Web Série escrita por:
Alexandre Henrique
Episódio 01
Estado de São Paulo, 1995
Uma pequena van atravessava a rodovia numa tarde de sábado.
Dentro dela, estava o chefe de um grupo de escoteiros, Sandro. E nos bancos dos
passageiros, seus cinco principais alunos, que tinham entre doze e quatorze
anos: Robinson, Karine, Natália, Michel e Lucas. Eles estavam à caminho de uma excursão até uma
velha fazenda histórica abandonada no meio da mata.
Karine: Robinson, me empresta seu manual? Eu esqueci o meu em
casa e queria ler sobre a fazenda...
Robinson estava lendo o manual, enquanto Karine, sentada ao lado
dele, o pediu emprestado.
Robinson: O quê? Nem pensar! A culpa não é minha se você esqueceu em casa!
Karine cruzou os braços.
Karine: Você é um idiota!
Robinson: Eu não vou te emprestar porque você nunca devolve, e pior ainda, acaba
perdendo!
O chefe escutou a briga.
Sandro: Crianças, não discutam! Karine, eu vou te emprestar outro manual quando
chegarmos!
A van saiu da rodovia, e pegou uma estrada de terra, indo em
direção à um
local cheio de árvores. Provavelmente a entrada da fazenda.
Sandro: Estamos quase lá.
Natália se empolgou.
Natália: Eu mal posso esperar para ver o lugar onde os escravos
ficavam... Mas acho que deve ser triste...
Lucas, o mais inteligente do grupo, se manifestou enquanto
arrumava seus óculos.
Lucas: Durante várias décadas eles trabalharam sem parar. Se por
acaso apresentassem cansaço, eram descartados cruelmente...
Natália se aproximou de Michel, que estava em silêncio
até
agora.
Natália: E você, Michel? O que está te deixando mais empolgado nessa viagem?
Michel se virou para ela.
Michel: Eu não sei... Estou com a sensação de que alguma coisa ruim vai acontecer...
Karine: Credo, Michel, não seja tão pessimista...
A van parou.
Todos: Chegamos?
Sandro: Ainda não. - Faremos uma parada para checar se está
tudo certo.
O grupo todo desceu da van. Robinson se aproximou de Karine.
Robinson: Ei, Karine, me dá um pouco de água.
Karine pegou a garrafa e tirou do alcance de Robinson.
Karine: Não! Você não quis me emprestar o manual! Agora se quiser água,
vai procurar um rio por aí!
Robinson se irritou.
Robinson: Pois é isso mesmo que eu vou fazer, sua regulada!
Karine: Azar o seu!
Robinson se afastou do grupo, enquanto o chefe verificava o
conteúdo
da van.
Robinson: Deve ter uma fonte por aqui, esses lugares são
cheios de água
corrente...
Até que, ao passar por um pouco de matagal, encontrou o que queria:
Um cano em meio às pedras, que jorrava água.
Robinson: Bingo! Uma mina!
Ele se aproximou, e bebeu a água da mina. Mas, de repente, algo o
interrompeu.
Robinson: ...Ãh?
Ele escutou algo se mexendo em meio ao mato.
Robinson: Será que é um cachorro...?
Porém, Robinson levou um susto: Uma mão tocou em seu ombro.
Robinson: A... Ah!!
Ele caiu sentado. Era Lucas o cutucando.
Lucas: Robinson, o chefe está chamando! Vamos continuar a estrada.
Robinson olhou ao redor, mas não havia sinal do cachorro.
Robinson: T... Tá bom...
Eles voltaram para o grupo.
---
Não demorou muito, e chegaram na fazenda. Era uma casa bem grande,
com um estábulo
e uma senzala, além de uma capela. Tudo estava preservado, porém
ninguém
morava lá.
Robinson olhava para a senzala.
Robinson: É triste pensar em quantos escravos devem ter sofrido nesse
lugar...
Natália se aproximou.
Natália: Sim... Ainda bem que isso ficou no passado.
O chefe tirou um mapa de dentro do porta-luvas da van.
Sandro: Aqui tem um mapa da região. Se precisarem, podem consultar. E
Karine, aqui está o manual.
Ele entregou um manual para Karine.
Karine: Obrigada, chefe!
Robinson viu Michel, que parecia preocupado.
Robinson: Michel, algum problema?
Michel se virou para ele.
Michel: Não, é que... Eu não tenho certeza, mas na estrada eu pensei ter visto um...
O chefe interrompeu.
Sandro: A noite está chegando, escoteiros! Vamos montar o nosso
acampamento.
Todos seguiram o chefe, que foi até a van e pegou vários
colchonetes do porta-malas e distribuiu aos escoteiros.
Sandro: Vamos ficar na sala principal. Está
vazia, dá pra
todos dormirem lá. É bem grande.
Robinson pegou seu colchonete e entrou na fazenda.
Robinson: Nossa, que casa gigante!
Natália: Gigante é pouco...
Seguindo eles, Karine foi a próxima.
Karine: Eu vou dormir naquele canto, perto da janela!
Lucas e Michel também entraram.
Lucas: Faz sentido ser tão grande... O proprietário
era muito rico!
Michel: Devia ser linda quando era toda mobiliada...
O chefe entrou por último, e fechou a porta.
Sandro: Vamos arrumar os colchonetes. Depois eu vou dar duas
horas para vocês
explorarem um pouco.
O grupo arrumou o local, que se transformou em um quarto de
escoteiros.
---
Mais tarde, Robinson foi até um rio que passava atrás da
fazenda. Lá
estava Karine.
Karine: Ei, você está me seguindo?
Robinson: Claro que não! Eu só vim ver o rio!
Robinson chegou perto dela.
Robinson: Desculpe por não te emprestar o manual... Mas você é
meio atrapalhada, então ia acabar perdendo!
Karine: Ei, o chefe já me deu outro!
Robinson: Ele não te deu. Ele emprestou!
Karine riu.
Karine: Então é melhor eu não perder... Desculpa pelo lance da água.
Robinson: Não tem problema, eu achei uma fonte aqui perto.
Ele se lembrou do suposto cachorro que havia escutado.
Robinson: Aliás... Tem animais por aqui?
Karine: Eu não sei, melhor perguntar ao chefe.
Os dois foram interrompidos por um som alto. Parecia um uivo.
Robinson: O que foi isso?
Karine: Pareeu um lobo...
Robinson: Um lobo? Mas como?
Karine: Eu não sei, mas não quero ficar aqui... Estou com um mal pressentimento.
Robinson: Vamos voltar para a fazenda.
Os dois saíram de perto do rio e voltaram para a fazenda.
Lá dentro, foram recebidos por Lucas.
Lucas: Até que enfim chegaram...
Robinson: Estavam esperando por nós?
Lucas: Sim. Estamos prontos para dormir!
Karine: Então vamos!
Cada um foi para seu colchonete.
Sandro: Boa noite, escoteiros!
Todos: Boa noite!
E assim, o grupo inteiro dormiu.
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Algumas horas depois, o corpo de Robinson começou a
estremecer.
Ele se levantou. Com passos lentos, caminhou até sua
mochila, no canto da sala. Ele a abriu e revirou os itens.
De dentro dela, tirou um canivete.
Ele olhou para seus amigos que dormiam tranquilamente.
Seus olhos estavam avermelhados...
Continua no próximo episódio...
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