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ESPERANÇA - CAPÍTULO 01 - ESTREIA

 



ESPERANÇA

Capítulo 01

Novela criada e escrita por

Wesley Franco

 

CENA 1. INT. CASA VAZIA – SALA - DIA

A imagem abre mostrando o interior de uma sala modesta, próximo a janela e ao lado de uma poltrona se encontra um rádio sobre uma mesa de madeira. O rádio está tocando “Brasil” uma canção de Francisco Alves que preenche o silêncio da sala vazia. A música continua a tocar até que é interrompida por uma interferência brusca do jornalismo da rádio. A vinheta do repórter Eso surge no rádio, anunciando que ele irá falar.

REPÓRTER ESO – Amigos ouvintes aqui quem fala é o repórter Eso, testemunha ocular da história. A rádio de Hamburgo depois de transmitir o crepúsculo dos deuses durante muitas horas acaba de anunciar: Hitler está morto! Terminou a guerra! Terminou a guerra! Terminou a guerra!

                                                CORTA PARA:

CENA 2. RUAS DE VÁRIAS CIDADES DO MUNDO - DIA

                             SONOPLASTIA ON: SPERANZA – LAURA PAUSINI

Tomadas em série e em rápida sucessão mostrando pessoas se reunindo pelas ruas de cidades como Londres, Paris e Washington, todas carregando bandeiras e adornos com as cores das bandeiras de seus respectivos países, as pessoas celebram com bastante alegria e entusiasmo o fim da segunda guerra mundial, se abraçam emocionadas, se mostram solidárias e felizes umas com as outras.

                                                     SONOPLASTIA OFF

                                                         CORTA PARA:

CENA 3. EXT. PRAÇA DA CIDADE - DIA

ESPERANÇA - 1945

Os sinos da paróquia são tocados e ouvidos por vários cantos da cidade de Esperança, chamando atenção do povo que aos poucos começam a se reunir em torno da igreja, a notícia do fim da guerra se espalha e em tom de entusiasmo todos comemoram com bastante animação o acontecido.

Em meio ao tumulto, Matteo, um jovem viril de 17 anos, caminha distraído e acaba se esbarrando com padre Olavo, um homem por volta dos 60 anos.

OLAVO (ANIMADO) - Matteo! Veio comemorar a boa nova?

MATTEO – Que boa nova padre Olavo? Acabei de chegar na cidade e ainda não entendi toda essa multidão.

OLAVO – Acabamos de saber pela rádio que a guerra acabou e os soldados estão voltando para casa.

MATTEO (SURPRESO) - Nós vencemos? Então meu irmão irá voltar?

OLAVO – Vencemos e com a graça de Deus seu irmão e todos aqueles jovens que partiram de suas casas para lutar naquela guerra irão voltar.

MATTEO (SORRINDO) - Que notícia boa padre! Eu preciso contar agora mesmo para meus pais e meus irmãos. Meu pai vai ficar tão feliz que finalmente o Vittorio vai voltar para casa.

OLAVO (SORRINDO) – Então vai agora mesmo levar essa boa notícia para seu pai, hoje é um dia de festa em toda Esperança.

                                                         CORTA PARA:

CENA 4. EXT. FAZENDA BELLINI – PLANTAÇÕES – DIA

Uma vasta plantação de café a perder de vista, com fileiras intermináveis de árvores verdes sob o sol brilhante da cidade de Esperança. No meio da paisagem, surge o jovem Matteo pedalando rapidamente sua bicicleta entre as plantações, ele tem pressa de encontrar seu pai.

MATTEO (GRITANDO) - Pai! Pai!

Giuliano, um homem de meia-idade, está no meio das plantações, junto com alguns poucos trabalhadores da fazenda, colhendo o café que ainda resta no pé. Ele ouve os gritos de Matteo e ergue a cabeça vendo seu filho se aproximando rapidamente.

GIULIANO – O que houve filho? Por que corre tanto?

MATTEO (OFEGANTE) - Pai, acabo de vim da cidade, uma multidão de pessoas nas ruas comemorando o fim da guerra. Acabou pai, nós vencemos a guerra.

Giuliano demonstra uma expressão de surpresa que logo é tomada por uma expressão de alegria e alivio.

GIULIANO (EMOCIONADO) - Benedetto sia Dio! Se acabou esta guerra maldita.

Os trabalhadores ao redor de Giuliano escutam a notícia, eles sorriem compartilhando o mesmo sentimento de alívio.

FIRMINO – Que notícia boa patrão, então quer dizer que o menino Vittorio vai voltar.

GIULIANO – Sim, mio Vittorio vai voltar para casa. Isso é maravilhoso! Venire Matteo, vamos contar para tua madre.

Giuliano coloca uma mão no ombro de Matteo e os dois começam a caminhar em direção a casa, Matteo sai empurrando a bicicleta enquanto anda com seu pai.

                                                         CORTA PARA:

CENA 5. INT. FAZENDA BELLINI - CASA DOS BELLINI – COZINHA - DIA

Matteo e Giuliano entram na cozinha apressados e sorridentes. Francesca, uma mulher de meia-idade está de avental diante de um fogão a lenha mexendo uma panela que está no fogo, enquanto Isabella, uma jovem de 15 anos, corta alguns legumes e Rodolfo, uma criança de 12 anos, brinca com um carrinho de madeira em cima da mesa da cozinha.

GIULIANO – Francesca amore mio, Dio ha escutado nossas orações!

FRANCESCA – O que houve? Por que estão tão sorridentes?

GIULIANO – A guerra acabou. O maldito do Hitler está morto!

FRANCESCA (EMOCIONADA) - Grazie al buon Dios! Que notícia maravilhosa.

ISABELLA (SORRINDO) - Então o Vittorio vai voltar?

MATTEO – Sim, o Vittorio vai voltar para casa.

GIULIANO – E ele está voltando como um herói. Meu filho é um verdadeiro herói, lutou bravamente para defender esta terra nesta guerra.

FRANCESCA – Vamos preparar um grande almoço para recebê-lo. Será uma grande celebração nesta casa, una grande festa para la nostra famiglia.

ISABELLA – E eu vou ajudar a preparar tudo mamãe, o Vittorio merece.

Rodolfo rapidamente fica em pé sobre o banco da mesa.

RODOLFO – Eu também quero ajudar!

FRANCESCA (SORRINDO) - Todos irão ajudar, será um almoço feito com muito amore e alegria. Vamos celebrar o retorno del nostro Vittorio.

                                                         CORTA PARA:

CENA 6. INT. FAZENDA ALMEIDA - CASA DOS ALMEIDA – SALA - DIA

Almeida, um homem sério de meia-idade, chega à fazenda, ele para o automóvel nos pés da enorme escadaria que dá acesso à sua casa, ele sobe e entra na casa, na sala se encontra Dorotéia, uma mulher por volta dos seus 45 anos, sentada no sofá da sala lendo uma revista de moda.

Almeida entra colocando seu chapéu no cabideiro que se encontra próximo a porta e se aproxima de Dorotéia.

ALMEIDA – Já está sabendo da novidade?

DOROTÉIA – Eu ouvir a notícia no rádio. Finalmente isso acabou, voltaremos a viver com alguma normalidade.

Almeida se senta em uma poltrona que está ao lado do sofá.

ALMEIDA – A cidade está um alvoroço, o clima é de festa.

DOROTÉIA – Também não é para menos, essa guerra foi muito angustiante.

ALMEIDA - Uma coisa é certa, haverá mudanças profundas no governo e não irão demorar, e eu como um dos líderes políticos desta cidade preciso estar do lado certo quando as coisas mudarem. Mas enquanto as coisas não mudam, vamos comemorar. O povo está em festa e eu devo estar junto a eles neste momento. Haverá uma cerimônia de boas-vindas aos soldados esperancenses que foram lutar na guerra, quero toda minha família junto comigo nesse momento.

DOROTÉIA – Isso inclui o Marcos?

ALMEIDA – Se depender de mim o Marcos ainda ficará algum tempo por lá. Agora que o Vittorio estará de volta à cidade, não quero correr o risco deles se encontrarem novamente. Não vou permitir que essa pouca vergonha entre os dois voltem novamente.

Dorotéia escuta as frases do marido e fica apreensiva, pois sabe de algo sobre Marcos que deixará Almeida irritado.

DOROTÉIA – Tem algo que você precisa saber, eu não te contei porque seria uma surpresa e não me passava na minha cabeça que essa guerra iria acabar justamente por agora.

ALMEIDA – O que? Diga de uma vez.

DOROTÉIA – O seu aniversário está chegando e faremos aquele tradicional jantar que reúne nossos amigos aqui em casa, e a nossa família sempre esteve toda reunida, mas desta vez o Marcos estava longe porque você o internou nessa casa de repouso para tratar dos problemas dele... Então eu resolvi enviar um telegrama autorizando a saída dele para que ele pudesse estar conosco neste almoço.

Almeida se levanta bastante irritado.

ALMEIDA – A senhora não deveria ter feito isso sem o meu consentimento!

DOROTÉIA –Era uma surpresa Almeida, eu queria ter a nossa família reunida como em todos esses anos no seu aniversário.

ALMEIDA – Quando você enviou o telegrama?

DOROTÉIA – Tem uns dois dias.

ALMEIDA – Se bem conheço o Marcos ele já deve estar a caminho, não há mais nada que ser feito. Mas você não deveria ter feito isso sem a minha autorização e logo que passe esse aniversário, ele voltará para lá.

DOROTÉIA – Até quando você pretende mantê-lo por lá?

ALMEIDA – Quando ele se curar dessa pouca vergonha dele de querer se envolver com homens, ele poderá voltar a viver conosco feito uma pessoa normal. Enquanto isso não acontece, ele vai ficará lá naquela casa de repouso.

                                                         CORTA PARA:

CENA 7. INT. ESTAÇÃO CENTRAL – DIA

Em uma plataforma de estação com locomotivas a vapor, há uma placa indicativa “Estação Central”. Pessoas se locomovem e outras aguardam na plataforma enquanto uma locomotiva parada solta vapor ao fundo e se ouve o apito do trem. Marcos, um jovem de aproximadamente 25 anos, aparece correndo pela plataforma segurando uma mala. Ele parece preocupado, olhando para o relógio que está em seu pulso e parece procurar algo.

MARCOS – (respirando ofegante) Droga! O trem não pode partir sem mim.

O apito do trem soa mais alto indicando que está prestes a partir. Marcos acelera ainda mais o passo, alcançando o último vagão que ainda está com a porta aberta. Ele entra no trem, ofegante e olhando ao redor em busca de um assento vazio.

Marcos encontra um assento vazio ao lado da janela, ele coloca sua mala no bagageiro e se senta aliviado, olha para fora vendo a plataforma se afastar lentamente enquanto o trem pega velocidade. Um sorriso toma conta do seu rosto.

MARCOS – Finalmente indo para casa.

Marcos observa as paisagens passando rapidamente pela janela do trem.

                                                             CORTA PARA:

CENA 8. EXT. FAZENDA ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – DIA

Matteo caminha pela fazenda que se encontra sem muitos funcionários fazendo sua proteção. Ele para em frente a janela de Camila, uma linda mulher de 17 anos, pega uma pedrinha, joga na janela dela e se esconde atrás de uma moita. A janela se abre e Camila aparece, buscando curiosamente quem jogou a pedrinha.

CAMILA – Quem está aí?

Matteo, escondido na moita, faz um gesto de silêncio e acena para Camila. Ela sorrir ao reconhece-lo e ele faz um gesto par que ela desça. Camila sobe na janela, pula para fora da casa e corre até Matteo. Os dois saem correndo juntos pela fazenda.

                                                             CORTA PARA:

CENA 9. EXT. BEIRA DO RIO – DIA

Camila e Matteo chegam ao rio. Eles começam a tirar a roupa, ficando com trajes íntimos e entram na água. Riem e jogam água um no outro, numa animada brincadeira.

MATTEO – Minha família vai fazer uma grande festa para receber o Vittorio. Ele finalmente está voltando da guerra e eu gostaria muito que você fosse à festa.

CAMILA (FELIZ) - Isso é maravilhoso Matteo! Claro que eu vou, estou muito feliz pela guerra ter terminado e por seu irmão está voltando.

MATTEO – Seu irmão também deve ir, ele e o Vittorio são grandes amigos.

CAMILA – Não sei se o Marcos vai conseguir ir, ele ainda está viajando, mas assim que chegar em casa vou tentar telefonar para ele avisando sobre a festa. Se ele voltar a tempo, iremos juntos para festa.

Enquanto conversam, Helena, uma jovem um pouco mais nova que Camila e filha de dois empregados da fazenda Almeida, se aproxima do rio e se esconde observando-os em silêncio. Camila e Matteo voltam a brincar na água, até que eles param muito próximos um do outro, trocando sorrisos. Matteo se inclina e beija Camila que retribui o beijo, mas logo se afasta bastante nervosa e olhando ao redor.

CAMILA (PREOCUPADA) - Alguém pode nos ver.

MATTEO – E qual o problema? Já somos bem grandinhos para essas coisas.

Matteo tenta beijá-la novamente, ela reluta, mas acaba cedendo um novo beijo e logo se afasta novamente, e busca mudar a situação.

CAMILA – Estou com fome. Pode pegar alguma fruta para comermos? Assim a gente pode sentar um pouco na beira do rio e continuar conversando.

MATTEO – Claro! Vou buscar alguma coisa para gente come, volto já.

Matteo sai do rio e vai procurar as frutas. Camila continua nadando no rio, até que de repente ela sente algo prender seu pé no fundo do rio e começa a se debater, tentando se soltar. Helena observa toda a situação com um sorriso maldoso, sem fazer nenhum movimento para ajudar Camila.

Camila continua lutando para não se afogar, até que perde as forças e desmaia. Matteo ao voltar carregando algumas mangas, consegue ver Camila se afogando, ele larga as mangas no chão e se joga no rio para salvá-la.

MATTEO (DESESPERADO) - Camila!

Matteo tira Camila da água e a coloca sobre a margem do rio, tentando acordá-la balançando bastante seu corpo, mas sem sucesso. Ele começa a fazer respiração boca-a-boca, alternando com manobras de ressuscitação em seu peito, repetidamente, até que Camila cospe a água e a corda tossindo. Matteo a abraça forte, bastante aliviado.

MATTEO (EMOCIONADO) - Graças a Deus você está bem. O que aconteceu?

CAMILA (DESORIENTADA) - Eu não sei, estava nadando e do nada algo prendeu do meu pé e eu não conseguia me soltar, só me lembro de me debater bastante e depois tudo se apagou.

MATTEO – Agora está tudo bem, você tá salva.

CAMILA – Me leve para casa por favor, quero ir para casa.

MATTEO – Te levo sim, vamos.

Matteo a pega no colo e a leva de volta para casa. Helena continua escondida observando tudo com um olhar maldoso.

                                                         CORTA PARA:

CENA 10. EXT. ESPERANÇA – DIA/NOITE

                           SONOPLASTIA ON: CLOSE TO YOU - CARPENTERS

Abre uma imagem panorâmica da cidade de Esperança, mostrando o Sol que começa se pôr ao fundo, deixando o céu em tons alaranjados. Aos poucos a noite começa a tomar conta do céu e as luzes dos postes e das casas da cidade são acesas.

                                      SONOPLASTIA OFF                                                          

                                                             CORTA PARA:

CENA 11. INT. CASA DE HOMERO – SALA DE JANTAR – NOITE

Uma elegante sala de jantar de uma grande casa bastante decorada. A mesa está posta com talheres de prata, na cabeceira da mesa está sentado Homero, um banqueiro de meia idade bastante sério, ao seu lado está seu filho Fernando, um jovem de um pouco mais de 20 anos. O jantar está sendo servido por Dirce, uma empregada de meia idade.

Homero corta um pedaço generoso de carne enquanto Fernando mexe em seu prato com bastante interesse.

HOMERO – Estamos prestes a passar por momentos de profundas mudanças no Brasil. Com o fim dessa guerra e a vitória dos aliados, este governo não se sustenta por muito tempo.

FERNANDO – Tomara que esteja certo meu pai, é hora do Vargas ir embora e a democracia voltar a prevalecer neste país. Já se vão 15 anos de ditadura, praticamente a minha vida inteira foi dentro de um regime que não respeita a vontade do povo.

HOMERO – O Getúlio vai sair do catete, mas o varguismo permanecerá ainda que não seja dessa forma autoritária que é hoje.

FERNANDO – Eu acredito na mudança, quem sabe até na eleição de um candidato opositor ao vargas.

HOMERO – Você é sonhador demais meu filho.

Dirce termina de servir o jantar dos dois e se posiciona ao fundo.

HOMERO – Por favor Dirce, leve o jantar para a Natália.

Dirce pega o prato adicional e sobe para o quarto para levar até a Natália. Homero olha com um olhar de preocupação.

FERNANDO – A mãe vai ficar bem pai.

HOMERO – É difícil vê-la assim, sua mãe é minha companheira de uma vida, o lugar dela vazio nesta mesa me deixa muito triste.

FERNANDO – Ela logo voltará a ocupar o lugar dela aqui.

HOMERO – Sim! Mas vamos falar de você agora, como estão seus planos de ir estudar direito em São Paulo?

FERNANDO (PAUSA POR UM MOMENTO) - Eu estava pensando em adiar um pouco. Com a minha mãe doente, eu não queria me afastar para tão longe e por tanto tempo, quero está aqui com ela.

HOMERO – Você vai perder um ano de estudo.

FERNANDO – Eu sei pai, mas eu não conseguiria me concentrar sabendo que a minha mãe está doente e eu estarei longe dela.

Homero olha para Fernando com orgulho.

HOMERO – Está bem, se é isso que você deseja, vamos esperar sua mãe melhorar.

Fernando sorrir aliviado para o pai.

FERNANDO – Obrigado pai, vai dar tudo certo.

Homero assente com a cabeça, voltando sua atenção ao jantar. Os dois continuam a comer em silêncio.

                                                             CORTA PARA:

CENA 12. INT. BORDEL MADAME YVETTE – SALÃO – NOITE

Um ambiente escuro e intimista, decorado com luzes suaves criando uma atmosfera de luxo e mistério, as mesas estão ocupadas por homens vestidos de forma elegante que aguardam o início de uma apresentação musical. Em uma das mesas estão os amigos, Augusto, um homem por volta dos 30 anos com um charuto entre os dedos, e Pedro, um pouco mais velho e mais descontraído segurando com uma das mãos um copo de whisky, enquanto a outra mão afaga o cabelo de uma jovem mulher, seminua, sentada em seu colo. Ela faz carinho em seu rosto e lhe dá beijinhos suaves, rindo de vez em quando.

PEDRO (SORRINDO) – Você é uma tentação, sabia? Assim que acabar a apresentação nós vamos subir e eu vou te devorar todinha.

A mulher apenas ri, passando os dedos nos cabelos de Pedro e beijando-lhe o pescoço.

PEDRO – E você Augusto não vai pegar nenhuma menina para se divertir? Aproveita porque os próximos dias serão de muito trabalho.

Augusto dá uma tragada no charuto e olha para Pedro.

AUGUSTO – Por enquanto estou bem assim, ainda não vi nada que me interessasse.

Pedro dá um gole no whisky.

PEDRO – Hoje você está seletivo demais meu amigo. Temos que aproveitar enquanto pudermos.

Pedro passa a mão nas coxas da mulher que está no seu colo, ela rir e continua a acaricia-lo.

A luz se foca no palco, onde Madame Yvette, uma mulher de meia idade muito elegante sobe ao palco e se dirige a um microfone que está posicionado no centro.

YVETTE – Sejam bem-vindos a mais uma noite de diversão! Hoje a noite é mais do que especial, temos motivos extras para comemorar e aproveitar cada segundo. Aproveitem as meninas enquanto podem escolher, porque em breve isso aqui estará lotado de militares que não veem mulheres há meses e estarão loucos por elas.

Todos riem com as falas de Madame Yvette.

YVETTE – Agora vamos deixar de conversar e dá início a apresentação especial da noite. Se divirtam!

Todos aplaudem e murmuram com a expectativa da apresentação. Madame Yvette desce do palco. A cortina se abre revelando Zuleika, Mara, Florzinha e Teodora, todas jovens na faixa dos 20 anos, vestindo roupas sensuais e glamurosas, elas começam a cantar e dançar cheias de energia, com sedução, movimentos ensaiados e olhares provocantes.

ZULEIKA, MARA,FLORZINHA E TEODORA (EM HARMONIA, CANTANDO) -  Ai, se mamãe me pega agora, de anágua e de combinação, será que ela me leva embora ou não? 

MARA (CANTANDO) –   Será que vai ficar sentida? Será que vai me dar razão? 

ZULEIKA, MARA, FLORZINHA E TEODORA (CANTANDO)-   Chorar sua vida vivida em vão. 

TEODORA (CANTANDO) -   Será que faz mil caras feias? Será que vai passar carão? 

ZULEIKA, MARA, FLORZINHA E TEODORA (CANTANDO) -   Será que calça as minhas meias e sai deslizando pelo salão. 

FLORZINHA –   Eu quero que mamãe me veja, pintando a boca em coração. 

ZULEIKA, MARA, FLORZINHA E TEODORA (CANTANDO) -   Será que vai morrer de inveja ou não? 

Elas continuam dançando e cantando envolvendo a plateia com seu ritmo contagiante e movimentos sedutores. O público reage calorosamente, aplaudindo e reagindo com as meninas.

YVETTE – Bravo meninas! Vocês foram magnificas!

As meninas agradecem com sorrisos radiantes enquanto deixam o palco e se dirigem para o salão para interagir com os homens que estão nas mesas.

Madame Yvette se aproxima da mesa de Augusto e Pedro, com um sorriso caloroso.

YVETTE – Boa noite rapazes, desfrutaram do espetáculo?

Augusto se levanta, ergue o braço, Yvette ergue a mão e ele a cumprimenta com um beijo em sua mão.

AUGUSTO – Boa noite Madame. Como sempre o espetáculo foi excepcional.

PEDRO (SORRINDO) – A sua casa é a melhor da região, sempre proporcionando noites memoráveis.

YVETTE – Fico feliz em ouvir isso, ainda mais vindo de duas pessoas tão próximas do nosso estimado prefeito. Inclusive, pensei que ele viria hoje.

AUGUSTO – O Coronel Almeida convidou o prefeito para jantar em sua fazenda, você sabe que com o fim dessa guerra os ventos da política vão mudar e eles precisam acertar os ponteiros.

PEDRO – É uma lástima, o prefeito está perdendo uma noite que promete muito.

YVETTE – Carolina, querida, você parece estar encantando bastante o Pedro.

Pedro passa novamente a mão nas coxas da mulher que está em seu colo.

PEDRO (SORRINDO) – Então é este o nome dessa gracinha. Estou adorando cada momento.

YVETTE – Aproveitem o restante da noite, rapazes.

Madame Yvette se afasta, deixando Augusto, Pedro e Carolina. Augusto se levanta em seguida e vai até Madame Yvette.

YVETTE – Deveria ao menos deixar uma das meninas sentar ao seu colo para disfarçar melhor.

AUGUSTO – Nenhuma delas me atraiu o suficiente para isso.

YVETTE – O que lhe atrai está lhe esperando no meu quarto.

Madame Yvette tira a chave que estava guardada entre seus peitos e entrega a Augusto.

AUGUSTO (SORRINDO)- Obrigado Madame.

Augusto pega a chave e sobe para o quarto de Madame Yvette.

                                                         CORTA PARA:

CENA 13. EXT. ESPERANÇA – DIA

    SONOPLASTIA ON: QUEM SABE ISSO QUER DIZER AMOR – MILTON NASCIMENTO

Abre uma panorâmica da cidade de Esperança sob um sol intenso, mostrando o cotidiano de um dia normal.

                                                     SONOPLASTIA OFF

                                                         CORTA PARA:

CENA 14. INT. ESTAÇÃO DE TREM – DIA

O céu está claro e o sol brilha sobre a estação de trem, uma construção antiga com uma ampla plataforma, com várias pessoas caminhando à espera da chegada do trem.

Na plataforma da estação estão, Candoca, uma senhora de cabelos grisalhos e sorriso caloroso, Angislanclécia, uma jovem um pouco gorda, Chandra Dafni, jovem mais reservada e religiosa, elas aguardam ansiosamente à chegada do trem.

CANDOCA – Estou ansiosa para saber o motivo da visita da Hismeria, desde que ela se casou, ela nunca mais veio nos visitar.

ANGISLANCLÉCIA – O marido dela é um chato, nunca permitia que ela viesse nos visitar.

CHANDRA DAFNI – Talvez ele tenha mudado de ideia e tenha permitido que ela viesse nos ver.

O som do trem se aproximando ecoa pela plataforma.

CANDOCA (ANIMADA) – O trem está chegando!

O trem para na plataforma e a porta se abre. Primeiro desce Marcos, ele se encaminha em direção a saída da estação.

CANDOCA - Olhem ali, é o Marcos, o filho do Coronel Almeida. Fazia tempo que não o via.

ANGISLANCLÉCIA (SORRINDO) – Ele continua bastante bonito e não vi nenhuma aliança em seus dedos, parece continuar solteiro.

CHANDRA DAFNI (SUSPIRA) – É uma pena que ele ainda não tenha constituído uma família. Ele deveria seguir os ensinamentos do senhor, casar e ter filhos.

ANGISLANCLÉCIA (BRINCANDO) – Eu o ajudaria nisso!

Chandra Dafni olha com um olhar sério para Angislanclécia.

CHANDRA DAFNI – Você? Só se for para engolir ele, de tão gorda que você está.

ANGISLANCLÉCIA (IRRITADA) – Como é que é? Olha como você fala comigo sua beatazinha.

Candoca interrompe a discussão.

CANDOCA – Meninas, olhem ali! É a Hismeria!

Hismeria, uma mulher jovem e elegante, desce do trem e avista sua tia e suas primas na plataforma. Ela sorri e vai ao encontro delas.

HISMERIA (ALEGRE) – Tia Candoca! Angislanclécia! Chandra Dafni! Que bom ver todas vocês.

Hismeria abraça Candoca, depois Angislanclécia e Chandra Dafni, cumprimentando-as com carinho.

CANDOCA (EMOCIONADA) – Minha querida, que saudades que eu estava de você. Como foi de viagem?

HISMERIA – Foi ótima tia. Tenho tantas coisas para contar a vocês.

ANGISLANCLÉCIA (CURIOSA) – O que te trouxe a Esperança desta vez?

HISMERIA – Vamos para casa, lá eu contarei tudo.

Elas caminham para pela plataforma da estação, conversando animadamente enquanto se dirigem para fora da estação.

                                                             CORTA PARA:

CENA 15. INT. FAZENDA ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – SALA DE JANTAR – DIA

A sala de jantar da casa dos Almeida é bastante ampla e muito bem decorada, a mesa está posta para o almoço. Camila, Dorotéia e Almeida estão almoçando em silêncio, até que Helena entra na sala.

HELENA – Ah, me desculpem não sabia que ainda estavam almoçando.

DOROTÉIA – Helena, não precisa se avacalhar, você já é de casa. Sente-se conosco para almoçar.

Helena aceita o convite e se senta à mesa. Nina, sua mãe e empregada da casa, serve o almoço para Helena.

HELENA (OBSERVANDO CAMILA) – Camila, você está bem? Vi ontem que o Matteo te trouxe carregada para casa, fiquei preocupada.

CAMILA (FICANDO NERVOSA) – Ah, sim, eu...eu estou bem.

ALMEIDA – Carregada? O que aconteceu para você precisar ser trazida assim para casa?

CAMILA – Ontem eu estava tomando um banho de rio, alguma coisa prendeu o meu pé e acabei me afogando. O Matteo me salvou e me trouxe para casa.

DOROTÉIA (PREOCUPADA)- Meu Deus, que perigo. Você poderia ter se machucado gravemente Camila.

CAMILA – Eu estou bem mamãe, o Matteo me salvou.

ALMEIDA (SÉRIO) – O que esse rapaz estava fazendo junto com você no rio?

Antes que Camila possa responder, Marcos entra na sala. Todos se surpreendem ao vê-lo.

DOROTÉIA (SURPRESA) – Marcos, meu filho. Você voltou!

Camila e Dorotéia se levantam emocionadas e abraçam Marcos. Almeida permanece sério e sentado.

MARCOS (SORRINDO) – Mãe, Camila, que saudades de vocês!

CAMILA (SORRINDO) – Meu irmão, que falta que você fazia aqui.

MARCOS – Pai, não vai me dar as boas-vindas?

Almeida reluta por um momento, mas então se levanta e cumprimenta Marcos com um aperto de mão e um abraço.

ALMEIDA (SÉRIO) – Bem-vindo de volta filho.

MARCOS (SORRINDO) – Obrigado pai.

DOROTÉIA – Vamos, se sentem, vamos almoçar. Agora o dia ficou mais especial. Nina, por favor, sirva o Marcos.

Todos se sentam novamente à mesa.

                                                         CORTA PARA:

CENA 15. INT. CASA DE CANDOCA – SALA DE ESTAR – DIA

Na sala simples e acolhedora da casa de tia Candoca, todas as primas estão sentadas com expressão séria.

HISMERIA – Não vou ficar dando rodeios, eu sei que vocês estão ansiosas para saber o motivo da minha visita.

CANDOCA – Independente do motivo, nós estamos felizes em tê-la aqui.

HISMERIA (RESPIRA FUNDO) – Eu me desquitei do meu marido.

Um silêncio tenso preenche a sala por um momento. Candoca, Chandra Dafni e Angislanclécia ficam visivelmente chocadas.

CANDOCA (SURPRESA) – Desquitou? Mas por quê minha sobrinha?

CHANDRA DAFNI (INDIGNADA) – O casamento é sagrado Hismeria! Não deveria ter se separado do seu marido. O que Deus uniu o homem não separa.

HISMERIA (COM TRISTEZA) – Eu sei bem disso, mas eu não tive escolha. Ele me trocou por outra mulher, vendeu a nossa casa, me deu uma parte do dinheiro da venda e foi para o Uruguai para se casar com ela.

Angislanclécia coloca a mão no ombro de Hismeria em sinal de apoio.

ANGISLANCLÉCIA – Que terrível prima, sinto muito que tenha passado por isso.

CANDOCA – Meu coração dói por você Hismeria, mas saiba que você não está sozinha, tem o apoio de todos nós e pode contar conosco para qualquer coisa.

CHANDRA DAFNI – Deus há de te confortar Hismeria. A justiça dele fará seu marido pagar pela traição que lhe causou.

HISMERIA (AGRADECIDA) – Obrigada tia e primas. Sei que posso contar com vocês.

ANGISLANCLÉCIA – Então você veio para ficar de vez?

HISMERIA (ENVERGONHADA) – Se a tia Candoca me aceitar, sim.

CANDOCA – Mas é claro que eu aceito, vocês são as minhas sobrinhas e eu as amo na mesma intensidade que amo o meu filho Aristildes, esta casa sempre estará aberta para vocês.

HISMERIA – Obrigada tinha Candoca, serei eternamente grata por isso. Falando no Aristildes, onde ele está? Ainda não o vi.

CANDOCA – Ele está em São Paulo, foi para escola preparatória para poder cursar medicina.

                                                         CORTA PARA:

CENA 16. EXT. ESPERANÇA – DIA

                                     SONOPLASTIA ON: Sei – Nando Reis

Imagem panorâmica da cidade de Esperança, seguida de imagens panorâmicas dos rios, cachoeiras e plantações de café nas fazendas da cidade.

ALGUNS DIAS DEPOIS

                                                     SONOPLASTIA OFF

                                                         CORTA PARA:

CENA 17. EXT. ESPERANÇA – PRAÇA DA CIDADE – DIA

A praça da cidade está toda decorada com as cores do Brasil e cheia de pessoas. Um palco montado no centro, decorado com bandeiras nacionais e flores em homenagem aos soldados que lutaram na guerra. Um grupo de fanfarra desfila pela praça da cidade, tocando músicas patrióticas com entusiasmo. O prefeito Fontes está no palco, ao lado de Antônio, Pedro, Almeida, Dorotéia, Marcos e Camila. Todos aguardam o início da cerimônia. Uma grande queima de fogos ilumina o céu da cidade, marcando o começo da homenagem.

FONTES - Cidadãos esperancenses, hoje nos reunimos para honrar aqueles que brevemente lutaram em defesa de nossa pátria. Agradecemos a cada um dos soldados por seu sacrifício e coragem.

O prefeito faz um breve discurso, destacando a importância da bravura dos soldados e o dever de gratidão de toda nação.

FONTES – Agora eu gostaria de convidar a família desses corajosos soldados para que estejam ao lado deles neste momento em que eles receberão as medalhas de honraria.

Uma a uma, as famílias são chamadas e sobem ao palco, recebendo as medalhas com orgulho e emoção, e reencontrando seus filhos após meses de distância. A família Bellini está na plateia, ansiosa para ser chamada, mas o prefeito encerra a cerimônia sem mencionar o nome do Vittorio.

GIULIANO (PREOCUPADO, SUSSURANDO PARA FRANCESCA) – Por que não chamaram o nome do Vittorio?

FRANCESCA (COM VOZ TRÊMULA) – Não sei, Giuliano. Deveriam tê-lo chamado.

O Prefeito volta ao microfone, trazendo uma expressão grave em seu rosto.

FONTES – Agora, gostaria de prestar uma homenagem aqueles que deram o maior sacrifício pelo nosso país. Os soldados que perderam as suas vidas em defesa da pátria.

Ele começa a ler os nomes dos soldados falecidos. A tensão aumenta na praça a cada nome anunciado.

FONTES – Vittorio Bellini.

Todos ficam em choque ao ouvirem o nome de Vittorio sendo mencionado entre aqueles que perdem a vida.

Giuliano desesperado, sobe no palco. Matteo, Isabella, Rodolfo e Francesca o acompanham.

GIULIANO – Onde está meu filho? Onde está o meu Vittorio?

O comandante da tropa onde Vittorio estava alocado, ao lado do prefeito, confirma a notícia trágica.

COMANDANTE (SÉRIO) – Sr. Bellini, o seu filho Vittorio foi um herói, ele lutou bravamente e deu a sua vida pelo país durante a guerra.

Matteo, Francesca, Isabella e Rodolfo ficam devastados e começam a chorar com a confirmação da morte de Vittorio. Dorotéia, Marcos e Camila que estão no palco, observam a cena em estado de choque. Lágrimas começam a escorrer dos olhos de Marcos.

GIULIANO (CHORANDO) – Eu fui obrigado a entregar meu filho a vocês para lutar nesta maldita guerra e vocês devolvem o meu filho morto. O meu Vittorio.

Giuliano aos prantos cai ajoelho no chão, bastante abalado.

GIULIANO (CHORANDO) – Perdi um pedaço de mim, perdi o meu Vittorio.

Giuliano sente uma forte dor no peito, ele coloca as duas mãos sobre o peito e aperta com bastante força. Ele dá um gemido e cai desmaiado no chão.

FIM DO CAPÍTULO

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