CAPÍTULO 09
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Restante do Capítulo 13 + Capítulo 14 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 01: EXT. BELÉM – TRIGAL – DIA
Yuri preocupado, encara Elimeleque.
YURI— Já ouviu falar nesse tipo de praga?
ELIMELEQUE— Se de fato for uma, é algo totalmente novo. Essa cor, essa forma de matar a plantação... Nunca nem ouvi tal descrição.
YURI— Elimeleque, não sei se é impressão minha... Mas acho que não é...
ELIMELEQUE— (pondo-se de pé) O quê?
YURI— Ontem, antes de ir embora, a área atingida era menor...
ELIMELEQUE— Meu Deus... Nessa velocidade, em poucos dias todos os campos estarão em cinzas!
Yuri encara Elimeleque respirando fundo.
ELIMELEQUE— Vamos! Precisamos comunicar o Ancião!
Eles saem.
CENA 02: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Noemi e Tani caminham sérias pela rua. Observam os belemitas negociando amuletos, ídolos de pedra, realizando rituais, acendendo incenso e ajoelhando para as figuras esculpidas...
Um dos comerciantes, vendendo pães e bolos, fala com elas.
COMERCIANTE— Que belo dia está hoje, minhas senhoras! É quase possível tocar a bênção e a prosperidade que nos rodeia e nos abriga, como uma ave que abre suas asas sobre seu ninho. Pois que tal oferecermos bolos de agradecimento à grande Rainha do Céu? Certamente suas casas ganharão privilégios com a grande deusa.
TANI— Não há rainha alguma no céu, apenas Deus, O Único Rei!
O comerciante a encara alguns segundos e, vendo que não realizará venda alguma, começa a anunciar para outros.
TANI— Confesso que está sendo difícil manter a paciência.
NOEMI— Precisamos ser firmes no nosso propósito, minha amiga. Vamos fazer o que viemos fazer.
TANI— Vamos, Noemi.
Noemi ajeita a postura e se prepara para falar com todos.
NOEMI— Hebreus! Meus irmãos e minhas irmãs!
As pessoas olham para ela.
NOEMI— Até quando vão se submeter a essa calamidade?! Não percebem que estão se perdendo?! Que estão fazendo exatamente o oposto do que Moisés, instruído por Deus, passou aos nossos antepassados?!
HOMEM— Cala a boca, mulher!
TANI— Ela tem toda a razão! Deus nos escolheu para ser Seu povo, nos tirou da servidão do Egito por meio de sinais e maravilhas, nos deu essa Terra que mana leite e mel, e é assim que O retribuem?! Com orações, oferendas e sacrifícios a deuses de pedra, à rainhas que não tem reino algum, até porque sequer existem?!
MULHER— Quem você pensa que é para se meter na nossa vida?!
NOEMI— Vocês sabem que o que estão fazendo é abominável aos olhos do nosso Senhor, mas insistem nisso! Estamos vivendo tempos de prosperidade, sim, mas isso vai durar o tempo que Deus quiser que dure. E aí, meus irmãos, não haverá estátua ou amuleto que trará a bênção de volta!
HOMEM 2— Vai cuidar da tua casa, mulher!
HOMEM— É, vai preparar a comida do teu marido!
NOEMI— Saibam! Saibam que nosso trigo já está sendo prejudicado!
HOMEM 3— São boatos!
MULHER 2— E mesmo que não sejam boatos, pragas são comuns em plantações! (debochando) E nada enviado dos céus! Louca!
HOMEM— Pergunta pro teu marido, ele vai te ensinar isso.
NOEMI— Não importa se são boatos ou não! O que interessa é que o que estão fazendo está desagradando a Deus, pois estão ferindo Seus mandamentos! Arrependa-se, Belém! Volte para os caminhos de Deus! Em toda nossa história, toda a vez que nos afastamos de nosso Criador... só houve dor e sofrimento.
VOZ FEMININA (O.S.)— Mas que algazarra é essa?!
Noemi e Tani franzem o cenho e viram devagar para trás, de onde veio a voz. E se impressionam com quem veem.
CENA 03: EXT. BELÉM – TRIGAL – DIA
Em meio aos outros trabalhadores, Malom e Quiliom destoam por estarem observando as moças que servem água.
MALOM— A Hadassa... Veja como é linda... Os olhos, a pele, o cabelo...
QUILIOM— Mas é tão magrinha... Os braços, fininhos...
Malom aperta os olhos observando.
MALOM— É, tem razão... A Mara, então!
QUILIOM— Mara?! Não, não... É muito mandona. Coitado do homem que se casar com ela.
MALOM— Vai ser pior que um jumento de carga!
Eles riem.
QUILIOM— Vamos ver outra... Hum...
MALOM— Lá, aquela servindo...
QUILIOM— Joana?
MALOM— Não me lembrava do nome dela.
QUILIOM— O que você vê nela?...
MALOM— Francamente, irmão! Estamos vendo a mesma moça? Olha que beleza diferente! Uma beleza exótica...
QUILIOM— Exótica demais... Se você quiser ir falar com ela, à vontade. Prefiro, talvez... a Inez.
MALOM— Ficou louco, Quiliom?! Não conhece o pai dela?!
QUILIOM— Que que tem o velho?
MALOM— É mais furioso que um búfalo! Dizem que uma vez um rapaz foi pedir a mão dela em casamento e teve que correr em volta da cidade três vezes para não ser pego pelo homem!
QUILIOM— Ah, bobagem!
MALOM— Melhor evitar problemas e ir atrás de paz e tranquilidade, como, quem sabe, a Ada...
QUILIOM— É bonita, mas veja como anda... (rindo) Parece que tem uma ferida eterna no pé!...
MALOM— Para de zombaria, Quiliom! Vai que ela realmente tem algum problema, e você aí rindo...
QUILIOM— (tentando parar) Desculpa, desculpa... Não pude evitar.
Malom respira fundo.
MALOM— Querem que a gente se case, mas não facilitam...
CENA 04: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Noemi e Tani encaram a recém-chegada.
TANI— Tamires?!
TAMIRES (42 anos) sorri para elas.
TAMIRES— A própria! Em carne, sangue e espírito.
Tani ergue uma sobrancelha.
NOEMI— Está diferente... Deixou Hebrom ou veio à visita?
TAMIRES— Estou voltando para o lugar de onde eu nunca deveria ter saído. Na época eu era muito jovem e acabei me sujeitando às circunstâncias.
Noemi sabe que tem a ver com ela.
TAMIRES— Mas o tempo passou e as coisas mudaram. Dessa vez não haverá presunção ou fracasso travestido de arrogância que me tirará de Belém.
Noemi faz que sim discretamente. Tani continua a observar Tamires, que se aproxima delas devagar.
TAMIRES— O problema é que não conseguirei me restabelecer aqui com duas mulheres pregando sandices nas ruas em plena luz do dia. E acredito que não estou sozinha quanto a isso. Tenho certeza que todos aqui estão se sentindo incomodados e até mesmo invadidos!
Alguns do povo se manifestam concordando. Tamires sorri.
TAMIRES— Noemi, Tani... Parem de pensar que podem dar ordens às pessoas. Deixem que elas façam o que bem quiserem. Cada um segue o seu caminho.
NOEMI— Nós somos o povo escolhido por Deus. Existem leis, mandamentos para que possamos viver bem e amparados pelo Senhor!
TANI— Amparo esse que deve estar acabando, visto os sinais nas plantações!
TAMIRES— Como bem falaram há pouco, deve ser apenas uma praga comum... Nada para se fazer alarde nas ruas, provocando o caos, o medo, o terror!...
ELIMELEQUE— Não é uma praga comum coisa nenhuma!
Todos olham para Elimeleque chegando ali com Yuri.
ELIMELEQUE— Porventura uma praga comum transforma quase meio campo de trigo em cinzas da noite para o dia?!
As pessoas murmuram. Tamires o encara.
ELIMELEQUE— Esse é o meu campo. Mas diversos outros estão em situação semelhante, e pelos sinais, enquanto falamos aqui, mais e mais espigas voltam ao pó da terra! Se isso é uma simples praga, me diga onde fica o campo em que isso já aconteceu antes!
Noemi e Tani o observam preocupadas. A maioria ali também.
ELIMELEQUE— A situação é gravíssima, irmãos! E todos deveriam se preocupar com seus campos! Em breve podemos não ter o que colocar em nossas mesas! O que dar aos nossos filhos!
O Ancião chega ali e as pessoas abrem caminho para ele.
ANCIÃO— Ouvi barulhos e boatos de confusão nessas bandas. O que está acontecendo?
ELIMELEQUE— Estamos em perigo, senhor. Todos nós. Eu vim justamente para lhe falar.
ANCIÃO— Perigo?...
ELIMELEQUE— Infelizmente temo que sim. Venha comigo, por favor. Vou lhe explicar tudo.
Preocupado, o Ancião acompanha Elimeleque e Yuri para outro canto da rua. Tamires encara Noemi – triste – e Tani – num misto de revolta e tristeza – enquanto se afasta vagarosamente. As duas amigas quebram o olhar com a recém-chegada e saem. Tamires permanece olhando para elas com ressentimento e ódio.
TAMIRES— Sua hora chegou, Noemi. E, se possível, você vai entrar na mesma cesta, Tani. Rum... Finalmente vou ter minha vingança.
Close em Tamires.
FADE OUT:
FADE IN:
CENA 05: EXT. PLANÍCIE DESÉRTICA – DIA
Os trigais que cercam Belém, os morros, as montanhas... Montanhas cada vez mais distantes, paisagens com menos vida, terras inóspitas... Até que chegamos a uma vasta planície desértica cercada de morros tão áridos quanto.
No pé de um monte, um numeroso exército aguarda em forma. Os soldados, vestidos com resistentes couraças, empunham uma espada e um escudo redondo no outro braço. Em cada semblante, um misto de ansiedade, tensão e empolgação.
No alto do monte, uma tenda improvisada e sem as laterais abriga um grupo de homens e mulheres vestidos peculiarmente. São os sacerdotes do mesmo reino do exército. Entre eles, o Sumo Sacerdote FARUK (40 anos, careca e vestes negras), a Sacerdotisa MYRA (35 anos, cabelo cortado e branco) e as sacerdotisas RUTE (20 anos, cabelo negro, liso e olhos verdes) e ORFA (20 anos, cabelo e olhos claros). Mais atrás, fora da tenda, alguns servos escoltam uma GAROTA (10 anos, ornada da cabeça aos pés) de aparência indiferente.
Todos ali olham ansiosos para o horizonte. Então o Sumo Sacerdote Faruk semicerra os olhos e, como todos, percebe uma grande movimentação surgir do outro lado da planície: outro exército marchando em direção a eles.
FARUK— Os malditos amorreus estão se aproximando. (para a Sacerdotisa Myra) Está tudo pronto para o sacrifício?
MYRA— Sim, Sumo Sacerdote.
Faruk volta a encarar o exército amorreu aumentando no horizonte. Myra olha brevemente para Rute e Orfa, que permanecem quietas, observando.
Lá embaixo, à frente do exército, o rei ZYLOM (50 anos, cabelo na nuca), montado em seu cavalo e olhando para frente, fala com o CAPITÃO do exército, também montado.
ZYLOM— São uns tolos, mesmo. Não percebem que não tem a menor chance contra nós. Moabe é um reino superior, o nível do nosso exército é muito alto, mas rum... ainda insistem.
CAPITÃO— São persistentes, não há como negar.
ZYLOM— Esmagaremos a todos! Que venham. Assim como fizemos com sua cidade, faremos com eles!
Do outro lado da planície, o também numeroso exército amorreu marcha com vigor rumo à batalha, até que o rei, montado à frente, faz um sinal com o braço e o exército para; o silêncio reina. Ele vira de frente para seus homens.
REI AMORREU— Hoje não é um dia qualquer. Hoje é o dia em que o sol nasceu com apenas um objetivo, meus irmãos: mostrar ao mundo a honra que os filhos de Hesbom reconquistarão! Esta batalha... é uma questão de honra para nós. Os moabitas roubaram nossas casas, se apropriaram de nossas mulheres, transformaram nossos filhos em escravos... Lançaram mão sobre o que tínhamos de mais precioso. Mas agora, irmãos... Agora chegou a hora de tomarmos o que é nosso!!!
Todos os soldados gritam com vigor. O cavaleiro ao lado do rei se aproxima desse.
FILHO DO REI— Eles são muitos, meu pai...
REI AMORREU— Não podemos recuar agora. Vamos lutar, com toda nossa garra! (olha para o exército) Coloquem no fio de suas espadas o motivo de estarem aqui! Preparem-se!
Os soldados amorreus se ajeitam, seguram a espada mais firme, conferem o escudo... e encaram os inimigos com ânimo.
CENA 06: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Elimeleque termina de contar para o Ancião, com o povo ao redor presenciando.
ELIMELEQUE— E é isso...
O Ancião está claramente preocupado.
ANCIÃO— Uma praga como castigo... Você, Noemi e Tani tem toda razão. Há muito tempo esse povo anda por caminhos perversos, e o Senhor certamente está descontente. (para as pessoas ao redor) A verdade é que se não mudarem, o castigo do céu cairá de uma vez sobre Israel!
O povo não repreende o Ancião, mas lhe dão as costas e saem. Ele, decepcionado, balança a cabeça. Elimeleque lhe faz um sinal com a cabeça e se aproxima de Noemi e Tani, frustradas. Tamires também chega ali.
TAMIRES— Elimeleque! Estive pensando, onde estará seu primo Neb?
Elimeleque olha para ela por alguns segundos.
ELIMELEQUE— Depois de todo esse tempo, Tamires?
TAMIRES— É justamente pelo tempo. As coisas mudam, e Neb não está imune a isso.
ELIMELEQUE— Sabe, já que você tem a língua solta, fala como quer, da forma que quer e com quiser, vou te falar a verdade, Tamires. Depois do breve namoro de vocês naquela época, Neb pegou trauma de casamento. Ele já era um tanto avesso à ideia, mas depois de você o rapaz se tornou alérgico à simples ideia de se casar. Mesmo com todos nós tentando convencê-lo de quem nem todas moças são Tamires.
Tamires o encara num misto de curiosidade e descrença. Tani mantém um sorrisinho.
ELIMELEQUE— Infelizmente ele não prosperou nos negócios, e tampouco aceitou ajuda de seu primo aqui. Hoje, passa a maior parte do dia andando pelas ruas, fazendo toda sorte de serviços... incluindo, possivelmente, golpes--
TAMIRES— (interrompendo) Então logo nos reencontraremos!
Tamires sai por uma rua.
TANI— Continuo não confiando nessa mulher. Depois de tanto tempo, volta como se fosse a rainha de Belém.
ELIMELEQUE— (para Noemi) Eu amaria passar o dia aqui com você, meu amor, mas preciso voltar ao campo. Sabe-se lá quanto trigo a mais não se perdeu nesses momentos em que estivemos aqui...
NOEMI— Tudo bem, eu espero por você no final do dia.
Elimeleque a beija.
ELIMELEQUE— Shalom.
NOEMI— Shalom, meu amor.
ELIMELEQUE— Shalom, Tani.
TANI— Shalom, Elimeleque.
Elimeleque sai. Apesar de abatidas, Tani força um sorriso para Noemi.
CENA 07: EXT. PLANÍCIE DESÉRTICA – DIA
REI AMORREU— AVANTE!!!
O rei dá o sinal e o exército amorreu começa a correr pela planície. Os soldados gritam com as espadas levantadas.
Do outro lado, o rei moabita Zylom se enoja.
ZYLOM— As baratas estão vindo. Eu quero todas esmagadas!!!
CAPITÃO— ATACAR!!!
Então o exército de Moabe sai de sua posição e também começa a correr pela planície, de encontro aos amorreus. No alto do monte, os sacerdotes moabitas observam com extrema atenção. Rute e Orfa mantém o olhar fixo na batalha prestes a se iniciar.
Os dois exércitos disparam pela planície e se aproximam cada vez mais... Os soldados gritam! Espadas firmes, escudos em posição, correm, gritam, correm... E, de repente, os exércitos amorreu e moabita colidem furiosamente.
Homem contra homem, espada contra espada! Para todos os lados que se pode ver, golpes são desferidos a grandes velocidades. Soldados duelam, ferem, matam e, em seguida, já tem de enfrentar outro inimigo. Porém, os amorreus claramente estão em vantagem; sua garra é visível! Um deles luta contra dois moabitas. O homem grita a cada vez que desvia de um golpe e impede outro com o escudo. Sua determinação e habilidade faz com que ele derrube um dos inimigos com uma rasteira, meta o escudo no rosto do outro e finalize fincando a espada no primeiro.
FILHO DO REI— Estamos em vantagem, meu pai!
REI AMORREU— Nossos homens têm um objetivo nobre, meu filho! Lute! Pois a vitória ainda está longe!
O filho do rei, ainda montado, galopa ferindo todos os moabitas que sua espada alcança. Em outro ponto da sangrenta batalha, o rei Zylom observa a tudo.
CAPITÃO— Os amorreus se mostraram mais forte do que esperávamos, meu rei!
ZYLOM— AAAHHH!!!
Raivoso, Zylom mata dois inimigos de uma vez e avança contra o restante. Mas a vantagem ainda é dos amorreus, que continuam a abater os moabitas.
Um amorreu luta contra um moabita, mas outro moabita se aproxima por trás. Um segundo amorreu, percebendo a situação, corre, pula e, no ar, corta a cabeça do moabita prestes a acertar seu companheiro pelas costas. Em seguida os dois fincam a espada no peito do primeiro moabita. Fazem um sinal de camaradagem um para o outro e continuam a lutar.
Do alto de seu cavalo, o rei Zylom tem dificuldade de lutar contra quatro amorreus que tentam feri-lo por todos os lados. Vendo a situação de seu rei, o capitão galopa até ali e, com facilidade, mata dois pelas costas. Os outros dois assustam com a chegada repentina, e Zylom aproveita para feri-los mortalmente.
CAPITÃO— Senhor... Odeio dizer, mas se continuar assim, os amorreus levarão a vitória!
A contragosto, Zylom olha para os sacerdotes no monte e faz um sinal com a mão. Faruk entende e, mais que rapidamente, vira para Rute.
FARUK— Traga a oferenda, rápido!
Rute vai até os servos ali atrás, pega a menina pela mão e a conduz até à tenda.
FARUK— Precisam ser rápidas! Os amorreus estão aniquilando nossos soldados!
Por contra própria a garota senta na mesa de pedra e deita. Não aparenta nenhum sinal de medo, parece até mesmo alheia a tudo aquilo.
No campo, o rei amorreu continua a lutar e a incentivar seus homens.
REI AMORREU— Pela honra!!! Pela família!!!
Mais e mais moabitas perecem pelas mãos dos amorreus.
FARUK— Depressa, o óleo!
Rute pega um pote e despeja um pouco de óleo na testa da garota deitada.
MYRA— Mais rápido, sacerdotisas! A fúria dos amorreus se aproxima!
Com o dedo, Rute espalha o óleo pela testa da menina enquanto Orfa amarra suas mãos.
FARUK— Muito bem! Realize o sacrifício, Myra!
Então a Sacerdotisa Myra desembainha um punhal... e se aproxima da mesa. Ergue a arma, apontada para baixo, acima de sua cabeça e fecha os olhos.
MYRA— Deuses de Moabe! Que esta lâmina seja a tua ira sobre os nossos inimigos! Que o sangue puro dessa virgem seja sagrado aos teus paladares! Ó Aserá! Ó Astarte! Ó Tiamat! Ó poderoso Baal-Zebube! Menina, prepare-se para conhecer o bafo quente de Mot, o grande e invencível senhor da morte!
Os olhos de Rute permanecem fixos na garota.
MYRA— Salve Baal! Salve o príncipe dos deuses! Guie está lâmina até o coração dos amorreus!
Rute permanece sem esboçar qualquer traço de reação, mas seus olhos encontram-se intimamente conectados com os olhos da garota, que encara o céu.
MYRA— Que esta morte seja a morte de todos os amorreus!
Com um rápido movimento, Myra corta o ar com a lâmina e a crava no peito da garota.
Um quase imperceptível tremor no olho de Rute.
Myra, Faruk e os outros ali olham para o ato com expectativa. Em seguida viram os olhos para o campo de batalha, à procura de algum indício de reversão da situação.
CENA 08: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Tamires anda tranquilamente pelas ruas da cidade quando escuta uma discussão. Ela para e se esconde para ouvir. Querendo saber quem é, olha com apenas um olho. E é NEB (43 anos) com outros homens.
TAMIRES— Neb?...
NEB— Não me interessa quem faz mais barato! Se não quiserem pelo meu preço, então que procurem outro pra fazer esse servicinho!
HOMEM— Vou mesmo! O senhor é um estúpido, tá certo?!
NEB— Ah, que estúpido o quê! Vai lamber areia! Nem preciso fazer isso pra viver! Rabo de escorpião!
HOMEM— Ah, vai!
Os homens dão as costas e vão embora. Neb sai por outro lado, resmungando, e Tamires o alcança.
TAMIRES— Neb?
Ainda bravo, Neb vira para ela.
TAMIRES— O que aconteceu com você?!
Neb franze o cenho ao olhar para Tamires.
CENA 09: EXT. PLANÍCIE DESÉRTICA – DIA
Um fio de sangue escorre pela lateral da mesa de pedra. Rute leva seu olhar da garota morta para o campo de batalha.
Os amorreus já não estão com a mesma vantagem, e mais e mais dos seus morrem à espada dos moabitas.
ZYLOM— Vamos!!! Matem todos!!!
Apesar de sua determinação, o exército amorreu tem grande dificuldade, e diversos soldados não conseguem terminar seus golpes, acabando brutalmente feridos. Zylom então nota o rei amorreu, próximo dali, assustado com a derrota repentina de seu exército. Ele sorri de orelha a orelha e galopa até o seu inimigo. O filho do rei amorreu nota que Zylom se aproxima de seu pai e então galopa em direção a eles.
FILHO DO REI— Pai!!!
Transtornado, o rei amorreu vira o rosto para seu filho vindo e... BAN! Um empurrão faz com que ele caia de cima de seu cavalo. Sorrindo, Zylom se aproxima do rei caído.
ZYLOM— Lugar de barata é no chão. E esmagada!
Zylom faz o cavalo erguer as patas dianteiras e pisotear o rei amorreu. Ao ver seu pai sendo morto, o filho do rei interrompe o galope. Transtornado, não sabe o que fazer...
Zylom olha do rei morto para o rapaz que, notando a aproximação de outros moabitas, dá meia volta e sai galopando e bradando aos seus soldados.
FILHO DO REI— Recuar!!! Todos, agora!!! Bater em retirada!!!
Os amorreus sobreviventes começam a recuar. Os moabitas, triunfantes, os expulsam e os fazem fugir pela planície. Por fim, gritam vitoriosos! O rei Zylom desce de seu cavalo e comemora abraçando o capitão. No alto do monte, Faruk e Myra sorriem aliviados.
FARUK— Os deuses nunca nos abandonam!
MYRA— (para Rute e Orfa) Obrigada, sacerdotisas! Sua participação no sacrifício certamente lhes contará vantagens nas moradas dos deuses.
Orfa sorri e Rute faz que sim, simpática. Ela olha lá embaixo, e os soldados moabitas retornam comemorando a vitória.
ORFA— (aliviada) Vamos, Rute. Hora de voltar para casa!
Enquanto Orfa a olha, Rute sorri. Mas, no breve momento em que ela vira para trás, nota o corpo da menina, com o olhar vazio, sendo carregado pelos servos. O sorriso de Rute se transforma em um misto de felicidade e incômodo e... IMAGEM CONGELA.
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