Capítulo 47
A RAZÃO DE AMAR
Novela de João Marinho
Escrita por:
João Marinho
Personagens deste capítulo
Otavio Duarte Atendente
Afonso Correria
Celso Correia Lola
Jorge Correia. Afonso Valadares
Madalena Correia. Miro
Marta Correia Carmen
Olímpio Vasconcelos. Pablo
Radialista.
Letícia Fernandes
Cecília Valadares
José Jacinto – Carcará
Débora Valadares
CENA 01/ FAZENDA VALADARES/ QUARTO DE CECÍLIA/ INT./ NOITE
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Otávio estranha a indagação de Cecília. Ele franze a testa e, com olhos fixos na amada, não hesitar em rebater o que a filha de Afonso acabara de perguntar.
OTÁVIO – Que bobagem é essa que você está falando?
CECÍLIA – Eu sei que você está se engraçando com uma quenga. Eu quero saber quem é.
OTÁVIO – Eu não sei do que você está falando. Acho que estão colocando bobagens em sua cabeça.
CECÍLIA – Espero que eu esteja enganada. Mas eu não vou desistir, enquanto tirara essa história a limpo.
OTÁVIO – Pode vasculhar tudo. Eu não escondo nada de você. (Abraça a noiva). Eu só tenho olhos para você, meu amor! Mas esquece essa história. Hoje eu quero ter uma noite bem romântica com você.
Abraçados, eles se beijam.
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CENA 02/ HOTEL CASSINO/ RESTAURANTE/ INT./ NOITE
Débora abre um sorriso intrigante ao ouvir a pergunta do namorado. Eduardo aguarda com ansiedade a resposta da prima. Após alguns segundos em silêncio, Débora responde a pergunta de Eduardo.
DÉBORA – Sim, claro que sim!
Eduardo, sorridente, coloca o anel do dedo anelar de Débora. Em seguida, eles se beijam e brindam com uma taça de vinho.
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CENA 03/ HOTEL CASSINO/ QUARTO 3/ INT./ NOITE
Carcará está deitado na cama, pensativo. Ele pega um papel e anota algumas.
CARCARÁ – É... Otávio, os seus dias também estão contados. Você não vai deixar Cecília infeliz. Ela merece ficar ao lado de um homem que a ame de verdade. Ela ainda será muito feliz ao meu lado.
Carcará se levanta e põe um pouco de cachaça no copo, enquanto observa a sua fantasia de “Mascarado” estirada na cama.
CARCARÁ – Você ainda vai me ajudar bastante.
Ele abre um sorriso e cantarola.
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CENA 04/ FAZENDA CORREIA/ SALA DE ESTAR/ INT./ NOITE
Celso anda de um lado para o outro na sala. Neste instante, Marta desce as escadas. Ela, que está sorridente, se aproxima do marido e o abraça. Em seguida, ela liga vitrola. Eles começam a dançar. Toca a música “Lua Branca”, de Chiquinha Gonzaga.
MARTA – Estamos somente nós dois aqui. Bem que poderíamos ter uma noite romântica como aquelas que tínhamos há anos atrás.
CELSO – A nosso tempo de romantismo já passou. Temos que nos contentar com a velhice. O nosso tempo de aproveitar a vida já passou, minha querida. Daqui a pouco já não estamos mais aqui.
MARTA – Não fala isso. Ainda vamos viver muitos momentos juntos. Vamos ver o nosso filho sendo o homem mais poderoso da cidade.
CELSO – O outro está fazendo a vida na Inglaterra.
Elas continuam a dançar uma dança muito charmosa e romântica.
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CENA 05/ PALMEIRÃO DO BREJO/ RUA DA CIDADE/ EXT./ MADRUGADA
Débora e Eduardo estão no carro. O filho de Afonso é quem dirige o automóvel. Eles se beijam. A filha de Tereza passa o batom nos lábios. Ela está sorridente.
EDUARDO – Quem diria que nós, que vivemos juntos desde a infância, íamos nos apaixonar um dia.
DÉBORA – Por um momento achei que a minha vida não tinha mais sentido e pensei até em me matar. Mas o meu filho é minha prioridade.
Eles se beijam novamente.
EDUARDO – Eu te amo! Você me fez viver de novo. Desde que a minha esposa faleceu, que a minha vida não tem cor.
DÉBORA – E você me fez viver de novo. Desde que o Álvaro renegou meu filho a minha vida não tem nenhum sentido. Mas agora estou encontrando a razão de viver, a razão de amar.
Eles chegam na mansão. Saem do carro e se abraçam. Em seguida, Débora entra; Eduardo entra no carro e parte.
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CENA 06/ MANSÃO DA FAMÍLIA FERNANDES/ QUARTO DE RAUL/ INT./ MADRUGADA
O psiquiatra examina Raul, enquanto Letícia está do lado apreensiva. Ela não consegue conter o nervosismo.
PSIQUIATRA – Foi só mais uma crise. Eu vou receitar mais alguns remédios, mas é normal ele ter esse tipo de crise. Essa doença não tem cura.
LETÍCIA – Ele vai ficar bem, doutor?
PSIQUIATRA – Depois que começar a tomar os remédios, a tendência é que ele não tenha mais essas crises... pelo menos, não com tanta frequência. O essencial é que a doença seja controlada.
Raul está deitado na cama.
RAUL (Gritando) – Eu quero a minha Vera! ... Vera, por que fizestes isto comigo? Por que fostes embora. (Com lágrimas nos olhos). Eu não queria que você fosse embora. Eu te amo!
O psiquiatra e Letícia se entreolham.
PSIQUIATRA (P/Letícia) – Vai passar. É só ter um pouco de calma. Ele é uma pessoa agressiva, por natureza.
Em seguida, o psiquiatra sai. Letícia fica olhando o pai na cama se debatendo e angustiada ela se emociona.
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CENA 07/ FAZENDA CORREIA/ ESCRITÓRIO/ INT./ MADRUGADA/ INT./ MADRUGADA
Lola entra no escritório ao perceber que a porta dele está entreaberta. Ela não hesita em vasculhar a mesa do coronel Celso. Alguns papeis estão sobre esta mesa. A esposa de Jorge não hesita em ler o que está escrito neles.
LOLA – “Às vezes tenho a impressão de que o passado está de volta para me castigar. Estou insatisfeito com a minha velhice. Os meus filhos não tiveram o destino que eu queria. Bernardo foi para a Inglaterra; Jorge está aqui, mas se casou com uma mulher feita e dada aos prazeres mundanos. Mas eu não tive coragem de os pôr para fora de casa porque o meu amor de pai e de avô falou mais alto”.
Lola, ao mesmo tempo que se emociona lendo aquilo, fica triste por saber que o Coronel Celso nunca vai aceita-la como nora, apesar de tudo. Depois de ler aquilo, ela volta a procurar outros papeis. Ela acha alguns papeis, mas nada que comprometa o Coronel. Ela tropeça em uma cerâmica e percebe que está mal colocada no chão. Ela se ajoelha e puxa essa cerâmica. Percebe tem um pequeno baú. Ela abre e vê que tem algumas cartas e documento antigos. Ela pega esse baú, coloca a cerâmica no lugar e sai.
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CENA 08/ FAAZENDA VALADARES/ QUARTO DE CECÍLIA/ INT./ MADRUGADA
Otávio percebe que Cecília adormeceu. Ele se levanta e se veste rapidamente. Por alguns, ele percebe que Cecília se mexe um pouco, mas ela volta a dormir. Ele respira fundo e se acalma. Vestido, ele se olha em frente ao espelho.
OTÁVIO (P/Si) – Ah, Otávio! Vê se da próxima vez você toma mais cuidado para dá deslize. Mas eu quero saber quem falou para ela alguma coisa sobre eu e Lola. Eu vou descobrir.
Em seguida, ela sai.
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CENA 09/ FAZENDA VALADARES/ EXT./ MADRUGADA
Eduardo vai chegando de carro na fazenda. Ele percebe que Otávio está saindo escondido. Intrigado, o filho de Afonso questiona.
EDUARDO – Para onde será que o Otávio vai? Será que ele realmente tem uma amante?
Eduardo estaciona o carro e observa o cunhado entrando no carro dele e siando.
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CENA 10/ HOTEL CASSINO/ QUARTO 6/ INT./ MADRUGADA
Alguns minutos depois.
Otávio entra; Lola já está a sua espera. Ela está com o baú. O filho de Horácio a abraça e a beija.
OTÁVIO – O Celso vai ter uma bela surpresa daqui há alguns. Mas enquanto isso nós podemos continuar nossas aventuras amorosas.
LOLA – Eu consegui esses documentos. São antigos, mas acho que deve te interessar. São antigas. Acho que são da época do seu pai.
Otávio pega o baú e abre. Ele pega as cartas e documentos que estão dentro. Abre um a um.
OTÁVIO – “Querido irmão, você tem que reconhecer Bernardo em seu testamento como seu filho. Senão, eu conto para todo mundo o seu romancezinho com a professorinha. Acho que nem Raul e nem Madalena irão gostar desta surpresa. O Bernardo tem direito a uma parte da sua herança”. (Pega outra carta). “Venâncio, eu também tenho direito à sua herança. Eu exijo pelo menos 40% de todo o seu patrimônio”. (Ele pega uma carta escrita por Venâncio). “Eu preciso de ajudar. Sinto que vão me matar. Se eu aparecer morto, por mais possa parecer um acidente ou até suicídio. Pode ter certeza de que não foi nenhum dos dois, mas um assassinato. Estão querendo me matar!
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CENA 11/ HOTEL CASSINO/ QUARTO 6/ INT./ MADRUGADA
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Otávio pausa a leitura por alguns segundos. Lola percebe que o amante está emocionado.
LOLA – O que foi?
OTÁVIO – Agora, eu tive a certeza de que o meu pai não se matou, mas foi morto. Ele escreveu nesse pai. Acho que é um papel solto de diário. Ele estava sentindo que iam mata-lo.
Vem à sua lembrança a noite do crime. Inserir o Flashback da cena 17 do capítulo 10:
Venâncio entra todo molhado por causa da chuva depois de passar a tarde praticando tiro, como é sempre de costume. Trouxe consigo também uma garrafa de cachaça. No mesmo instante, Otávio entra e sobe as escadas. Tocar a partir desta parte o instrumental “Ataque no Escuro”, da novela Lado a Lado.
VENÂNCIO – Já vai dormir, filho?
OTÁVIO – Vou ler um pouco, painho!
VENÂNCIO – Está certo filho. Uma boa leitura.
Otávio sobe para o quarto.
Fim do insert.
Otávio fica em silêncio por alguns segundos, emocionado. Ela quebra o silêncio com uma reflexão.
OTÁVIO – Eu queria ter aproveitado mais o tempo que fiquei ao lado do meu pai. Mas sei que ele sempre me acompanha nos momentos felizes e tristes.
LOLA – Vamos deixar esse clima triste e ruim para depois.
Eles se jogam na cama e se beijam loucamente. Se despem e tem uma madrugada muito romântica. A câmera desfoca e vai se afastando. Toca a música “Besame Mucho”.
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CENA 12/ PALMEIRÃO DO BREJO RUAS DA CIDADE/ MANHÃ
A música da cena anterior continua. Pessoas passeando nas ruas. Homem numa carroça vendendo flores. Comerciantes abrindo suas lojas. Padre abrindo as portas da igreja. Crianças brincando no meio da rua e na praça. Carcará, vestido de “Mascarado”, faz mímica para as crianças na praça. Carros passando por toda a cidade.
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CENA 13/ HOTEL CASSINO/ RESTAURANTE/ INT./ MANHÃ
A música “Besame mucho” continua. Eduardo e Débora estão sentado a uma mesa, que está farta de comida. Café, leite, suco de laranja, queijo, bolo e biscoitos. Eles se entreolham felizes.
DÉBORA – Eu nunca tive um café da manhã assim. Se todos os homens fossem carinhosos e românticos como você...
EDUARDO – Eu não podia deixar de presentear a minha futura esposa com um café da manhã como esse. Tudo que eu puder fazer por você eu faço.
Eles se beijam.
DÉBORA – Ah, Eduardo, você não existe!
Eles continuam comendo.
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CENA 14/ HOTEL CASSINO/ QUARTO 6/ INT./ MANHÃ
A música “Besame Mucho” para por aqui. Otávio e Lola acordam abraçados. Eles estão envolvidos por um lençol. Otávio se levanta rapidamente e se veste. Lola estranha e questiona.
LOLA – Para que toda essa pressa, meu amor? Fique mais um pouco.
Ela o agarra e puxa para a cama, enquanto ele tenta colocar o cinco. Ele não resiste aos encantos dela e a beija ferozmente. Ele se despe novamente.
OTÁVIO – Desculpa, mas eu não posso ficar com você a manhã toda. Tenho trabalho, tenho a minha noiva...
Em seguida, vai ao banheiro.
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CENA 15 PALMEIRÃO DO BREJO/ RUA DO HOTEL/ EXT./ MANHÃ
Alguns minutos depois.
Eduardo e Débora estão dentro do carro e estão saindo do hotel. Eles reconhecem um carro.
DÉBORA – Aquele não é o carro do Otávio?
Eduardo observa com mais atenção o carro.
EDUARDO – É o carro dele mesmo. O que ele está fazendo aqui a essa hora da manhã? Cecília está sendo enganada!
Débora e Eduardo se entreolham intrigados. Neste instante, eles veem Otávio saindo do Hotel. Ele abraça e beija Lola.
DÉBORA – Otávio tem uma amante!
Eduardo e Débora se entreolham assustados.
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CENA 16/HOTE CASSINO/ EXT. INT. / MANHÃ
Continuação imediata da última cena do bloco anterior. Ao ver que Otávio partira, Débora e Eduardo saem do carro e entra no hotel, onde a cena continua. Eles vão até a recepção. Débora pergunta ao funcionário do hotel.
DÉBORA (P/Recepcionista) – Quem a moça que estava com Otávio?
RECEPCIONISTA (P/Débora) – É Lola. Eles sempre se encontram aqui.
DÉBORA – Qual o número do quarto dela?
RECEPCIONISTA – Quarto 6, minha senhora!
Débora e Eduardo agradecem e saem em seguida.
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CENA 17/ FAZENDA VALADARES/ SALA DE JANTAR/ INT./ MANHÃ
Alguns minutos depois.
Afonso, Branca e Cecília estão sentados à mesa tomando café. Cecília quebra o silêncio.
CECÍLIA – Otávio saiu logo cedo! Eu nem vi.
Neste instante, Eduardo e Débora entram. A filha de Tereza está muito nervosa e com o olhar fixo e assustado para a prima, que percebe a tensão de Débora. Antes que a filha de Afonso falasse alguma coisa, Débora não hesita e fala.
DÉBORA (P/Cecília) – Vimos Otávio beijando uma moça no hotel. Ele não nos viu, mas estávamos de saída e vimos ele com essa moça. O nome dela é Lola e mora no quarto 6 do hotel.
Cecília se levanta desnorteada e com lágrimas nos olhos e começa a gritar.
CECÍLIA (Gritando e chorando) – Não... Não pode ser verdade isso. Não, ele não pode ter feito isso comigo.
Ela mal consegue se sustentar em pé. Mas a raiva faz com que ela ganhe forças.
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CENA 18/ HOTEL CASSINO/ INT./ MANHÃ
Cecília entra no hotel atordoada. A cena é mostrada em slow motion. Ele sobe as escadas espumando de raiva. Ao fundo o som do ponteiro do relógio.
CECÍLIA (Gritando) – Que ódio! Você vai se ver comigo Otávio.
Cecília tenta enxugar as lágrimas. As suas mãos estão tremulas e inquietas. Ela chega no primeiro andar e dá de cara com o quarto 6. Ela aperta a campainha. Lola abre. Cecília avança para cima dela, que não consegue se segurar e cai. Cecília estão esbofeteia a amante de Otávio.
CECÍLIA (Gritando, enquanto esbofeteia) – Fique longe do meu noivo!
LOLA (Gritando) – Eu não sei o que você está falando! Para de me bater.
CECÍLIA (Ofegante) – Cala a boca! Puta que nem você merece está exposta em praça pública. (Gritando). Monstro! Meretriz! Devassa! Rameira!
Cecília dá trinta tapas no rosto de Lola.
CECÍLIA – Agora você está como merece.
Cecília sai, em seguida. A câmera vai passando pelo corpo de Lola, até revelar o rosto todo desfigurado. A esposa de Jorge cospe. Os olhos estão inchados e o rosto cheio de hematomas.
LOLA (Ofegante) – Isso não vai ficar assim!
Focar na expressão de Ódio e no rosto desfigurado de Lola.
Congelamento preto e branco emoldurado como um retrato.
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