A Promessa
CAPÍTULO 58
Últimos Capítulos
webnovela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
No capítulo anterior: Josias pergunta a Boaz o que é a mulher certa para ele, e Boaz diz que é a mulher virtuosa. “[Ela] é forte. [...] olha pelo governo de sua casa. [...] Seus filhos a chamam de bem-aventurada e seu marido a louva [...]. [...] os vestidos da mulher virtuosa são a força e a glória. [...] abre a sua boca com sabedoria. [...] Abre sua mão ao aflito [...]. Ela não teme trabalhar, servir... pois está revestida de força. A mulher virtuosa [...] lhe faz bem, e não mal... todos os dias de sua vida”. Tani e Noemi se abraçam extremamente emocionadas, e a primeira descobre que Malom e Quiliom faleceram. Noemi apresenta Rute à sua amiga como “o oásis no meu deserto de dor”. Os belemitas reconhecem Noemi, e ela pede que não a chamem mais pelo nome, mas por Mara, “porque grande amargura me tem dado o Todo-poderoso”. Tani referencia o companheirismo de Rute como a prova da bondade de Deus com Noemi, e as leva para a antiga casa de Noemi. Neb conta para Tamires que Noemi voltou, e ela, surpresa, diz que agora será mais fácil acabar com Noemi de uma vez por todas. Tamires tenta agarrá-lo, mas ele se recusa e sai para vender. Josias noticia Boaz sobre a chegada de Noemi e sua nora, e Boaz lamenta o estado das duas, além de louvar a existência de Neb, à sua frente, como remidor da família. Noemi, emocionada com as lembranças, entra em sua antiga casa. Lá, recusa ser ajudada por Tani, que a leva para respirar enquanto Rute limpa a casa. Quando voltam, todas elas ajoelham para orar, e quando Noemi vai tomar a palavra, Rute começa a orar por elas. Sozinha em sua cela, Orfa roga sua libertação a Baal. No dia seguinte, Rute pede que Noemi a deixe ir apanhar as espigas caídas atrás do trabalhador que a permitir; Noemi deixa.
FADE IN:
CENA 1: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
A Sumo Sacerdotisa Myra, aos pés do trono, fala com o rei Zylom.
MYRA
Meu senhor, eu lhe imploro: não torture Orfa. Ela já foi sacerdotisa, e isso pode afetar a nossa relação com os deuses.
ZYLOM
Do que está falando, Myra?!
MYRA
Eu tive um sonho, e essa foi a minha interpretação. Agredir alguém como ela, ainda que uma ex-sacerdotisa, pode irritar os deuses e comprometer o nosso futuro.
ZYLOM
Myra, diga-me... Você não está inventando isso, está? Teve mesmo esse sonho?
MYRA
Mas é claro que sim, meu rei. Eu não faria isso, mentir... ainda usando os deuses. Com todo o respeito, eu sou a Sumo Sacerdotisa. Sei da importância do cargo que ocupo, soberano.
ZYLOM
Você deve ter interpretado errado o seu sonho. Sua análise deve ter sido puxada pelos seus interesses, mas tudo bem. Todos somos falhos e susceptíveis a tais práticas, não é?
MYRA
Nesse caso, meu senhor, aguarde a chegada dos magos, astrólogos e feiticeiros estrangeiros. Além de poderem interpretar o sonho de vossa majestade, poderão também adivinhar a localização de Rute.
ZYLOM
Até lá pode já ser tarde demais.
Myra engole em seco.
ZYLOM
Se Orfa não disser e os soldados não encontrarem Rute, eu matarei Orfa. Assim, a dívida de prisão das duas estará quitada.
Myra faz que sim suavemente, tentando disfarçar sua desaprovação àquela ideia.
ABERTURA
CENA 2: INT. CASA DE BOAZ – SALA – DIA
Tani serve Boaz, que desjejua.
TANI
Está animado para o primeiro dia de colheita, senhor Boaz?
BOAZ
Muito, Tani! Além do que pode imaginar! Até porque esse é um ano ainda mais abençoado por Deus!
TANI
(sorridente) Que maravilha, senhor. Também estou tão alegre... As moças estão muito habilidosas na colheita, já nem precisam de muita orientação minha.
BOAZ
Que o Senhor as abençoe!
TANI
Amém. (pequena pausa) Senhor, me permite levar mais uma porção dessa para Noemi, a minha amiga recém-chegada? Não sei se estão precisando de mais...
BOAZ
Claro, Tani, claro! Leve! Ponha um pouco desse doce também.
TANI
Muito obrigada, senhor.
Tani pega as coisas e sai.
CENA 3: EXT. BELÉM – PLANTAÇÕES DE CEVADA – DIA
Começa a colheita!
Felizes, os trabalhadores se espalham pelos inúmeros campos a perder de vista e começam a colheita da cevada.
Em cada mão, a ânsia em sentir a textura das espigas. Em cada cesto, a expectativa prestes a ser atendida. Em cada rosto, a felicidade e a gratidão por uma fartura além do imaginado!
CENA 4: EXT. BELÉM – RUAS – DIA
Rute, segurando um cesto, passa pelos belemitas com um semblante agradável, olhando admirada as simples barracas de vendas, o vai e vem do povo, o modo de vida local.
Por fim, ela passa pelo portão e sai para os campos.
CENA 5: EXT. BELÉM – PLANTAÇÕES DE CEVADA – DIA
Rute entra na primeira plantação de cevada. Alguns homens e mulheres, sabendo que ela é a tal nora moabita de Noemi, não se importam em observá-la por um bom tempo. Ela começa a se constranger. Abaixa o olhar e segue, procurando algum trabalhador colhendo para poder segui-lo e apanhar as sobras do chão.
Rute passa por diversos campos de cevada, todos com vários trabalhadores, mas não encontra absolutamente nenhuma espiga caída pelo caminho. No entanto, continua a andar. E o povo, a observá-la.
CENA 6: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – DIA
Pensando ser apenas mais um, Rute adentra os limites do campo de cevada de Boaz. Nesse, dezenas e dezenas de homens e mulheres colhem espigas para todos os lados. E, para sua surpresa, logo nota algumas caídas pelo caminho. Sorri, se aproxima e as pega. Admira-as em sua mão, são formosas... Então coloca-as em seu cesto e continua.
Logo ela nota, perto dali, Josias, que também a nota. Rute então se aproxima devagar. Ao chegar perto dele, olha para baixo.
RUTE
Shalom, meu senhor.
JOSIAS
(sorrindo) Shalom. Rute... é isso? Eu me lembro de você.
Rute, simpática e respeitosa, permanece com o olhar abaixado.
JOSIAS
É a nora de Noemi...
RUTE
Sim. É isso mesmo, senhor.
JOSIAS
Muito bem. Eu me chamo Josias. No que posso ajuda-la, Rute?
RUTE
O senhor é o dono desse campo?
JOSIAS
Não, eu sou apenas o administrador. Ele pertence a um amigo.
RUTE
Como sabe, senhor, eu sou moabita. Portanto, peço que deixa-me colher espigas e ajuntá-las entre os montes das ceifadas, após os trabalhadores ajuntarem as suas colheitas.
JOSIAS
Mas é claro. Fique à vontade, Rute. O campo é vasto, você pode ir onde quiser. Apanhe o quanto encontrar, sinta-se em sua terra.
Rute olha para ele e sorri.
RUTE
Obrigada, senhor.
Ele faz um movimento respeitoso com a cabeça.
JOSIAS
Se precisar beber água, é só ir até aquela tenda.
RUTE
Muito obrigada.
Rute então vira e sai para trabalhar.
Por quase todos os caminhos por que ela passa, encontra diversas espigas bonitas caídas. Apanha-as e, pouco a pouco, vai enchendo o seu cesto.
Ela olha para o céu.
RUTE
Obriga, meu Senhor. Deus único que rege os meus caminhos hoje e eternamente! (sorrindo) Obrigada!
E continua a apanhar as espigas.
CENA 7: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Noemi e Tani estão sentadas à mesa.
NOEMI
Apesar de agradecer muito pela sua generosidade, Tani, eu não quero você se preocupando e tirando coisas da casa de Boaz para nos alimentar.
TANI
Noemi, mas que orgulho é esse?!
NOEMI
Não se trata de orgulho, é só que não há necessidade de se fazer isso. Pense que Deus vai me ajudar. Você não crê nele?
TANI
Apesar de, superficialmente, essas parecerem palavras de fé, eu sinto, na verdade, apenas ironia e revolta.
Noemi respira fundo.
NOEMI
E como poderia ser diferente?
TANI
Noemi... Mas poxa vida... Essa não é você... Cadê a minha amiga? Onde ela está?! A Noemi de verdade, a mulher de fé que eu conheci! Cadê ela?!
NOEMI
Morreu, Tani. Foi sepultada junto às suas desilusões de mocidade. Aquela Noemi pertencia àquele tempo. Agora quem está aqui, sentada nessa mesa falando com você, é Mara!
TANI
Isso não está certo! Você não pode se entregar dessa forma, Noemi! Elimeleque não iria querer isso! Deus não quer isso!
NOEMI
Rá, se não quisesse não me teria feito todas essas coisas!
Tani, aflita, não diz nada. Um mal-estar no ar...
NOEMI
Me desculpe, Tani. Vamos falar de outra coisa...
TANI
Nós temos muito o que falar, mas muito mesmo. São 10 anos para se colocar em dia. Mas agora, infelizmente, eu preciso ir. Estou trabalhando na plantação de Boaz e a colheita começa hoje. Na verdade estou atrasada!...
Tani se levanta.
TANI
Shalom, Noemi. E juízo, pelo amor de Deus!
NOEMI
Shalom, Tani.
Tani beija o rosto de Noemi e sai.
CENA 8: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE TAMIRES – DIA
Neb, pronto para sair, se aproxima da cama, onde Tamires ainda está deitada.
NEB
Beijos... Até mais tarde.
Ele a beija rapidamente, mas ela o puxa e dá um beijo mais demorado. Ele vai se afastando, mas ela o puxa de novo.
NEB
Tamires... Eu preciso ir. Preciso aproveitar o princípio da colheita e o alvoroço da cidade por causa do retorno de Noemi.
TAMIRES
Ahhh... Que chatice, Neb.
Ele dá nela um último e rápido beijo e vai para a porta; sai.
TAMIRES
Até meu homem Noemi tira de mim...
Tamires respira fundo.
TAMIRES
Então é assim que vai me tratar, Neb... Tudo bem... Tudo bem.
Ressentida e perdida em pensamentos, ela encara o nada.
CENA 9: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Jurandir e Diana andam entre o povo. Ele para e ela o olha.
JURANDIR
Escute, Diana. Eu vou sair da cidade, vou atrás de algum campo e ver o que posso fazer para conseguir algumas espigas. Quanto a você, fique longe de problemas, que têm nome: Josias!
DIANA
Fique tranquilo, meu pai. (apontando algumas barracas) Vou apenas comprar minhas coisas.
JURANDIR
Que coisas?
DIANA
Coisas de mulher, pai. Não vai querer especular isso, vai?
JURANDIR
Rum. Pois bem. Shalom.
Jurandir beija a testa da filha.
DIANA
Shalom.
Ele sai. Por alguns instantes ela o observa se afastar... e então toma outra direção que não a das barracas.
CENA 10: EXT. VILA – DIA
Segismundo e Gael caminham tranquilamente pela vila. Para todos os lados há homens da Caravana da Morte dormindo. Espalhados pelo chão, sobre mesas, escorados em casas e árvores... Alguns se mexem, querendo acordar...
SEGISMUNDO
Bando de idiotas.
Não muito longe dali, no lado de fora do paiol de armamento, o guarda fala consigo mesmo.
HOMEM
Todo mundo nessa vila dormindo, mas eu não posso. Tenho que ficar bem acordado... Rum. Não sei se vou aguentar essa nova função...
VOZ (O.S.)
(atrás) Está reclamando?
Assustado, ele olha imediatamente para trás. Uma figura alta e esguia, coberta por um tecido e um capuz preto, e com o rosto oculto por uma máscara de ferro com um semblante de desdém esculpido, está ali parada, observando-o.
HOMEM
(assustado) Que isso?!... Quem é você?!
FIGURA
Aquele a quem vocês chamam de Assassino.
HOMEM
Quê...
A figura continua parada.
HOMEM
Você... matou todos aqueles homens...
ASSASSINO
Agora é a hora de todo o restante.
Com um rápido e gracioso movimento, um punhal sai da manga do Assassino e corta o pescoço do homem, que, sangrando, cai aflito no chão. Mas, nesse momento, um homem bêbado recém-acordado passa por ali e presencia a cena.
RECÉM-ACORDADO
(apavorado com o Assassino) Socorro! Socorro! O Assassino!
Rapidamente o Assassino lança uma lâmina no peito do recém-acordado, que cai morto.
De onde estão, Segismundo e Gael escutam a denúncia.
SEGISMUNDO
Ouviu isso, Gael?! Ouviu isso???!!!
GAEL
Acalme-se, Segismundo.
SEGISMUNDO
Acalmar?! Enlouqueceu???!!!
Segismundo começa a correr, chamando a todos os homens que dormem espalhados.
SEGISMUNDO
Acordem! Acordem! Rápido! Já! Acordem! Todos de pé, em forma! Rápido, agora, de pé! De pé! Rápido! Levantem!
3 homens também recém-acordados e empunhando suas espadas se aproximam de onde o Assassino está. Tentam não temer o semblante de ironia presente na máscara e atacam, mas não têm chance. Golpes, defesas, rapidez... Pouco depois, o Assassino mata os 3 com um único golpe de espada em todas as gargantas; eles caem.
SEGISMUNDO
Rápido, depressa! O Assassino está na vila, está atacando! Todos! Atrás desse maldito! Agora, rápido!
O Assassino finalmente aparece no centro, onde a maioria dorme, e começa a atirar lâminas, matando a vários com facilidade, por conta de estarem adormecidos ou grogues de sono.
Segismundo, apavorado, saca sua espada, mas começa a se distanciar. Outros homens atacam o Assassino, apenas para perderem suas espadas e serem cravados por elas.
GAEL
Segismundo, vamos sair daqui...
SEGISMUNDO
Corra!...
Alguns arqueiros sobem em suas casas e começam a atirar flechas contra o Assassino. Mas elas apenas batem em sua roupa e cai, como se houvesse embaixo um metal protegendo-o.
Os homens, assustados, pegam qualquer arma que encontram pelo caminho e atacam a figura misteriosa em grupos... O tempo é um pouco maior, mas o resultado é o mesmo: com golpes rápidos e precisos, o Assassino mata a todos.
SEGISMUNDO
(horrorizado) É um massacre!...
GAEL
Vamos, Segismundo!
Segismundo e Gael correm para longe da vila enquanto mais e mais homens são mortos com facilidade pelo Assassino. Esse, ao ver os líderes do grupo escapando, joga um punhal, que é impedido no ar, pela espada de Gael, de acertar Segismundo. Ambos olham rapidamente para trás, e uma multidão de recém-acordados de ressaca começa a cercar o Assassino.
ASSASSINO
Ah, agora será divertido...
Os homens então gritam e se aproximam para feri-lo com suas espadas, mas ele aguenta todos as investidas, de todos os lados. E, de vez em quando, atravessa um com sua espada. Em outro momento corta uma mão, rasga um pescoço...
Segismundo, Gael e seus homens mais próximos montam em cavalos aleatórios e partem dali o mais rapidamente possível.
Por conta da fuga dos grandes, o Assassino começa a se desconcentrar dos inimigos que o cercam, e tem o tecido que o cobre rasgado em alguns pontos.
ASSASSINO
(pensando) Pego eles depois!..
Então ele se entrega de corpo e espírito àquele confronto. Mais e mais homens da Caravana vão sendo mortos de forma violenta e rápida. Mas também mais parecem surgir para tentar impedi-lo.
CENA 11: EXT. DESERTO – DIA
Os homens guardam rotineiramente o perímetro em volta da vila. Segismundo e seus homens chegam ali cavalgando e mal param.
SEGISMUNDO
Avancem à vila! Abandonem o perímetro e vão imediatamente para a vila! Agora! Rápido!
CENA 12: EXT. VILA – DIA
O Assassino arranca sua espada do último derrotado. Respirando ofegante, olha para a orla da vila: mais homens, os guardas do perímetro, se aproximam.
ASSASSINO
Venham.
Ele se prepara. Pega algumas coisas espalhadas. De repente os homens começam a correr em sua direção. Ele então atira objetos, que acertam violentamente a testa dos primeiros.
Os outros se aproximam e o atacam. Da mesma maneira, um a um vai sendo morto. Ele arranca o punhal de um e finca em sua garganta, depois desvia de um golpe, dá uma cotovelada, gira a espada, bloqueia, ataca...
Por fim, o último cai de joelhos diante do Assassino; ele lhe decepa a cabeça.
Então a figura misteriosa circula pelo local repleto de corpos. Cansado, usa uma tocha para atear fogo em tudo ao redor.
Pouco depois, as chamas se alastraram e as casas são consumidas pelo fogo.
Então o Assassino para e contempla a vila sendo completamente destruída pelo incêndio.
Satisfeito, ele vira e vai embora.
CENA 13: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – DIA
Jurandir está andando por ali quando nota Tani orientando algumas moças que colhem; se aproxima dela.
JURANDIR
Shalom... Com licença...
Tani olha para ele e seu semblante muda e suas pupilas dilatam... E Jurandir fica visivelmente tocado pela beleza dela; sorri. Josias, perto dali, percebe os dois e se esconde atrás de uma árvore, ouvindo tudo.
TANI
Shalom...
JURANDIR
Eu... gostaria de saber... se pode me ajudar. Cheguei a Belém com minha filha tem pouco tempo, mas ainda não consegui nada duradouro... Gostaria de saber com quem falar sobre trabalho nesse campo.
TANI
(sorrindo) Ah, claro... Há sim. Um rapaz, eu vou chama-lo... Josias! Josias!
Jurandir franze o cenho e olha para os lados, à procura de Josias. Esse, atrás da árvore, lamenta ser chamado... então respira fundo e sai. Eles não o notam até ele chegar ali.
JOSIAS
Tani...
Jurandir, meio confuso, meio revoltado, olha para ele.
TANI
Esse é Josias, o administrador desse campo. O senhor pode falar com ele.
Josias, constrangida, encara Jurandir, já com outra postura.
CENA 14: EXT. DESERTO – CAVERNA – DIA
Segismundo, Gael e alguns homens da Caravana chegam ali, descem de seus cavalos e entram rapidamente na caverna.
CENA 15: INT. DESERTO – CAVERNA – DIA
Eles entram atordoados.
SEGISMUNDO
Como é possível alguém lutar daquele jeito?!
MONTANHA
Não deve ser uma pessoa!...
GAEL
Não digam besteiras. É só um grande lutador.
SEGISMUNDO
“Só”. Francamente, Gael!
BESTA LOUCA
Todos os companheiros estão mortos.
GAEL
Todos os que ficaram... A Caravana agora... somos só nós.
MEMBRO
Meu Deus...
SEGISMUNDO
Um só homem... Um!
Ainda muito afetados, eles se encaram.
CENA 16: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – DIA
Josias logo quebra o olhar com Jurandir, corre até um monte colhido, pega vários feixes, além de um cesto, e os traz para Jurandir.
JOSIAS
Senhor... Aqui está. As primícias da colheita. O senhor pode levar tudo. Para o senhor e para sua filha. Podem se alimentar sem preocupações. Pra que não precise trabalhar hoje...
Tani sorri com a generosidade de Josias. Jurandir, no entanto, piora seu semblante e se aproxima mais do rapaz. Josias começa a se preocupar. O homem então pega todas as coisas que Josias lhe deu e joga no chão. Então começa a pisar e amassar com toda sua raiva e desprezo... Tani, assustada, mal sabe o que dizer. Josias, frustrado, lamenta com o olhar. Jurandir continua a destruir as primícias da colheita com seus pés.
JURANDIR
Eu não quero e não preciso de nada vindo de alguém como você! De um membro daquela família suja, imunda, maldita! Minha vida e meu sustento não dependem de você. Eu tenho força! Disposição! E capacidade de trabalhar! Não ousaria dar de comer à minha filha e a mim um alimento manchado pelas suas mãos podres!
Jurandir cospe no chão. Tani está horrorizada.
JURANDIR
(para ela) Por favor, me perdoe. Agradeço sua atenção, mas vou trabalhar em outro campo.
Jurandir sai imediatamente. Os olhos de Josias parecem marejar.
TANI
Mas o que foi isso, Josias?! Quem é esse homem?! Algum maluco, um lunático?!
JOSIAS
É o Jurandir. Pai de Diana...
TANI
Meu Deus!... Não imaginava!...
JOSIAS
Eu faço de tudo, Tani. Faço de tudo para mostrar que só tenho boas intenções, mas o velho não quer nem saber...
Tocada pela situação dele, Tani se aproxima e acaricia o cabelo de Josias, choroso.
O dia continua passando...
Em determinado momento, Rute vai até a tenda e bebe água. Tani, ali perto, sorri para ela, que retribui. Com a sede aplacada e o ânimo renovado, Rute volta e continua a encher o seu cesto. Trabalha sem parar.
Mais tarde um pouco, Boaz chega em seu campo. Passa pelos trabalhadores, homens e mulheres, os cumprimenta, sorri para eles... até que...
...ele nota a moça...
...que, aos seus olhos, se destaca de todas outras pessoas...
Como que em velocidade baixíssima, Boaz cruza o campo, mas os seus olhos não saem do rosto de Rute... Está encantado... o rosto, os olhos, o cabelo, as mãos delicadas que apanham as espigas...
Boaz não esperava por isso... Atravessa a plantação e chega onde está Josias, fazendo anotações com outros homens.
BOAZ
O Senhor seja convosco.
JOSIAS, HOMENS
O Senhor te abençoe.
JOSIAS
Boaz, finalmente veio ver a glória dessa colheita.
BOAZ
Desculpe o atraso, eu fui resolver uma questão sobre o lugar da festa da colheita... (ainda olhando Rute) Josias... Escute...
JOSIAS
Sim?
BOAZ
Quem é aquela moça? É casada?... Não me lembro de já tê-la visto, quem é seu marido?
Josias percebe o interesse de Boaz e sorri.
JOSIAS
Esta é a moça moabita que voltou com Noemi dos campos de Moabe. Sua nora.
BOAZ
Ah... Que coincidência...
JOSIAS
Ela me pediu para deixa-la apanhar as espigas e ajuntá-las após os trabalhadores. Eu permiti e ela começou... Está até agora aqui, desde a manhã, a não ser um pouco que parou para descansar.
Sorrindo, Josias continua a observar o olhar de Boaz sobre Rute.
Boaz finalmente percebe o amigo, o olha um tanto constrangido, mas vai saindo.
BOAZ
Com licença.
Boaz começa a andar paralelamente à Rute como quem não quer nada. Mas a observa, presta bastante atenção.
Encantado, ele continua... Pouco a pouco, vai se aproximando, mas ela não o nota.
Ele então apanha uma espiga em outro caminho e vai para o que ela está.
Rute continua a pegar as espigas. Boaz se aproxima por trás calmamente...
A uma distância confortável, ele para, olha ao redor, respira fundo e abre a boca.
BOAZ
Rute?...
Surpresa, Rute se levanta. Devagar, ela vira para trás, e os olhares dos dois se encontram. Por alguns breves mas significativos instantes, eles se encaram...
No olhar encantado de Boaz, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Rute e Boaz se falam, Neb pega um flagrante de Tamires, e um encontro com o Ancião faz Noemi repensar toda a sua vida.
Obrigado pelo seu comentário!