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ESPERANÇA - CAPÍTULO 18

 

ESPERANÇA

Capítulo 18

Novela criada e escrita por

Wesley Franco

 

CENA 1. EXT. RUAS DE ESPERANÇA – DIA

Vários carros avançam pelas estradas de terra que levam à cidade de Esperança. São veículos luxuosos, com bagageiros carregados de malas e móveis cobertos. À frente, um Rolls-Royce preto, reluzente, segue em ritmo constante. O carro é dirigido por Tássio, o motorista, com Matteo e Flávio sentados no banco traseiro, e Magali ao lado do motorista. Matteo, observa a paisagem pela janela, a expressão em seu rosto é séria e pensativa.

FLÁVIO (DESCONTRAÍDO) – Por aqui, parece que nada mudou. Mesmas árvores, mesma estrada esburacada....

Matteo continua com o olhar fixo na estrada que leva à cidade. Ele vê a distância, o carro se aproximando da cidade.

MATTEO – Talvez a cidade não tenha mudado nada, mas eu já não sou o mesmo menino que saiu daqui há quase dez anos.

O Rolls-Royce passa pelas ruas da cidade, chamando a atenção de todos, e para em frente a uma grande e luxuosa casa. Os outros carros estacionam atrás, e homens começam a descarregar as malas e os móveis. Tássio desce rapidamente e abre a porta traseira para Matteo e Flávio. Matteo sai do carro com elegância, vestindo um terno bem cortado. Ele para diante da casa e observa atentamente cada detalhe da fachada.

MATTEO (FIRME) – Voltei!

Matteo olha ao redor, como se estivesse se preparando para enfrentar o passado e tudo que o espera em Esperança.

                                                         CORTA PARA:

CENA 2. INT – MANSÃO DE MATTEO – SALA – DIA

Matteo, Flávio e Magali entram na imponente mansão, cuja decoração é uma mescla de móveis clássicos e luxuosos com toques modernos para época. Magali dá alguns passos lentos, admirando as paredes altas, os lustres de cristal e o brilho dos pisos.

MAGALI – Que casa linda! Cada canto é um espetáculo...parece até um palácio.

MATTEO (SORRINDO) – Eu tive todo cuidado na escolha, apesar de São Paulo ter ficado para trás, eu queria que o padrinho tivesse o mesmo conforto que tinha lá e uma casa que tivesse à altura daquele palacete.

Flávio observa o local de forma mais contida, embora o brilho nos olhos denuncie seu deslumbramento. Ele acena, demonstrando aprovação.

FLÁVIO – Realmente...Esse lugar tem um ar imponente. Você fez uma boa escolha, Matteo. Muito melhor do que eu esperava. Não imaginava que aqui em Esperança tinham casas nesse nível.

MATTEO – Esse casarão pertence a uma família de italianos muito importantes da região, que dizem que investiu tudo o que tinha para construir essa casa. Depois de vender as terras aos outros fazendeiros, ele e a família voltaram para a Itália, fiz uma proposta e agora é nossa.

Tássio, o motorista, entra carregando as primeiras malas, e logo atrás, outros funcionários seguem com o restante da mudança. Magali, animada e proativa, se apressa a organizar a chegada das malas, dando instruções com entusiasmo.

MATTEO (DIRIGINDO-SE A MAGALI) – Providencie que o quarto do padrinho seja o primeiro a ser organizado. Quero que ele tenha um bom descanso, a viagem foi muito longa.

MAGALI – Pode deixar. Vou garantir que ele tenha tudo pronto o mais rápido possível.

Magali se vira para os funcionários.

MAGALI – Vocês, me acompanhem! O quarto do senhor Flávio será o primeiro a ser arrumado. Vamos!

Enquanto os funcionários seguem Magali para a parte superior da mansão, Matteo e Flávio trocam um olhar.

                                                         CORTA PARA:

CENA 3. INT. FÁBRICA CAFÉ ESPERANÇA – DIA

Camila se aproxima da entrada da Fábrica Café Esperança, que pertence a Inácio. Os sons de maquinário, vozes ao fundo e o aroma de café fresco tomam o ambiente. Inácio, que já estava esperando por ela na entrada, abre um sorriso caloroso, com um brilho no olhar.

INÁCIO – Camila! Seja bem-vinda. Eu estava realmente ansioso para te mostrar tudo.

Inácio a cumprimenta com um abraço e um beijo na bochecha.

CAMILA (SORRINDO) – Obrigada pelo convite, Inácio. Fiquei curiosa para entender de perto como é a produção de café. Esse lugar é enorme!

INÁCIO (COM ORGULHO) – Muito maior do que parece por fora. E tudo começa aqui. Vem, vou te mostrar.

Eles caminham juntos pela área de produção, onde grandes sacos de café estão empilhados. Inácio aponta para cada etapa do processo enquanto eles passam.

INÁCIO – Primeiro, recebemos o café cru, que chega toda semana das fazendas da região. A maior parte vem da fazenda do seu pai, o Coronel Almeida...ele tem os melhores grãos da região.

Camila escuta atentamente, observando os trabalhadores que selecionam o café e o conduzem para as grandes máquinas de torrefação.

CAMILA – Cresci correndo pelas plantações de café, mas nunca imaginei que houvesse tantas etapas até o café chegar à mesa das pessoas. Sempre admirei a qualidade do Café Esperança...agora entendo por quê.

INÁCIO – A gente se esforça para manter o padrão. Só a melhor qualidade para os nossos clientes. E fico contente de ver que você tem interesse, nem todo mundo valoriza o que tem por trás de um bom café.

Eles continuam o tour, agora em direção ao escritório da presidência, onde Sílvia, a secretária de Inácio, os aguarda com uma bandeja e duas xícaras de café.

SÍLVIA (COLOCANDO AS XÍCARAS DA MESA) – Um pouco do nosso café especial para vocês. Espero que apreciem.

INÁCIO (GENTIL) – Obrigado, Sílvia.

Camila toma um gole, saboreando o café com um sorriso evidente de satisfação.

CAMILA – Isso é maravilhoso! Um sabor tão encorpado, meus parabéns pelo trabalho, Inácio.

INÁCIO (SORRI) – Fico muito feliz que tenha gostado.

Inácio respira fundo, tomando coragem.

INÁCIO – Falando em momento especiais, o baile de aniversário da cidade está chegando, e eu gostaria que você fosse minha acompanhante. O que me diz?

CAMILA (SURPRESA) – Eu adoraria, Inácio. Será um prazer ter a sua companhia!

Inácio sorri, visivelmente satisfeito com a resposta. Eles trocam um olhar profundo enquanto continuam a conversar.

                                                         CORTA PARA:

CENA 4. INT. FAZENDA ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – ESCRITÓRIO – DIA

Almeida, sentado atrás de uma grande mesa, examina documentos com uma expressão severa e concentrada. O silêncio é interrompido por três bastidas firmes na porta.

ALMEIDA (SEM LEVANTAR O OLHAR) – Entre.

A porta se abre e Ezequiel, o leal jagunço de Almeida, entra no escritório. Ele tira o chapéu e o segura junto ao peito, claramente com algo importante para dizer.

EZEQUIEL – Com licença, Coronel. Temos um problema.

ALMEIDA (ERGUE O OLHAR) – O que aconteceu dessa vez?

EZEQUIEL – É o Zeca, senhor. Aquele peão velho que trabalha há anos com a gente. Ele tá enchendo a cabeça dos outros peões de que eles precisam de melhores condições de trabalho. E...isso tá ganhando força, ele tá encabeçando um grupo de peões que estão começando a pensar igual a ele.

Almeida franze a testa e se inclina para frente, com uma indignação demonstrada em seus olhos.

ALMEIDA – Ora, mas vejam só! Eu dou a esses miseráveis o que eles jamais conseguiriam sozinhos: um teto sobre suas cabeças, um emprego, comida na mesa, e é assim que eles me pagam? Querendo se rebelar?

EZEQUIEL – Esses ingratos não sabem valorizar o que o senhor faz por eles, Coronel.

ALMEIDA (IRRITADO) – Ingratos é pouco! Vou mostrar para eles como as coisas funcionam por aqui. Zeca, não é? Aquele velho maldito! Como se atreve a desafiar o meu poder, na minha própria fazenda?

Almeida se levanta bastante irritado, pega o chicote que está pendurado na parede, fazendo um sinal para que Ezequiel o siga. Seu rosto exibe um olhar frio.

ALMEIDA – Vou dar uma lição nesse Zeca. Uma lição que ele, nem ninguém, vai esquecer tão cedo.

                                                         CORTA PARA:

CENA 5. INT. CASA DE MARTINA – SALA – DIA

Martina atende a porta após ouvir a campainha. Ao abrir, ela vê Matteo, seu sobrinho, após anos de distância. Ele está bem-vestido, com uma expressão madura e séria.

MARTINA (SORRINDO) – Matteo! Você voltou, meu menino! Não sabe a falta que fez aqui.

Martina abraça Matteo com força.

MATTEO (SORRI EMOCIONADO) – Tia Martina, a senhora não mudou nada durante esses anos, igualzinha como no dia que fui embora.

Enquanto eles ainda se abraçam, Rodolfo, o irmão mais novo de Matteo, desce as escadas ao ouvir a conversa. Ao ver Matteo, ele abre um sorriso e corre para abraça-lo.

RODOLFO (ABRAÇANDO MATTEO) – Irmão! Nem acredito que está aqui!

MATTEO – Rodolfo...você cresceu, virou um homem! Mas me conta, como você está?

RODOLFO – Você continua o mesmo galã de sempre! Que saudades que eu senti de você.

MATTEO (RINDO) – Agora eu estou muito melhor arrumado do que antes, e galã está você, aposto que deve estar cheio de moças correndo atrás de você.

Rodolfo e Matteo riem.

MATTEO – E a Isabella, onde está? Quero vê a minha irmãzinha, deve ter se tornado uma bela mulher.

Martina, ao ouvir a pergunta de Matteo, seu sorriso se esvai e ela troca um olhar rápido e tenso com Rodolfo. Matteo percebe e se inquieta.

MATTEO (ESTRANHANDO) – O que houve? Aconteceu alguma coisa com a Isabella?

Martina hesita, sua expressão se fecha momentaneamente, e ela respira fundo antes de responder.

MARTINA – Matteo, depois do que aconteceu entra ela e o Jerônimo, a Isabella saiu de casa.

MATTEO (CONFUSO E SURPRESO) – Do que você está falando, tia? Que história é essa?

MARTINA – Eu te enviei uma carta explicando tudo que aconteceu, contando que a Isabella tentou seduzir o Jerônimo, e eu flagrei os dois no quarto.

MATTEO (EM NEGAÇÃO) – Eu nunca recebi essa carta! Todas as cartas que me mandaram diziam que estava tudo bem! Não pode ser...Isabella...Jerônimo...

RODOLFO (COM AMARGURA) – É verdade, Matteo. Desde que você se foi, a Isabella não é mais a mesma, depois do que aconteceu aqui ela saiu de casa e foi parar no bordel. Hoje, a Isabella é uma prostituta.

Matteo leva a mão à cabeça, visivelmente abalado e sem conseguir acreditar. Nesse momento, Jerônimo entra, ouvindo o final da conversa. Sua expressão é defensiva, mas controlada.

JERÔNIMO – Eu nunca toquei na Isabella, mas ela a todo tempo se insinuava para mim, me provocava. Ela fez de tudo para destruir o meu casamento, mas acabou destruindo a própria vida.

MATTEO (INCRÉDULO) – E você acha que me convence, Jerônimo? Quer me fazer acreditar que a Isabella, minha irmã, praticamente uma menina, se jogou assim na miséria por escolha?

JERÔNIMO (FRIO) – Se não acredita, vá até o bordel e tire suas próprias conclusões. Ela não vive nenhuma vida miserável, muito pelo contrário, agora é ela quem comanda o lugar. Desde a morte de Madame Yvette, Isabella se tornou a dona do bordel, ela está rica e cheia de jóias. A sua irmã que você tanto estima é, hoje, a responsável pelo lugar mais infame dessa cidade.

Matteo fecha os olhos, claramente perturbado, mas se recompõe, mantendo a voz firme.

MATTEO – Pois eu vou, vou falar com ela, mas se não se engane, Jerônimo, eu descobrirei a verdade.

JERÔNIMO (SARCÁSTICO) – Vá, faça o que quiser. Mas lembre-se, Matteo, enquanto você esteve longe, a verdadeira família que o Rodolfo conheceu foi a que demos a ele. Ele é o homem que é hoje graças a mim.

MATTEO – E eu agradeço por isso.

Matteo vira-se para Rodolfo.

MATTEO – Rodolfo, se quiser, venha morar comigo. Comprei uma bela casa, e você é bem-vindo nela.

RODOLFO – Eu vou com você, Matteo.

MATTEO (SORRI) – Ótimo. Arrume suas coisas. Primeiro, preciso resolver essa história com a Isabella, mas depois venho te buscar.

MATTEO (PARA MARTINA) – Obrigado, tia, por tudo que você fez por mim e pelos meus irmãos.

MARTINA – Não tem o que agradecer, eu fiz o meu papel de tia, apesar de não ter conseguido evitar que a Isabella se tornasse o que se tornou.

MATTEO – Eu vou conversar com a Isabella, preciso entender o que aconteceu.

                                                         CORTA PARA:

CENA 6. EXT. FAZENDA ALMEIDA – PLANTAÇÕES – DIA

Montado em seu cavalo, Almeida cavalga com altivez, seguido de perto por Ezequiel, que o acompanha em outro cavalo. Eles avançam em direção a Zeca, que já suado e exausto, carrega pesadas sacas de café até uma caminhonete, sob o olhar atento de outros trabalhadores, todos com expressões de cansaço. Almeida para o cavalo em frente a Zeca, mas não desce dele.

ALMEIDA (COM UM SORRISO CÍNICO) – Zeca, eu soube que você anda inquieto. Ouvir dizer que anda conversando com resto dos peões, querendo melhorias. É isso mesmo?

ZECA (HESITANTE) – Coronel, não é por mal, é que a gente tá ficando velho, o corpo já não aguenta mais tanto peso e tanto trabalho debaixo desse sol...

ALMEIDA (INTERROMPE BRUSCAMENTE) – É isso que vocês chamam de gratidão? Eu dou moradia para vocês, dou trabalho e até credito pra comprarem na bodega. E ainda têm coragem de pedir mais?

Zeca baixa a cabeça, tentando conter o nervosismo.

ZECA – Coronel, me desculpe, não queria que o senhor pensasse que a gente tá sendo ingrato, mas a gente só queria um pouco de descanso, umas condições melhores.

ALMEIDA (COM DESDÉM) – Descanso? Mas isso vocês já têm, todos os domingos.

ZECA – Mas Coronel...

ALMEIDA – Ezequiel, acho que o Zeca precisa de uma lição pra aprender a me respeitar e a lembrar a ser grato por tudo que já fiz por ele e outros trabalhadores dessa fazenda.

Almeida, em um gesto cruel, estende o chicote para Ezequiel. Ezequiel pega o chicote sem hesitar e, num movimento rápido, desce do cavalo e se aproxima de Zeca. Com uma expressão de pavor, Zeca tenta se afastar, mas Ezequiel o segura firmemente e começa a chicoteá-lo. A cada golpe, Zeca grita de dor, e outros trabalhadores olham com medo, sem ousar interferir.

ALMEIDA - Que isso sirva de aviso pra vocês. Eu mando aqui, e quem tentar me desafiar vai ter o mesmo destino. Entenderam?

Todos os trabalhadores assentem em silêncio, temendo pelo próprio destino. Siqueira, um dos mais jovens, corre até o depósito onde Marcos, está contabilizando as sacas de café com uma prancheta.

SIQUEIRA (DESESPERADO) – Senhorzinho Marcos! Venha rápido, eles tão machucando o Zeca! O Coronel mandou Ezequiel dar uma surra nele!

Marcos deixa a prancheta de lado e corre em direção às plantações, seguido de Siqueira. Quando ele chega, encontra Zeca no chão, coberto de sangue e gemendo, enquanto Ezequiel ainda o chicoteia, implacável. Marcos avança até Ezequiel.

MARCOS (INDIGNADO) – Já chega, Ezequiel! Para com isso agora!

Ezequiel hesita por um momento, olhando para o Coronel, que o observa com irritação.

ALMEIDA (FRIO) – Marcos, não se meta! Você não tem nada a ver com isso, esse assunto é comigo e eu resolvo as coisas à minha maneira.

MARCOS – Isso não está certo, pai! Não estamos mais no Império, ele não é seu escravo para você mandar seu jagunço chicoteá-lo. O Zeca trabalha nessa fazenda há anos, já está velho, e só pediu condições dignas de trabalho, isso é um absurdo!

Almeida – Absurdo? Absurdo é ter um filho fraco, que não entende o que é necessário pra manter o respeito. Quem desafia minha autoridade paga com sangue. E você, Marcos, tem muito o que aprender.

Marcos olha para o pai com nojo, mas se controla. Almeida ordena a Ezequiel que pare, e então encara os trabalhadores ao redor, que observam a cena, apavorados.

ALMEIDA (AMEAÇADOR) – Que isso seja uma lição. Sejam gratos ao que eu ofereço a vocês, quem quiser mais do que eu dou vai acabar como o Zeca aqui.

Almeida sai, Ezequiel monta em seu cavalo e segue Almeida, enquanto Marcos se ajoelha ao lado de Zeca, tentando ajuda-lo.

                                                         CORTA PARA:

CENA 7. INT. BORDEL DE MADAME YVETTE – SALÃO – DIA

Matteo entra no bordel, ao entrar, é recebido por Robervaldo, que observa Matteo com um interesse quase instantâneo, encantado com sua presença.

ROBERVALDO (SORRINDO E PROVOCATIVO) – Oi, moço bonito, nunca te vi por aqui antes? Se veio se divertir com as meninas, chegou cedo demais, a casa ainda está fechada, só à noite, mas se veio buscar outro tipo de diversão, o meu quarto está aberto para você.

MATTEO – Não vim para me divertir. Estou aqui para falar com minha irmã.

ROBERVALDO (CURIOSO) – E quem seria sua irmã?

MATTEO – Isabella.

Robervaldo arrega os olhos, surpreso. Ele se recompõe e acena com a cabeça.

ROBERVALDO – Você deve ser o Matteo, o irmão da Isabella que estava para chegar, só um momento, vou chama-la.

Robervaldo sobe as escadas, e depois de alguns instantes, Isabella desce, vestida em um vestido elegante e provocante, repleta de joias. Ela caminha com firmeza, mas ao ver Matteo, um sorriso aparece em seu rosto. Ela o abraça intensamente, mas Matteo logo se afasta, observando o vestido e as joias com uma expressão de desconforto.

MATTEO (DESAPONTADO) – Isabella, o que aconteceu com você? Como veio parar aqui?

ISABELLA (DESVIANDO O OLHAR) – Matteo, eu sei que é difícil para você entender isso, mas aqui eu me sentir acolhida, a Madame Yvette sempre me viu como uma filha, e quando ela morreu, me deixou o bordel, eu me sinto em casa aqui.

MATTEO – Em casa? Nossa mãe e nosso pai teriam vergonha de saber que a filha deles está vivendo dessa forma. Você virou uma prostituta Isabella!

ISABELLA – Nunca me deitei com homem nenhum por dinheiro, Matteo. Madame Yvette jamais me obrigou a nada.

MATTEO – Então me diz, por que você veio parar aqui? É verdade o que me contaram? Que você deu em cima do Jerônimo?

Isabella hesita, temendo as consequências, mas, pressionada pelas ameaças de Jerônimo, confirma.

ISABELLA (BAIXA A CABEÇA) – Sim. Jerônimo...ele me atraía, e...eu não me contive. Mas a tia Martina nos flagrou e eu precisei ir embora.

MATTEO (INCRÉDULO) – Não consigo acreditar que minha irmã, aquela menina que eu conhecia, se deixou levar a esse ponto.

Matteo se afasta, desapontado, Isabella tenta se aproxima, mas Matteo se desvencilha, seu semblante é um misto de dor e decepção. Isabella, com lágrimas correndo, o observa se afastar.

ISABELLA – Matteo...por favor...

Matteo olha uma última vez para Isabella e sai com uma expressão fria, enquanto Isabella cai em prantos, sentindo-se despedaçada.

                                                         CORTA PARA:

CENA 8. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – SALA/SALA DE JANTAR - NOITE

Nina, a empregada, abre a porta da Casa dos Almeida para Inácio, ela sorri e faz uma breve reverência. Inácio, traz nas mãos um lindo buquê de flores.

NINA – Boa noite, Sr. Inácio.

INÁCIO (SORRINDO) – Boa noite, Nina.

De repente, Camila aparece descendo a escadaria. Ela esboça um sorriso ao perceber o buquê.

CAMILA (CONTENTE) – Inácio! Que surpresa agradável.

Inácio, com um sorriso cheio de carinho, estende o buquê para ela.

INÁCIO – Para você, Camila. Sei que adora flores.

CAMILA (SORRI, PEGANDO AS FLORES) – Que lindas...obrigada, Inácio, são perfeitas. Se me trouxer flores cada vez que vier aqui, ficarei mal acostumada.

Os dois trocam um olhar afetuoso, mas são interrompidos pela entrada de Dorotéia e Coronel Almeida na sala.

INÁCIO – Coronel, Dona Dorotéia, boa noite.

DOROTÉIA (SORRINDO) – Boa noite, Inácio! Que bom vê-lo aqui, vai deixar o nosso jantar muito mais agradável.

ALMEIDA – É sempre um prazer tê-lo aqui em minha casa, rapaz, sabe que é muito bem-vindo.

Nesse momento, Nina aparecendo, avisando que o jantar está pronto.

NINA – O jantar está pronto.

Os quatro seguem para a sala de jantar e se acomodam à mesa, onde Nina os serve com atenção.

INÁCIO – Imagino que vocês ainda não saibam da novidade.

ALMEIDA – Novidade? Passei o dia lidando com um problema que tive com um funcionário da fazenda, não fui à cidade hoje.

Dorotéia e Camila trocam um olhar curioso, ambas intrigadas.

DOROTÉIA – Agora fiquei curiosa. Que novidade é essa, Inácio?

INÁCIO – Flávio Matarazzo se mudou para Esperança. E trouxe consigo o afilhado dele...Matteo Bellini, aquele rapaz que fez aquele escândalo na festa de aniversário do Coronel.

Todos na mesa reagem com surpresa, mas Camila é que mais demonstra impacto. Os olhos de Camila brilham ao ouvir o nome de Matteo e um sorriso toma conta do seu rosto, enquanto Coronel Almeida mantém uma expressão de desagrado.

CAMILA (ENTUSIASMADA) – O Matteo voltou?

ALMEIDA (INCOMODADO) – Então, o Matarazzo está na cidade? E por que, diabos, ele se traria até aqui?

INÁCIO – Bom, depois que o filho dele, o Ernesto Matarazzo, morreu em um acidente de carro em São Paulo, o Matteo Bellini se tornou o único herdeiro. Ele já presidente o Grupo Matarazzo, que possui fábricas por todo o Brasil e até na Argentina.

ALMEIDA (SURPRESO) – Não sabia que os Matarazzo tinham tantas fábricas assim.

INÁCIO – Pois é, Coronel. E o que eles vieram fazer aqui ainda é um mistério, mas suspeito que queiram expandir os negócios pela nossa região.

Camila ainda parece deslumbrada, enquanto Almeida fica sério e pensativo.

                                                         CORTA PARA:

CENA 9. INT. BORDEL DE MADAME YVETTE – SALÃO – NOITE

A noite começa movimentada no bordel. O salão é vibrante, repleto de música animada e risadas, com homens de diversas idades que bebem, fumam e dançam. Augusto e Pedro entram pelo salão, observando as mulheres seminuas que circulam com olhares sedutores e flertes provocantes.

AUGUSTO (PROVOCATIVO) – E então, meu amigo, o que você disse para sua noiva pra escapar e vim parar aqui?

PEDRO (RINDO) – Ah, eu disse a Hismeria que ia resolver alguns negócios urgentes da prefeitura, sabe como é, tive que improvisar.

AUGUSTO – Negócios urgentes? Já faz anos que você promete casamento e não marca a data. No começo, só queria ganhar a apostar que fizemos de leva-la para casa, e agora está noivo dela há tempo que me pergunto se você vai mesmo casar um dia.

PEDRO – Eu ainda pretendo, só estou adiando um pouco.

AUGUSTO (DUVIDANDO) – Sei, sei, vou esperar sentado.

Florzinha e Mara se aproximam. Florzinha se aproxima de Augusto, sorrindo e com um ar provocante, enquanto Mara laça Pedro pelo braço, o seduzindo.

MARA – E então, gatinho, por que não vem comigo? Vou cuidar bem de você.

Pedro se rende ao charme de Mara, beijando o pescoço dela enquanto ela o conduz a uma das mesas. Florzinha se aproxima de Augusto, sussurrando algo no ouvido dele, o que faz Augusto sorrir de satisfação. Augusto sobe as escadas, desacompanhado, em direção os quartos.

                                                         CORTA PARA:

CENA 10. EXT. CIDADE DE ESPERANÇA – DIA/NOITE

     SONOPLASTIA: QUEM SABE ISSO QUER DIZER AMOR – MILTON NASCIMENTO

O sol nasce em Esperança, algumas mulheres varrem as calçadas e conversam alegremente. Crianças correm pelas ruas, brincando de pega-pega. Pequenos comerciantes abrem suas lojas. Padre Olavo atravessa a praça, cumprimentos os moradores. O dia transcorre com tranquilidade na cidade. A noite cai sobre Esperança e a cidade é iluminada por luzes amarelas e festivas penduradas por toda a praça central. O salão de festas, decorado especialmente para a ocasião, brilha com enfeites elegantes e arranjos de flores. Os homens estão vestindo ternos e as mulheres vestidos rodados, com cabelos bem penteados e adornados por grampos e chapéus discretos. Dentro do salão, uma banda toca um jazz suave, o que convida os casais a dançarem, em um verdadeiro clima de celebração.

                                                         CORTA PARA:

CENA 11. INT. SALÃO DE FESTAS – NOITE

O salão está repleto de convidados. De um lado, Angislanclécia, Candoca e Chandra Dafni riem juntas, encantadas com a festa e o glamour da noite. Hismeria está ao lado de Pedro, ambos bem vestidos e trocando carinho. Padre Olavo conversa discretamente com Gustavo, o seminarista, enquanto Dr. Romeo e o Delegado Afrânio observam a festa, conversando sobre a cidade e seus habitantes. Em um canto mais afastado, Henrique, Eriberto, Augusto e Fontes compartilham histórias e risadas.

Isabella, Robervaldo, Zuleika, Florzinha, Mara, Teodora e Carolina chegam à festa, atraindo olhares curiosos. A viúva Leda, acompanhada da filha Mariana, observa o grupo do bordel com desdém, franzindo a testa em desaprovação enquanto cochicha algo para a filha.

Do outro lado do salão, Coronel Almeida está cercado pela esposa Dorotéia, Inácio, Camila, Leonora, Marcos, Helena, Homero e Nina, enquanto Ezequiel observa tudo atentamente, com seu olhar de sempre, atento aos movimentos de todos ao redor. Próximo dali, Jerônimo, ao lado de Martina, bebe um copo de whisky, enquanto observa a festa.

                                                     SONOPLASTIA OFF

De repente, o burburinho da festa cessa quando uma entrada impactante chama a atenção de todos. Matteo Bellini, em um terno impecavelmente alinhado, entra no salão com elegância. Ele está acompanhado de seu tio Flávio, e de seu irmão, Rodolfo. Os olhares dos moradores de Esperança se voltam a eles, curiosos e admirados com Matteo. Conforme Matteo avança pelo salão, ele cumprimenta as pessoas que o abordam com respeito e um toque de reverência, seus olhos percorrem o ambiente até que ele vê Camila ao lado de Inácio.

                             SONOPLASTIA: CLOSE TO YOU – CIDIA E DAN

Os olhares de Matteo se cruzam, e é como se o tempo parasse. Um sorriso suave surge nos lábios de ambos, e o brilho em seus olhos revela o reencontro de um amor que parecia perdido. Camila, encantada, leva a mão ao peito, em uma mistura de surpresa e emoção. Matteo permanece em pé, observando-a com um olhar intenso e sereno, seus sentimentos inconfundíveis.

FIM DO CAPÍTULO

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