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Antropófago - Diário de um Canibal | Episódio 06


 ANTROPÓFAGO – DIÁRIO DE UM CANIBAL
WEB SÉRIE DE ADÉLISON SILVA
PRIMEIRA TEMPORADA
SEXTO EPISÓDIO 
   
CENA 01/ INT/ FLORESTA MOSSAÍH/ CAVERNA/ TARDE

Uma jovem está deitada no chão morta, Max agachado ao seu lado com o coração da moça em suas mãos e a boca suja de sangue. Baltasar em pé com o vestido nas mãos.

MAX: (off) Ficamos ali inertes, paralisados em frente ao outro. Ele em pé e eu ajoelhado diante do cadáver da moça, com a boca suja de sangue. Seu Baltasar ficou de olhos arregalados como se não acreditasse na cena que assistia. 

Lentamente o vestido que Baltasar segura escorrega em suas mãos, por entre os seus dedos, descendo em direção ao chão. Ao mesmo tempo ele dá discretas passadas para trás, virando-se na intenção de sair correndo. Max levanta com a cabeça curvada um pouco para baixo e o olhar em sua direção. Na mão direita o punhal, cúmplice do homicídio que acabara de cometer. 

 MAX: (com voz firme) Não dê mais nenhum passo senhor!
Baltasar para de costas para Max.

BALTASAR: (ofegante) O que você fez Max? Quem é essa moça?
MAX: Não foi o senhor que disse que sou um monstro? Eu fiz o que todo monstro faz, mata.

Max segura firme o cabo do punhal e apressa em direção a Baltasar. Mas esse dá uma olhada para trás e depois corre em direção a saída da caverna. Max atira o punhal acertando a panturrilha de Baltasar e o derrubando no chão. Max se aproxima e o encara com o olhar lacrimejando de ódio. Baltasar arregala o olho de medo. 

BALTASAR: (suplicando) Max por misericórdia, sou eu! O que aconteceu com você?

Max nada responde, apenas o agarra pelo o colarinho e o arrasta para dentro da caverna, ainda com a faca fincada em sua perna. Baltasar geme enquanto é arrastado por Max. Com uma mão ele procura afrouxar a camisa para não ser enforcado, enquanto a outra segurava a perna ensanguentada. Baltasar fica se debatendo tentando escapar, porém Max o leva até o meio da caverna e o amarra com as mesmas tiras de pano que usou para amarrar a moça.

[ABERTURA]

EPISÓDIO VI
“Os segredos de Baltasar”

Continuação da CENA 01/ FLORESTA MOSSAÍH/ CAVERNA/ TARDE

Baltasar está amarrado no meio da caverna ainda com o punhal fincado em sua panturrilha. Max se agacha em sua frente.

BALTASAR: Você está descontrolado Max. Eu não estou te reconhecendo.
MAX: Está com medo de mim senhor? (olhando suas mãos) Minhas mãos estão sujas de sangue, eu sou um monstro. (chorando) Meu peito dói, eu não queria fazer nada disso, eu não queria matar a minha Érica. 
BALTASAR: Érica? Essa moça que você matou é a sua namorada Érica? Me tira daqui, eu posso te ajudar.
Max fixa o olhar em direção ao Baltasar com ódio.

MAX: Você mentiu e eu odeio mentiras!
BALTASAR: (com medo) Porque me olha assim, Max? O que pretende fazer?
MAX: Você é um mentiroso, nunca esteve perdido.
BALTASAR: Ouça bem Max. Não se esqueça que quando mais precisou fui eu quem cuidou de você. Minha perna está doendo, agora sou eu quem precisa dos seus cuidados. Lembra das suas feridas? Fui eu que cuidei delas, diariamente dia após dia até você se recuperar. A minha perna está doendo, eu preciso que você me ajude.

MAX: (off) Não sei se era algum tipo de chantagem emocional, no entanto seu Baltasar procurava tocar no profundo dos meus sentimentos, arrancando dali alguma misericórdia, para que eu não o matasse. Era como se cobrasse o favor que havia me feito. Eu tinha muitas dúvidas a seu respeito. Como entrou na fábrica em meio ao incêndio e me resgatou? Porque em seus pertences haviam objetos da cidade, se estava perdido assim como eu? Eram muitas as perguntas que tinha pra fazer, tentei resumir todas em uma só:

MAX: (pausadamente) Quem é você? 

Baltasar abaixa a cabeça e nada responde. Max segura firme o punhal que estava preso na perna dele e o contorna girando. Ele então abre um berro quebrando silêncio do local. CORTA para cena externa mostrando a fachada da caverna e alguns pássaros voando assustados com o grito do Baltasar. CORTA novamente para o interior da caverna.

Continuação da CENA anterior/ FLORESTA MOSSAÍH/ CAVERNA/ TARDE

Max continua contorcendo o punhal e exigindo que Baltasar fale alguma coisa. Enquanto isso Baltasar geme de dor.

MAX: (com ódio) Responde as minhas perguntas! Como veio parar aqui?O que está escondendo de mim?
BALTASAR: (gemendo de dor) Por favor, não me mate! (desabafando com raiva) Olhe pra você Max, acha que alguém vai lhe tratar como um ser humano normal? Você é um monstro e eu não sou o culpado disso. Veja o que fez com aquela moça, você a torturou, a matou e provou da sua carne. Não passa de uma aberração antropófaga, com sede de devorar tudo, de controlar tudo. Foi assim com a Érica, você a quis possuir, por isso ela não se importou ao lhe ver em meio as chamas. Ela quis se livrar de você.

Max fica mexido com as palavras de Baltasar, e vai se levantado e se afastando. 

MAX: (entristecendo-se) É mentira! Érica me ama, ela só não quis saber de mim por causa do Ricardo. (com ódio) Do maldito do Ricardo.
BALTASAR: (ainda gemendo de dor) Sabe bem que não estou mentindo. Eu estava lá naquele dia, eu vi quando vocês entraram na fábrica. Observei bem quando você e seus amiguinhos desviaram o caminho, eu os segui.
MAX: (estranhando) Como assim? Estava na fábrica naquele dia? (com raiva) O que esconde senhor?
BALTASAR: (revelando) Eu conheço aquela fábrica como a palma da minha mão.
MAX: Continue, eu preciso saber. Você nunca esteve perdido, né mesmo? O que esconde?
BALTASAR: (desabafando) Eu já fui funcionário daquela fábrica, eu era sócio de lá, fazia parte da brigada de emergência. (geme tentando ajeitar a sua perna) No entanto ouve um acidente, pouco semelhante ao seu. A diferença é que a vítima caiu dentro do cilindro de soda caustica, não teve chance nenhuma de sobreviver. (geme mais uma vez) Minha perna dói Max, por favor, tire esse punhal daqui.
MAX: Apenas continue a história, quero ouvir.
Baltasar para por um instante olhando para Max e resolve continuar a história.

BALTASAR: O nome da vítima era Diego, ele era noivo de uma das funcionárias mais bela que trabalhava naquele lugar. Eu fui acusado de ter o empurrado da passarela, tudo por que eu tinha uma paixão alucinante pela a noiva de Diego.
MAX: E você o empurrou?
BALTASAR: Claro que não, foi um acidente.


MAX: (off) Eu não me convenci daquilo. Fiquei muito surpreso com toda a história que o Seu Baltasar me contava. Não era difícil entender o que realmente aconteceu. Com ciúmes do Diego, Seu Baltasar se viu em uma oportunidade única, se livrar do rival, o empurrou dentro do cilindro de soda, com a desculpa “acidentes acontecem”. Assim como Érica e Davi que ao invés de me socorrer preferiram me deixar a mercê da minha sorte, eu não os perdoava. 

CORTA para as lembranças em flashback preto e branco, seguindo a narração de Max. 

{Flashback on}

CENA 02/ FLORESTA MOSSAÍH/ FÁBRICA DE SODA/ DIA

Diego está em cima da passarela de metal próximo a um espécie de termômetro digital verificando a temperatura da soda e anotando em uma prancheta. Baltasar alguns metros também na passarela, ele dá uma olhada para baixo percebe que está sozinho com o Diego, ao passar próximo dele simplesmente o empurra da passarela em direção ao cilindro de soda.

{Flashback off}



Continuação da CENA 01/ FLORESTA MOSSAÍH/ CAVERNA/ TARDE

Baltasar ainda no chão amarrado com as tiras de panos e Max em pé a sua frente.

BALTASAR: Max, eu preciso de ajuda! Olha para a minha perna, estou perdendo muito sangue.
A perna de Baltasar estava toda dilacerada, era possível ver o osso da sua fíbula exposto. 

BALTASAR: Por favor, me ajude!
MAX: Ainda não, eu quero ouvir o resto da história. 
BALTASAR: (respira funda e continua a história) A polícia foi chamada e iria fazer pericia no local. Existia câmera ali, não seria difícil eles descobrir que fui eu. Por puro ciúme eu desgracei a minha vida.
MAX: E pra fugir o senhor se escondeu na floresta?
BALTASAR: A floresta Mossaíh sempre teve a fama de ser mal assombrada. Eu não sei o que é, mas tem algo encantador nessa floresta. Eu precisava fugir e aqui foi onde eu encontrei abrigo.
Max caminha até próximo ao lago tristonho.

MAX: Então isso quer dizer, que durante esses dez anos que eu achei que estivesse perdido poderia ter voltado para a república? (vira para trás e encara Baltasar) Maldito me previu de conviver com a minha Érica! 
BALTASAR: Aproveita que está aí perto do lago e olho o seu reflexo. E depois me responde com sinceridade. Você acha que Érica ainda vai te querer? Assim como eu perdi a minha amada, você perdeu a sua. Ninguém iria cuidar de você da forma que eu cuidei. Todos fugiram e não se importaram contigo.

MAX: (off) Ele estava certo, eu é que era o amaldiçoado. Se minha sorte fosse a mesma do Diego, se a soda estivesse corroído a minha vida eu não viveria naquele martírio. Mas não tive a mesma sorte e agora eu sofria angustiado, sendo prisioneiro dentro do meu próprio corpo. Queria morrer, mas não achava justo morrer sem antes encontrar com a minha amada. Eu andava de um lado para o outro, tentando digerir tudo o que havia ouvido.

BALTASAR: (suplicando) Max, me ajude! Não me torture mais, eu sempre te ajudei. O que eu fiz foi o melhor. 
Max para diante da garrafa com cachaça. 

BALTASAR: (ainda suplicando) Por favor, me ajude!
Max pega a garrafa, se aproxima de Baltasar e banha a ferida da perna com a cachaça. Baltasar grita de dor.

MAX: Cala essa maldita boca! (colocando as mãos na cabeça) A minha cabeça dói. Eu me sinto perdido não sei o que fazer de mim. 
Baltasar ainda chorava e gemia de dor. 

MAX: Você é um alcoólatra maldito. Não se conteve em ficar aqui sozinho sem seu álcool pra beber, né? As coisas que você trazia para eu comer não foram caçadas você trazia da cidade. (se dando conta) Então Braço Forte não deve ficar tão longe. Minha Érica pode está bem perto de mim. (com raiva) E eu poderia está bem perto dela se você não tivesse mentido.
BALTASAR: (suplicando) Chega Max tenha misericórdia! O queres comigo?
MAX: Você também é culpado do meu sofrimento.
BALTASAR: Não, eu sempre te ajudei.
MAX: Fiquei dez anos aqui, angustiado me sentindo largado por todos. Você assistiu toda a minha angustia e nunca me disse que sabia como eu chegar em Braço Forte.
BALTASAR: Eu fiz isso pra te proteger. Eu sempre me sentir só aqui nessa caverna, você foi a minha única companhia. Não queria que você me largasse aqui. 
MAX: Então você confessa que você não fez isso pra me proteger? Você fez isso porque não queria que eu o largasse aqui sozinho.
BALTASAR: O mundo lá fora não vai te acolher do jeito que eu te acolhi, Max. Pode ter a certeza disso. Você sempre será visto como um monstro. Agora olhe pra mim. Estou maltrapilho e judiado assim como você. Estamos no mesmo barco, sofrendo a mesma sina. Porque me maltrata? Que mal eu lhe fiz Max? Eu sempre te ajudei? Você estava entre a vida e a morte eu é que te salvei. Agora você simplesmente me tortura?

MAX: (off) Seu Baltasar insistia arrancar do coração desse monstro algum gesto de generosidade, e parecia que ele conseguia. Ele estava certo, no momento em que eu mais precisei foi ele quem me ajudou. Eu não poderia deixá-lo daquele jeito.
MAX: O que eu faço, como posso te ajudar? 
BALTASAR: Me solte!
Max olha fixo nos olhos do Baltasar.

MAX: Não senhor, não serei otário a esse ponto. Os seus olhos fervem de ódio, na primeira oportunidade tentará me passar a perna. Me diz quais os procedimentos de primeiro socorros e eu lhe ajudarei.
A cena fica muda enquanto os dois conversam. E depois segue conforme a narração de Max em off.

MAX: (off) Seu Baltasar começou então a ditar os principais procedimentos que eu deveria fazer. E eu comecei a fazer tudo o que ele me pedia. Seguindo a sua ordem fui até a floresta peguei ervas, amassei, fiz uma pasta com tudo. Cortei o vestido que a moça usava em tiras e fiz faixas. Cautelosamente tirei a faca e amarrei a faixa juntamente com a pasta de ervas que havia feito na perna de Seu Baltasar. 

MAX: (terminando de amarrar a faixa) Pronto não o devo mais nada. 
BALTASAR: Obrigado Max. Agora me solte, não pode me deixar aqui.
Baltasar dá uma olhada para o punhal que foi deixado ao seu lado. Max repara as intenções de Baltasar.

MAX: O seu olhar parece uma fornalha. As suas pupilas parece  saltar para fora. Está sorrateiro meu senhor, é visível as suas intenções. É a sua vida que está em jogo, na primeira brecha que eu te dê você me atacará.
BALTASAR: Se engana Max, eu sou seu amigo. Se você me soltar eu posso te levar até a cidade, eu sei bem o caminho. Chegaremos lá rapidinho e você finalmente encontrará a sua amada. Me solta Max! Eu te ajudei, fui eu que te salvei. Não se esqueça disso.
Max se aproxima mais um pouco de Baltasar, se abaixa pega a faca. O velho o olha com a cara assustada.

BALTASAR: Isso, agora corta as tiras.
MAX: (passando delicadamente a mão pela a lâmina do punhal) Sabe seu Baltasar, pensando bem eu prefiro o senhor calado.
BALTASAR: (assustado) O que vai fazer! Pelo o amor de Deus não me machuque mais!
Max aperta a garganta de Baltasar o obrigando-o a abrir a boca, depois puxa a sua língua pra fora e a corta. O homem encolhe a cabeça em meio as pernas, o sangue respingava no chão. Max levanta com o punhal na mão e vai saindo da caverna largando o homem lá.

FIM DO SEXTO EPISÓDIO
Como a página de um diário mostra Max saindo da caverna em uma espécie de Freeze frame. Depois o diário fecha mostrando o logo da série na capa.

PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO

MAXWELL = Johnny Massaro
BALTASAR = Leopoldo Pacheco
DIEGO = Ricardo Tozzi



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