CAPÍTULO 41
ATENÇÃO!
A trama apresenta apenas adolescentes cheios de
espinhas, aparelho nos dentes, óculos, pele oleosa etc. Não siga o que é dito.
É tudo ficção.
Uma novela de Crisley
Personagens deste capítulo (ordem de aparição):
Caio
Dulce
Mary
Pablo
Chris
CENA
1: CASA DE CAIO/ SALA/ INT./ TARDE
(Continuação
do capítulo anterior)
Caio
vai entrando ali. Ele vê Mary um pouco chateada e estranha. Logo em seguida ele
vê Paulo, um pouco chateado também. Ele continua andando.
CAIO
— Não sei o que aconteceu, mas tenho uma coisa pra contar pra vocês.
Ele
caminha mais e vê Dulce. Ele fica surpreso.
CAIO
— Mãe?
DULCE
— Hola, mi hijo. (sorri)
Caio
fica surpreso. Dulce vai até Caio e o abraça. Ele não tem muita reação.
DULCE
— Meu Deus! Eu senti tanta falta de você. (olha para Mary) De você também,
minha filha. Muita, muita falta. Cês não tem ideia do quanto eu senti saudades
de vocês.
CAIO
— Mas como cê chegou até aqui?
DULCE
— Eu resolvi voltar pro Brasil e ver como cês tão. Cês tão bem, né?
CAIO
— Sim, meu pai cuidou muito bem da gente enquanto cê tava fora.
DULCE
— (fica um pouco sem graça) Ah... Mas agora eu voltei.
CAIO
— E por que você foi embora ou não voltou antes?
DULCE
— Eu precisava viver a minha vida.
CAIO
— E resolveu abandonar a gente?
DULCE
— Não, não foi abandono. Eu só precisava ir pro México. Meu filho, eu trabalhei
muito, sabe. Eu poderia continuar aqui e ter minha vida confortável, mas eu
preferi investir na minha arte. E, indo pra lá, eu consegui isso. Foi só por
isso que eu deixei o Brasil.
CAIO
— E precisava ficar tanto tempo fora?
DULCE
— Eu sinto muito. Muito mesmo. Mas agora eu voltei. Ah, será que a gente pode
ir tomar um sorvetinho? Tô com saudade de levar vocês pra comer fora, sei lá.
MARY
— Eu não tô afim.
PABLO
— Vão. Vão sim. Conversem.
CAIO
— Certeza, pai?
PABLO
— Vai. Melhor resolver logo o que tiver pra resolver.
DULCE
— Como resolver? Não tem nada pra resolver. A gente vai tomar um sorvete só.
Vamos?
Corte
descontínuo para:
CENA
2: LANCHONETE/ INT./ TARDE
Caio,
Dulce e Mary estão sentados à mesa e tomando sorvete.
DULCE
— Certo. Já que a gente passou um tempo sem falar nada, então eu falo. Que
saudade! Saudade de vocês, do Brasil e até dessa lanchonete. Teria sido tão bom
se vocês tivessem lá no México comigo. Foi incrível. Muita coisa aconteceu. Até
perrengue eu passei. Muitas aventuras...
CAIO
— E agora você quer voltar pra ficar?
DULCE
— Eu não sei. Ah, meu filho, me dá um abracinho?
CAIO
— É... Sim. (levanta-se)
DULCE
— (levanta-se e abraça Caio) Ai, que delícia!
CAIO
— (senta-se novamente) Não podia ter voltado antes?
DULCE
— É que sempre aparecia coisa nova. (para Mary) Me dá um abraço também.
MARY
— Eu tô tomando sorvete.
DULCE
— Só um abraço.
MARY
— Eu disse que tô tomando sorvete.
DULCE
— (sem graça) Ah. Quem sabe depois você não resiste ao meu abraço, né?
(senta-se novamente e tira cartas da bolsa) Aqui.
CAIO
— Que isso?
DULCE
— Cartas que escrevi e que não enviei. Durante anos eu fiz isso.
CAIO
— Por quê?
DULCE
— Não sei. Uma até enviei, mas não chegou.
MARY
— Podia ter usado o Facebook naquela época, não?
DULCE
— Ninguém aqui sabia mexer nessas coisas. Nem smartphone tinham, só aqueles
celulares de teclado.
MARY
— Podia ter encontrado um jeito.
CAIO
— Deixa isso pra lá.
DULCE
— Mas ela tá certa. Caio, eu nem tava pensando muito. Quando eu pensei em
contato pela internet, eu pensei em e-mail, mas eu realmente não fazia ideia de
como achar isso. E é por isso que voltei aqui. Pra conversar com vocês e pra
que vocês tenham essa aventura também, a mesma que tive. Agora eu tô mais
resolvida, tô com dinheiro, claro que nem tanto quanto o pai de vocês, mas
bastante pra dar tudo pra vocês.
MARY
— A gente não precisa.
DULCE
— Mas eu quero. E eu tenho um pedido pra fazer pra vocês dois.
CAIO
— Dependendo do que for...
DULCE
— Meus filhos, eu peço, por favor, vão morar comigo lá no México.
MARY
— Como é que é?
DULCE
— É isso. Vamos morar no México. Vamos conversar com o pai de vocês e vamos
fazer isso acontecer.
CAIO
— Eu não posso sair do Brasil, mãe.
DULCE
— Por que não? Por causa da escola? A gente resolve isso.
CAIO
— Não. Não é por isso. É porque você simplesmente sumiu. A gente não pode ir.
DULCE
— E você, Mary? O que você acha?
MARY
— Eu acho que meu pai tinha que saber disso.
DULCE
— Claro, claro. Vamos falar com ele agora.
Corte
descontínuo para:
CENA
3: CASA DE CAIO/ SALA/ INT./ TARDE
Caio,
Mary, Dulce e Pablo estão em pé ali.
PABLO
— Isso é uma decisão de vocês. Eu sei que vocês são menores de idade, mas vocês
podem decidir isso. Se quiserem morar com a mãe de vocês no México, vocês podem
falar. Eu vou entender.
DULCE
— Viu, meus filhos? Seu pai concorda.
PABLO
— A decisão é de vocês.
MARY
— Eu... Eu não quero.
DULCE
— Vamos, Mary. Vai ser incrível. Você vai ver. Vai conhecer tanta coisa...//
MARY
— Eu não vou morar com você. Tô muito feliz com o meu pai.
DULCE
— (se aproxima de Caio) E você, Caio? Cê vai querer ir comigo, né?
CAIO
— (olha para Pablo e depois para Mary) Eu não posso fazer isso com minha
família, com meus amigos. E, mãe, infelizmente, muito menos por você.
DULCE
— (fica triste) Tudo bem. Eu não esperava que vocês viriam mesmo, mas nem uma
semana? Só uma semana.
CAIO
— Infelizmente não. Desculpa. Por que você não fica no Brasil? Você disse que
tá bem de vida, vem morar aqui.
DULCE
— É uma ideia tentadora, mas eu não posso me mudar por enquanto. Tenho muitas
coisas pra resolver lá. Isso envolveria muito dinheiro e eu não posso abrir mão
disso.
MARY
— Claro, né, porque abrir mão de pessoas é melhor.
DULCE
— Não foi isso que eu disse.
MARY
— Mas foi isso que aconteceu.
DULCE
— Tudo bem. Eu vou voltar pro México. Eu gostei muito de encontrar vocês. (olha
para Pablo) Você também, Pablo. Eu vou indo. (abraça Pablo) Me desculpa por
tudo.
PABLO
— Tudo bem.
DULCE
— (abraça Caio) Eu te amo, tá, meu filho? Nunca se esqueça disso. Eu vou voltar
com mais frequência agora. Eu prometo!
CAIO
— Quem sabe assim a gente pode se reaproximar, né?
DULCE
— Sim. (vai até Mary, que recusa seu abraço) Eu te amo, minha filha. (olha para
todos) Brigada mesmo por me receberem.
Dulce
sai dali, bem devagar.
CENA
4: CASA DE CAIO/ EXT./ NOITE
Anoitece. Mary abre
o portão e leva uma caixa para fora. Ela pega querosene e fósforos. Ela abre a
caixa e olha as fotos de Dulce e deles quando pequenos. Ela fica triste. Mary
então começa a rasgar as fotos e as joga dentro da caixa novamente. Ela apanha a
lata de querosene e começa a despejar dentro da caixa. Ela apanha o fósforo e
ateia fogo ali. Caio chega ali e fica olhando.
CAIO
— São as fotos da minha mãe, né?
MARY
— Uhum.
CAIO
— Sabe, às vezes a gente precisa fazer coisas assim pra ter certeza do que tá
pensando.
MARY
— Ela voltou e eu tive certeza do que eu precisava fazer. Eu não quero mais me
lembrar dela.
CAIO
— Eu não queria isso, mas acho que a gente fica melhor sem ela.
MARY
— É...
Caio
abraça Mary, que chora.
Corta
para:
CENA
5: CASA DE CAIO/ SALA/ INT./ NOITE
Pablo
caminha até a gaveta de uma cômoda e a abre. Lá tem uma foto de Dulce. Ele
sorri e a coloca novamente ali dentro. Ele tranca a gaveta. Caio e Mary entram.
PABLO
— Como vocês tão?
CAIO
— Bem.
MARY
— Eu tô bem agora.
PABLO
— Que bom. (vai até os dois e os abraça) Eu iria entender se fossem com ela.
MARY
— Mas a gente não foi porque a gente não quis.
CAIO
— Eu jamais iria com ela.
PABLO
— Entendo. (t) Ah, Caio, quando você chegou aqui, você disse que queria contar
alguma coisa. O que era?
CAIO
— (fica um pouco nervoso) Não era nada, não. Eu só ia falar uma besteira da
escola, pra gente rir.
MARY
— Esse é o momento, então.
CAIO
— Eu até esqueci como foi. Bom, eu vou ir pro meu quarto. O dia hoje foi
cansativo.
MARY
— Eu também.
PABLO
— Boa noite, então.
CAIO
E MARY — Boa noite.
Caio
e Mary sobem.
Corta
para:
CENA
6: CASA DE CAIO/ QUARTO/ INT./ NOITE
Caio
entra no quarto. Mary chega logo atrás.
CAIO
— Que foi?
MARY
— Eu vim só agradecer. Pensei que cê ia falar um monte de coisa pra mim, mas
não falou.
CAIO
— Como assim?
MARY
— Sobre eu não ter abraçado a minha mãe, sabe. Eu não consegui.
CAIO
— Tudo bem. Eu entendo. Juro.
MARY
— Então tá. Boa noite.
CAIO
— Boa noite. (t) Mary! Pera!
MARY
— Quê?
CAIO
— O que eu ia contar quando cheguei...
MARY
— Aquilo que você esqueceu. Lembrou?
CAIO
— Eu nunca ia esquecer aquilo.
MARY
— Não entendi. Por que disse que esqueceu?
CAIO
— Porque eu perdi a coragem. Mas pra você eu posso contar.
MARY
— Hum. Então conta.
CAIO
— Cê lembra que eu tava com a Sara, né.
MARY
— Infelizmente. Mas você separou dela. Tão falando lá na escola que cê largou
ela.
CAIO
— Eu não larguei. Eu conversei com ela e a gente se separou.
MARY
— Por causa da pessoa que cê tava gostando.
CAIO
— É.
MARY
— Quando cê me contou que gostava de outra pessoa, eu fiquei até animada. Eu
nunca gostei muito da Sara.
CAIO
— Sem motivos. Até porque ela nunca te fez nada.
MARY
— Você ia contar quem cê tá ficando pro meu pai?
CAIO
— É.
MARY
— Mas por que você contaria pra ele?
CAIO
— Porque são duas coisas, no caso. Quem eu tô namorando e o que eu... sou.
MARY
— Não entendi.
CAIO
— Mary, eu sou bi.
MARY
— Que gosta de homem e mulher, né?
CAIO
— É.
MARY
— E você gosta de um menino, é isso?
CAIO
— É isso mesmo.
MARY
— E eu espero que seja o Chris.
CAIO
— (surpreso) Como cê sabe?
MARY
— É ele?
CAIO
— Sim.
MARY
— Ah! (feliz) Eu amo o Chris! Ele podia vir mais aqui.
CAIO
— Cê tá bem com isso?
MARY
— Muito melhor do que a Sara.
CAIO
— Ah, então tá.
Caio
sorri.
Corta
para:
CENA
7: ESCOLA MARA TÂNIA/ SALA DE LÍDERES/ INT./ MANHÃ
Amanhece. Chris
entra na sala e Caio está lá, sentado. Ele se levanta rapidamente.
CHRIS
— E aí. Cê falou que ia me falar como ficou lá com seu pai. Quero saber. Conta
logo.
CAIO
— Chris, aconteceu um monte de coisas ontem. Eu contei pra Mary.
CHRIS
— E ela ficou como?
CAIO
— Ela gostou, acredita?
CHRIS
— Sério?
CAIO
— Sério. Ela disse que preferia você do que a Sara.
CHRIS
— Eu, hein. Tá, mas e o seu pai? Ficou como?
CAIO
— Então, como eu disse, aconteceu muita coisa ontem. Minha mãe voltou, foi
embora de novo, queria que a gente fosse morar com ela, foi uma confusão.
CHRIS
— Sim, mas como seu pai ficou quando você contou que a gente tá junto?
CAIO
— Então... Eu não contei.
CHRIS
— O quê?
CAIO
— Eu não consegui contar depois de tudo.
Chris
fica um pouco triste.
FIM DO CAPÍTULO
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