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VENTO NORTE: Capítulo 10



Cena 01/ Hospital municipal/ Recepção/ Noite.

(cont. da cena anterior)

Close em Regina e Eleonora desnorteadas. 

Edmundo: Conversei com o médico que operou Alberto e... (pausa profunda) Durante a operação, Alberto conseguiu se estabilizar, entretanto... (pausa profunda) houve uma complicação após ele ser transferido para o quarto, ele sofreu uma hemorragia interna e... (cauteloso) ele não resistiu. 

Close em Regina e Eleonora chocadas. 

Eleonora: (desesperada) Não, não, não, não é verdade! Isso não é verdade! Não, não! Não aceito, não aceito, não! Não! (gritos) Não! Onde está meu filho? Onde está meu filho? (agarra o colarinho de Edmundo) Responda, responda! Diga, diga, diga! Onde está meu Alberto? Diga, anda! 

Eleonora cai aos prantos sob os braços de Edmundo. Close em Regina chocada. Regina caminha pelo hospital desnorteada, enquanto ela vagueia sem direção, se ouve com a voz desfocada, apenas os gritos de Eleonora. Enquanto anda sem rumo, Regina pensa. 

(se ouve apenas o som do pensamento dela)

Regina: O maior amor que pode existir entre uma família, é o amor dos progenitores, de nossa mãe, de nosso pai, o amor entre pai e filho, entre mãe e filho, entre irmãos. É o mais sincero dos amores, dos sentimentos. É o mais sincero e harmonioso viver. Eu vivo um dia de cada vez, mas as vezes, queria parar sob o tempo, voltar nos dias que não éramos apenas quatro, que éramos sete. As reuniões familiares, os almoços de domingo, as comemorações, os aniversários... Viver a vida também é recordar, viver a vida é amar e ser amado. (pausa profunda)

Cena 02/ Barra da Tijuca/ Praia. 

Ocorre uma transição entre o sol e a lua sob à imagem do mar. 




Close em Regina se aproximando até o mar, beijando uma rosa branca e jogando sob o mar enquanto chora seco. Close no céu e uma transição de tempo começa. De lua passa a aparecer o sol e de sol passa a aparecer a lua. 

(cont. do pensamento da protagonista)

Regina: Mamãe me ensinou a viver uma vida sem inverdades, apenas com fatos, realidades, uma vida seguida sob os caminhos que o coração determinar. Eu segui essa vida e não me arrependo. Papai sabia que tinha ao seu lado uma grande mulher, uma grande esposa, uma grande mãe. Por isso, apesar de não aceitar e viver sempre com o coração apertado e vazio, não o julgo. Papai não costumava beber... Ele provocou aquilo... (pausa profunda)

Close em Regina desolada. 

Cena 03/ Residência Trajano Ferraço/ Suíte principal/ Dia. 

Close em Regina escrevendo em seu diário. 

(cont. do pensamento dela) 

Regina: Já se passaram alguns dias da morte de papai e a vida se normalizou, as pessoas continuaram vivendo, continuaram com suas vidas, com seus problemas... A vida é isso... (pausa profunda) Um rio e sob as águas desse rio, desse córrego, está o que a vida nos reserva, não tenho medo de morrer, mas tenho medo que o destino que tanto alvejei, que tanto ambicionei para minha família não se cumpra. Que eles não possam viver e serem felizes... Esse é o meu maior medo, o de ter uma família desunida e infeliz. 

Close em Regina apreensiva. 

Cena 04/ Residência Fontes/ Externa/ Varanda/ Dia.

Eleonora está sentada sob uma cadeira de balanço. Ela ainda está muito abalada e desolada. Close na senhora. 

Cena 05/ Residência Trajano Ferraço/ Cozinha/ Dia.

Regina entra na cozinha e se dirige até a dispensa, pega alguns legumes, uma faca e um prato e começa a cortá-los. Ela ao se virar olha para o porta-retratos que há na cozinha localizado sob o armário, o porta-retratos possui uma fotografia de toda a família reunida, ela fica reflexiva e derrama uma lágrima. 

Cena 06/ Residência Flores Viana/ Sala de estar/ Dia.

Rosália está lendo um livro sob o sofá, enquanto algumas crianças brincam lá fora em frente à sua propriedade.

Cena 07/ Rua da residência Flores Viana/ Dia.

Dez crianças entre oito e dez anjos jogam bola. Até que uma das crianças, um menino loirinho e simpático chamado Lorenzo chuta a bola muito forte, fazendo com que ela vá parar sob o jardim de Rosália, quebrando um vaso. 

corta p/ sala de Rosália.

Cena 08/ Residência Flores Viana/ Sala de estar/ Dia. 

Rosália: (surpresa) O que foi isso?

Ela se dirige até a fresta da janela e observa os meninos apreensivos lá fora. Ela olha para o lado e vê seu vaso quebrado. 

Rosália: (furiosas) Vândalos! Malditos trombadinhas! 

Cena 09/ Rua da Residência Flores Viana/ Dia.

Tiago: (10) Ihhh... Caiu nos domínios da viúva negra... Nunca mais veremos a bola! 

Enzo (08): Não! Essa bola foi um presente da minha mãe! Por favor Lorenzo, você que chutou, vá buscá-la! 

Lorenzo: (10) Tudo bem! Eu busco a sua bola! 

Ele entra na propriedade de Rosália.

Cena 10/ Residência Flores Viana/ Sala de estar/ Dia. 

Rosália: (observando furiosa pela fresta da janela) Trombadinho marginal! 

Ela furiosa se dirige até a porta em direção ao jardim.

Abertura:


Vinheta de intervalo: 


Cena 11/ Residência Flores Viana/ Externa/ Jardim/ Dia. 

Rosália sai furiosa de dentro de casa. 

Rosália: Criminosos! Saiam de minha propriedade, saiam!

Tiago: (correndo) Corre, corre!

Enzo: (correndo) Vamos Lorenzo! 

Lorenzo: (correndo em direção à saída da propriedade) Não, não, socorro! 

Ela pega a tesoura que está localizada sob a mesa ao lado do banco, pega a bola e destrói o brinquedo. 

Rosália: E da próxima vez será muito pior! Crianças imundas! 

Cena 12/ Bordel Le Blanc/ Saguão principal/ Dia. 

Valéria está fazendo a contabilidade enquanto Diva aparece de relance. 

Valéria: (com a voz um pouco exaltada) Diva! Venha cá por gentileza! 

Diva: Algum problema dona Valéria? 

Valéria: Não, nenhum. Gostaria de saber onde está Laura? Não a vejo desde cedo. 

Diva: Laura está atendendo um cliente.

Valéria: Mas é muito cedo...

Diva: Ele é um fidalgo e paga muito bem, ele é cliente vitalício de Laura. 

Valéria: Está certo... Pode se retirar. 

Ela gesticula a cabeça simulando um sim e se retira. Close em Valéria. 

Cena 13/ Bordel Le Blanc/ Quarto/ Dia. 

Close em Laura contando as notas de dinheiro enquanto seu cliente dorme apenas de cueca. A imagem do homem fica desfocada devido ao close em Laura. 

Laura: Essa era a quantia que faltava, finalmente poderei presentear mamãe com um automóvel! Ela ficará tão feliz! 

Close em Laura sorridente. 

Cena 14/ Escola/ Sala de aula/ Dia. 

Carlos e Vicente estão conversando enquanto a professora dá aula. 

Vicente: Como estão as coisas na sua casa? Quando minha avó morreu, meu pai ficou desolado. Ele não comia, não bebia, até adoeceu. 

Carlos: A mamãe tá levando... As vezes a flagro chorando pelos cantos da casa... Mas eu a compreendo, sinto tanta falta da vovó... Das cantigas, das histórias, das brincadeiras, dos quitutes, ela era uma grande mulher... (triste) 
 
Vicente: (Vicente coloca a mão no rosto de Carlos o consolando) Vai passar! Sempre passa... 

Carlos gesticula com a cabeça simulando um sim. Close nos dois. 

Cena 15/ Residência Fontes/ Sala de estar/ Dia. 

Eleonora entra na sala em passos leves e demorados, desolada e destruída. Ela olha para os lados, olha as fotografias nas paredes, os porta-retratos nas estantes... Ela pausa em frente à mesinha lateral ao lado do sofá, onde está localizado um porta retratos de Alberto. Ela pega o porta retratos e profere algumas palavras. 

Eleonora: Ah meu filho... Nenhuma mãe está preparada para enterrar um filho, nenhuma mãe está preparada para sofrer essa dor. Os filhos é quem deveriam enterrar os pais... Essa é a lei da vida... Os filhos que perdem os pais são chamados de órfãos, as mulheres e os homens que perdem seus companheiros e suas companheiras recebem o nome de viúvas e de viúvos, agora uma mãe ou um pai que perde seu filho não se tem palavras, não se tem adjetivos para nomear alguém que perde quem lhe dá uma razão de viver. Você me mantinha viva, me mantinha sã! Ah meu amor... Por que você me abandonou, por que... 

Close em Eleonora triste. 

Cena 16/ Residência Trajano Ferraço/ Sala de jantar/ Dia. 

Close em Regina um pouco abalada pondo a mesa. 

Cena 17/ Residência Fontes/ Cozinha/ Dia. 

Close em Eleonora entrando na cozinha e se dirigindo até a dispensa muito abatida. Ela pega algumas verduras, a faca e o prato e se dirige até a mesa. Ao colocar as coisas sob a mesa e se sentar ela fica imóvel, ela olha para os lados. Se ouve apenas o silêncio do momento. Ela finalmente debulha-se em lágrimas apoiando o rosto sob a mesa. 

Cena 18/ Residência Trajano Ferraço/ Externa/ Dia. 

Plano geral da residência Trajano Ferraço.


Um carteiro de aproximadamente 25 anos se dirige até a propriedade e coloca uma carta sob o correio. 

Cena 19/ Residência Fontes/ Sala de jantar/ Dia. 

Eleonora está sentada sob a mesa jantando sozinha. Ela olha para o lugar de Alberto e começa a chorar com lágrimas secas. 

Cena 20/ Residência Trajano Ferraço/ Externa/ Dia. 

Close em Celso andando sob a rua de sua casa, carregando sua maleta. Ele se dirige até sua propriedade. Celso abre a caixa de correio e se depara com uma carta. 

Celso: (ele fica surpreso enquanto lê a carta em voz alta) República federativa do Brasil, Celso Trajano Ferraço.

Close em Celso chocado junto à uma sonoplastia de fundo.

Instrumental: 


A imagem fica em preto e branco, como se fosse um filme dos anos 40. Gancho em Celso surpreso. 


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