Débora
CAPÍTULO 32
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
baseada nos capítulos 3 a 5 do livro
de Juízes
FADE
IN:
CENA 1: EXT.
BETEL – ARREDORES – DIA
Encarando Débora, que acabou de
tirar sua espada das vestes e a segura em posição de combate, é possível
perceber que Bogotai sorri com ironia, apesar da máscara.
DÉBORA
(NAR.)
Bogotai. O
Primeiro Oficial de Sísera. O homem responsável por centenas de mortes, dentre
elas, de crianças. O perfeito exemplo daquilo que muitos chamariam de monstro.
Naquele momento, porém, eu preferia tratá-lo apenas como mais um em minha
extensa lista de inimigos derrotados.
BOGOTAI
Ao sacar
essa espada você cometeu o maior erro de sua vida. Mas terei enorme prazer em
ser o homem que destruiu a grande guerreira Débora.
Ela permanece em posição. Bogotai,
diferente do que esperava Débora, também não se move. Então ela começa a andar
bem devagar. Ele a imita e também dá alguns passos de encontro a ela. Débora
aumenta a velocidade e ele, não se intimidando, igualmente aumenta a sua.
DÉBORA
Ahhh!!!
Débora gira a espada e o ataca com
um golpe, porém ele segura a mão dela no cabo. Ela se desvencilha e o ataca
múltiplas vezes, porém em todos os golpes Bogotai desvia ou guia o braço dela
para o lado. Imediatamente Débora muda a estratégia, afasta os braços e tenta
enfiar a espada no estômago dele. Rápido, Bogotai afasta o tronco para trás ao
mesmo tempo em que bloqueia o golpe segurando o cabo da espada com as duas mãos
por cima das mãos dela. Ela olha para ele surpresa, e ele a puxa para perto de
si e mete um chute nela, que cai para trás.
BOGOTAI
Dado a sua
fama e tudo o que contaram... eu esperava muito mais.
Débora
então crava a espada no chão, faz força e se levanta.
CENA 2:
INT. HAROSETE – ABRIGO DE ÓRFÃOS – DIA
Gadi bate na porta e sorri para sua
esposa Laís. Os dois estão ansiosos. Logo alguém abre a porta, é uma mulher.
MULHER
Gadi e
Laís?
GADI, LAÍS
Isso.
MULHER
Sejam bem-vindos.
Por favor, entrem.
Eles
entram.
CENA 3:
INT. HAROSETE – ABRIGO DE ÓRFÃOS – DIA
Trata-se de um grande salão onde as
crianças correm alegres de um lado para o outro.
MULHER
Eles são
muito bem tratados. Estão acostumados com o melhor. Claro, na medida em que
nosso abrigo tem condições. Mas estão todos muito bem.
LAÍS
Aquele...
Atrás do que está agachado. O que acha, meu amor?
Gadi observa.
GADI
Parece ser
quieto demais... Precisamos de vitalidade em nossa casa.
LAÍS
Tem razão.
Eles continuam observando as
crianças.
LAÍS
E aquela
menina? Veja, que linda...
GADI
Amor, o que
falamos de loiras?
LAÍS
Hum, tudo
bem... (olha para ele) Gadi, eu sei que nenhuma criança será como um
filho de verdade. Um filho que eu te desse... se pudesse. Mas precisamos
escolher... Todos terão defeitos, é assim que são as pessoas.
GADI
Eu sei, meu
amor. Não se preocupe. E não precisa ficar relembrando do fato de que não pode
gerar. Já conversamos muito sobre isso. Sabe muito bem que não me importo como
pensa. Vamos adotar um e pronto. Seremos uma família feliz e completa.
Laís sorri e vira para as demais
sem perceber que Gadi olha para o lado, bem próximo deles, onde há uma menina
de pé aparentando ter uns 8 anos, parada e olhando para eles com um semblante
de piedade.
GADI
Laís,
veja...
LAÍS
Hum?
Laís olha e nota a garota.
LAÍS
Gadi... Ela
está nos olhando...
GADI
É linda...
LAÍS
Parece simpática.
GADI
Mas... tem
um brilho diferente no olhar. Uma força... uma força diferente... Não sei explicar.
LAÍS
Eu gostei
dela, Gadi...
GADI
(curioso) É, eu
também...
A mulher chega ali.
MULHER
E então,
casal? Decidiram?
LAÍS
Acho que
vamos querer essa.
A mulher olha e fica surpresa.
MULHER
A Micaela?!
Estou surpresa...
GADI
Algum
problema com ela?
MULHER
Não,
nenhum! É só que ela não costuma fazer isso que está fazendo... Demonstrar
vontade de ir com alguém. É sempre retraída... Acho que ela gostou mesmo de
vocês.
LAÍS
(sorrindo) Ela nos
escolheu. Não é, Micaela?
Micaela
então corre e abraça os dois ao mesmo tempo. A mulher sorri. Mas a menina, com
o rosto entre Laís e Gadi, encara o nada com um olhar diferente, mais sério que
o esperado para uma garota da sua idade.
CENA 4:
EXT. BETEL – ENTRADA – DIA
Jaziel chega à cidade de Betel,
passa pelo portão aberto e, ali mesmo na entrada, dá de cara com Éder.
JAZIEL
Éder!
Shalom!...
ÉDER
Ahn, aí
está você! O que aconteceu, Jaziel?! Por que você fugiu esse tempo todo?! Para
onde foi?!
JAZIEL
Éder,
apenas me diga uma coisa: diga-me se um homem grande, musculoso e mascarado
entrou na cidade.
ÉDER
Hum, eu não
vi nada. Mas pode ter passado despercebido...
JAZIEL
Não. Se o
tivesse visto certamente se lembraria.
ÉDER
E quem é
esse sujeito?! E o que você fez esse tempo todo?! Tem a ver com a Débora?!
JAZIEL
Muitas
perguntas, Éder. Não falarei nada, sinto muito.
Éder fica inconformado.
ÉDER
Então é
melhor você se esconder que já, já os hazoritas estarão chegando.
Jaziel
vira para trás, para o portão e fica ali, um tanto apreensivo.
CENA 5:
EXT. HAROSETE – ARREDORES – DIA
Débora é ainda mais ofensiva, e
ataca Bogotai de todas as maneiras. Porém, incrivelmente ele desvia ou se
protege de todos os golpes. Furiosa, ela aponta a espada para o rosto dele e o
ataca. Com a costa da mão Bogotai desvia a lâmina, desliza-a até o cabo e
segura as duas mãos dela com sua única. Olha para Débora com desprezo.
BOGOTAI
Isso é tudo
o que você tem?
E com a outra mão dá um soco nela,
que cai para trás. Olhando-a caída, ele abre os braços como se a provocasse.
Também não tem pressa alguma.
BOGOTAI
Você é
muito jovem na arte da luta. Uma iniciante que alcançou a graça da sorte e se
empolgou. Mas essa arte vai muito além de treinos e instruções. A arte da luta
depende da história. E cada um tem sua história. Se soubesse mais sobre mim,
Débora, nem colocaria os pés aqui, pois é impossível me parar.
Um tanto ofegante, ela acabou de se
levantar e agora tenta se recuperar.
DÉBORA
Eu sei que
você tem uma história... É a sua história de escravizar, de matar, de estuprar,
de se divertir às custas do meu povo. Histórias dignas de um monstro!
Ela corre e, de surpresa, dá um
chute nele. Depois mais golpes com a espada, e socos, empurrões... Débora
parece estar no domínio do confronto e Bogotai finalmente sendo derrotado.
Porém, ela muda a investida de forma que a espada corta o ar até parar no braço
dele. Ambos olham e veem que, ao invés de um braço decepado, há no membro um
mero corte, como se fosse um arranhão de espinho.
BOGOTAI
Agora é a
minha vez.
Bogotai dá um soco em Débora, mais
outro, gira o braço que tentava ataca-lo e dá uma cabeçada na testa dela. Ciente
de sua dificuldade, ela corre para ali adiante, uma parte do terreno ainda mais
alta. Bogotai vai até ela tranquilamente. Débora volta a ataca-lo usando a
espada, mas com uma única mão Bogotai segura o movimento dela e, com a outra,
dá vários socos em seu rosto. Ele então dá meia volta em torno dela e a empurra
de volta para o terreno mais baixo, fazendo-a cair.
BOGOTAI
Que
decepcionante...
CENA 6:
INT. SAPATARIA DE LAPIDOTE – DIA
Lapidote abre sua loja. Porém não
está animado como de costume, parece bastante preocupado...
Ele entra. De fato, não está nada
bem.
LAPIDOTE
Espero apenas
que você esteja bem, meu amor.
Respira fundo...
Angustiado,
Lapidote resolve se ajoelhar e orar.
CENA 7:
INT. PALÁCIO – CASA – COZINHA – DIA
Danilo acompanha Eloá, que prepara
outra massa de pão de mel.
ELOÁ
Acho que
vou experimentar a dica da Débora e colocar um pouco de cravo e canela.
DANILO
Será que
presta? Ela nem sabia que existia pão de mel...
ELOÁ
Logo mais
descobriremos se presta ou não. Se sim, servimos ao senhor Sísera.
DANILO
Ele já ama
tanto pão de mel... Se gostar dessa, imagine só os presentes que poderíamos
ganhar...
Nesse instante a porta se abre
violentamente e eles olham: Sísera, furioso, desce a escadinha, atravessa a
cozinha, arranca sua espada, agarra Eloá e Danilo, joga-os na parede e coloca a
espada no pescoço de ambos.
SÍSERA
Vamos, seus
traidores miseráveis! Digam agora mesmo! Não me façam de bobo! O que é que
Débora estava fazendo nessa cozinha ontem à noite?! (para Eloá) E por
que você disse que era sua amiga?!
Eloá
e Danilo, apavoradíssimos, mal conseguem se manter de pé. No olhar de Sísera há
apenas ódio, e ele não desgruda a lâmina afiada do pescoço do casal.
CENA 8:
EXT. BETEL – ARREDORES – DIA
Parado e de pé, Bogotai observa
Débora caída tentando se levantar.
BOGOTAI
A pior
parte de lutar com você, Débora, é o fato de eu estar gastando meu tempo com
uma mera escrava. Uma hebreia. O seu lugar é no chão, e apenas aí. Fique
abaixada, é o melhor pra você.
Ela continua a se levantar.
BOGOTAI
A dor nunca
é uma opção. E eu sei disso na prática.
Débora finalmente põe-se de pé e o
encara.
DÉBORA
A dor da
falta de liberdade é muito maior que a dor do corpo.
Então ela corre até ele segurando a
espada de forma que pareça que pretende ataca-lo com ela. Mas, no último
segundo, ela joga a espada para o lado e empurra-o com toda sua força e seu
peso, fazendo-o cair para trás. Débora, dominando, desfere um soco no rosto de
Bogotai, na parte não coberta pela máscara. E outro soco. E outro. E mais
outro. E mais um. Então leva a mão para pegar a espada jogada ao lado, mas ele
aproveita esse meio-tempo para agarrar os ombros dela e lhe dar uma forte
cabeçada; em seguida joga-a para o lado e se levanta.
Débora não perde tempo: pega a
espada e tenta enfiá-la em Bogotai, mas ele desvia, prende os dois braços dela
ao mesmo tempo e a chuta na altura do estômago, fazendo-a cambalear para trás e
cair.
Bogotai então circula por ali como
se tomasse um ar.
Débora, caída na grama, com muita
dificuldade encara o céu, mais precisamente o sol, que brilha como uma
esperança imponente lá em cima.
DÉBORA
Senhor...
Me ajude... Por favor...
BOGOTAI
(irônico) Oh, o Deus
único... É incrível até onde o seu povo consegue ir mantendo suas fantasias.
Débora, quase gritando, faz muita
força e... mais uma vez se coloca de pé.
DÉBORA
Não fale do
meu Deus! (correndo) AAAHHH!!!
Ela o ataca e eles voltam a lutar,
ela com a espada e ele sem arma alguma. Golpes, desvios, empurrões, socos... De
repente Bogotai agarra Débora pelo pescoço, levanta-a e a leva até a árvore,
onde bate ela de costa, solta-a e desfere vários socos, ao que ela tenta se
defender colocando os braços na frente de si. Então ele a agarra e a joga com
força no chão.
BOGOTAI
Onde está o
seu Deus, Débora?
Um
tanto debilitada, ela se agarra no caule da árvore tentando se levantar.
CENA 9:
INT. PALÁCIO – CASA – COZINHA – DIA
Eloá e Danilo continuam com a
espada do furiosíssimo Sísera em seus pescoços.
SÍSERA
VAMOS!!! ME
RESPONDAM!!!
ELOÁ
Foi
Débora!!!
Sísera a encara.
ELOÁ
Foi Débora,
senhor! Débora me obrigou! Débora nos encontrou na rua e nos ameaçou! Se não a
trouxéssemos para o palácio, ela cortaria nossos pescoços! Ela me obrigou a
dizer que era uma amiga minha!
Angustiada e tremendo, Eloá fecha
os olhos esperando pelo efeito de sua fala. Sísera olha para Danilo que,
tremendo, faz que sim, confirmando o que disse a esposa.
DANILO
Não víamos
a hora de o senhor chegar... Foi um alívio sem igual quando o senhor abriu essa
porta...
Sísera, ainda muito bravo, abaixa a
espada.
SÍSERA
Se eu
souber que vocês dois estão mentindo para mim, vou tirar a sorte e fazer um
cozinhar a carne do outro nessas panelas. E, depois que comer, o vivo será
enforcado.
Os dois ainda tremem diante do
Capitão.
SÍSERA
Por ora,
para não correr o risco de estarem me fazendo de bobo...
Então Sísera dá um forte soco no
rosto de Danilo e, em seguida, no rosto de Eloá. Encara-os caídos...
Depois vira, atravessa a cozinha e
sai.
Danilo, desesperado, se arrasta até
Eloá.
DANILO
Meu amor!
Eloá! Eloá, meu amor, você está bem?!
Apesar de assustada e machucada,
ela tenta acalmar o marido.
ELOÁ
Estou... Fique
calmo, estou bem...
Ele
a ajuda a se levantar...
CENA 10:
EXT. BETEL – ARREDORES – DIA
Vendo Débora, aos seus pés,
tentando se levantar agarrando-se à árvore, Bogotai faz que não com a cabeça e
se afasta um pouco dali.
BOGOTAI
Não se
levante, Débora. Morra como uma mulher. Como uma escrava... uma hebreia: caída
diante de seu superior. Acredite: lhe trará muito maior honra.
Ela faz os últimos esforços e
consegue ficar de pé.
Segurando a espada mais firme que
nunca, ela corre gritando e o ataca. Está desesperada para acertá-lo e, a cada
erro, sua raiva aumenta e fica ainda mais motivada. Porém, nada resolve.
Bogotai é rápido para desviar e, quando não bloqueia os golpes, parece ser
quase imune ao corte da lâmina.
Quando ela tenta feri-lo
frontalmente, ele segura o cabo por cima da mão dela, ao que ela coloca a outra
mão para empurrar a espada, e ele também coloca sua outra mão. Ambos fazem
força, mas, devagar, ele arranca os dedos dela... segura o cabo... e o puxa.
Débora arregala os olhos ao perder sua espada. Bogotai então segura o cabo com
uma mão, a lâmina com a outra e faz força... A lâmina se parte pouco acima do
cabo!
Aproveitando que ela está
estupefata com o que ele fez com a espada, Bogotai joga todo o peso de seu
corpo nela, fazendo-a ser arremessada para trás e cair secamente.
DÉBORA
Meu
Senhor... (chorando) Por favor... Eu imploro... Não... Não me...
abandone... Não deixe a Sua serva... ser humilhada... Não pode... ser assim...
Bogotai, encarando a paisagem,
parece quase alheio a Débora.
BOGOTAI
Sabe,
Débora... Estou pensando no que eu vou acabar quebrando primeiro: a sua fé...
ou os seus ossos.
Caída,
Débora respira com dificuldade...
CENA 11:
INT. CASA DE GADI E LAÍS – SALA – DIA
A porta se abre e Gadi deixa livre
a passagem.
GADI
Podem
entrar.
Laís e Micaela – a nova filha do
casal - entram e ele fecha a porta.
GADI
Micaela,
seja muito bem-vinda à sua nova casa.
Micaela, com um olhar tranquilo,
observa a sala toda.
LAÍS
Venha aqui,
vamos ver a cozinha. Talvez você nunca tenha visto a do abrigo, mas é lá que
preparamos a comida.
Eles a levam até a porta da cozinha
e ela observa.
GADI
Gostou?
Micaela, apesar de atenta, não
responde. Laís olha para o marido, mas ele faz um discreto sinal para ela ter
paciência.
GADI
(voltando
para a sala) Micaela, nós queremos que você sinta-se à vontade.
Nossa casa é o lugar em que devemos ser felizes. Você poderá circular por todos
os cômodos livremente.
Micaela continua a observar a casa.
LAÍS
Você não é
de falar muito...
GADI
Algumas
pessoas são assim mesmo.
LAÍS
Eu também
era assim, Micaela.
Micaela olha para Laís.
LAÍS
Mas
conforme a gente vai crescendo isso vai mudando.
GADI
Micaela, o
que você acha de ver o seu quarto?
É quando a menina olha para ele,
faz que sim e sorri suavemente. Gadi e Laís riem.
GADI
Ela
reagiu...
LAÍS
Viu? Já
está crescendo.
GADI
Pois bem.
Vamos lá agora mesmo.
Gadi
e Laís, levando Micaela, vão para a escada e sobem.
CENA 12:
EXT. BETEL – ENTRADA – DIA
Parado
na entrada da cidade, Jaziel encara as árvores distantes com muita ansiedade. Seus
lábios estão brancos de tanto se apertarem, seu corpo se mexe repetidamente, as
palmas de sua mão estão suadas e suas unhas arranham umas às outras.
CENA 13:
EXT. BETEL – ARREDORES – DIA
Bogotai, encarando as árvores,
parece pensar distante... Então ouve Débora, ao seu lado e perto dali, fazendo
força para se levantar.
BOGOTAI
Ah, você ainda
está aí! (vira) É teimosa. Não entende que não há nada pelo que lutar.
Não há liberdade para se conquistar. E não há missão alguma, pois não há Deus
em Israel. Tudo não passou de uma ilusão, um sonho efêmero que se esvaiu. E eu,
Débora, eu fui apenas o instrumento do vento agindo na sua fraca chama chamada
sonho.
Inacreditavelmente Débora conseguiu
se colocar de pé mais uma vez. Fraca, ela olha para o alto...
DÉBORA
Senhor...
Ajude-me... Ajude-me, por favor!
Ela então olha para Bogotai e,
dessa vez sem espada, corre até ele mais uma vez. Porém está fácil demais para
ele, que desvia sem pressa, dá um soco na costa dela e a derruba no chão.
Débora se esforça para ao menos
virar de rosto para cima. Bogotai se aproxima dela e a observa.
BOGOTAI
Eu adoraria
que você visse o que farei com a sua cidade, Débora. Mas há pouco prometi que
você cairá antes.
Ele então se abaixa, leva uma mão
às pernas dela e a outra à nuca, faz força e a levanta. Nos braços de Bogotai,
ela não tem como reagir.
DÉBORA
Senhor, eu
imploro! Me ouça! Me ouça, Senhor, me ouça!!!
Com ela nos braços, Bogotai
caminha.
BOGOTAI
Parece que
seus ossos quebrarão antes da sua fé...
Então ele para e olha
ameaçadoramente para ela.
BOGOTAI
Eu vou
quebrar você, Débora. Há muito tempo quero fazer isso.
Débora clama, mas não dá para
entender. Bogotai caminha até a beira do precipício e para. Olha lá embaixo: o
rio corre rápido de maneira que uma neblina cobre a superfície.
Débora, presa nos braços de
Bogotai, clama sem parar.
BOGOTAI
Aqui acaba
a sua história, Débora. E, com ela, a ilusão dos hebreus, travestida de sonho.
Essa é apenas a lei natural da vida: o mais forte sempre vence no final.
Bogotai levanta Débora mais alto e,
com os braços estendidos, coloca-a sobre o abismo. Desesperada, ela clama ainda
mais intensamente, porém não se compreende o que diz.
E então Bogotai abre os braços e a solta
lá de cima...
Débora despenca...
Seu corpo cai livremente e percorre
toda a grande altura, até que entra na neblina de água e some. Não se ouve
nenhum barulho diferente, apenas o som ininterrupto da corrente.
Bogotai olha lá para baixo com
prazer. Em seu semblante satisfeito visível acima da máscara, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Sentindo um aperto no coração, Tamar convida
Lapidote para orar. Derrotado, Sísera vai à presença do rei Jabim para falar
sobre a fuga de Débora. Bogotai domina a cidade de Betel. E Jaziel encontra o
corpo de Débora.
Obrigado pelo seu comentário!