Saudações, mancebos! Sejam
todos bem-vindos a mais um Primeira Impressão! Tudo bem com vocês?
Espero que sim. Portanto,
preparem o lanche mais salgado do que deveriam comer e mais gorduroso do que
suas veias suportam e venham com o Sr. X.
E a crítica de hoje é sobre O
Dom – Vidas do Árido, escrita por Vitor Zucolotti e exibida na WebTV. Confiram
a sinopse:
“A série VIDAS DO ÁRIDO
conta, a princípio, três histórias diferentes (em três temporadas). O que chama
atenção nessas histórias é que elas se conectam, mesmo sendo contadas e
ambientadas em épocas distintas. Além disso, o árido do sertão nordestino, a proximidade
das ‘cidades’ e regiões onde nossas polêmicas tramas são retratadas, e a crueza
e crueldade em não economizar na realidade e nas palavras. Todas essas
características são VIDAS DO ÁRIDO.”
Personalidade. Essa simples
palavra de 13 letras é o principal adjetivo que o leitor pode usar para
classificar o protagonista dessa temporada, o Domênico, tendo lido apenas a
estreia em questão. E isso se deve a um aspecto bastante básico no processo de
se contar histórias, mas igualmente esquecido quando falamos de webproduções
escritas (e em muitos exemplares de audiovisual maisntream também, claro):
o desenvolvimento de personagens. É o que diferencia uma figura que faz apenas
as vezes de instrumento da narrativa de uma figura complexa, com camadas
emocionais... ou seja, uma figura humana – não que apenas vocês sejam abençoados
com o dom das emoções, mas a emoção humana é, de certa forma, ímpar.
Não só isso. Domênico não é
apenas uma figura com camadas, mas também um protagonista que foge da regra do
bom mocismo, aproximando-se mais de um anti-herói, o que não deixa de ser mais
uma camada para o personagem. Nessa mesma ideia, ele se afasta até mesmo do
clichê do santo e sábio curador, pois nosso protagonista é um homem comum, por
vezes exausto com o que faz, que usa de ofensas quando acha necessário, controverso
em alguns de seus métodos e, principalmente, que ainda não está em paz com seus
poderes; nada mais distante da figura de Jesus Cristo, a não ser pelos dons de
cura e pela reverência de parte do povo. E nada como um personagem controverso
e de personalidade “cinza” para aguçar o leitor e arrebatá-lo para o universo de
uma obra.
Apesar disso, de Domênico temos
por enquanto apenas uma (boa) apresentação, mas as diretrizes principais da obra
já foram inseridas com o auxílio das tramas paralelas, como o núcleo do padre
Emerenciano – principal opositor do curador, do qual nutre uma clara inveja – e
o núcleo do médico Daniel – escolhido para ir de sua cidade Salvador para a
cidade principal da história, Riqueza, como parte do plano do padre Emerenciano
de diminuir a importância de Domênico e suas curas através da implantação da
Medicina na cidade interiorana. E é muito bom constatar que a qualidade do texto
em delinear os personagens continua presente conforme os mesmos vão sendo inseridos.
A soma de todos esses aspectos pode ser representada por um tabuleiro cujas
peças já foram devidamente dispostas; agora o “jogo” vai começar.
Mas me digam: que peças são
essas? São as pretas ou as brancas? Ou ambas? Bem, o leitor não poderia
responder isso com firmeza, pois vários desses personagens não são devidamente apresentados
pelo texto, de forma que a série cai no mesmo velho, irritante e já entediante
erro de jogar nomes no papel como se os mesmos dissessem algo sobre o que o
leitor deveria estar imaginando, quiçá enxergando. Canso de dizer, mas para
sempre direi: frases como “Fulano abre a porta”, “Beltrano desce as escadas” ou
“Siclano chega ali”, nos casos em que é a primeira vez que Fulano, Beltrano e
Siclano aparecem na obra, são deficientes, problemáticas e falhas, já que o
leitor não faz ideia se Fulano é um ser de meia-idade ou um jovem adulto, se
Beltrano é uma negra e careca ou uma branca dos cabelos sedosos, se Siclano está
vestido com a roupa que jamais tira do corpo ou se está com mais uma de suas
vestes habituais. E se dedico esse tanto de texto para esse aspecto mais essa
vez, é porque esse defeito é comum no Mundo Virtual, mesmo na webs de muita
qualidade, assim como água é comum na Terra e metano nos vales do meu
planeta.
Uma rápida pesquisa e o
leitor verá que uma das características da série são os relatos detalhados – e
de fato essa é uma característica (e ponto alto) também dessa estreia – e a
possibilidade de ocorrência de elementos pesados, sádicos e pornográficos. Bem,
nesse capítulo há duas cenas de sexo, sendo que só uma delas realmente diz
algo, ajuda a história a ser contada e leva a trama para frente, enquanto a
outra, assim como a maioria das cenas de sexo das séries e dos filmes brasileiros
e internacionais, serve apenas para atrair o público desse tipo de conteúdo e se
mostrar um aspecto supostamente necessário para justificar a classificação
indicativa de 18 anos. E vejam bem, não estamos discutindo se deve haver ou não
esse tipo específico de cena nas obras, é sobre cenas úteis à narrativa; o que
não é útil para uma história ser contada deve ser modificado ou sumariamente
cortado.
Com personagens sólidos e tridimensionais, ações e ambientações inspiradas e bem escritas e diálogos afiados e naturais, essa estreia acerta em quase tudo do que tenta fazer e se apresenta como um ótimo drama, daqueles que vale a pena o tempo investido, haja vista que esse, uma vez que se inicia a leitura, passa mais rápido do que se pode calcular previamente; um dom raro às webs.
Série: O Dom - Vidas do Árido
Autor: Vitor Zucolotti com inspiração na obra de Clóvis Levy e José Safiotti Filho
Episódios: 12 (1 temporada)
Emissora: WebTV
Clique aqui para ler o 1° episódio
E então, queridos, o que
acharam da crítica? Por acaso já leram a websérie em questão? Digam tudo o que
acharam nos comentários.
Mas agora vamos ver o comentário
da autora da obra criticada no programa anterior. Vejamos:
Por nada, Lyvia. Foi um prazer ler e
analisar sua estreia, assim como é um prazer ler uma web de uma autora. Que
tenhamos cada vez mais mulheres escritoras no Mundo Virtual!
Bem, e se alguém perdeu o
programa da semana passada, basta clicar aqui para lê-lo. E todas as sugestões
para novas obras serem criticadas aqui no programa podem ser feitas nos
comentários abaixo.
E por hoje é isso, queridos. Fiquem bem, fiquem na paz, e até o próximo domingo!
Obrigado pelo seu comentário!