu lado e perto dali, fazendo força para se levantar.
BOGOTAI
Ah, você ainda está aí! (vira) É teimosa. Não entende que não há nada pelo que lutar. Não há liberdade para se conquistar. E não há missão alguma, pois não há Deus em Israel. Tudo não passou de uma ilusão, um sonho efêmero que se esvaiu. E eu, Débora, eu fui apenas o instrumento do vento agindo na sua fraca chama chamada sonho.
Inacreditavelmente Débora conseguiu se colocar de pé mais uma vez. Fraca, ela olha para o alto...
DÉBORA
Senhor... Ajude-me... Ajude-me, por favor!
Ela então olha para Bogotai e, dessa vez sem espada, corre até ele mais uma vez. Porém está fácil demais para ele, que desvia sem pressa, dá um soco na costa dela e a derruba no chão.
Débora se esforça para ao menos virar de rosto para cima. Bogotai se aproxima dela e a observa.
BOGOTAI
Eu adoraria que você visse o que farei com a sua cidade, Débora. Mas há pouco prometi que você cairá antes.
Ele então se abaixa, leva uma mão às pernas dela e a outra à nuca, faz força e a levanta. Nos braços de Bogotai, ela não tem como reagir.
DÉBORA
Senhor, eu imploro! Me ouça! Me ouça, Senhor, me ouça!!!
Com ela nos braços, Bogotai caminha.
BOGOTAI
Parece que seus ossos quebrarão antes da sua fé...
Então ele para e olha ameaçadoramente para ela.
BOGOTAI
Eu vou quebrar você, Débora. Há muito tempo quero fazer isso.
Débora clama, mas não dá para entender. Bogotai caminha até a beira do precipício e para. Olha lá embaixo: o rio corre rápido de maneira que uma neblina cobre a superfície.
Débora, presa nos braços de Bogotai, clama sem parar.
BOGOTAI
Aqui acaba a sua história, Débora. E, com ela, a ilusão dos hebreus, travestida de sonho. Essa é apenas a lei natural da vida: o mais forte sempre vence no final.
Bogotai levanta Débora mais alto e, com os braços estendidos, coloca-a sobre o abismo. Desesperada, ela clama ainda mais intensamente, porém não se compreende o que diz.
E então Bogotai abre os braços e a solta lá de cima...
Débora despenca...
Seu corpo cai livremente e percorre toda a grande altura, até que entra na neblina de água e some. Não se ouve nenhum barulho diferente, apenas o som ininterrupto da corrente.
Bogotai olha lá para baixo com prazer. Em seu semblante satisfeito visível acima da máscara, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:


No próximo capítulo: Sentindo um aperto no coração, Tamar convida Lapidote para orar. Derrotado, Sísera vai à presença do rei Jabim para falar sobre a fuga de Débora. Bogotai domina a cidade de Betel. E Jaziel encontra o corpo de Débora.



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