CENA 01: CASA ROSADA. ESCRITÓRIO DE HELENA. INTERIOR. DIA
Continuação imediata do capítulo anterior. Ana está incrédula diante da decisão de Helena.
ANA – Como assim "demitida", mãe? Você não pode fazer isso.
HELENA – Não só posso, como estou fazendo. Essa empresa ainda é minha e quem manda aqui sou eu.
ANA – Meu Deus do céu, eu não posso acreditar nisso! Tudo isso por causa do Celso? A que ponto você chegou, dona Helena…
HELENA – Não é por causa disso, Ana. É por causa da sua falta de responsabilidade! Você me deixou na mão em um dos momentos em que essa agência mais precisa de nós duas. Sabe muito bem a falta que a Gabriela faz aqui dentro. E, mesmo assim, por futilidade sua, faltou ao trabalho.
ANA – Mãe, ontem eu acordei muito mal, toda aquela nossa briga mexeu muito comigo. Depois, eu ainda encontrei com o Celso, ele terminou tudo comigo, o que só me fez piorar/
HELENA – (corta) Pouco me importa. Eu não ligo mais para o que acontece ou deixa de acontecer na sua vida. A sua única obrigação comigo é cumprir sua jornada de trabalho, mas nem isso você é capaz de fazer.
ANA – Eu só faltei um dia!!!
HELENA – E quem me garante que você não vai faltar mais vezes? Se de qualquer instabilidade emocional, você faz um grande drama.
Ana começa a chorar, mas tenta conter as lágrimas.
ANA – Pode parar com essa suas justificativas sem fundamento, mãe. Eu já entendi tudo muito bem. Isso tudo é uma grande desculpa pela sua dor de cotovelo.
HELENA – Dor de cotovelo?! Você acha que eu tenho quantos anos, Ana? Que eu sou uma adolescente?
ANA – É o que parece. Você só se mostra cada dia mais imatura.
HELENA – (rindo) Imatura… Quem é você pra me chamar de imatura? Olha pra você, minha filha. Ainda é uma menina, não tem nem 30 anos. Eu já tenho 55!
ANA – (gritando) 55 anos que não serviram de nada! Se tornou uma velha frustrada e presa ao passado!
Helena arregala os olhos, perplexa. Ana respira fundo e se contém.
HELENA – Se manda daqui, antes que eu chame os seguranças. Depois você volta, passa no RH e faz suas contas.
Ana, ainda incrédula, dá as costas para a mãe e vai embora.
CENA 02: APARTAMENTO DE ILANA. SUÍTE. INTERIOR. DIA
(Música de fundo: Futuros Amantes - Chico Buarque)
Ilana e Vicente estão deitados abraçados na cama, um de frente para o outro. Os dois acordam ao mesmo tempo e se encaram. Ambos sorriem.
ILANA – O que aconteceu aqui essa noite?
VICENTE – Acho que amor.
ILANA – (apreensiva) Será que o que estamos fazendo é certo?
VICENTE – Se isso for errado, sinceramente, eu não quero estar certo.
ILANA – Confesso que eu também não…
Eles dão risada. Vicente começa a beijá-la e os dois ficam envolvidos nesse começo de manhã. (Música encerra)
CENA 03: COMPANHIA DE TEATRO. SALA DE ENSAIOS. INTERIOR. DIA
Todos os alunos escalados para atuar no musical “Mamma Mia” estão em cima do palco, incluindo André, Bárbara, Marina, Rose e Daniel.
DANIEL – E o ensaio de hoje, novamente, foi um sucesso! Vocês são muito talentosos.
Todos aplaudem. Eles saem do palco e Daniel vai em direção ao bebedouro. Ele coloca água em um copo e ao se virar para ir embora, esbarra em Rose, derramando um pouco de água nela.
DANIEL – Ai Rose me perdoa por favor, foi sem querer.
ROSE – Que nada, você não tinha me visto.
Daniel pega ao lado do bebedouro um pouco de lenço para secar a roupa de Rose.
ROSE – Ah não, Daniel. Não é para tanto, é só água. Daqui a pouco seca.
DANIEL – Eu te sujei e eu vou te limpar, como um bom cavalheiro.
Rose ri e Daniel passa o lenço na parte molhada da roupa de Rose, eles se olham e surge um clima. De longe, André, Bárbara e Marina os veem.
MARINA – E esses dois ein? Tem química no teatro e na vida real.
BÁRBARA – Não queria falar nada mas eu já percebi que o seu pai é apaixonadinho pela sua mãe, André.
ANDRÉ – Acho que independente de tudo que aconteceu em todos esses anos, eles ainda sentem algo. Nem que seja um laço forte de amizade.
CENA 04: CASA ROSADA. FACHADA. EXTERIOR. DIA
Renata se aproxima do segurança na entrada do estúdio e pede para falar com Helena.
RENATA – Eu preciso falar com a Helena, por favor.
SEGURANÇA – Senhora eu não esqueci ainda o que aconteceu, você já causou muita confusão eu não quero me envolver nisso.
RENATA – Por favor, entra em contato com ela. Se ela quiser me ver ele libera, prometo que não vou fazer nada.
SEGURANÇA – Para você parar de encher o saco, eu vou ligar.
RENATA – Muito obrigada!
O segurança se dirige até sua sala e começa a discar o número de Helena.
ABERTURA:
CORTE:
CENA 05: CASA ROSADA. ESCRITÓRIO DE HELENA. INTERIOR. DIA
Helena e Renata estão frente a frente. As duas se encaram seriamente.
HELENA – Então você é a mãe da Jéssica… O que faz aqui, hein?
RENATA – Eu preciso corrigir meus erros, Helena.
HELENA – Como assim "corrigir seus erros"? Você vai fazer a Gabriela recuperar os movimentos dela?
RENATA – Por favor, sem deboche.
HELENA – Eu falo do jeito que eu quiser com você. Não tá com essa bola toda para fazer exigências.
RENATA – Será que podemos manter a cordialidade nessa conversa?
HELENA – Me fala logo o que você quer, antes que eu te coloque na rua.
RENATA – Eu vim te pedir para que me dê o endereço da Gabriela. A Jéssica está muito mal e precisa falar com ela.
HELENA – (incrédula) Eu não estou acreditando nisso que você está me pedindo… Só pode ser piada!
No mesmo momento, a secretária de Helena bate na porta.
SECRETÁRIA – Dona Helena, a mãe da Gabriela está aqui fora e quer falar com a senhora.
HELENA – Ah, ótimo, pode deixar ela entrar.
Logo, Lourdes adentra ao escritório. Helena vai até ela e a abraça.
HELENA – Dona Lourdes, que surpresa boa!
LOURDES – Eu vim pois preciso lhe pedir uma coisa… Ah, você já está com alguém na sala, me desculpe o incômodo, Helena.
HELENA – Não é incômodo algum, dona Lourdes. Inclusive, eu faço questão de apresentá-la. (P) Dona Lourdes, essa é a Renata, mãe da Jéssica. A responsável pelo acidente da Gabriela!
Renata baixa a cabeça. Lourdes é surpreendida.
LOURDES – Você é a mãe da Jéssica?
RENATA – Sou…
Lourdes respira fundo e encara Helena.
LOURDES – Helena, será que eu poderia conversar com ela à sós?
HELENA – (surpresa) À sós? (P) É claro…
Helena concorda e deixa a sala. Renata e Lourdes ficam frente a frente, ambas se encaram.
CENA 06: MANSÃO DE PAULA. QUARTO. INTERIOR. DIA
Paula bate na porta do quarto de Miriam, que está entreaberta, e entra. Miriam está deitada na cama.
PAULA – Como está a minha bebê?
MIRIAM – Tentando ficar bem, mãe…
PAULA – Quer comer alguma coisa?
MIRIAM – Acho que quero.
PAULA – Coisa boa! Vou pedir pra Maria preparar alguma coisa e trazer aqui.
MIRIAM – Não precisa pedir para trazer aqui, mãe. Eu vou me levantar um pouco e ir para a sala.
PAULA – Certo… Quer ajuda para levantar?
MIRIAM – Mãe, não é pra tanto.
Paula fica preocupada. Miriam começa a se levantar da cama. Ao ficar de pé, a jovem sente uma tontura e desmaia. Paula desespera-se, correndo até ela.
PAULA – FILHA!!!
Com esforço, Paula consegue colocar ela na cama de volta. A mulher retira seu celular do bolso e começa a ligar para a ambulância.
CENA 07: CASA ROSADA. ESCRITÓRIO DE HELENA. INTERIOR. DIA
Lourdes e Renata permanecem sérias, enquanto se encaram.
LOURDES – Finalmente eu pude conhecer você… É muito bonita, assim como sua filha.
RENATA – Obrigada.
LOURDES – Uma pena que é dona de uma alma tão desprezível.
RENATA – Olha aqui, minha senhora/
LOURDES – (corta) Cala a sua boca e me deixa falar! Como é que você pode ter um coração tão ruim, hein? Você destruiu a vida da minha filha por puro preconceito!
RENATA – Eu estou disposta a reparar meus erros.
LOURDES – Que bom. Mas, por mais coisas boas que você tente fazer, nada é capaz de apagar o passado. Nada é capaz de tirar minha filha daquela cadeira de rodas. Apenas um milagre divino.
RENATA – Não fui eu quem a atropelei, foram bandidos! A culpa não é totalmente minha.
LOURDES – Primeiro que se você não tivesse vindo atrás da minha filha para destilar todo o seu preconceito, ela nem estaria naquela rua àquela hora. Eu não acredito em destino, minha querida. Para mim, as coisas acontecem ou não acontecem. Não era para ela estar ali, esse destino não era o dela. Aliás, era seu. E ela, com toda a sua bondade, ainda te salvou.
RENATA – Eu estou arrependida, isso basta.
LOURDES – Não, não basta. Inclusive, eu não sinto arrependimento em você. Apenas culpa. Culpa de que as coisas tenham chegado a esse ponto, até porque tenho certeza de que você não se arrependeu das coisas que disse para a Gabriela. Os absurdos que você disse. Ela me contou. (P) Fico imaginando, se você foi capaz de dizer atrocidades para quem você nem conhece, imagine para a sua filha? Eu sinto pena daquela menina. Nela sim, eu vi arrependimento. Uma jovem completamente instável, com uma mãe desequilibrada e incompreensível. Ela me parece uma menina boa, mas tem defeitos e todos, tenho convicção, graças a você.
RENATA – Você nem me conhece e está afirmando várias barbaridades sobre mim. Se eu fosse você, pensava antes de falar.
LOURDES – Esses minutos que passei com você nessa sala, foram suficientes para ver um pouco de quem és. Soberba, arrogante, que tá errada e sabe disso, mas é incapaz de assumir totalmente a culpa.
RENATA – Olha, se o tom da conversa é esse, eu vou embora.
LOURDES – Calma! Eu vou parar por aqui. Não irei mais gastar as minhas palavras com você. (P) Aliás, que bom que você está aqui, eu vim atrás da Helena pois queria entrar em contato com a Jéssica de alguma forma. Enfim…
Lourdes abre sua bolsa e retira um papel de dentro, estendendo para Renata.
LOURDES – Eu anotei o endereço da minha casa para que a Helena entregasse para a Jéssica. Estou entregando a você e espero que isso chegue até ela.
Renata pega o papel, lê o endereço e guarda em sua bolsa.
LOURDES – Ah, por favor, faça o agrado de jamais aparecer por lá. Gabriela e eu estaremos esperando apenas pela Jéssica. Estou fazendo isso pelo bem da minha filha, pois, por mim, nenhuma de vocês aparecia lá.
Renata baixa a cabeça. Lourdes respira fundo e dá as costas para ela, saindo do escritório. Segundos depois, Helena entra na sala e encara Renata.
HELENA – Bom, acho que já está na sua hora, né? Retire-se e não apareça mais por aqui, por favor.
CENA 08: HOSPITAL. INTERIOR. TARDE
Paula está olhando Miriam pela janela do quarto. A jovem está adormecida e internada. Lágrimas escorrem pelo rosto de Paula. O médico se aproxima dela.
MÉDICO – Dona Paula!
PAULA – (secando as lágrimas) Pois não, doutor?
MÉDICO – Eu tenho que lhe informar sobre os próximos passos que tomaremos no caso da Miriam.
PAULA – Pode falar.
MÉDICO – Bem, ela terá que iniciar a quimioterapia o quanto antes. De acordo com os novos exames que fizemos, a situação é delicada. Se a saúde dela definhar mais, será impossível iniciar o tratamento, pois o corpo pode não reagir bem.
PAULA – Ai, meu Deus…
MÉDICO – Além disso, será necessário que encontremos um doador de medula.
PAULA – Eu posso doar! O pai dela também pode…
MÉDICO – Não é tão simples assim. A maior parte dos pacientes não encontra um doador compatível na família. Claro, existe a possibilidade, mas é raro. Ela possui irmãos?
PAULA – Não… Ai, eu tô ficando ainda mais apreensiva com isso.
MÉDICO – Não se preocupe, dona Paula. Sua filha será cuidada pelos melhores médicos, receberá o melhor tratamento possível e, com certeza, encontraremos um doador. A senhora precisa ter fé!
PAULA – Amém, doutor. Amém…
O nervosismo de Paula é visível, mas ela tenta manter-se serena.
CENA 09: FLAT DE VICENTE. INTERIOR. FINAL DA TARDE
A porta do flat é aberta e Vicente entra. Logo ao chegar, o homem se depara com Ana, sentada na cama, chorando incessantemente. Imediatamente, ele vai até a filha e senta ao seu lado, abraçando-a.
VICENTE – O que aconteceu com você, meu amor?
ANA – A minha mãe…
VICENTE – O que foi que a Helena fez dessa vez?
ANA – (soluçando) Quando eu cheguei lá hoje… ela mandou eu dar meia volta… e voltar pra casa…
VICENTE – Como assim?
ANA – Ela me demitiu, pai!
VICENTE – Te demitiu?! A Helena enlouqueceu de vez?! Ela deu pelo menos um motivo?
ANA – Disse que eu fui imatura e irresponsável de ter faltado ontem, de ter deixado ela na mão… e eu fui mesmo, sabe? A Gabi tá afastada e/
VICENTE – (corta) Não! Para com isso, Ana. Não deixe a sua mãe entrar na sua cabeça.
ANA – E agora, pai, o que eu vou fazer?
VICENTE – Se a sua preocupação for trabalho, pode ter certeza que vou te receber de braços abertos na companhia. (P) Agora, se a Helena acha que isso vai sair barato, não vai mesmo…
ANA – O que você vai fazer?
VICENTE – Vou atrás dela hoje mesmo! Ela vai ter que me encarar.
CENA 10: RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. NOITE
(Música de fundo: Devolva-me - Adriana Calcanhotto)
Anoitece na trama. CAM circula pela Orla do Leblon, completamente iluminada e com grande movimentação de carros na avenida. Corte para a fachada de um prédio.
CENA 11: CASA DE RENATA. SALA. INTERIOR. NOITE
Renata chega em casa e encontra Jéssica sentada no sofá, chorando. (Música encerra)
RENATA – Jéssica. Posso conversar com você?
JÉSSICA – (Seca as lágrimas) Se for rápido...
Renata se aproxima e se senta ao lado de Jéssica.
RENATA – Eu sei que você está brava comigo, e eu sei o motivo. Eu queria te falar que eu estava cega pelas minhas próprias escolhas e pelo o que eu desejei para você. Eu não quis enxergar o quanto estava te magoando.
JÉSSICA – Você só pensa em si mesma.
RENATA – Eu queria que fosse diferente, Jéssica. Queria poder voltar atrás e consertar tudo.
JÉSSICA – Mas não dá, né?
RENATA – Filha, eu quero fazer o possível para ser uma mãe melhor para você.
Renata tira um papel de seu bolso e o entrega para Jéssica.
RENATA – Aqui está o endereço da Gabriela. Vá até a casa dela.
Jéssica olha para o papel e fica surpresa.
CENA 12: COBERTURA DE HELENA. INTERIOR. NOITE
A campainha toca. Helena estranha, pois o interfone não tocou. Ela levanta do sofá, caminha até a porta e abre. Vicente aparece e ela tenta fechar a porta, mas o homem segura e entra.
VICENTE – Você não vai me impedir de entrar, Helena.
HELENA – Se você veio aqui falar sobre a sua filha/
VICENTE – (corta) É sobre ela mesmo! E ela não é só minha filha, é nossa filha! Como você teve coragem de fazer isso com a Ana?
Helena respira fundo, tentando manter a calma. Vicente permanece imponente.
ENCERRAMENTO:
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